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companhia das culturas
Fotografia: Francisco Santos

Companhia das Culturas: vivendo devagar

A Companhia das Culturas, um ecoturismo sustentável em Castro Marim, é o sítio ideal para aprender o verdadeiro significado de slow living.

Escrito por
Inês Garcia
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Perto da praia mas longe de tudo. Este ecoturismo sustentável – um "anti-resort", como já lhe chamaram – demorou dez anos a idealizar. Agora oferece a experiência do lugar e dias sossegados.

Companhia das Culturas

É preciso tocar o sino para pedir entrada nesta propriedade, um som que encaixa com o chilrear dos pássaros. Em volta há apenas campo: 40 hectares de pinheiro manso, cortiça e alfarroba, damasqueiro e figueira, oliveira e laranjeira. A Companhia das Culturas fica na aldeia de São Bartolomeu e nasce de uma antiga casa agrícola da família de Francisco Palma-Dias. “Tínhamos uma quinta de produção biológica e a responsabilidade de estarmos numa casa agrícola, de contribuir para a economia real”, diz Eglantina Monteiro, Tina para hóspedes e amigos, que, com o marido, Francisco, quis dar um novo sentido à fazenda.

Nem Eglantina nem Francisco sonhavam ter um turismo rural. Ela viveu em França, Inglaterra, Senegal e Brasil e em 2002 mudou-se para o Algarve. Ele esteve 20 anos numa comunidade budista, introduziu o yoga em Portugal no fim dos anos 70, abriu um restaurante, o Terraço do Finisterra, em 1980, e nos anos 2000 regressou à Fazenda de São Bartolomeu, que pertence à mesma família há sete gerações. 

Das ruínas nasceu a Companhia das Culturas, que demorou dez anos a idealizar. Convidaram o arquitecto Pedro Ressano Garcia para projectar o núcleo urbano e abriram-na já há nove anos como hotel rural. Em antigos currais, vacarias, abrigos ou até cozinhas foram nascendo novos espaços. Começaram com seis quartos e três suítes e, mais recentemente, um ovil foi transformado em quatro apartamentos, perfeitos para famílias. Há, ainda, um hamam, que retoma a tradição mediterrânica dos banhos salutares, das massagens e dos óleos essenciais. E há mais ruínas para recuperar: em 2018/2019 haverá um total de 12 quartos. 

“As coisas vão acontecendo”, diz Eglantina, cujo principal objectivo não é construir mas recuperar. Por isso, exemplifica, assumiram as construções antigas, usaram a cal, as paredes são em cimento e não são perfeitas, há pedras à vista em quartos e o próprio mobiliário, de diferentes estilos e épocas, foi recuperado por Eglantina. 

O salão, um antigo lagar de azeite, agora tem uma biblioteca e um bar. A sala de pequenos-almoços, almoços e jantares foi a casa da cortiça e do mel. A antiga garagem da máquina debulhadora é agora uma sala totalmente forrada a cortiça, com lâmpadas a pender do tecto, onde há aulas de yoga (às terças e sextas às 10.00 ou sob marcação) – é também um espaço para meditar. Não há televisão nem música ambiente, wi-fi há no espaço comum mas pouco, para garantir o detox. 

No núcleo principal, fica a recepção – com uma loja recheada de produtos portugueses, desde os óculos de sol da Darkside aos azeites Monterosa ou aos chutneys e doces feitos na propriedade –, uma piscina azul-turquesa de água salgada (que em breve passará a ser um tanque, para melhor se enquadrar no ecossistema). 

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O hamam

O hamam e os apartamentos, com vista para um lago e com um jardim tropical com papaeiras, bananeiras ou pitangueiras à mão de apanhar, literalmente, ficam noutro núcleo. É no hamam, obelisco em pedra branco, que está a terapeuta Alexandra Gil, especializada em Medicina Tradicional Chinesa, com umas mãos de ouro: pode experimentar apenas o hamam (12€ apenas o banho turco ou 25€ por 25 minutos com esfoliação com sabão de azeite) ou complementar com uma massagem de aromaterapia e envolvimento personalizado (120 minutos, 135€). Há, também, massagens de corpo inteiro (70€), localizadas (40€) e tratamentos de pele (90€). Os óleos usados são produzidos a partir das plantas da serra entre Mértola e Alcoutim, numa parceria com a Pharmaplant e a bióloga Susana Dandlen.

