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Steve McCurry está de regresso a Lisboa com uma exposição icónica

Aos 72 anos, o fotógrafo americano continua a dar a volta ao mundo. E veio a Lisboa apresentar a exposição “ICONS”, que inaugura esta sexta-feira na Cordoaria Nacional.

Renata Lima Lobo
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Renata Lima Lobo
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Não é a primeira vez que Lisboa recebe uma exposição de Steve McCurry, o multipremiado fotógrafo norte-americano, que alcançou a fama ao nível planetário com o retrato de Sharbat Gula. Uma fotografia datada de 1984, ano em que esta menina afegã se encontrava num campo de refugiados em Pexauar, no Paquistão, durante a Guerra Afegã-Soviética (1979-1989). Fez capa da National Geographic no ano seguinte e é até hoje a obra mais marcante da sua carreira. Essa imagem não marcou presença em 2016 na exposição “INDIA”, na entretanto desaparecida galeria de fotografia Barbado, em Campo de Ourique. Mas agora poderá ver o famoso retrato na exposição ICONS, na Cordoaria Nacional, juntamente com outras 99 imagens seleccionadas do vasto portfólio de McCurry. Ao longo de 40 anos de carreira, recebeu prestigiados prémios na área da fotografia, como a Medalha de Ouro Robert Capa ou o National Press Photographers Award.

ICONS
©Steve McCurrySharbat Gula, A Menina Afegã (1984)

Há uma entrada, uma saída, mas não há um percurso definido para apreciar esta centena de imagens que ficam na Cordoaria até Janeiro do próximo ano. E há legendas que marcam o ano e a localização, mas não há um contexto adicionado a cada uma das fotografias de grande formato, expostas num espaço a meia-luz que fortalece a ligação entre a obra e o visitante. “A exposição é uma conversa entre o público e as imagens”, descreve a curadora italiana Biba Giacchetti, co-fundadora da agência Sudest57, que representa o fotógrafo, durante a apresentação à imprensa. Juntos já fizeram 54 exposições só na última década, a mais recente em Madrid, a primeira paragem de “ICONS”. “O percurso dos visitantes é totalmente livre, podem ir para trás, para a frente, demorar-se nas imagens com as quais criam uma relação directa. E uma relação directa é feita pela forma como estão enquadradas”, explica a curadora, acrescentando que neste não-percurso está tudo misturado, dos países às datas. “Temos espaços mais duros, outros mais poéticos… mas é como uma pequena viagem pela vida e obra do Steve”.

Durante o percurso pela exposição, o fotógrafo acaba por completar esta ideia da curadora. “Uma das grandes coisas da fotografia é que podes olhar para uma imagem sem grande informação e dar-lhe significado, da mesma forma que o fazes com um quadro. Podes olhar e imaginar a história na tua mente. Uma teoria, uma fantasia, uma interpretação do que achas que está a acontecer”, afirma. E às vezes a tua imaginação é melhor do que aquilo que realmente aconteceu.” E podemos seguir o desafio, olhando para imagens recolhidas em países como o Afeganistão, a Índia, Cuba, Estados Unidos, Brasil ou Itália e outros do Sudeste Asiático e África, as geografias em destaque.

Em ICONS, o elemento humano é quase sempre o ponto de partida. E voltamos a Sharbat Gula, porque não há melhor ponto de partida que este. Perguntamos a McCurry porque acha que esta imagem se destacou de todas as outras que foi publicando na sua já longa carreira. “Penso que há múltiplas razões. Acho que há uma qualidade genuína, um sentido de dignidade, de perseverança. De alguém que é obviamente pobre, refugiada e ainda assim tem este sentido de dignidade e não cede ao facto de estar deslocada. Ser tão nova e ter de escapar pela vida, sair do país. Num dia vives numa casa linda e no dia seguinte estás numa tenda. O teu mundo de repente cai-te em cima. Apesar disso, ela tem esse sentido de dignidade”, responde o fotógrafo que mantém contacto com a afegã, hoje com 50 anos e a viver em Itália desde 2021, após os talibãs terem tomado o poder no seu país.

Steve McCurry
©DR

Há muitas outras histórias que se escondem por detrás das imagens desta exposição, feita em parceria com a produtora Sold Out e a plataforma Fever. Como, entre muitos outros exemplos, a que tirou em 1983 na Índia, onde se vê uma locomotiva a vapor com dois homens na parte da frente do veículo e com o Taj Mahal ao fundo. “As locomotivas a vapor desapareceram e esta em particular já não existe. Nesta área agora há árvores, casas, um parque… Só há cerca de uma ou duas [locomotivas] para turismo. É algo que não será repetido e é uma peça histórica”, destaca ele.

Outra das imagens que merece uma paragem durante a visita foi tirada quase em casa, em Nova Iorque (McCurry é de Filadélfia). Quando a Kodak deixou de produzir o rolo Kodachrome, deu o último a McCurry, que o estreou em 2010 com uma fotografia de Robert de Niro, a primeira de um um projecto documentado em “Final Exposure”, um episódio da série Nat Geo’s Most Amazing Photos, e na exposição “The Last Roll of Kodachrome”.

Cordoaria Nacional. 24 Set-Jan 2023. Seg-Dom 10.00-20.00. 6-12€

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