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Nirvana Studios
Francisco Romão Pereira / Time Out

Vinte anos de Nirvana Studios: “Estivemos sempre virados mais para o artista do que para o público”

Conhecidos pelos espectáculos não convencionais, os Custom Circus criaram em 2003 os Nirvana Studios. Este sábado, o centro cultural alternativo celebra 20 anos com um Open Day, que dá a conhecer a arte que por ali se faz todos os dias.

Escrito por
Beatriz Magalhães
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Em Barcarena, no fim de uma estrada sinuosa e isolada de tudo o resto, encontramos uma locomotiva do início do século XX restaurada e pintada, que nos leva à entrada dos Nirvana Studios. Sob um pórtico, que é também uma instalação artística com partes de bicicletas usadas, entramos no que parece ser um cenário de um western americano. Carrinhas, autocarros e camiões ocupam e decoram o espaço que, em 2003, foi comprado pelos Custom Circus, companhia de teatro transdisciplinar e de artes visuais fundada por Rui Gago, Daniela Sousa e Michel Alex. O que antes era apenas chão de terra batida e estruturas sem telheiros, tornou-se nos Nirvana Studios, um centro cultural composto por uma galeria de arte, um teatro, um café, várias salas de ensaio e ateliers, uma zona comunitária para estudantes estrangeiros e, ainda, um alojamento para artistas. Este sábado, em celebração dos seus 20 anos, está preparado um Open Day, de entrada livre, repleto de arte, música e performances ao estilo dos Custom Circus.    

A partir das 16.00, pode contar com um espaço infantil, cinco palcos de música, um palco de performance e dança e duas exposições de artistas plásticos. Destacam-se o concerto Oeiras Band Sessions, em que um júri e o público votarão na banda vencedora entre as três finalistas do concurso (20.00), o espectáculo Poetas da Metamorfose dos Custom Circus (23.00) aliado ao lançamento de um livro com o mesmo nome, que celebra estas décadas de história da companhia, e ainda uma Full Moon Party, das 23.30 às 02.00.

O Open Day, que acontece anualmente desde a altura em que o espaço abriu, começou por ser uma forma de convidar a comunidade envolvente a descobrir o que ali se fazia, já que, no início, as pessoas sentiam desconfiança em relação aos espectáculos um tanto bizarros dos Custom Circus, conta-nos Rui Gago. Anos antes, eram recebidos de braços abertos nas cidades em que iam actuar, mas a situação havia-se invertido e, assim, o dia aberto surgiu de forma a resolver esse problema.

Nirvana Studios
Francisco Romão Pereira / Time OutNirvana Studios

Entre temporadas itinerantes pelo país e pelo mundo fora, os Custom Circus viram o projecto crescer e houve a necessidade de criar uma base de apoio à companhia de teatro. Compraram um antigo paiol de munições do Exército e puseram em pausa os espectáculos para dar início à jornada de reabilitação do espaço, que se tornaria nos Nirvana Studios que encontramos hoje. 

O nome Nirvana não alude à banda norte-americana, mas sim ao significado da palavra no dicionário budista, que remete para um estado de perfeita felicidade e paz. É essa a sensação que os Custom Circus querem proporcionar a todos os artistas que por ali passam, que se sintam livres e autónomos para criarem arte à vontade.

Com mais de três hectares, os Nirvana Studios estão abertos 365 dias por ano, 24 horas por dia, e albergam vários espaços de tipologias distintas, que foram sendo criados à medida que surgia alguma necessidade que os Custom Circus sentiam faltar aos artistas da sua comunidade. “Estivemos sempre virados mais para o artista do que para o público em geral”, afirma Rui Gago, enquanto nos faz uma visita guiada. Pelo espaço, descobrimos tudo o que tem casa nos Nirvana Studios.

Nirvana Studios
Francisco Romão Pereira / Time OutNirvana Studios

O projecto Band Box, por exemplo: com mais de 50 salas de ensaio, foi criado a pensar nos músicos que não tinham um local onde ensaiar, a qualquer hora e por um preço acessível, sem quaisquer restrições.  

Apesar de a crise imobiliária ter atingido Lisboa e o resto do país nos últimos tempos, Rui Gago sente que os artistas já vivem com esse problema há muitos anos. Da necessidade que os artistas, portugueses e estrangeiros, tinham para conseguir pagar um quarto de hotel na zona circundante, nasceu um alojamento, onde podem ficar por tempo indeterminado enquanto criam os seus projectos artísticos. A Custom Ville é composta por 13 bungalows individuais, equipados com cozinha e casa de banho. Este projecto tornou-se um alicerce especialmente importante para o programa Erasmus+, com o qual colaboram, ao receber estudantes estrangeiros com interesse em variadas áreas artísticas.

Nirvana Studios
Francisco Romão Pereira / Time Out

À falta de restaurantes na zona, abriram o Nirvana Studios Diner, num antigo eléctrico de 1994; e, à falta de teatros que acolhessem os espectáculos piromusicais dos Custom Circus, criaram o Teatro Custom Café, onde pode assistir a Le Cabaret Rock até 17 de Junho.

Tudo nos Nirvana Studios foi criado pelas mãos dos Custom Circus, sempre respeitando a arquitectura e a forma original do espaço, de forma a manter viva a identidade do antigo paiol de munições que habitava aquele local. Os elementos dos anos 1940 que servem de decoração, como algumas munições e duas guaritas, complementam a arqueologia urbana e industrial, que vai buscar inspiração tanto à estética steampunk como pós-apocalíptica, além de se apoiar na reutilização de diferentes objectos. Vários veículos, que remontam aos tempos em que a companhia de teatro andava na estrada, servem agora de decoração ou para receber instalações artísticas.

Nirvana Studios
Francisco Romão Pereira / Time Out

Os espectáculos transdisciplinares dos Custom Circus, tal como o que acontece este sábado, são inteiramente produzidos pela companhia, nos quais, segundo Rui Gago, se pode esperar “novidade, emoção e envolvência dentro do espectáculo, as coisas acontecem à nossa volta e viajamos completamente numa viagem muito interessante”.

Estrada Militar de Valejas 66 (Barcarena, Oeiras). Sáb 16.00-02.00. Entrada livre

Texto editado por Hugo Torres

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