[title]
Após uma passagem pela selecção oficial do LEFFEST – Lisboa Film Festival e do Festival Internacional de Cine de Mar Del Plata, na Argentina, o filme Ubu, que adapta a peça de teatro de Alfred Jarry, estreia nas salas de cinema nacionais a 12 de Setembro. Um filme que marca a estreia de Paulo Abreu na realização de uma longa-metragem de ficção, após décadas de dedicação ao formato curta-metragem e cinema documental.
Em 1896, Paris, a peça Rei Ubu encontrava-se pela primeira vez com o seu público. Uma história sobre um homem sedento de poder, que não olhava a meios para atingir os fins, de forma grotesca e absurda. Cruel e sem escrúpulos, mas também cobarde e ridículo, começa por assassinar o rei da Polónia, usurpando o trono e levando o país à miséria. Rei Ubu é uma sátira política intemporal e é ainda hoje apresentada em palcos de todo o mundo. Precursora do teatro do absurdo, a peça também já mereceu mais de uma mão-cheia de versões no cinema, mas é, pela primeira vez, adaptada por um cineasta português.
“Polónia, ou melhor dizendo, em lado nenhum”. A informação que nos situa, ou não, no espaço da acção do filme Ubu também podia ser complementada com “em tempo algum”. Quase 130 anos depois, o texto satírico de Alfred Jarry continua a encontrar ecos no mundo contemporâneo, na pele de bizarras personalidades que vão tomando conta do espaço político. A preto e branco e com um formato de imagem que também fala para os clássicos, o filme de Paulo Abreu leva às telas esta bizarra e grotesca comédia, protagonizada por Miguel Loureiro, Isabel Abreu, Vicente Gil, Dinarte Branco, Salvador Gil, Dinarte Freitas, entre muitos outros actores.
“Vários personagens na política mundial faziam lembrar Ubu”
Com uma carreira que remonta aos inícios da década de 1990, Paulo Abreu é um experiente cineasta. Nos últimos anos, viu três dos seus trabalhos merecerem nomeações aos Prémios Sophia: as curtas-metragens O Facínora (2012), de ficção, e O que não se vê (2020), documental, assim como o documentário Alis Ubbo (2018), sobre a descaracterização da cidade de Lisboa relacionada com o turismo. Agora, aventurou-se por um novo formato, após um convite do também realizador André Gil Mata, que com Paulo Abreu assina a adaptação do argumento, baseado na tradução da peça original para português feita por Alexandre O’Neill e Luís de Lima.
“Eu já conhecia a peça e ao princípio achei que já se tinha feito muitas vezes e não fiquei propriamente muito entusiasmado. Mas depois comecei a lembrar-me e a pensar: nessa altura estava no poder o Bolsonaro, o Trump, o Kim Jong-un, da Coreia do Norte… havia vários personagens na política mundial que faziam lembrar um bocado o personagem Ubu. E então achei que se calhar era uma boa ideia”, começa por dizer à Time Out Paulo Abreu. Ao mesmo tempo, explica, optou por “fugir um bocado ao grotesco” e adoptou um ambiente mais próximo do cinema clássico, para dar mais palco ao texto e “criar uma estranheza maior”.
Além da opção pela imagem em tons de preto e branco, o formato escolhido foi o 4:3 e não o 16:9, como é habitual há largos anos. “O 4:3 até surgiu mais pelos próprios décors que foram escolhidos, porque eram todos muito ao alto, e se filmássemos em 16:9 íamos perder muito a beleza dos décors”, diz, referindo-se aos locais da rodagem, que passou por cidades como Tomar ou Elvas. “Se fosse em 16:9 seria muito mais difícil, acho eu, de conseguir ter aquele tipo de imagem”, defende.
André Gil Mata teve mais um papel nesta produção: todo o exército russo, num efeito visual que replica por muitos a sua imagem, uma fórmula aplicada a outro actor que representa o exército russo. Uma solução que não aconteceu apenas por motivos orçamentais, como explica o realizador. “A ideia até surgiu de uma carta que eu li do Alfred Jarry para um encenador que tinha adaptado a peça dele e que tinha feito um exército com vários actores. E nessa carta o Jarry dizia que para ele, idealmente, o exército seria constituído por um só homem. E eu achei que era uma boa ideia”.
Brevemente, Paulo Abreu planeia regressar ao formato curta-metragem, numa produção que será filmada na Ilha de São Jorge, nos Açores. Um filme “sobre o fim dos tempos”, que envolve o desaparecimento de algumas zonas do planeta, sem ser catastrófico e com humor à mistura. “Costumo fazer uma espécie de crítica da sociedade em forma de ironia. [...] No fundo, acho que vou fazer mais um filme desse género”, remata.
Ubu é uma produção de Uma Pedra No Sapato, produtora responsável por obras como Grand Tour, de Miguel Gomes; Baan e Balada de Um Batráquio, de Leonor Teles; ou Great Yarmouth, de Marco Martins.
Siga o canal da Time Out Lisboa no Whatsapp
+ O que dizem os críticos sobre ‘Beetlejuice Beetlejuice’? Meh