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Kat Sadler e Lizzie Davidson
©DRKat Sadler e Lizzie Davidson, em 'Such Brave Girls'

O trauma tem piada? Nesta série, tem – e bastante

Uma mãe e duas filhas formam uma das famílias mais disfuncionais e cómicas da televisão britânica. A série ‘Such Brave Girls’ marca a estreia da humorista Kat Sadler neste formato e estreia na Filmin a 19 de Março.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
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Em Such Brave Girls conhecemos duas jovens adultas irmãs e sua mãe, que tentam lidar com o trauma de uma forma muito peculiar. O pai desapareceu há dez anos após ter ido ao supermercado comprar chá, deixando-as sozinhas numa casa onde falta dinheiro e falta discernimento. A terapia não é opção, mas nada fica por dizer, para o bem e para o mal (especialmente para o mal), numa história desconcertante e com um humor muito particular.

Such Brave Girls marca a estreia no formato série da comediante Kat Sadler, que vinha afinando o talento na escrita em programas de televisão britânicos como The Mash Report e Joe Lycett’s Got Your Back, depois de ter percorrido alguns palcos da comédia stand-up. Esta é também a sua estreia em frente às câmaras, junto com a irmã igualmente estreante, Lizzie Davidson (Sadler é nome artístico). Neste enredo interpretam as irmãs Josie e Billy, num elenco que conta com os veteranos Louise Brealey (Containment, Sherlock) no papel da mãe Deb, e Paul Bazely (Cruella), que veste a pele de Dev, o simpático, mas não menos estranho namorado de Deb.

Such Brave Girls
©David Gennard

Neste enredo, Josie procura descobrir a sua sexualidade e também quem é (contra a vontade da mãe, que desvaloriza a importância do autoconhecimento); Billy não aceita que o namorado tenha acabado com ela e faz uma marcação cerrada a um rapaz que está longe de ser um bom partido; e a sobreendividada Deb sonha que Dev é o bilhete dourado para uma vida melhor, pese embora o senhor resistir a pagar seja o que for do próprio bolso. Na relação entre as três personagens principais, os sentimentos caminham constantemente na direcção errada, muito por culpa dos conselhos de vida que a mãe dá às filhas, em particular a Josie, o patinho feio do trio. Conselhos pouco avisados como: “Se te posso dar uma coisa, Josie, é o dom de não ires atrás dos teus sonhos”; “O amor é um acordo que fazes com outra pessoa”; ou “Ama com menos do teu coração”. Frases que assim, a cru, podem remeter para uma história tomada pela tristeza, mas que no argumento de Sadler são entregues de uma forma algo pateta.

Such Brave Girls
©DR

“Escrevo comédia para pessoas com problemas mentais.” A bio de Kat Sadler no Instagram é um bom ponto de partida para compreender o argumento desta sua primeira série, produzida pela reputada A24 – responsável por títulos como os filmes A Zona de Interesse e Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo, ou a série The Curse –, em parceria com a Various Artists Ltd (I May Destroy You). Na verdade, foi uma depressão que levou a criadora de Such Brave Girls a escrever o argumento na Primavera de 2020, por alturas da pandemia. Sadler teve então um colapso mental, enquanto a irmã, que era animadora de um espaço infantil, tinha dívidas acumuladas. As conversas que tinham por telefone foram o ponto de partida para Such Brave Girls, contaram Sadler e Davidson numa entrevista ao jornal britânico The Guardian, uma vez que as duas consideravam a situação aterradora, mas também hilariante. “Não somos pessoas sérias, por isso mesmo a tentativa de sermos sérias ao telefone a contar uma à outra o que se tinha passado, simplesmente não o conseguimos fazer”, explicava Sadler. Davidson acrescentava: “Encontramos sempre o absurdo em tudo – é o nosso mecanismo de sobrevivência.”

Such Brave Girls, que estreou na BBC Three em Novembro do ano passado, não arrecadou prémios, mas conquistou a crítica (o The Guardian, por exemplo, atribui quatro estrelas). E nesta primeira temporada de seis episódios (é possível que haja uma segunda a caminho, já que a primeira nos deixa em suspenso), conhecemos Josie e Billy, que não são mais do que caricaturas das actrizes, hiperbolizando os seus principais defeitos, da inveja ao narcisismo (quem nunca), num exercício em que se riem de si mesmas, brincando com temas sérios como a morte, o suicício, o aborto ou o sexo. E em que Sadler se sustenta numa máxima que transporta para a sua personagem, como disse, ainda ao jornal britânico: “O meu trauma torna-me interessante”.

Filmin. Estreia a 19 de Março (T1)

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