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Festival Panos
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Panos. Um festival de teatro sem dores de crescimento

Entre 13 e 15 de Maio, o Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, recebe o Festival Panos, que cruza o teatro escolar e juvenil com novas dramaturgias.

Joana Moreira
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Joana Moreira
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"O objectivo do Panos não é formar actores nem actrizes”, diz Sandro William Junqueira. E, ainda assim, há quem saia do Festival Panos – Palcos Novos, Palavras Novas para outros palcos. “Temos vindo a assistir a cada vez mais pessoas, como jovens integrantes de elencos, que agora estão à frente de grupos que participam no Panos. Outros escolheram mesmo o teatro, formaram-se, já estão em companhias, já estão a encenar, já estão nos grandes palcos. E começaram aqui”, diz o coordenador desta edição do projecto, que coloca jovens dos 12 aos 19 anos em contacto com textos inéditos de autores de renome.

De 13 a 15 de Maio, seis grupos de teatro de todo o país apresentam as suas encenações na Sala Garrett e na Sala Estúdio do Teatro Nacional D. Maria II, a partir de textos dramatúrgicos originais de Afonso Cruz, Joanna Murray-Smith e Keli Freitas. O objectivo do festival – criado e desenvolvido na Culturgest, de 2005 a 2017, antes de se mudar para o D. Maria II – permanece intocável: “dar aos jovens uma oportunidade de terem acesso a um texto que de outra forma não poderiam ter, contemporâneo, onde se coloquem questões que os façam abrir portas e janelas na cabeça. Textos que os façam questionar, fazer perguntas, dialogar, discutir, encontrar soluções, pensar. Pensar o lugar que ocupam no mundo. Calçar os sapatos do outro”.

Foram cerca de 50 grupos de teatro escolar e juvenil a participar com propostas para cada um dos textos originais. Desta meia centena, apenas seis (duas encenações para cada texto) foram seleccionadas. Foi o caso da Sol d’Alma – Associação de Teatro de Ovar, que levará a palco As Cigarras Septendecim e Tredecim, de Afonso Cruz. Leandro Ribeiro, encenador e director artístico da Sol d’Alma, admite que foi um desafio: “Não foi um processo fácil porque o texto que foi escolhido pelo elenco, dos três a concurso, era aquele que nos parecia menos vocacionado para um espectáculo teatral. Sentimos que havia uma cadência um pouquinho mais lenta. Essa foi a maior preocupação. Mas foi desafiante também por isso. Foi o motor para que nos pudéssemos desafiar para fazer algo diferente do que temos vindo a trabalhar”. 

Com um grupo numeroso entusiasmado, o encenador confessa que “ir à capital e representar o trabalho naquele que é o maior espaço dedicado à cultura no nosso país é um prémio”. E continua: “alimenta o ego, o nosso umbigo, mas por outro lado dá-nos uma responsabilidade maior de querermos ser ainda mais exigentes, sermos mais primorosos. Por um lado é uma vaidade, por outro é ter uma responsabilidade acrescida. E isso traz conhecimento, traz outra postura perante o nosso trabalho futuro. Para o próximo trabalho provavelmente não quererão deixar cair a fasquia”. 

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Maria Silva, 16 anos, está no grupo de teatro Sol d’Alma há quatro anos. Não tem como ambição ser actriz, “é um hobby”, assegura. A estudar na área das ciências, a representação é “uma paixão”. “Está a ser ao mesmo tempo incrível, mas muito stressante. Sentimos o dever de fazer um bom trabalho, ao mesmo tempo é uma honra enorme. O Teatro Nacional... nunca pensei que fosse pisar aquele palco”, conta à Time Out. A jovem apaixonou-se pelas palavras de Afonso Cruz mesmo antes de as levar à cena. “É muito poético. Sinto que estou habituada a textos com um ritmo diferente. É uma história de uma vida, é um texto lento, digamos, e muito bonito”, descreve. 

Para chegar à história de As Cigarras Septendecim e Tredecim, Afonso Cruz inspirou-se nos diferentes ritmos de duas espécies do animal. “Usei como metáfora, como premissa, dois tipos de cigarras, que ficam em estado larvar, debaixo de terra, durante 13 ou 17 anos, depende das espécies, e eclodem para se reproduzirem”, explica à Time Out. “Usei estas duas espécies para mostrar a solidão em que às vezes as pessoas vivem, ou nesse estado de quase não vida. E isso poderá acontecer em ritmos que não são coincidentes. Usei esses números para a vida de duas pessoas que nunca se cruzam, excepto em determinado momento”, revela. 

As Cigarras Septendecim e Tredecim está em exibição na Sala Estúdio em duas apresentações únicas, a primeira dia 13, às 19.00, interpretada pelo grupo ovarense, e a segunda dia 15, à mesma hora, mas desta feita com o Centro de Artes e Formação – Junta de Freguesia do Lumiar de Lisboa. 

Além desta, há ainda outras duas peças que completam a programação do Festival Panos. São elas Rio Sombrio, de Joanna Murray-Smith, com tradução de Joana Frazão, com sessões dia 13, às 21.30, e dia 14, às 19.00, pelo Trevo Violeta Escuro de Portalegre e pela Escola de Artes do CAE da Figueira da Foz, respectivamente, e Fábrica de Matar Baleia, de Keli Freitas, que ocupa a Sala Garrett nos dias 14 e 15 de Maio, às 21.30, no primeiro dia pelas mãos da Escola da Bemposta de Portimão e no segundo pelo Teatro do Desassossego de Estarreja. 

Teatro Nacional D. Maria II. 13-15 Mai. Sex-Dom 19.30 e Dom 16.30. 11€

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