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  • Hotéis

À mesa, ao ar livre quando o tempo convida, come-se o melhor do Algarve, quase tudo produzido na propriedade ou vindo de pequenos produtores locais. “Não temos pretensão de ter um restaurante, antes um espaço de celebração da produção local. O que melhor mostra isso é o pequeno-almoço”, diz Francisco Palma-Dias, que chamou ao “restaurante” Petiscaria Tal e Qual. Ao pequeno-almoço, servido todas as manhãs sem uma hora fixa, há sumo feito no momento com figos ou laranja e manga, bolo caseiro, fruta, ovos mexidos com tomate e ervas aromáticas, queijo fresco, muxama de atum. Aos almoços e jantares, sob marcação, há prova de azeites Monterosa, xarém com pimentada e sardinha estivada, lombo de atum fumado com salada, secretos de porco com salada ou, em dias bons, gambas de Monte Gordo. E todas as tardes, na sala de refeições, há tisanas e chá gelado e bolo cortado aos cubos. Em resumo, a Companhia das Culturas é para sopas e descanso. 

Como chegar
De carro, é seguir a A2 em direcção ao Algarve. Já na A22 siga para Altura e na EN125 vá pelas indicações para Monte Gordo até ver a placa “turismo rural”. Também pode ir de comboio, no Alfa Pendular até Faro e, aí, apanhar o regional em direcção a Vila Real de Santo António e sair em Castro Marim. É 300 metros a pé.

Preços
Quartos a partir de 70€ (twin interior), apartamentos a partir de 180€ (duas pessoas), em época baixa. Atenção que o hotel fecha entre 1 de Dezembro e 15 de Março.

GPS

Para comer

A 100 metros da Companhia das Culturas está o restaurante O Pão Quente (Rua Jacinto Celorico de Palma, 3. 28 195 6175). À entrada pode achar que foi ao engano e que isto é só um café com uma mesa de snooker, mas há uma porta que o leva para uma sala maior com espaço interior e exterior.  Há uns óptimos choquinhos à algarvia ou uma travessa mista de porco preto, com plumas ou secretos, que vale a pena provar. Um bocadinho mais longe (que é como quem diz que se tem de pôr a caminho de carro), há a Cantarinha do Guadiana (Montinho das Laranjeiras,  Alcoutim. 28 154 7196). Peça o ensopado de enguias (12€), que vem para a mesa a fumegar,  as enguias fritas (12€) ou a galinha de cabidela (12€) — e se aqui estiver, vá até Sanlúcar do Guadiana e desça no slide até Alcoutim. Se resolver cruzar a fronteira (Ayamonte fica a
17 km), vá petiscar ao Orta (Calle Lusitania, 8) ou experimentar a cozinha criativa do La Puerta Ancha (Plaza de la Laguna, 14).

Para fazer

Faça-se à quinta de mapa na mão. Quando fizer check-in na Companhia das Culturas, vai receber um breviário com todas as informações e horários do eco-turismo, restaurantes e pequenos produtores em volta que pode visitar, calendário das actividades agrícolas e os mapas ilustrados por Ana Gil que permitem  identificar todas as árvores de fruto e caminhar até à Lagoa Velha. Se o tempo permitir, vá até à Praia Verde (a 1,5km). Do Castelo (aberto todos os dias das 09.00 às 17.00. 1,10€), tem uma vista 360 sobre Castro Marim.

Planos de fuga

  • Hotéis

Demasiado grande para ser uma casa normal, mas pequena demais para ser um hotel. Ainda assim, tem o melhor dos dois mundos. A Cerca Design House ergue-se na pequena aldeia de Chãos, no Fundão. É um tesouro bem guardado para deixar para trás o stress citadino e entrar em simbiose com a natureza que engole as instalações.

Quinta dos Machados: o bosque em casa
  • Viagens

Nas traseiras de uma casa há uma roseira. Consta que em tempos deu sombra a uma declaração de amor. Uma antiga matriarca foi ali pedida em casamento e a família pôs como condição de venda da propriedade que a planta fosse cuidada. A roseira, vem a saber-se, é um raríssima Bela Portuguesa, arbusto de grandes dimensões criado em 1903 por um francês, de seu nome Henri Cayeux, jardineiro-chefe do Jardim Botânico. Dá botões todo o ano, oferece rosas enormes e diz-se que não restam mais que umas dezenas espalhadas pelo país. E é um cartão de visita perfeito para a Quinta dos Machados, um espaço enxertado de natureza, património, beleza e uma história por contar.

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  • Viagens

Vamos ser honestos: não viemos aqui tanto pelo passeio, foi mesmo para descansar. O Dolce CampoReal Lisboa é, no melhor cliché, um bom destino para fugir da cidade. Fica muito perto de Lisboa, mas estamos longe o suficiente para nem nos lembrarmos que ela existe. E temos tudo aqui para não precisarmos de pegar no carro para nada.

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