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Confeitaria Nacional
Fotografia: Melissa VieiraConfeitaria Nacional

Confeitaria Nacional: 190 anos bem doces

Fomos conhecer os bolos centenários deste futuro Monumento de Interesse Público.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
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1829. Em plena guerra civil entre liberais e absolutistas, Baltazar Rodrigues de Aguiar conseguiu transformar o seu novo espaço num local de eleição das elites lisboetas. Hoje, a Confeitaria Nacional é bem mais democrática e até serve menus de almoço a preços acessíveis, mantendo no cardápio receitas que resistiram ao passar dos tempos, bem como bebidas clássicas portuguesas, como a groselha (2,10€), o mazagran (2,20€), as geladas carapinhadas (3,30€) ou o capilé (2,10€).

Ao leme do negócio está a sexta geração da família, na figura de Rui Viana, o actual proprietário e o fiel depositário das memórias da casa, algumas guardadas num cofre especial, outras na sua própria massa cinzenta. E é ele que vai guiar a Confeitaria Nacional para uma nova fase da sua já longa história. Em Novembro passado, circulava nas redes sociais um boato que anunciava o fecho da Confeitaria Nacional. O rastilho tinha sido a venda do quarteirão pela Fidelidade ao fundo americano Apollo e, como tem sido regra nestas grandes transações imobiliárias, há hotel a caminho. Mas a Confeitaria não vai a lado nenhum. Pelo contrário. O boato foi desmentido por esta que foi uma das primeiras lojas a integrar o programa municipal Lojas com História. E não só não vai fechar, como está a caminho a sua classificação de Monumento de Interesse Público, uma proposta submetida no final de Janeiro por Paula Araújo da Silva, directora-geral do Património Cultural, à Secretaria de Estado do Património Cultural. Um processo iniciado em 2017 pela Divisão do Património Imóvel, Móvel e Imaterial da DGPC, que propôs a abertura do procedimento de classificação. “Muitas lojas são peças fundamentais e determinantes na cidade, transmitindo a personalidade de um passado mais ou menos próximo, que na situação ideal, mantêm a actividade de origem”, lê-se na proposta que pede a classificação desta loja instalada num edifício pombalino e que mantém a mesma actividade (e a mesma qualidade) desde a sua fundação.

O interesse histórico, a autenticidade da casa expressa na produção artesanal (a fábrica é em Campo de Ourique), o interesse cultural por ter sido o berço do bolo-rei português, a excelência dos produtos (chegou a ser fornecedora oficial da Casa Real), e o interesse arquitectónico e urbanístico são os grandes argumentos para a classificação da histórica confeitaria. Quando aprovada, a distinção incluirá também o chamado património móvel integrado, como cantarias, candeeiros, elementos nas fachadas, caixilharias, guarnições dos vãos em madeira, mobiliário de madeira dos antigos balcões, tampos em pedra mármore ou os tectos pintados.

Assim que estiver concluído o processo de classificação, estará na altura de pensar numa nova recuperação do espaço. Mas, como sempre, serão intervenções cirúrgicas que podem demorar entre quatro a cinco dias, garante Rui Viana. Garantido está um regresso: o balcão de atendimento e exposição dos bolos na sala principal, que ganhou a forma actual em 1999, regressará ao seu original formato em U, aberto para o público. Quanto ao possível fecho durante as obras do futuro hotel, ainda está tudo em aberto e sem datas definidas.

Para já, relembre algumas das gulodices mais marcantes da casa, receitas únicas, guardadas a sete chaves.

Históricos da Confeitaria Nacional

Bolo-Rei
Fotografia: Melissa Vieira

Bolo-Rei

É a jóia da coroa. Foi daqui que saiu o primeiro bolo-rei de Portugal, uma adaptação da receita francesa do gâteau des rois que se mantém inalterada desde 1875. Quem o importou de França (assim como o confeiteiro Gregório), foi Baltazar Rodrigues Castanheiro Júnior, filho do fundador, que esteve 44 anos à frente do negócio. Após a mudança de regime ainda tentou mudar o nome da iguaria para “bolo do presidente”. Não pegou. à 19,50€/kg

Bolinhos com história
Fotografia: Melissa Vieira

Bolinhos com história

1. Austríaco
Por alturas da II Guerra Mundial, muitos refugiados vieram para Portugal, fugindo do então implacável III Reich. Baltazar II recebeu em sua casa seis refugiados austríacos, dois homens e quatro mulheres, e foi por essa altura que acrescentou mais uma receita à coleção: a do bolo que acabou por baptizar de “austríaco” e que continua a brilhar na vitrine da Confeitaria. 1,20€

2. Bolo de Arroz
Não há uma história bonita associada a este bolo tradicional, mas a receita está guardada num cofre. Uma coisa garantem: é mesmo feito com massa de arroz. “É um bolo de arroz verdadeiro. É feito aqui desde sempre, mas não sei se foi logo em 1829. Há de ter começado com Baltazar II”, lembra Rui Viana. 1,20€

3. Coelhinho
Um bolo com creme de ovo e orelhas de amêndoa. A receita é do século XIX e foi imaginada para a Páscoa, mas é tão popular que está disponível o ano inteiro. “Foi um sucesso até hoje e é um produto que não vejo em mais lado nenhum”, conta o proprietário. 1,85€

4. Ninho de chocolate
Pão de ló, chocolate, fios de ovos e passarinhos em maçapão. Mais uma receita importada de França, nos idos anos 70 do século XIX. 1,75€

Lisboa doce

  • Restaurantes

Quem é que resiste a uma boa cookie? Não dá para comer só uma, nem duas, nem três. Ainda para mais quando a massa ainda está quentinha (cuidado com a barriga) e os pedaços de chocolate são mesmo grandes e estão meio derretidos – mais vale criar uma torre e ir dando cabo delas, uma a uma. Nestes sítios encontra tanto as versões mais tradicionais como umas decadentes, com massa de chocolate e pepitas ou até recheadas. Faça o seu roteiro para lanches gulosos. Depois só tem mesmo de preocupar-se em limpar as migalhas.

  • Restaurantes

É a sobremesa caseira mais segura em todas as festas de aniversário e jantares de família ou amigos. Mas fora de casa, a coisa pode complicar-se. Antes de mais nada porque é facilmente comparável com a da avó, da mãe ou da tia, depois porque os níveis de cacau do chocolate variam facilmente e há quem goste dela mais intensa ou mais cremosa e consistente, outros preferem chocolate com menos percentagem de cacau ou com cheirinho. Nestes três restaurantes em Lisboa, a mousse de chocolate é servida como deve ser. Perfeita para um final de refeição guloso.

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  • Restaurantes

O açúcar tem tanto de vilão como de melhor amigo – mas uma vez não são vezes e a vida tem de ser feita de equilíbrios. Lembre-se, aliás, que os doces podem ser os nossos melhores amigos em alturas difíceis, calmantes emocionais que ajudam na produção da serotonina, a hormona que regula o bem-estar e o humor. Organize o calendário de almoços e jantares semanais e faça um pijaminha de sobremesas com esta lista que tem de tudo. O nosso prato ficou cheio com os novos doces e os melhores da cidade em várias categorias. O mais difícil foi mesmo não nos lambuzarmos com todos ao mesmo tempo.

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