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Palácio Nacional de Sintra
© José Marques SilvaCasa do Concelho de Estado no Palácio Nacional de Sintra

Palácio de Sintra resolve enigma com mais de 200 anos

O Palácio Nacional de Sintra identificou finalmente a função original da sala que exibia o Leito de Aparato do século XVII desde 2019.

Raquel Dias da Silva
Escrito por
Raquel Dias da Silva
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Foram precisos três anos de investigação para resolver um enigma com mais de dois séculos. A função original da sala, que exibia o Leito de Aparato do século XVII desde 2019, só agora foi identificada. Ao que parece, entre os séculos XVI e XVIII, destinava-se às mais altas instituições da monarquia, uma vez que, juntamente com a sala contígua, conhecida como Sala dos Árabes, acolheu os tribunais superiores do reino, nomeadamente a Casa da Suplicação. Posteriormente, o espaço foi ainda adaptado para as reuniões do Conselho de Estado. Esta descoberta determinou uma nova museografia, que poderá explorar já na sua próxima visita.

Ao identificar a função original da sala, descobriu-se também que, entre o final da Idade Média e ao longo da época moderna, entre os séculos XIII e XVIII, o palácio era mais do que uma residência para a família real. “Era um lugar onde o rei provia à protecção dos seus súbditos, dando-lhes abrigo, alimento e justiça”, lê-se em nota do Palácio Nacional de Sintra, que destaca a importância da “tripla função”, que exigia por sua vez três espaços distintos, nomeadamente aposentos para acolher, cozinhas para alimentar e salas para julgar crimes ou conflitos. “Quando o rei estava no palácio, era aí que funcionavam as principais instituições do reino, pelo que era imperativo que existissem dependências destinadas ao funcionamento dos tribunais superiores. A identificação das salas que tinham funções judiciais no palácio Nacional de Sintra vem transformá-lo no único palácio do país onde é possível tomar contacto com as três dimensões referidas em simultâneo.”

O trabalho de pesquisa foi realizado no âmbito do projecto global de revisão da museografia do Palácio Nacional de Sintra, que envolveu a interconexão de fontes históricas muito diversas, desde a análise arquitectónica do edificado até ao estudo de iconografia da época. Entre todos os documentos estudados, o mais importante encontrava-se no arquivo do palácio e trata-se de um manuscrito do final do século XVII, curiosamente intitulado Livro das (...) Cousas Ocultas. Na sequência da descoberta, a equipa determinou a importância de uma nova museografia. Mas, face à ausência de objectos que permitissem uma reconstituição histórica, optou-se por uma interpretação contemporânea do que eram esses espaços de reunião. “O que significa que, em vez de enveredar pela produção de réplicas de objectos perdidos, procurou-se aproximar a experiência do visitante actual à dos utilizadores do palácio no passado”, lê-se na mesma nota.

“Aproveitámos o confinamento para rever a narrativa, o que tem sido escrito acerca do palácio, e percebemos que afinal percebemos ainda muito pouco. Esta descoberta foi a pedra-chave que nos permitiu pensar uma nova forma de interpretar o espaço”, diz o conservador Bruno A. Martinho, que faz parte da equipa de técnicos do Palácio Nacional de Sintra. “O Livro (...) das Cousas Ocultas, que começou a ser escrito em 1689, é um livro de registo onde o almoxarife do palácio, uma espécie de director, pede ao mestre de obras, responsável por toda a construção, para que lhe mostre todas as coisas ocultas, desde as estruturas de madeira às vigas e aos canos. Entre as entradas, encontramos uma de Outubro de 1700, que se refere às coisas ocultas na Casa do Conselho e, cruzando esta pista com toda uma série de outras fontes documentais, desvendámos o mistério.”

A Sala dos Árabes é agora apresentada como antecâmara, ou seja, uma sala de espera ou dos “passos perdidos”, onde os procuradores aguardavam pelos juízes da Casa da Suplicação ou os mensageiros das petições que eram submetidas ao Conselho de Estado. Já na segunda sala, que agora sabemos ter-se destinado às reuniões dos juízes da Casa da Suplicação e, mais tarde, dos conselheiros do rei, sobressai a nova cenografia têxtil, caracterizada por efeitos dinâmicos que se alteram consoante a circulação no espaço. A solução remete para a forte presença dos padrões têxteis do Renascimento e Barroco europeus. “Através desta reconstituição alegórica, pretende-se produzir uma experiência sensorial análoga à daqueles que entrassem numa sala preparada para o Conselho de Estado.”

É de referir ainda que o Leito de Aparato do século XVII, que estava nessa segunda sala, foi transferido para uma pequena dependência junto à Câmara de D. Afonso VI, para complementar a narrativa relativa à vida deste monarca no Paço de Sintra. Pensa-se que, após a sua morte, o seu corpo terá sido velado na Sala das Pegas sobre um leito de aparato semelhante a este.

Palácio Nacional de Sintra. Seg-Dom 09.00-18.00. Desde 8,08€ (online)

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