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Para a música nacional, o WOMEX é “um acelerador equivalente a 30 ou 40 anos de trabalho”

Após uma primeira edição no Porto, no ano passado, a maior feira mundial na área da música chega a Lisboa, entre 19 e 23 de Outubro.

Renata Lima Lobo
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Renata Lima Lobo
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Alguns milhares de profissionais da música estão a chegar a Lisboa. A feira internacional WOMEX estaciona na Altice Arena entre 19 e 23 de Outubro, nesta espécie de Websummit musical, procurada por programadores de festivais, produtores, directores de centros culturais ou, claro, músicos que se querem dar a conhecer ao mundo. Os bilhetes estão esgotados, mas ainda há passes para concertos que têm vagas para o público em geral, entre salas como o Coliseu dos Recreios, o Cinema São Jorge, a Cinemateca ou o Capitólio. E que podem esgotar a qualquer momento.

A história do WOMEX começa em 1994, em Berlim, cidade onde decorreu a primeira edição desta feira internacional que junta profissionais do mundo da música que querem conhecer ou dar a conhecer as tendências da área, trocar contactos e desenvolver projectos. Em torno desse que é o epicentro da feira, na Altice Arena, há um conjunto de actividades paralelas como conferências, filmes ou mesmo concertos que funcionam como sessões de apresentação de artistas de todo o mundo, que podem mostrar na primeira pessoa as suas valências em cima de um palco.

São mais de 60 os artistas oriundos de 41 países que vão mostrar o seu talento em Lisboa, entre eles, 13 talentosos artistas nacionais que têm uma oportunidade rara de expandir as fronteiras da sua música, assim como artistas da lusofonia que estarão também em destaque, galegos incluídos. A agenda inclui nomes próximos do público português como Pedro Jóia, Tito Paris, Sara Correia, Selma Uamusse ou Prétu [o artista anteriormente conhecido Chullage] e outros menos conhecidos por estas paragens, pelo menos para já.

“Pela primeira vez, e foi uma das coisas que fez com que decidissem por nós, se apresentou um palco multinacional, mas em torno do mesmo conceito e da mesma língua. Neste caso foi o palco chamado Lusofónica, em que artistas de cinco países diferentes se apresentam e de facto constituem uma unidade temática muito diversa, mas têm este lado de unidade que tem a ver com a língua. E isso foi muito interessante. Tão interessante que, tanto quanto eu sei, há outros países que já estão a falar em fazerem coisas algo idênticas para ganharem mais hipóteses de apresentarem as suas propostas artísticas”, diz à Time Out António Miguel Guimarães, director da AMG Music, a produtora responsável por ter trazido o WOMEX para Portugal dois anos consecutivos.

Sara Correia
©Pedro AfonsoSara Correia

Mas esta viagem do WOMEX por Portugal não serve apenas para dar ideias aos outros. A divulgação dos talentos que cantam em língua portuguesa é um peso importante na balança do acolhimento da iniciativa. O director da AMG Music explica porquê. “Se nós conseguirmos pôr um artista por ano no WOMEX é uma grande conquista. Porque não há nenhuma obrigação, nem é possível pôr um artista de cada país. Senão em vez de 60 tínhamos de ter 150 lugares. Ou seja, pode haver anos em que não aparece nenhum português e isso já aconteceu. O facto de termos conseguido vir para aqui permitiu que se criassem palcos de língua portuguesa e conseguir num só ano apresentar 13 artistas e em dois anos quase 30.” O que, segundo Guimarães, equivale a décadas de trabalho para conseguir o mesmo. “Essa é que é uma realidade que os profissionais conhecem bem e que o público não imagina. O significado para a música portuguesa destes dois WOMEX é que foi um acelerador equivalente a quase 30, 40 anos de trabalho, de exposição de artistas.” O director da AMG Music fez parte do júri internacional que, para esta edição, teve de seleccionar 60 artistas entre mais de mil candidaturas. Um júri designado por “os sete samurais”, sete pessoas de nacionalidades “que têm de tentar ser justos na distribuição geográfica e de estilos. São uns três meses de trabalho a tempo inteiro, não é nada simples”.

