1. Martim Moniz morreu entalado num portão?
Quanto a Martim Moniz, guerreiro associado à conquista de Lisboa aos Mouros em 1147, a história é outra. “[…] perdendo a uida fez de seu corpo ponte para os nossos [os Portugueses] passarem, & impedio aos Mouros seu intento”. Assim se refere em 1632 o cronista frei António Brandão ao feito glorioso que o terá levado, com sacrifício da vida, a atravessar-se num portão que os mouros tentavam encerrar. Pena é que a façanha “não seja verdadeira”, aponta Ricardo. “Quem consulta as únicas fontes históricas que relatam a conquista da cidade aos muçulmanos, seja a carta do cruzado Osberno (De expugnatione Lyxbonensi), seja a do cruzado Arnulfo, constata que não existe qualquer referência a este personagem nem ao episódio que ele supostamente terá protagonizado.” Mas, se o modo como Lisboa foi conquistada inviabiliza a acção decisiva que se atribui a Martim Moniz, significa que nunca terá existido? Não necessariamente. “É provável que durante o cerco de Lisboa se tenham dado frequentes escaramuças, sendo natural que tenham começado logo no primeiro dia do cerco. Nesse, ou noutro combate semelhante, Martim, lançado em perseguição dos mouros, foi por eles morto junto a uma porta, talvez mesmo quando tentava impedi-los de a fecharem. Um acto de coragem, que lhe custou a vida e que foi um entre os muitos que então se verificaram”, entretanto ampliado pela História com H grande.