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Uma mulher de armas na espingardaria Casa Diana

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
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Foi a primeira mulher em Portugal à frente de uma espingardaria. Premimos o gatilho, mas só para arrancar a conversa.

Aos 75 anos, Ilda Almeida continua a viver uma das suas maiores paixões. Aliás, duas paixões, porque o marido, recentemente reformado, faz-lhe hoje companhia na Casa Diana, a espingardaria fundada em 1948 e que mora desde 1955 na porta 62 da Rua Pascoal de Melo (Arroios).

Nas paredes há camuflados, espingardas, pistolas, facas e tudo o que esteja relacionado com as lides da pesca, da caça, do tiro desportivo e das mais variadas actividades ao ar livre – escutismo (ou escotismo) incluído.

casa diana

Fotografia: Inês Félix

A loja foi fundada pelo seu padrinho de casamento, João Corte-Real Trigoso (filho do pintor Falcão Trigoso), que faleceu há precisamente 40 anos. Foi por volta dessa altura que Ilda Almeida, funcionária e ávida aprendiz do mestre armeiro, assumiu as rédeas da loja da qual se tornou proprietária. Um “mundo de homens” que, segundo Ilda, não acreditou que uma mulher tivesse capacidade para prosseguir um negócio deste género. Mas teve, tem e defende: “É preciso lutar pelo que se acredita”. Mas calma, esta mulher gosta de armas, mas é pela paz e tem bem guardada a arma que usava na caça à rola durante as férias. “Era o que mais gostava”, lembra.

Conhece bem os cantos à casa e às armas, que monta e desmonta sem embaraço, mas ainda há quem desconfie de uma mulher à frente de uma loja de armas. “Há dias entrou um senhor, perguntei se podia ajudar e disse-me que só queria falar com o meu marido”, conta. Só quando o cliente a ouviu a falar com um outro freguês, com toda a sua sapiência sobre o negócio, é que percebeu a gafe que tinha cometido. “É preciso muita formação para sermos credíveis, é preciso saber o que estamos a fazer”, explica, enquanto lembra o seu percurso entre livros da especialidade, visitas a fábricas e todo um trajecto que teve de percorrer para se conseguir impor no meio. Especialmente porque esta é uma área muito complexa. “Temos uma legislação apertada, o armamento é muito controlado, e ainda bem”, defende a mulher que também assume uma missão pedagógica: “As armas não são um perigo, a cabeça do ser humano é que é. Se estiverem informados do perigo e das regras de segurança é completamente diferente.”

casa diana

Fotografia: Inês Félix

Ilda é pessoa para achar que o tiro desportivo é uma actividade tranquilizante, mas fica um pouco insegura ao pé de canivetes. “Tenho medo de me cortar”, diz no meio de um sorriso. E não fomos embora sem escutar com atenção um outro tiro certeiro desta verdadeira mulher de armas: a poesia, que escreve num livro cada vez menos branco e declama como poucos, servindo-se da família e da sua terra natal, perto de Arganil, como fontes de inspiração.

Casa Diana, Rua Pascoal de Melo 62C/D. Seg-Sex 09.00—12.30, 14.00-18.30

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