A Time Out na sua caixa de entrada

Procurar
Alcântara
DRAlcântara

Os passeios são para automóveis ou peões? Assembleia Municipal vai pelos primeiros

Junta de Belém e Câmara de Lisboa autorizaram estacionamento em cima dos passeios no Restelo. Oposição contestou, mas Assembleia Municipal não quis reverter medida.

Rute Barbedo
Escrito por
Rute Barbedo
Publicidade

“Os passeios são para a circulação de pessoas e não para estacionamento de viaturas”. Assim se intitula a recomendação assinada pelo Livre e pelo PAN, que foi chumbada esta terça-feira, 16 de Abril, pela Assembleia Municipal de Lisboa. Chumbada com os votos contra de PSD e CDS (e a abstenção do PS), o documento pedia que se recuasse na “decisão de autorização de estacionamento em cima dos passeios de forma imediata na zona do Restelo e demais locais do município até final do presente mandato”.

A recomendação veio na sequência da legitimação, através da colocação de sinais de trânsito, do estacionamento automóvel em cima dos passeios das ruas Dom Cristóvão da Gama, Tristão da Cunha e São Francisco Xavier, no Restelo, Belém. O problema de estacionamento na zona é vivido há anos, tal como a acção que vai contra o Código da Estrada (estacionar em cima de passeios é punível com coimas entre 60 e 300 euros), mas as placas que indicam a possibilidade de estacionar duas rodas em cima do passeio chegaram no final de Março a esta zona da cidade. 

O Restelo não é, ainda assim, o único bairro onde tal se verifica, daí que a recomendação do PAN e do Livre refira a necessidade de olhar para outras zonas de Lisboa, cuja mobilidade pedonal possa estar a ser posta em causa pelo ganho de espaço do automóvel. Numa nota enviada à agência Lusa, a Câmara Municipal de Lisboa (CML) refere que a autorização de estacionar automóveis em cima de passeios vigora em artérias como a Rua Dom Carlos de Mascarenhas, em Campolide, a Avenida Almirante Gago Coutinho, entre o Areeiro e Alvalade, a Calçada da Tapada, em Alcântara, a Avenida das Descobertas, em Belém, a Calçada das Necessidades, na Estrela, e a Avenida do Brasil, também em Alvalade. Algumas das situações vêm de executivos anteriores, mas, quanto a esta decisão mais recente, em Belém, a autarquia declara que tem o objectivo de regularizar uma situação existente há décadas, de modo a facilitar o estacionamento a moradores, evitando multas”. A Câmara indica, ainda, que está a trabalhar no sentido de encontrar um “compromisso entre circulação rodoviária, pedonal e estacionamento”.

Também em Campo de Ourique, onde a falta de espaço previsto para estacionamento automóvel ou o excesso de automóveis para o espaço urbano disponível (dependendo do ponto de vista) é evidente, a Junta de Freguesia chegou a testar o estacionamento em cima de passeios, em algumas ruas e à noite. Mas no final do ano passado, o organismo decidiu lançar uma campanha de sensibilização contra o estacionamento ilegal, que continua a acontecer diariamente ali, tal como noutras zonas da cidade, do Cais do Sodré a Benfica.

Novos mupis e paragens como entraves aos peões 

Não serão, no entanto, apenas os automóveis a dificultar a deslocação dos peões na cidade. Na Assembleia Municipal, a deputada do Livre, Patrícia Robalo, apontou o dedo a diversos obstáculos, nomeadamente os relacionados com a forma como decorrem os trabalhos de colocação de novos mupis e abrigos de paragens de autocarro em toda a cidade, ao abrigo do contrato com a JCDecaux. Para a deputada municipal, escreve o Lisboa Para Pessoas, ​​“o peão está a ser relegado como utilizador de ‘segunda categoria’ das ruas”, quando “caminhar é o meio mais elementar de deslocação, de integração social e de vivência do espaço urbano, da vida de proximidade, comunitária e da cidade de 15 minutos”, conceito amplamente defendido pelo presidente do executivo, Carlos Moedas. A deputada do Livre lembrou, ainda, a legislação, que determina que os peões têm “direito a um canal de circulação contínuo, regular e desobstruído, com uma largura livre superior a 1,20 metros em toda a sua extensão”.

O processo de substituição e colocação de novos abrigos de paragens de autocarro e mupis começou em Setembro de 2023 e tem sido bastante contestado (buracos nos passeios, a não reposição da calçada e a demora nas obras são algumas das queixas). A própria Câmara já assumiu que foi obrigada a rever muitas localizações previstas no plano. Ao jornal Público, a CML falou de uma “revisão exaustiva” do seu reposicionamento, para obedecer às “regras de acessibilidade pedonal” e “adaptação à nova realidade da cidade”. Em causa estão dois milhares de abrigos, 900 mupis, 125 painéis publicitários e 75 sanitários públicos. Em troca a JCDecaux fica com a exploração publicitária dos espaços e paga 8,3 milhões de euros por ano à CML, durante 15 anos.

Siga o novo canal da Time Out Lisboa no Whatsapp

+ Escadas da estação Baixa-Chiado voltam a andar em Setembro

Últimas notícias

    Publicidade