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Pause
Francisco Romão Pereira/Time Out

O que é que faltava a Benfica e já não falta? Brunch todo o dia

O Pause não é restaurante nem café tradicional. “É um espaço calmo” aonde se vai para comer e ficar, enquanto os miúdos brincam à porta. Com brunch até ao final da tarde, a carta aposta em comida saudável, mas também em pratos gulosos e “de choque”.

Hugo Torres
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Hugo Torres
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O brunch não é bem uma “modernice”. Pelo contrário. O conceito surgiu em Inglaterra no final do século XIX. Tem uma respeitosa idade. Sensivelmente a mesma que as vilas Ana e Ventura, derradeiros representantes da arquitectura “brasileira” que pontuava Benfica nesse tempo e que até há poucos anos estavam em avançado estado de degradação. Quis o acaso que a sua reabilitação coincidisse com a abertura, a escassos metros, de um espaço dedicado ao brunch, o Pause. E que – outra coincidência – o projecto nascesse quando Paula Cartier regressou do Brasil, tal como aconteceu com os históricos chalés.

Benfica é um bairro tradicional. O que significa que esta história não se conta sem outra paragem pelo caminho. Contornando as vilas, ou seja, dobrando a esquina da Estrada de Benfica para a Rua Amélia Rey Colaço, encontra-se a lavandaria de Maria Luís Silva. Sem ela não haveria Pause. Por duas razões: primeiro, porque foi quem desafiou Paula Cartier, que havia passado pela Avocado House e aberto o Blá Blá Café, a voltar ali à restauração; segundo, porque a senhoria da lavandaria é a mesma do espaço, entretanto ocupado pelo Pause, a dois minutos a pé, e insistiu para que fizessem ali “qualquer coisa”. Para facilitar, Paula e Maria já eram sócias num negócio de alojamento local em Lisboa e no Algarve.

Paula também queria voltar – mas em Benfica? Nem por isso. “Benfica, para mim, era uma coisa no fim do mundo. Isto é horrível de se dizer.” Hoje, não pensa assim. Desde que o Pause se estreou, no Outono de 2022, tem encontrado aqui a vida de bairro que tem visto desaparecer no bairro onde mora desde sempre, a Lapa, “que está a desvirtuar-se completamente”. “Eu achava que a Lapa era assim”, “um clã”, diz. “Agora é só franceses e americanos.” O mesmo, exemplifica, acontece no Bairro Alto. “Fui lá jantar na semana passada. Já não ia há séculos. Nem estava a acreditar. Não ouvi falar português. É impressionante. Aqui, não. É só português.” E Benfica recebeu o Pause de braços abertos.

Pause
Francisco Romão PereiraPaula Cartier

“As pessoas adoram-nos”, garante Paula. “Se for preciso, as pessoas vêm aqui para não irem ali acima, ao Continente, ou ao mercado. ‘Paula, não tem aí umas folhinhas de salsa ou de coentros?’ É muito mais bairrista. Muito. As pessoas vêm aqui e nós ajudamos. ‘Posso deixar aqui o cão um bocado só para ir ali?’ Tudo acontece aqui. Tudo é possível”, conta. “Aquelas senhoras, por exemplo, são nossas vizinhas. Este casal já me acompanha desde 2012, vêm atrás de mim. E agora, que vive aqui em Benfica, reencontrámo-nos. É muito engraçado.” O casal, diga-se, tinha entrado a meio da conversa com a Time Out e Paula não hesitou em saltar da cadeira para os acomodar da melhor forma, a eles e ao carrinho de bebé. “As pessoas sentem-se bem aqui, sentem-se em casa.” Quando não podem vir, vai o Pause até elas. A forma mais prática e impessoal é através da Glovo e da Uber Eats, mas para os clientes habituais a entrega é outra. “Uma cliente nossa, que estava grávida, teve a Leonor e estava em casa sozinha com a bebé. Não podia sair. Então, vamos entregar também. Isso é importante para nós. Se for preciso, vamos.” Como bons vizinhos.

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Francisco Romão Pereira/Time OutBrunch Benfica

Quando estavam a projectar o que haveriam de fazer, a questão era esta: o que falta em Benfica? “Um conceito destes, de brunch.” Aqui, é servido desde que abrem, às 10.00, até que fecham, às 19.00. Todos os dias. “Temos brunch a semana toda, não é só ao fim-de-semana. A maior parte destes espaços só tem ao fim-de-semana. Nós temos sempre.” Há dois completos: o brunch Benfica, com panquecas, ovos mexidos ou estrelados, bacon, tomate cherry confitado, cogumelos, feijão, torrada, granola, iogurte grego, fruta da época, mel e chia (17€); e o brunch Pause, com salmão fumado, ovos escalfados, espinafres, tomate cherry confitado, queijo, fiambre de peru fumado, torrada, manteiga, compota, açaí, banana, granola, mirtilos, coco laminado e chia (19,50€). E pode pedir extras: mais ovo, nachos, nutella, frango, abacate… O preço varia. E as bebidas são à parte. O menu contempla sumos naturais e smoothies (1,50€ a 5,20€); bebidas quentes como chás de produção biológica (1,70€), café americano (1,80€), latte (2,20€), cappuccino (2,20€) ou chocolate quente (2,70€); kombucha (2,20€); gin (7€); ou Aperol Spritz (7€).

