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Uma carta aberta à frigideira das bifanas nas tascas lisboetas

Escrito por
O Provedor
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Aprendemos nas aulas de Ciências da Natureza que a vida na Terra terá começado numa substância chamada “sopa primordial”, uma mistura de compostos orgânicos de onde brotaram as primeiras células. E é nesse caldo primitivo que pensamos sempre que vemos a frigideira onde se fazem bifanas nas melhores tascas lisboetas: um líquido espesso e amarelado, a borbulhar em lume brando, à espera de dar vida à próxima fatia fina de carne de porco.

Os ingredientes deste líquido variam. Pode conter banha de porco ou margarina, vinho branco ou verde, talvez umas gotinhas de brandy, muito louro e alho ou nenhum destes dois ingredientes. Pode até não ter nada a ver com isto. Um cliente mais afoito, depois de desenvolver uma relação íntima com o homem das bifanas, pode tentar apurar a lista definitiva de compostos desta intrigante mistela. Mas o mais provável é ouvir do lado de lá um sorumbático, “É segredo, não lhe posso dizer”.

Das duas, uma: ou o molho das bifanas contém alguma substância ilegal, ou existe uma Maçonaria da Sandes de Porco Fatiado que os impede de revelar o segredo. Há ainda a suspeita de que a sujidade da frigideira – quanto mais usada, melhor – é preponderante para a qualidade do molho. Assim como o vinho do Porto é melhor quando está envelhecido, uma frigideira veterana será capaz de produzir bifanas mais gostosas do que uma acabada de estrear.

O Provedor do Lisboeta defende que se devem preservar as condições necessárias à existência na Terra de uma boa bifana. Começando pela permanência das tascas na cidade. Por isso, o Provedor termina este texto com uma recomendação: o lisboeta responsável deve consumir uma percentagem razoável destas sandes, por forma a preservá-las no cardápio das nossas tascas. E preservar as próprias tascas.

O Provedor do Lisboeta é um vigilante dos hábitos e manias dos alfacinhas e de todos aqueles que se comportam como nabos e repolhos nesta cidade. Se está indignado com alguma coisa e quer ver esse assunto abordado com isenção e rigor, escreva ao provedor: provedor@timeout.com.

+ Uma carta aberta às pessoas sentadas nos lugares prioritários

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