Fajã dos Padres
Ágata XavierFajã dos Padres
Ágata Xavier

Fajã dos Padres: ponha aqui o seu pezinho... de Malvasia

Parece lenda mas não é, um pé de Malvasia sobreviveu à filoxera que assolou as plantações vinícolas da ilha da Madeira no século XIX.

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O que pode parecer uma descida ao Inferno, transforma-se numa viagem ao paraíso, ou seja, até este pedaço de terra que se despegou da montanha em direcção ao mar. É lá que se encontra uma propriedade que está nas mãos da mesma família desde 1921 e uma casta que se julgava perdida para a filoxera, a Malvasia. É obrigatório almoçar no restaurante a cargo de Amândio Gonçalves e inevitável descer o teleférico até à Fajã dos Padres.

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Da lenda à pipa

Ouve-se música clássica na adega da Fajã dos Padres. “Mantemos aqui o nosso vinho Malvasia, que pensávamos que estava extinto com a vinda da filoxera, em 1872. Só em 1982 é que foi encontrado um pezinho de Malvasia. Na altura foram feitas análises para ver se era realmente a casta plantada pelos padres jesuítas que inicialmente habitaram este pedaço de terra, e daí foram feitas as reproduções”, explica Catarina Vilhena Correia, familiar dos proprietários da Fajã dos Padres.

Parece uma lenda, mas o pé foi encontrado por um trabalhador perto da rocha. "Talvez por estar mais perto da rocha tenha ficado protegida”, diz Catarina enquanto retira vinho de 2005 de uma pipa com a ajuda de uma cana com um recipiente com a medida certa do copo que irá encher. O vinho fortificado está ao gosto do produtor, Mário Fernandes, que controla a sua intensidade.

O clima quente e a proximidade do mar e da rocha faz com que haja um microclima mais intenso na fajã e dê para se cultivarem uma série de frutas (até as tropicais, como a pitanga ou o araçá), e vegetais, sempre em modo biológico, que vão abastecer o restaurante e um pequeno alojamento local.

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Conheça o chef da Fajã dos Padres

“Sou reikiano e se voltar novamente quero fazer a mesma coisa. Não há nada que goste mais: tenho tudo aqui à mão”, sussurra Amândio Gonçalves antes de posar para o retrato. O chef do restaurante da Fajã dos Padres é uma figura central da gastronomia nacional, tendo passado pelas cozinhas do Reid’s, do Tivoli, e uma curta experiência em Londres, para acompanhar a filha que foi para lá estudar. Um dos seus pratos emblemáticos, caril de polvo, foi pensado na capital inglesa e finalizado na Madeira – “O prato fica terminado quando se conjugam bem todos os sabores”, explica.

O que beber na Madeira

Pé de Cabra

Originária de Câmara de Lobos, é outra bebida que testa a resistência estomacal ao levar vinho seco (ou vinho Madeira seco), cerveja preta, açúcar, chocolate em pó e casca de limão – tudo bem misturado pelo mexelote, o pau com que se prepara a poncha (na ilha ouvirá outro nome, daqueles que levam bolinha vermelha). Beba no bar com o mesmo nome – Pé de Cabra (Caminho da Ribeira dos Socorridos, 5. Funchal).

Chame pela Nikita

O nome vem de um clássico de 1985 de  Elton John, mas a composição vem da cabeça de um funcionário do Farol Verde (Rua Nossa Sra. da Conceição ,11. 291 643 987) sem medo das dores de estômago: gelado de ananás, cerveja, vinho branco, açúcar e mel. Tudo numa caneca de cerveja pequena com uma palhinha que nos chega espetada, direita como se puxada por um fio de prumo invisível. Pode bebê-la noutros bares da ilha, como no Number 2 (Rua de D. Carlos I), no centro do Funchal, onde também se serve uma poncha feita à maneira tradicional, com aguardente.

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A clássica Poncha

É, a par de Cristiano Ronaldo e da banana, um emblema da Madeira e leva aguardente de cana, açúcar e sumo de limão ou laranja. Pode ser à regional ou à pescador, com esta mistura anterior com mais ou menos álcool, ou aligeirada com vodka e outras frutas (actualmente pode beber-se poncha de qualquer sabor). Experimente na Venda Velha (Rua de Santa Maria. Funchal), n’ As Vides (Rua da Achada, 17. Câmara de Lobos), na Barreirinha (Largo do Socorro. Funchal) ou na Taberna da Poncha (Sítio da Lage. Ribeira Brava).