Acontecerem edições consecutivas no mesmo país não é inédito, já aconteceu em Copenhaga e Sevilha (três consecutivas, entre 2010 e 2012) e Berlim (em 1999 e 2000), mas não é comum. No caso português, António Miguel Guimarães diz que não foi um mero acaso. “O Porto e Lisboa têm uma característica que é muito difícil de encontrar noutras cidades. Que é ter um conjunto de seis ou sete teatros muito próximos uns dos outros. Londres tem, mas estão todos ocupadíssimos, com aquele tipo de programação que fica ali uma década. É raro haver uma cidade que consiga reunir tantos teatros no que a gente chama de walking distance [a uma curta distância, que pode ser percorrida a pé]. Por outro lado, também conseguimos reunir boas condições técnico-artísticas e uma proposta ganhadora, com apoios sólidos”, diz, destacando os municípios das duas cidades, assim como a Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), o Ministério da Cultura e o Turismo de Portugal. “Isto permitiu que em dois anos a música portuguesa tenha um destaque enorme à escala mundial, com potencialidade de contratação para os próximos dois, três anos.”

Trazer o WOMEX para Portugal era uma vontade antiga de António Miguel Guimarães, que trabalha no meio musical há 38 anos, tendo sido o responsável por mais de sete mil espectáculos realizados por 141 artistas. Foi, inclusive, o responsável pelo lançamento e internacionalização do grupo Madredeus, com o qual trabalhou de 1989 a 2001. Diz já ter participado em “15 ou mais WOMEX ao longo da vida” e afirma mesmo que, inicialmente, não valia a pena trazer o evento para Portugal por falta de capacidade técnica e de produção, ou de teatros com equipamentos. “Ao longo destes 28 anos, o próprio cenário cultural português e das cidades de Lisboa e Porto foi-se alterando a pouco e pouco. E a pouco e pouco eu também fui alterando a minha posição sobre isso e comecei a achar que se calhar fazia sentido”, recorda, sublinhando que “a própria música portuguesa ganhou outra força”.

WOMEX
©Mónica MirandaPrétu

E mais força poderá ganhar após estes dois anos de WOMEX em Portugal. “Acima de tudo isto é um evento para profissionais da cultura de todo o mundo. Mesmo nos concertos, o público tem um acesso limitado, porque o objectivo verdadeiro da iniciativa é um mercado. Os delegados são directores de centros culturais, são programadores de festivais, jornalistas, no fundo profissionais da música. Eles vêm à iniciativa para conhecer as novas propostas artísticas que vão contratar para os dois, três anos seguintes. E estes delegados – que durante o dia estão a comprar, a vender, a trocar opiniões, a conhecerem projectos novos – podem à noite verificar que aqueles artistas sobre os quais falaram durante o dia de facto têm um concerto sólido que eles podem depois levar, sei lá, para a Austrália, para o Brasil ou para a China”, explica o director-geral da AMG Music, para quem é “quase um privilégio conseguir apanhar um destes bilhetes antes de eles esgotarem”, referindo-se aos concertos em que a maioria do público virá do WOMEX. Se quiser tentar a sua sorte, o passe dos espetáculos da Avenida da Liberdade (Tivoli, Capitólio, São Jorge e Cinemateca) custa 35€ e o que dá acesso ao Coliseu de Lisboa custa 30€.

A localização do WOMEX 2023 será anunciada durante o evento, mas o tempo de Portugal, pelo menos por agora, fica por aqui, como avança António Miguel Guimarães. "Foi o tempo de Portugal no Porto e agora em Lisboa, para o ano será o tempo de uma outra cidade e de outro país."

WOMEX. Varios locais (Lisboa). Passes para os concertos: 30€-35€.

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