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Este artigo foi originalmente publicado na revista Time Out Lisboa, edição 673 — Primavera 2025
Quando Constança Cordeiro se mudou para Londres, em 2014, era difícil beber um bom cocktail em Lisboa. “Havia praticamente só o Cinco Lounge. Mais o Foxtrot e pouco mais”, recorda a proprietária da Toca da Raposa. “A questão”, aponta, “era a falta de clientes, mais do que a falta de interesse dos profissionais. Porque, quando trabalhava no Penha Longa, tinha colegas a irem a competições da Beefeater, em 2013. Só que não havia público, não havia mercado.” Depois da sua partida houve, porém, duas grandes mudanças: o arranque do Lisbon Bar Show e a abertura do Red Frog, ambas com o dedo de Emanuel Minez.
O Lisbon Bar Show, cuja décima edição se realizou entre os dias 20 e 21 de Maio, na Sala Tejo da MEO Arena, foi introduzido em 2014 por Alberto Pires e Minez. Passado um ano, este último juntou-se a Paulo Gomes para abrir o Red Frog, na Rua do Salitre. E, à sua maneira, mudaram a nossa relação com os bares e os cocktails. “Os barmen normais, na maior parte dos bares, que há uns anos só serviam mojitos e caipirinhas, foram ficando bastante mais elaborados e a servir melhor”, aponta Alberto Pires. “E depois há um nicho relativamente pequeno de bartenders que acompanham as últimas tendências internacionais e, nesse segmento, creio que o Red Frog alterou bastante o panorama.”
O co-fundador do Lisbon Bar Show faz questão de sublinhar que o “Cinco Lounge foi o primeiro bar a começar a fazer cocktails com os padrões lá de fora, mais elaborados, uns bons anos antes”. Acrescenta, porém, que o Red Frog levou esta prática “para outro patamar, entrou na lista dos melhores bares do mundo, há bartenders de fora que vêm cá propositadamente para visitar o espaço.” E não são só os profissionais que vêm de fora. Muitos dos clientes são estrangeiros, que reservam mesa no bar – que hoje partilha a morada com o Monkey Mash, na Praça da Alegria – antes mesmo de aterrarem em Lisboa.
Não é só no speakeasy de Emanuel Minez e Paulo Gomes que se ouve falar mais em inglês do que em português, no entanto. “Quase não há público nacional, é mais à base dos turistas estrangeiros. E isso foi muito nítido também no [tempo da] covid-19. Quando já se podia ter os bares e cafés abertos, mas ainda não tínhamos turistas, foi muito complicado”, lembra Constança, que voltou para Portugal para abrir a Toca da Raposa em 2018 e não saiu mais. “O português [médio] não tem poder de compra para estar a beber cocktails.” Se hoje há tantos bares de cocktails quanto há, deve-se muito ao aumento do turismo, conclui.
Alberto Pires concorda com esta leitura. “Havendo uma massa de turistas para gastar dinheiro e predispostos para ter outras experiências e para ver outras bebidas, torna-se bastante mais fácil do que se fosse só para o mercado português”, reconhece. “Sem eles tornava-se complicado. Porque não temos tanto poder de compra. Isso sente-se nalguns bares no Algarve, porque o turismo lá é muito sazonal”. José Mendes, bar manager e sócio do Torto, no Porto, diz o mesmo. O co-fundador do Lisbon Bar Show ressalva, ainda assim, que “há bastantes casos de sucesso no Algarve, com cocktails muito bons”.
“O Red Frog fez muito pela comunidade”
Depois do Red Frog, começaram a abrir mais bares de cocktails em Lisboa. Primeiro a Toca da Raposa, depois o Café Klandestino e muitos outros. Constança Cordeiro nota, porém, que não foi influenciada pelo speakeasy da Praça da Alegria. “Estava em Londres quando o Red Frog abriu, e voltei porque queria abrir o meu bar. O João [Pedro Resende] do Café Klandestino também estava fora, em Barcelona. O Imprensa que também abre a seguir, não foi nada influenciado por eles, porque o João [Cabral], um dos donos, também estava a trabalhar na área, em Nova Iorque.”
“O que aconteceu foi que Lisboa começou a crescer, por causa do turismo”, considera a proprietária da Toca da Raposa, do Uni e do recente Croqui. “E eles de facto apanharam ali a primeira maré. Se bem que, no caso deles, têm um objetivo muito concreto, que é estar nos 50Best [Bars]. E trabalham muito para isso.”
Já José Mendes, que antes do Torto esteve ainda no Royal Cocktail Club, aberto em 2017 no Porto, e só no ano passado visitou “mais de 50 bares pelo mundo fora”, reconhece o impacto que o Red Frog teve no meio. “Tenho uma excelente relação com o Paulo com o Emanuel Minez, somos parceiros nesta luta de fazer crescer Portugal fora de portas. Mas tenho certeza absoluta, e digo isto com toda a convicção, que o Red Frog fez muito para o desenvolvimento da comunidade [de bartenders] não só de Lisboa, como a nível nacional.”
Introduziu novas técnicas e sabores, outro cuidado no serviço. E continua a inovar.
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