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Fotografia: Nicole Reyes/ UnsplashLisboa

Transição verde. Lisboa precisa de apostar mais nos transportes colectivos

A capital portuguesa continua longe de descarbonizar o sistema de transportes. Estudo europeu põe Lisboa em 10.º lugar no que toca à tomada de medidas verdes.

Raquel Dias da Silva
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Raquel Dias da Silva
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Lisboa partilha o pódio com Bruxelas, Helsínquia e Paris no que toca à oferta de bicicletas e trotinetes eléctricas partilhadas, com cerca de 29 veículos por cada mil habitantes, mas está aquém do que se espera de uma cidade comprometida com a transição verde, ou transição ecológica. Segundo um estudo anual promovido pela Campanha Cidades Limpas (Clean Cities Campaign, no original), uma coligação europeia que luta por uma mobilidade urbana com emissões zero, a capital portuguesa continua demasiado dependente do transporte individual, em detrimento do colectivo.

“A ZERO enaltece a boa classificação de Lisboa em termos de bicicletas e trotinetes partilhadas, mas mostra-se preocupada”, lê-se numa nota pública da associação ambientalista, que faz parte da coligação e defende que, embora a mobilidade suave seja importante, “não pode servir para tapar buracos do transporte público nem para evitar o investimento em infra-estruturas ou em meios de transporte, sendo que é disto, sobretudo, que a cidade carece”.

Entre as 42 cidades europeias analisadas, Lisboa surge em 10.º lugar nos resultados do relatório de “The state of shared and zero emission mobility in Europe” (“O estado da mobilidade partilhada e com emissões zero na Europa, em tradução livre), encomendado para fornecer, por um lado, “uma referência rigorosa, clara e baseada em dados concretos sobre os progressos já realizados”; e, por outro, “incentivar as cidades a intensificar os seus esforços para alcançar uma mobilidade com emissões zero até 2030, e ajudar os decisores a identificar o conjunto de acções necessárias”.

Em comparação com os dados divulgados o ano passado, a capital portuguesa subiu cinco lugares no ranking continental que analisa as soluções existentes de mobilidade partilhada e com emissões zero. Mas a sua avaliação geral piorou, com uma classificação de 49,8% (um “C” numa escala em que “A” representa o melhor desempenho possível na tomada de medidas para a descarbonização do sistema de transportes). Em 2022, apesar de ter ficado em 15.º lugar, teve 53,5%. Esta percentagem é calculada a partir dos valores atribuídos em cada um dos quatro critérios de avaliação da Campanha Cidades Limpas, nomeadamente a disponibilidade de bicicletas e trotinetes eléctricas partilhadas, de automóveis eléctricos partilhados, de autocarros com emissões zero e de infra-estruturas de carregamento de veículos eléctricos (VE).

Nos quatro critérios de avaliação referidos, Lisboa obteve classificações positivas em apenas dois. No que toca à média de bicicletas e trotinetes partilhadas por cada mil habitantes, encontra-se em segundo lugar, com 29,7 – em primeiro está Helsínquia, com 31,3 bicicletas/trotinetes disponíveis por cada mil habitantes. Já em relação às infra-estruturas de carregamento de carros eléctricos, cuja avaliação teve em conta a facilidade de acesso do público geral e a potência de carregamento, a capital portuguesa surge em sexto lugar – neste indicador, como em quase todos, a melhor cotada é a cidade de Copenhaga, na Dinamarca, que é, aliás, a melhor classificada na avaliação geral (com uma pontuação de 86,5%, portanto um “A”, o primeiro de dois – o segundo é de Oslo, na Noruega, que obteve 81,3%).

“Os automóveis eléctricos reduzem as emissões, mas há importantes desafios relacionados com uma ampla e densa rede de carregamento em meio urbano, com o congestionamento nas cidades e com a ocupação de espaço de estacionamento nas ruas que poderia servir para actividades mais nobres”, escreve a ZERO, já depois de alertar para as pontuações atribuídas ao número disponível de carros eléctricos partilhados por cada mil habitantes (numa pontuação até 10, tem 0) e à frota de autocarros com emissões zero (até à data de conclusão do estudo, em 732 autocarros, apenas 15 eram eléctricos). Isto significa que, no que a estes critérios diz respeito, a capital portuguesa ficou no 41.º e no 33.º lugar, respectivamente.

Os detalhes da metodologia podem ser encontrados no relatório técnico que acompanha o estudo, mas os resultados permitem concluir, como considera a associação portuguesa, que “não só Lisboa, mas [quase] todas as cidades analisadas precisam de fazer melhorias significativas no seu sistema de transportes para conseguirem alcançar uma mobilidade com emissões zero até 2030”, uma vez que 35 (em 42) apresentam uma classificação de “C” ou pior.

“Cidades habitáveis, saudáveis, com baixas emissões de carbono e preparadas para o futuro assumem diferentes formas e feitios, mas a mobilidade partilhada e com emissões zero serão parte integrante de todas elas”, lê-se no relatório da Campanha Cidades Limpas. “O nosso estudo mostra que algumas cidades estão a fazer progressos impressionantes – mas há um longo caminho a percorrer.” Na capital portuguesa, a ZERO recomenda, por exemplo, um maior investimento no “desenvolvimento da infra-estrutura de carregamento de veículos públicos eléctricos nas cidades, como autocarros, táxis, transporte a pedido e veículos eléctricos partilhados”.

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