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Portefólio: um mosaico iraniano

Em 2018, José Fernandes visitou o Irão e deixou-se encantar. As suas fotografias traçam o retrato de um povo hospitaleiro e mostram-nos o cronograma de um dia de viagem.

Sebastião Almeida
Escrito por
Sebastião Almeida
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Foi ao assistir a um dos programas de Anthony Bourdain, Viagem ao Desconhecido, que a curiosidade se instalou. José Fernandes ficou a remoer sobre como se faria à estrada para um lugar desconhecido, um lugar genericamente descrito como perigoso e hostil para forasteiros. A ideia ficou ali, a pairar sobre ele, até que seis meses depois, em Outubro de 2018, apanhou um avião e desembarcou em Teerão. Durante duas semanas, viajaria sozinho, por cinco cidades iranianas, dormindo nas casas de quem o acolhia. Fê-lo sem um plano traçado. Dois anos depois, as memórias dessa viagem ainda ecoam, e com o passar do tempo ganham novo significado, conta o fotógrafo à Time Out: “Não há um dia que passe sem me lembrar das pessoas que conheci”.

As fotografias que se seguem, ao contrário dos portefólios anteriormente publicados nestas páginas, não nos falam de uma narrativa estruturada a priori. O fotógrafo de Mortágua, a viver em Lisboa, aceitou o nosso desafio e permitiu que, a partir de uma conversa por telefone, se descobrisse uma história para as suas imagens. Os tons âmbar da luz que enchem as composições, o cheiro da comida nas ruas e os sons da azáfama de pessoas nos transportes saltam das suas fotografias. E assim nos mostram um país de gente acolhedora, em que quem chega de fora é uma espécie de enviado de Deus.

Em Kashan, cidade a 500 quilómetros de Bagdade, foi recebido por uma mulher jovem, talvez da sua idade (tem agora 34). Apareceu-lhe à saída da estação coberta pelo hijab e com o resto do corpo tapado por uma túnica. “Quando chegámos a casa, pôs-se à vontade. Estava de calças de ganga e de camisa. E para mim foi uma lufada de ar-fresco”, recorda. “Afinal, isto não é assim dentro das casas.” A imagem que se passa do país, a República Islâmica do Irão, é diferente quando se começa a conhecer as suas gentes, constata José Fernandes.

Durante a viagem foi sempre surpreendido pela hospitalidade das pessoas. A curiosidade que demonstravam em saber quem ele era e de onde vinha rompia com o constrangimento de estar rodeado de desconhecidos, num país que também lhe era estranho. Na terceira cidade, só poderia ir para a casa do homem que o acolheria ao final do dia. Ligou-lhe e perguntou onde poderia deixar a mochila para não andar carregado, mas ficou sem saldo. De seguida, o homem devolveu-lhe a chamada e disse para passar o telefone ao chefe da estação. “Quando dei por mim, estava do outro lado do balcão, sem perceber nada, com o responsável a apontar para o chão”. Mais tarde, veio a perceber que o anfitrião falara com o homem da estação para que pudesse deixar as suas coisas na estação, em segurança, até o ir buscar.

Mas foi um guia que conheceu ao pé de uma zona de montanha que mais o marcou. “Esta pessoa tinha uma energia super calma e acho que foi um dos dias em que percebi ‘é isto que é o Irão’. O retrato que tenho do país é esta pessoa. Quando deixei aquela casa, chorei baba e ranho, como se tivesse perdido alguém”, conta. Pessoas a pagarem-lhe viagens de autocarro, a oferecerem-lhe bebida e comida nas bancas de rua, a pousar para fotografias num mercado com uma atmosfera sombria foram outras das vivências que ganhou.

“Foi uma viagem super simples, enriquecedora”, que se fez dia-a-dia, a partir da generosidade dos iranianos com quem se cruzava. Ao determo-nos nas suas fotografias, iniciamo-nos numa viagem que desponta ao nascer do sol e que termina num ambiente quase místico, que nos mostra a verdadeira aura do Médio Oriente. Ou vice-versa.

+ Portefólio: Em busca das histórias que ficaram esquecidas no Interior

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