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Luís Buchinho, ModaLisboa
© Ugo CameraDesfile de Luís Buchinho

Shot de moda: três dias de ModaLisboa em dez momentos

Não foi à ModaLisboa? Nada tema – só perdeu três dias de desfiles, com propostas de designers nacionais para o próximo Inverno, inteligência artificial e uns quantos figurões a pisar a passerelle (incluindo craques da bola). Eis os pontos altos.

Mauro Gonçalves
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Mauro Gonçalves
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Não foi um fim-de-semana calmo. Aconteceu de tudo: uma final do Festival da Canção, eleições legislativas, os Óscares na costa Oeste dos Estados Unidos e até uma depressão chamada Mónica, como se o céu cinzento da semana passada não tivesse sido já deprimente o suficiente. É, por isso, natural que lhe tenha escapado um certo evento de moda ali para os lados do Terreiro do Paço.

Esta foi a edição número 62 da ModaLisboa e, embora com as ausências notadas de Nuno Gama, Nuno Baltazar ou Constança Entrudo, percorreram-se muitos e bons quilómetros no Pátio da Galé – para trás e para a frente, uma e outra vez, todo o santo fim-de-semana. E houve de tudo um pouco, como aliás o certame já nos habituou: casacos quentinhos, cachecóis de futebol, cravos vermelhos, bordados portugueses e uma mão cheia de ideias frescas para o futuro, não tivesse o programa arrancado na sexta-feira com o concurso Sangue Novo, que distingue o novos talentos do sector.

Se não foi à ModaLisboa, não se preocupea. Dizemos-lhe tudo o que precisa de saber sobre o que aconteceu nos últimos três dias.

1. São pétalas, Luís

A partir de um tecido profusamente composto de pequenas pétalas brancas, Luís Carvalho construiu toda uma colecção. A natureza, com os seus recortes e texturas, inspiraram o designer a apostar numa modelação orgânica e menos pautada pela rigidez da alfaiataria, a sua base de trabalho mais recorrente. Abundaram as peças sem género e os relevos nos materiais escolhidos. A paleta percorreu tons como o branco, o vermelho, o preto, o lilás e o verde água.

Luís Carvalho, ModaLisboa
© Ugo Camera

2. Dino Alves jogou em casa

Moda e futebol nunca foram os melhores amigos. Aliás, não têm por hábito relacionar-se de todo, para sermos mais exactos. Excepção aberta por Dino Alves desde que iniciou uma parceria com uma conhecida plataforma de apostas desportivas. Desta vez, estendeu um tapete de relva sintética e apropriou-se da iconografia futebolística com um emblema e cores próprias. Destaque para o uso de tecidos de alfaiataria e para os franzidos e plissados que vestiram uma claque, no mínimo, diferente. Nuno Gomes e Ricardo Quaresma foram os convidados especiais do designer. Não se limitaram a assistir e eles próprios desfilaram no primeiro dia de ModaLisboa.

Dino Alves | ModaLisboa - For Good, Nuno Gomes
© Ugo Camera

3. A inteligência de paatiff

A identidade artística de José Sobral foi um dos pontos altos do segundo dia de desfiles. Numa colecção concebida para a marca portuguesa Lion of Porches, paatiff convocou aquela que há muito se tornou a sua principal ferramenta criativa: a inteligência artificial. As peças nasceram no universo virtual e materializaram-se num desfile de carne e osso. Quanto a José Sobral, surge no calendário da ModaLisboa depois de se ter sagrado vencedor da primeira edição da Semana da Moda de Inteligência Artificial, evento global que distingue criativos dos quatro cantos do mundo.

Lion of Porches X Paatiff | ModaLisboa - For Good
© Ugo Camera

4. A resistência de Buchinho

O desfile de Luís Buchinho, no sábado, é um daqueles casos em que vale a pena começar pelo fim. De cravos vermelhos na mão, as manequins voltaram à passerelle em jeito de recado. “A liberdade não foi sempre assim. Temos de homenageá-la, cuidá-la e garantir que vai existir no futuro, sempre.” As palavras do designer, minutos depois, tornaram a mensagem inequívoca. Já a colecção, voltou a trazer ao de cimo o lado mais pragmático de Buchinho, pensada para satisfazer todas as necessidades do guarda-roupa da mulher. Eclética e completa, assentou sobre referências como o vestuário de trabalho – olá, macacões –, detalhes belicistas e elementos do universo do streetwear, como as malhas caneladas misturadas com materiais técnicos. Peças chave do guarda-roupa que o criador quer que perdurem no armário, também numa lógica de sustentabilidade. Um casaco de agasalho, uma renda romântica, um vestido para todos os dias – no que depender de Luís Buchinho, a mulher está vestida para o próximo Inverno.

