10 coisas que invejamos nas outras cidades

Lisboa, estás óptima. Não fiques com ciúmes. Mas não nos importávamos nada de importar algumas ideias de outras cidades menos belas do que tu.

Escrito por
Luís Leal Miranda
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Às vezes temos um pouco de dor de cotovelo. Mas só às vezes – e só um pouco. Partilhamos aqui dez casos sérios dessa cotovelite aguda passageira, só para servir de inspiração: a quem estiver interessado em montar um negócio ou quem andar à procura de ideias para uma escapadinha. Já sabem: vão, mas voltem.

10 coisas que invejamos nas outras cidades

Cinema no meio do rio
©DAVID TETT PHOTOGRAPHY

Cinema no meio do rio

Lisboa tem o Hippotrip, o autocarro que se lança ao rio e vira barco; e os booze cruise, excursões etílicas cheias de turistas que, mais cedo ou mais tarde, vão virar o barco. Mas faltam mais opções de divertimento fluvial como o Movies On The River, um barco que percorre o Tamisa cinco noites por semana como cinema flutuante ao ar livre. Ao embarcar, os cinéfilos navais são brindados com um cocktail e “animação”. Como já estão a adivinhar a animação consiste em música gravada (ou um DJ, se preferirem), e música gravada num barco consiste, é claro, numa qualquer versão da “Rivers of Babylon”. Na primeira edição do Movies on The River, no início de Junho de 2017, foi exibido o filme Tubarão, uma fita desconcertante para pessoas em alto mar mas bastante aceitável quando se está a navegar por baixo da Tower Bridge. A fita é projectada num ecrã na ponta do barco e os espectadores têm um par de auscultadores cada, como se fossem fazer uma tour. A programação é diversificada, mas aposta nos clássicos:  Shakespeare in Love, Mary Poppins, Love Actually e Top Gun são os próximos filmes em exibição. Aqui só para nós: não seria incrível ver Douro, Fauna Fluvial num ecrã montado num cacilheiro no Tejo?

Um bar de sestas

Estão a ver as pessoas que vão ao ginásio à hora de almoço? O Siesta & Go em Madrid é exactamente isso, mas ao contrário. Situado no centro financeiro da capital espanhola, o primeiro bar de sestas da Península Ibérica oferece, por 14€/hora, um quarto e uma cama para descansar as pálpebras. Há opções mais económicas, como um beliche num quarto partilhado (8€/hora) ou uma estadia paga ao minuto – 60 segundos de sono ficam a 23 cêntimos. O preço inclui tampões para os ouvidos e chinelos descartáveis. Pijama? Pode sempre usar pijama secretamente por baixo das suas roupas de trabalho, como uma espécie de super-herói da preguiça. Curiosamente, o país em que a prática do cochilanço vespertino está mais institucionalizada não é um pioneiro nos “sestários”: o Siesta & Go inspira-se nos hotéis-cápsulas japoneses. Já fizemos “forward” da ideia à Associação Portuguesa dos Amigos da Sesta e estamos à espera que o nosso país reconheça o sono depois do almoço como uma lei tão natural como a da gravidade.

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Um órgão de mar

A nossa capital não tem mar, mas o Tejo não diz que não a umas ondas. Em 2012 descobriu-se que era possível fazer surf no Barreiro graças à ondulação provocada pela passagem dos catamarãs. E por que não aproveitar a força do rio, mesmo que apenas por breves instantes, para fazer música? Há tantas canções sobre o Tejo que já se justifica que o Tejo tenha a sua própria canção. Esta ideia leva-nos até Zadar, na Croácia, onde umas discretas escadas de mármore produzem vários sons consoante a entrada e saída de água. O Orgão do Mar foi criado pelo arquiteto Nikola Basic em conjunto com engenheiros, músicos e construtores de instrumentos, e inaugurado em 2005 como parte de um plano mais alargado de recuperação daquela zona. Um sistema complexo de caixas de ressonância e tubos semelhantes aos de um órgão de igreja transformam o vai-e-vem das marés em sons parecidos com o de uma harpa – o orgão de mar consegue reproduzir sete acordes diferentes. A nossa ideia é ter uma versão lisboeta que tocasse de cada vez que um cacilheiro saía ali do Cais do Sodré ou do Terreiro do Paço. Será que dá para fazer o nosso Orgão de Rio soar como uma guitarra portuguesa?

Um jardim comunitário
Fotografia: Andy Parsons

Um jardim comunitário

O Phoenix Garden, em Londres, é um jardim construído no lugar de um antigo parque de estacionamento. Só isso nos deixa cheios de alegria e esperança – o verde a vencer o alcatrão parece coisa de filme de super-heróis. É gerido por voluntários da vizinhança desde 1984 e um bom exemplo do que pode acontecer quando as pessoas são todas amigas. (Em Lisboa há muitos grupos de vizinhos no Facebook que têm como principal função a partilha de fotografias de dejectos caninos nos passeios). O pequeno e adorável Phoenix Garden não cobra entrada e depende de donativos para se manter limpo e viçoso. Esteve para fechar em 2016 mas um projecto de crowdfunding fê-lo florescer de novo – mais de 20.000 euros foram angariados para que este projecto de sustentabilidade urbana se mantivesse sustentável. Está aberto todo o dia e tem regras muito específicas: nada de cães, nada de bicicletas, nada de drogas e nada de álcool. Gostávamos de ver uma coisa parecida brotar em Lisboa. Pode ser nos descampados entre os prédios, nos canteiros negligenciados ou, porque não, numa rotunda.