Quem preferir um brunch mais contido pode pedir à carta bowls (11,50€ a 12,70€), ovos em pão artesanal de fermentação lenta (8,70€ a 9,30€), bagels (7,50€ a 8,50€), tostas (3,20€ a 11,50€), crepes (3,50€ a 4,50€), panquecas (5,50€ a 8,50€) ou seguir pelas opções “taste life” – uma “light”, com granola, iogurte grego, fruta da época, mel e chia (5,50€); e uma “power”, com açaí, banana, granola, mirtilos, coco laminado e chia (7€). “A nossa granola é feita cá. Há pessoas que a vêm comprar porque a adoraram e é sem glúten”, diz Paula. O Pause, aliás, tem uma secção de mercearia, com doces, compotas, bolachinhas, flocos, pastas, condimentos... “Todos os produtos aqui são biológicos. Porque o conceito é [também] de comida saudável.” Os vinhos são os bestsellers neste departamento. “Os vinhos são todos biológicos. São de várias regiões, inclusive do Algarve, o que é muito raro.”

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Francisco Romão Pereira/Time OutBacalhau à Pause

Voltando à mesa, os crepes e as tostas são uma novidade. Não são as únicas. Depois de um ano a trabalhar, perceberam que eram necessários alguns ajustes à carta. “Não podemos fugir ao conceito, porque é esse o conceito que queremos que vingue. Mas queremos também ter outra oferta.” Até para ir ao encontro do que o bairro procura. Decidiram por isso introduzir um menu do dia, por 8€. “Cada vez estamos a ter mais um prato tradicional, com umas favas com ervilhas e ovos escalfados, o bacalhau...” Na semana da visita da Time Out, o plano era este: empadão de atum (terça-feira), strogonoff de frango (quarta), penne de salmão (quinta) e bacalhau à Pause (sexta). Este último é o que Paula designa por “prato de choque”, “um bocadinho fora”. “Tentamos fazer sempre algumas coisas diferentes, para chamar a atenção. E ser diferente. A ideia é ser diferente.” O que é o bacalhau à Pause? É uma bola de Berlim com bacalhau. Outro caso destes é o hambúrguer de camarão (13,90€), que está na carta desde o início – assim como o tradicional (12,50€) e o vegan, feito com grão de bico e aveia (11€).

Os pratos são conceptualizados por Paula Cartier, mas não é na cozinha que a encontra quem por lá passa – é na sala. A sócia está mais nos bastidores. “Eu e a Maria completamo-nos perfeitamente. Tudo o que é burocrático, pagamentos, finanças, é com a Maria. Toda a parte logística, pessoal, cartas, fica para mim.” Ideias não faltam. Além de estarem disponíveis para eventos como aniversários, baby showers, workshops, iniciativas corporativas ou jantares de grupo (“Desde que se justifique. Acima de 15, 20 pessoas.”), também estão a considerar a possibilidade de abrir outro espaço, mais pequeno, noutra zona da freguesia. Porque o bairro está a crescer. “As pessoas que não estão a investir na cidade [no centro] estão a investir em Benfica. Por isso, está a crescer.” Mas também, nota, pelo trabalho da Junta de Freguesia. “Eles são muito dinâmicos e isso começa a sentir-se”, observa, apontando sectores como a habitação e em particular o comércio. “Está sempre a criar actividades. Benfica está sempre em festa.” 

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Francisco Romão Pereira/Time OutAs sobremesas do Pause

O que também é sempre movimentado é o espaço em frente ao Pause, uma espécie de pátio sem carros que as crianças ocupam com as suas brincadeiras, ora sozinhas, ora em bando. “Isto para os miúdos é óptimo. Andam aqui de bicicleta enquanto os pais estão a comer. Saltam, pulam e não vão para a estrada. Ficam aqui. É tranquilo”, atesta Paula. Não há muitos sítios assim, em que as crianças possam estar na rua à vontade enquanto os adultos se demoram na conversa (ou nas sobremesas, que se omitiram acima, mas que não faltam, seja a mousse de chocolate ou a tarte de lima). Há lá coisa mais de bairro do que isso.

Rua Amélia Rey Colaço 5G (Benfica). 962 406 540. Ter-Dom 10.00-19.00

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