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A celebração está marcada para domingo, 29 de Junho, às 16.00, em jeito de lanche entre vizinhos. Coisa modesta mas com significado para quem se mobilizou durante meses, recebeu uma multa de 700 euros na sequência de uma manifestação e bateu o pé em muitas reuniões da Câmara e da Assembleia Municipal de Lisboa, pedindo a pedonalização da Travessa e da Rua dos Mastros, na freguesia da Misericórdia. Com a colocação de pilaretes na segunda-feira da semana passada, 16 de Junho, a travessa tornou-se oficialmente dos peões. Já a rua é uma luta que continua. "Não vamos desistir", avisa Ksenia Ashrafullina, activista na área da mobilidade urbana e uma das fundadoras do colectivo Lisboa Possível, que esteve na frente da mobilização.
"Há mais de meio ano que a Câmara nos tinha dito que a Travessa já era pedonal, que não havia nada mais para fazer, mas a verdade é que havia sempre montes de carros estacionados ali. Foi por isso, aliás, que fechou o restaurante Miss Dumpling", conta a responsável. Na sequência de várias manifestações e encontros, em 2023 e 2024, entre moradores, comerciantes e activistas, com comida, brincadeiras de rua ou mesmo leituras de poesia, em retrospectiva, a responsável assume que "foi muita luta". Mas o resultado mostra que "as pessoas não podem ficar caladas". E as experiências de convívio que aconteceram em diferentes fins-de-semana mostraram como é possível alguns espaços da cidade terem outro uso, desde a brincadeira livre até ao lanche que agora se organiza. "A nossa ideia não é fazer barulho, é podermos usar aquele espaço de forma saudável, para celebrar que a rua não esteja finalmente destinada aos carros", explica Ksenia.

Em 2020, pela primeira vez, a Travessa dos Mastros tornou-se temporariamente pedonal, no âmbito do projecto da CML "A Rua é Sua". Em 2023, o colectivo Lisboa Possível juntou-se ao partido Volt (e a oito estabelecimentos comerciais), tendo conseguido fechar a rua ao trânsito motorizado durante um sábado, o de 8 de Julho, na acção "Com Gente Dentro". Além das esplanadas, houve leituras de poesia, uma mini-feira do livro, folclores e conversas sobre activismo. Noutros fins-de-semana, repetiu-se a dinâmica.

Na petição entregue em Fevereiro de 2024 e assinada por mais de mil pessoas, explicava-se que "pedonalizar estas duas ruas, além de devolver a segurança e a dignidade aos peões, significa também eliminar o ruído constante do motor, melhorar a qualidade do ar, contribuir para o combate às alterações climáticas, proporcionar prosperidade dos negócios locais, criar novos postos de emprego e recuperar a vida do bairro”. Nos capítulos da segurança e dignidade, em termos práticos, era desejo dos moradores que não tivessem de se sujeitar a caminhar em passeios estreitos (entre 60 e 73 centímetros) ou a passar para a estrada, por levarem carrinhos de bebé ou circularem em cadeiras de rodas.

Depois de duas petições, uma a favor da eliminação do trânsito automóvel e outra sugerindo a limitação da velocidade a 30 km/h, a Assembleia Municipal de Lisboa decidiu, em Fevereiro deste ano, recusar a pedonalização da Rua dos Mastros, mas o movimento continua a defender que "não faz sentido a rua manter o trânsito". Entretanto, na travessa, "é preciso celebrar cada pilarete", como escreveu o Lisboa Possível na página de Instagram. O projecto, no entanto, é que a travessa não fique por aí. "Queremos criar ambiente, pôr flores, luzinhas, transformá-la segundo o conceito da rua holandesa [woonerf, isto é, uma rua de convívio]", explica Ksenia Ashrafullina.
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