Rum 970

É a única sugestão que não combina ingredientes que testam a ressaca. Destilado em alambiques do Engenho do Norte, deixado a estagiar durante seis anos em cascos de carvalho, o Rum Agrícola da Madeira 970 é uma referência na ilha desde a década em que começou a ser produzido, a de 1970. Tem um tom âmbar escuro e um grau alcoólico que digere rapidamente qualquer refeição farta, 40%. Bebe-se em todos os bons restaurantes da região.

Onde reservar mesa na Madeira

Deve o nome à designer madeirense e não ao célebre amor dos 15 anos de Paulo de Carvalho. No topo do Nini Design Centre (Estrada da Pontinha. 291 648 780), no forte de Nossa Senhora da Conceição, encontra um restaurante sofisticado com uma decoração não menos sofisticada. A vista, impagável, abrange todo o Funchal. Pode optar por pedir à carta ou deixar-se ir num menu de degustação com três ou sete pratos (que custam 55€ e 120€ por pessoa), como pargo com crosta de mostarda, salada de lavagante ou lombo de borrego.

Chalet Vicente
Chalet Vicente

Deve o nome à família de fotógrafos que costumava passar as férias de Verão nesta casa de charme: os Vicente. No exterior, há um jardim tipicamente madeirense, com flores coloridas e muita clorofila, enquanto o interior se divide, qual Picasso, numa fase azul e outra rosa. Enquanto a azul é mais moderna (tem até um mapa do arquipélago da Madeira esculpido na parede à la Vhils), a rosa é mais tradicional, com fotografias antigas a emoldurar o espaço. Já a zona do balcão e churrasqueira lembra uma taberna antiga, com madeiras, tijolo burro e tijoleira a ditar a tendência do tradicional-português-chique. Quanto à ementa, pode apontar de olhos fechados em qualquer direcção porque tudo o que chega à mesa do Chalet Vicente (Estrada Monumental, 238. 291 765 818) é recomendável. Atire-se a uma espetada madeirense (que pode ser com ou sem osso e dá para dividir), peixe-espada com maracujá e banana e lombinhos de atum com molho vilão.

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Maktub
Maktub

Quem viu a telenovela brasileira O Clone pode lembrar-se de algumas expressões árabes repetidas até à exaustão. Maktub era uma delas e significa “estava  escrito”, “estava traçado”. Também pode dar-se o caso de ser um leitor de Paulo Coelho e estar familiarizado com o livro que o autor publicou em 1994. Este Maktub é outro: comestível, boa onda, sem menu. Cada dia há uma ementa-surpresa preparada pela equipa do restaurante do Paul do Mar, dependente daquilo que o mar e o mercado lhe dá. Formada por dois ou três pratos – com opção de carne, peixe ou vegetariano – trata com cuidado os ingredientes da região. Um deles foi este pargo com legumes aqui do lado. Com vista de mar, o Maktub (Avenida dos Pescadores Paulenses. 915 860 898) é o último sítio com praia desse lado da costa.

Santa Maria
Santa Maria

Entra-se por uma sala em tons de amarelo com fotografias de pescadores, até se chegar a um pátio interior, com um bar ao dispor. Na carta do Santa Maria (Rua de Santa Maria, 143A. 291 649 125) não faltam os clássicos, como o bolo do caco com manteiga d’alho, lapas na chapa com limão, filete de espada com banana e molho de maracujá, bife de atum na pedra e espetada em pau de louro; assim como algumas modernices, como risottos ou sushi. Destaque ainda para um prato vegan na ementa: manga grelhada com cogumelos e vegetais da horta. O Santa Maria fica na principal rua boémia do Funchal, com acesso privilegiado à animada poncha madeirense.

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Sandes de gaiado seco

Primeiro estranha-se, depois entranha-se pela conjugação de peixe seco (uma espécie de atum), cebola e pimento enfiada num papo seco. Acompanhe com uma Brisa de maracujá para ajudar a empurrar a espécie de pastel de peixe que se vai formar na boca. Pode provar esta sanduíche madeirense, assim como a de peixe-espada frito, numa tasca que fica na esquina da Travessa das Torres com a Rua de Santa Maria, a Cristalina, ou no Cantinho dos Amigos (na Travessa da Infância). Neste último, também vendem o gaiado em escabeche sem o pão. Se lá for, aventure-se numa sidra caseira.

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