Luís Buchinho | ModaLisboa - For Good
© Ugo Camera

5. Os novos clássicos de Ricardo Andrez

Exige-se de um designer de moda que surja fresco e viçoso a cada estação sem, ainda assim, perder a sua assinatura. Uma tarefa árdua que fica seriamente comprometida perante a falta de recursos financeiros ou com algum tipo de bloqueio criativo. Ricardo Andrez tem passado com distinção ao teste do tempo. Com um estilo mais apurado do que nunca, continua a temperar as suas colecções, com raízes no streetwear e no vestuário urbano, com detalhes femininos e propostas cada vez menos definidas pelo género. Da combinação de uma camisa repleta de folhos com um blusão relaxado nasce a mais recente silhueta Andrez, que simultaneamente continua a perseguir a plena eficiência. Na colecção apresentada no último sábado, 95% dos tecidos usados provêm de deadstock, um recorde que a marca quer tornar referência para o futuro.

Ricardo Andrez | ModaLisboa - For Good
Ugo Camera

6. O novo velho Gonçalo

“O Gonçalo cheio de vontade voltou.” O anúncio veio do próprio. Gonçalo Peixoto nunca foi a lado nenhum, mas parece ter reencontrado uma satisfação no processo criativo que lhe permitiu injectar um novo ânimo na colecção do próximo Inverno. Chamou-lhe For Love e mostrou que uma mulher mais madura é sinónimo de um designer mais maduro também. Aos 27 anos, compreende melhor as necessidades do guarda-roupa feminino, e das suas clientes em particular, e assume-se como um designer de duas frentes – de um lado os brilhos e transparências que se tornaram numa imagem de marca, do outro uma noção de sobriedade que usou para produzir sobretudos robustos e blazers de cor impecável. Na passerelle, os dois registos dançaram a mesma música, perante uma sala a abarrotar de fiéis seguidoras (Rita Pereira e Bárbara Bandeira incluídas). A reivenção de Peixoto não fica por aqui. No Porto, por estes dias, com o atelier renovado, atende as primeiras noivas.

Gonçalo Peixoto | ModaLisboa - For Good
© Ugo Camera

7. Da Ucrânia, com amor

Suspensa desde o início da guerra, a Semana de Moda ucraniana encontrou num programa internacional a forma de dar palco aos mais de 60 designers que integram o calendário do evento. Ao abrigo da iniciativa Support Ukrainian Fashion, três deles apresentaram as suas colecções na ModaLisboa, num desfile colectivo que aconteceu no último domingo. Darja Donezz foi a única a pisar realmente a passerelle lisboeta – a designer vive actualmente em Lisboa, mas continua a produzir vestuário em solo ucraniano. Nadya Dzyak está em Viena. Kostiantyn Omelia, que trabalha sobretudo com upcycling de vestuário, não pôde deixar de Kiev para marcar presença no desfile.

Omelia | Ukranian Fashion Week | ModaLisboa - For Good
© Ugo CameraDesfile de Kostiantyn Omelia

8. Quem é Arndes?

A pergunta – escrita em inglês e com modos ligeiramente mais grosseiros – figurou em algumas das peças apresentadas por Ana Rita Sousa. Em resposta, podemos sempre recapitular o percurso da jovem designer portuense até chegar aqui, ou simplesmente desbravar a sua essencia através de mais um desfile. O reaproveitamento de materiais continua a ser a principal bandeira da marca, com as descontrução de gangas em destaque, mas também a manipulação de peles.

Arndes | Workstation | ModaLisboa - For Good
© Ugo Camera

9. DuarteHajime dá espectáculo

Mais do que a simples apresentação de uma colecção, a marca de Ana Duarte gosta de adicionar um ingrediente extra ao desfile. Desta vez, o elemento surpresa foi o trio Pepperoni Passion, que esteve encarregue de musicar o momento ao vivo. Quanto ao moodboard, a designer trouxe os bastidores do próprio atelier para o Pátio da Galé. Os moldes e anotações transformaram-se em estampados, numa colecção de tónica menos desportiva e com propostas excepcionalmente casuais.

Duartehajime | ModaLisboa - For Good
© Ugo Camera

10. Béhen: a antologia

Joana Duarte fez um ajuste no calendário. Béhen, a marca que trouxe ao mundo há quatro anos e que se tornou um fenómeno de popularidade, desfila agora uma vez por ano. Um acertar de passo essencial para uma estrutura que labora sem pressas, ao ritmo das bordadeiras e teares que lhe dão alma. Se no início eram as colchas das mães e avós e as toalhas de mesa transformadas em blusas e vestidos, hoje o nível de exigência subiu para a Béhen. Com a produção dividida entre a fábrica e os pequenos ateliers de costura nos arredores de Lisboa, o universo visual, esse, mantém-se intacto. Em Não Te Quero, a nova colecção, a designer voltou a convocar os elementos do folclore português e a aplicá-los a um guarda-roupa urbano. Sobre linhos e gangas, vimos desfilar o Bordado Madeira, o Bordado de Viana e ainda o Bordado da Glória do Ribatejo, usado pela primeira vez. De Minde, vieram as mantas regionais, e de São Vicente do Paúl as meias em crochet. Nas silhuetas, uma espécie de best of. Joana passou o último ano a procurar e a aperfeiçoar os moldes das peças mais bem conseguidas da marca. O resultado desfilou na recta final de mais uma ModaLisboa: a Béhen de sempre, mais apurada do que nunca.

Béhen | LAB | ModaLisboa - For Good
© Ugo Camera

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