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Pam and Tommy
Erin SimkinLily James como Pamela Anderson e Sebastian Stan como Tommy

‘Pam & Tommy’: sexo, vídeo e rock ‘n’ roll

Minissérie sobre o primeiro “viral” da Internet, a sex tape de Pamela Anderson e Tommy Lee, estreia-se esta quarta-feira no Disney+. Mais adulto do que isto para o serviço de streaming do Rato Mickey é difícil.

Hugo Torres
Escrito por
Hugo Torres
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Consentimento. É esta a palavra-chave de Pam & Tommy, minissérie que se estreia esta quarta-feira, 2 de Fevereiro, no Disney+. Por duas razões. A primeira é evidente e funciona como premissa para os oito episódios, que se centram no roubo e na divulgação de uma cassete de vídeo amadora, gravada durante a lua-de-mel de Pamela Anderson e Tommy Lee, em que o casal, sozinho e livre de constrangimentos, faz uso da sua sexualidade e a regista para memória futura – e privada. Ela era então a estrela da série Baywatch: Marés Vivas, a tentar dar o salto para o cinema. Ele, o baterista de Mötley Crüe, banda de glam metal imensamente bem-sucedida nos anos 1980 que ainda não tinha percebido que havia sido completamente atropelada por um camião TIR vindo de Seattle – o grunge. Por isso, embora não soubesse de antemão o que levava, o ladrão que lhes surrupiou a cassete depressa percebeu estar diante de uma potencial mina de ouro. E tratou de a capitalizar, à revelia das duas celebridades, encontrando na jovem Internet o faroeste perfeito para o fazer. Mas perdeu o controlo da situação e, em pouco tempo, o vídeo estava a ser visto por milhões e milhões de pessoas sem que a palavra consentimento lhes cruzasse o pensamento. A segunda razão é porque nem Pam nem Tommy foram tidos nem achados para a produção desta série, que voltará a pôr a sua intimidade na ordem do dia.

Vamos por partes. Pamela Anderson e Tommy Lee conheceram-se numa discoteca. E a inapelável atracção física entre ambos evoluiu à velocidade a que vivem as rockstars. Casaram-se num impulso, menos de uma semana depois, fazendo de imediato as delícias da imprensa cor-de-rosa. Estávamos em Fevereiro de 1995. Foram viver para casa dele, apesar de o quarto principal estar em obras. Uma empreitada que demorava porque Tommy decidia mudar disposições ou materiais a meio dos trabalhos, de um momento para o outro. E não pagava nem ao empreiteiro nem ao carpinteiro. Pagaria no fim. Só em materiais, devia milhares de dólares, e os dois operários, que tinham de pôr o dinheiro do próprio bolso, fartaram-se, fizeram exigências – e o músico acabaria por despedi-los. Sem um tostão. O carpinteiro, Rand Gauthier, decidiu então vingar-se, roubando o cofre da garagem. Entrou furtivamente na mansão e levou-o. Só mais tarde descobriu, entre os pertences, a cassete, que viu em conjunto com Milton Owen Ingley, um produtor e realizador de pornografia que conhecia. Tentaram comercializá-la através do circuito comercial, mas todas as portas se fecharam. Até que Rand teve a ideia de a vender online. Mas as cópias multiplicaram-se, pirateadas e vendidas na candonga, e eventualmente, à procura de tráfego, um site disponibilizou-o gratuitamente. Pegou fogo.

O casal tentou acções judiciais, contratou um detective privado, mas só conseguiu empolar a situação. O vídeo estava em todo o lado, era visto em festas, objecto de graças nos monólogos de Jay Leno; chegou a pensar-se que seria um golpe publicitário. Agora, esta série criada por Robert Siegel (O Wrestler) e realizada por Craig Gillespie (Eu, Tonya, Cruella) tenta reenquadrar a narrativa, não deixando margem para dúvidas de que Pam e Tommy foram vítimas, violados na sua intimidade, e dando este caso como o elemento corrosivo que acabaria com uma grande história de amor (o casal, que teve dois filhos, perdendo um outro antes disso, divorciou-se em 1998). Faz mais. Dá dignidade, profundidade e inteligência a Pamela Anderson, que é algo que não se pode dizer nem dos tribunais, nem dos media, nem do público em geral de há 25 anos. A actriz e modelo tinha posado para a Playboy e entrava de fato-de-banho vermelho e decotado pela casa adentro de toda a gente. Não tinha direito à reserva do seu corpo, à escolha. Tinha feito a própria cama.

Irreconhecível, Lily James (Downton Abbey) interpreta Pamela como uma mulher nada alienada, consciente da forma como a viam e de como seria muito difícil desenvencilhar-se da pele de femme fatale descerebrada a que queriam votar. Está a ser aplaudida um pouco por todo o mundo, e a série gira em torno dela. No entanto, é Sebastian Stan (O Falcão e o Soldado do Inverno) que rouba todas as cenas em que entra, como o enérgico, apaixonadíssimo e despudorado Tommy Lee. O antigo casal sai bem desta minissérie. Se isso é suficiente para os compensar por Pam & Tommy ter avançado sem o seu aval, logo se verá. À partida, não parece: a imprensa americana fala numa experiência “dolorosa” para Pamela Anderson. Courtney Love, amiga de longa data, carregou nas palavras e qualificou este projecto como “vil”. Um dos responsáveis por ele é o produtor e actor Seth Rogen (Alta Pedrada), que interpreta o carpinteiro-ladrão Rand Gauthier. Outro é o argumentista e produtor D.V. DeVincentis, que ainda recentemente adaptou para televisão outro escândalo sexual dos anos 1990, em Impeachment: American Crime Story (FOX Life), embora aí segundo as regras do nosso tempo – com o envolvimento da vítima, Monica Lewinsky. Desta vez não foi assim.

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