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Uma happy hour de alta cultura

Hoje em dia parece que tudo o que não envolva olhar para um ecrã é considerado “mindfullness”. Qualquer dia ir para o WC sem telemóvel e ficar sentado na sanita a ler os ingredientes do shampoo vai ter reconhecidos efeitos terapêuticos. Mas enquanto não chegamos a isso, eis-nos perante fenómenos como este: as Quiet Mornings do Museum of Modern Arte em Nova Iorque, uma espécie de happy hour da alta cultura, especialmente pensada para introvertidos ou misofónicos. O museu abre as portas mais cedo, com um preço especial (15 dólares) e um número muito limitado de bilhetes o que significa que entre as 07.30 e as 09.30, hora normal de abertura do museu, não há multidões. As Quiet Mornings incentivam ainda os visitantes a desligar o telemóvel e apreciar a arte sem interrupções. “Aprecie a serenidade do monumental “Nenúfares” de Monet ou encontre espaço para as suas reflexões pessoais nas telas minimalistas de Agnes Martin”, anuncia o MoMA. E é claro que há um espaço de meditação guiada para todos aqueles que precisam de ajuda para não pensar em nada. Gostávamos de ver uma iniciativa parecida no Museu Nacional de Arte Antiga, por exemplo, para que pudéssemos relaxar ao olhar para umas cabeças em bandejas e umas crucificações antes de começar o dia de trabalho.

Um sítio onde descarregar a ira

Se houvesse uma maneira de captar a energia negativa dos posts de Facebook de Maria Vieira, das opiniões de alguns taxistas sobre emigração ou na frustração reprimida de muitos adeptos de futebol, Portugal seria um país autosuficiente a nível energético. Enquanto não se inventa uma tecnologia que converta em watts a raiva e a ira das redes sociais e seus derivados, vamos ter de lidar com isso. Mas só porque não podemos aplicar essa energia em tarefas tão relaxantes como partir pratos, electrodomésticos e outros artigos que feitos para permanecerem intactos. Em Los Angeles, a Anger Room (tradução livre: sala de raiva) permite a cidadãos tranquilos, responsáveis e obedientes, comportarem-se como umas bestas sedentas de destruição. Ali pode realizar finalmente a sua fantasia de destruir um escritório (fotocopiadoras, computadores, secretárias), uma cozinha ou uma sala de estar. Tudo sem as consequências, enfim, nefastas, que um passatempo destes costuma acarretar na vida real. Estas sessões de terapia são caras: 25 dólares dão direito a cinco minutos de destruição e por 75 dólares pode semear o caos durante 25 minutos. Por mais uns trocos ainda leva para casa um vídeo do seu momento de libertação ou uma caneca (inteira) de souvenir. As atracções como esta Anger Room vivem sobretudo de donativos e inventivam quem quiser a levar as suas próprias coisas para partir. São coisas, não pessoas. Não comecem já a ter ideias.

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Um campo de basket multicolor

Há dois anos as imagens de um campo de basquetebol no 9º arrondissement de Paris correram o mundo. Um terreno desocupado, ensanduichado entre dois prédios, tinha sido transformado numa obra de arte por obra e graça de uma agência criativa, o Ill-Studio, uma marca de moda, a Pigalle, e uma conhecida multinacional do desporto – é a Nike, por que é que estamos a fazer cerimónia? No Verão, o mais belo court de basket do mundo voltou a surpreender-nos com as suas roupas de Verão: paredes pintadas com aquelas cores que nos custam sempre a definir (é lilás, é roxo, é violeta, é o quê?) um chão que vai do azul ao cor-de-rosa e tabelas fluorescentes compôem um cenário inquietante para basquetebolistas daltónicos, mas perfeito para todas as outras pessoas. Em Lisboa não existe grande tradição de afundanços ao ar livre, mas não enjeitamos a hipótese de um campo da bola multicolor. Vamos tentar, só desta vez, não encomendar o projecto à Joana Vasconcelos senão acabamos com balizas gigantes.

Um museu do gelado

Um museu do gelado

A ideia parece-lhe absurda? Lembre-se que existe um Museu do Ar e, vamos lá ver, o ar compõe a nossa atmosfera e é a coisa mais comum à nossa volta, se isso dá direito a ter um museu então… ah, espera lá, o Museu do Ar é sobre aviação? Ok, ok, isso faz mais sentido. Está bem. Mas o gelado, a sobremesa que nos fez querer permanecer vivos até atingir a idade adulta para a podermos comer ao pequeno-almoço, já merece ser museologizada. Em Abril de 2017, o bom senso atingiu as gentes de Los Angeles e ali nasceu um Museu do Gelado. Um conjunto de dez instalações num antigo armazém que honram esta sobremesa superlativa: é possível provar vários sabores, encher a barriga de gelado como se tivéssemos acabado de perder um dente de leite e fazer uma “viagem sensorial por vários sabores”: há um papel de parede com sabor a banana e uma incrível piscina de pérolas de açúcar coloridas onde é possível mergulhar. A Time Out de LA sublinha a decoração do sítio, que parece ter sido “construído de raiz para o instagram”. A entrada custa 19 dólares por pessoa, um preço caro, diz a revista irmã, que só se justifica para quem gosta muito de gelado. Não faz mal. Para quem gosta só um de um bocadinho de gelado – ou só um bocadinho de qualquer coisa – já existe cá um Museu dos Coches.

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Uma biblioteca de tudo

Chamam-se Bibliotecas das Coisas (a nossa tradução para Library of Things) e já existem no Reino Unido, EUA e Canadá. Funcionam exactamente como bibliotecas convencionais – o cartão de membro, a requisição, o prazo de entrega, o ligeiro cheiro a pó – mas em vez de livros, discos e filmes disponibilizam ferramentas, electrodomésticos, artigos de desporto e outras coisas que só precisamos uma vez ou outra. A ideia é acabar com as compras desnecessárias e o excesso de coisas que temos em casa. As Library of Things são uma espécie de sótão onde vamos buscar coisas que raramente precisamos, ou aquele amigo desenrascado a quem pedimos sempre emprestado o berbequim. A democratização do acesso a coisas como tendas de campismo, fatos de mergulho e tesouras de podar é um rude golpe no capitalismo, mas bibliotecas são projectos privados e há um preço a pagar: cerca de 10€ por cada empréstimo, mas os valores variam consoante o objecto requisitado. A Library of Things de Londres é um caso de sucesso que pode e deve ser copiado pelo mundo inteiro – basta entrar em contacto com a biblioteca e pedir (ou requisitar) uma formação sobre como montar um projecto igualzinho. Temos esperança que um empreendedor lisboeta se chegue à frente. Tanta que preferimos que abra uma Biblioteca das Coisas em Lisboa do que ir agora comprar uma rebarbadora.

Um museu para as más ideias

Sabia que em tempos a Colgate (essa mesmo, da pasta de dentes) tentou comercializar uma lasanha de microondas? E que a mítica marca de motocicletas Harley Davidson inventou um perfume? Essas e muitas outras ideias naufragadas estão em exibição no Museum of Failure, em Helsinborg, na Suécia. “Reparei que o sucesso é sempre colocado num pedestal e os fracassos são sempre varridos para baixo do tapete”, comentou Samuel West, o dono da colecção que em Abril de 2017 tomou a forma de museu. “Temos que aceitar que o falhanço é uma etapa importante no processo de criar algo novo”, disse à CNN. É por isso que o Museum of Failure, mais do que uma montra de desilusões, é um espaço que celebra a criatividade. A coragem de desbravar novos territórios que por vezes termina com embates violentos com a realidade. No entanto, muitas das invenções fracassadas deram origem a soluções inovadores: como Apple Newton, um computador de bolso que foi um caso de insucesso mas abriu caminho para o iPhone e o iPad. O museu tem uma versão itinerante em formato pop-up que anda a percorrer o mundo. Gostávamos de o ver em Lisboa e até temos umas ideias para o representante do engenho alfacinha: o “típico” pastel de bacalhau com queijo.

Arme-se em turista em Lisboa

  • Coisas para fazer

A diversão está descentralizada, democratizou-se, e a infância é um estado intermitente que nos visita de vez em quando. Fizemos o roteiro 
da Lisboalândia, um parque de diversões disfarçado de cidade onde há muito mais para fazer para além de tocar às campainhas e fugir.

  • Coisas para fazer

Em dez mil metros quadrados de Time Out Market há sempre muita coisa a acontecer. Muito mais do que comida e bebida.  Mas há mais: a Academia Time Out, por exemplo, vai estar animada nos próximos dias, com workshops e até um curso de cozinha. Claro está que pode apenas passear pelos corredores do mercado, que tem uma selecção dos melhores restaurantes da cidade, ou beber um cocktail no Time Out Bar.

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  • Coisas para fazer

Não sabe o que fazer em Lisboa? De concertos de rock a aulas de swing, de recitais de poesia a passeios de bicicleta, damos-lhe uma grande variedade de sugestões para aproveitar tudo quanto é à borla na cidade. São dezenas de coisas grátis para fazer em Lisboa, afinal não queremos que deixe de aproveitar o melhor que a cidade tem apenas por ter a carteira mais vazia. Há muito para fazer à borla em Lisboa. Não acredita? Então espreite a lista que se segue. 

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