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Lisboetas do ano
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Lisboa é deles: os lisboetas do ano

Os nomes que marcaram a cidade ao longo de 2019, da música ao palco, do desporto à noite, dos negócios ao prato.

Escrito por
Editores da Time Out Lisboa
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Será o Tejo? Será o fado? Será a calçada, o eléctrico ou as colinas? Será o bitoque? Será o pastel de nata? Será a isca, a patanisca, tudo o que se petisca? Não. O que faz uma cidade são as pessoas – e o que faz Lisboa são os lisboetas. Lisboetas nascidos e criados, lisboetas de fora, lisboetas do mundo inteiro. Gente que, por alguma razão, fica gravada na impressão digital de Lisboa, ganha um lugar na história e torna a cidade cada vez melhor e mais bonita. A redacção da Time Out Lisboa juntou um grupo de 25 lisboetas que marcaram o ano de 2019. São músicos e actores, desportistas e empresários, sonhadores, visionários. São lisboetas de Lisboa ou lisboetas de outras cidades. Não interessa de onde vieram, desde que tenham vindo para travar a mesma batalha: tornar a cidade cada vez melhor. A luta continua.

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Lisboetas do Ano

O Activista
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O Activista

Não é uma pessoa, são muitas. Em 2019, os alfacinhas chamaram a si a responsabilidade de travar batalhas políticas, ambientais, urbanísticas, de acesso à habitação e contra o ruído. Criaram movimentos, fizeram petições, levantaram a voz. Insistiram na melhor versão possível de Lisboa e deixaram marca na cidade. Colectivamente, são o lisboeta do ano.

Uma das causas mais sonantes, e com resultados, foi a do Jardim Martim Moniz. Susana Simplício tem sido a representante deste movimento, que defende um espaço verde para aquela praça. Para a gestora cultural, “serviu de exemplo para o que se pretende na cidade”. “Sentimos logo que isto iria servir de exemplo do poder dos cidadãos na construção da cidade”, diz, lembrando o cordão humano em torno de uma praça fechada dinamizado por organizações locais, como a Renovar a Mouraria. Em Julho, chegou a primeira vitória: o “projecto dos contentores” não iria avançar. Falta saber o que virá.

Também na luta pelo espaço público destacou-se o movimento Libertem o Adamastor. No centro da polémica esteve e está o gradeamento em torno do Miradouro de Santa Catarina, que acabou por ser instalado. A ideia é que em Outubro do próximo ano se faça uma avaliação da sua utilidade, que passa muito pela segurança, e se decida se é para manter. “Não vamos desistir junto da Câmara Municipal de Lisboa de exigir a retirada da grade, que é provisória por um ano”, diz Rosa Silva Ramos, funcionária pública que tem dado o corpo às balas em defesa de um espaço aberto em permanência. “O que já ganhamos tem a ver com o facto de se falar de activismo. Acabou por se reflectir no Martim Moniz, que no início também tinha uma grade.”

Outra das dores da cidade, e do país, tem sido o acesso à habitação. Surgiram plataformas como o Morar em Lisboa, o STOP Despejos ou o Left Hand Rotation, que fez um documentário intitulado O que vai acontecer aqui?. Associada a tudo isto e muito mais está a Habita!. Para os membros desta associação, “cada despejo evitado e cada alternativa arrancada de proprietários e instituições é uma pequena grande vitória. Além disso, juntamente com outros movimentos, tomamos posições para alterar decisões relacionadas com o uso do espaço público, como no caso da praça do Martim Moniz.” (Está tudo ligado.) Ao longo de 2019, conseguiram “múltiplas vitórias” para pessoas que estavam sem alternativas de habitação, como foi o caso dos moradores da Rua dos Lagares, na Mouraria.

As obras e o bulício deram origem a outra discussão: a do ruído. No Facebook nasceu o grupo Menos Barulho em Lisboa, onde a poluição sonora é partilhada em vídeos, fotografias e testemunhos escritos. Uma das administradoras é a cineasta Marta Mateus. “A minha expectativa é que a Câmara de Lisboa nos oiça”, afirma. “É o município que emite as licenças necessárias para que os agentes económicos actuem a favor dos seus interesses, que muitas das vezes lesam gravemente os interesses da comunidade”, defende Marta, apontando o dedo a uma “discoteca ao ar livre”, aos “barcos que passeiam no Tejo emitindo música altíssima pela madrugada fora” e ao “ruído causado por aviões”.

Terminamos com um tema que tem estado nas bocas do mundo: o ambiente. A nível local tem-se destacado o Zero Waste Lab, que se desdobra em iniciativas para sensibilizar e educar para os problemas da produção de lixo. Para os membros desta associação, liderada por mulheres, a maior conquista passou por “intervir com as comunidades, envolvendo as pessoas nos seus processos de mudança face à produção e diminuição de lixo, para que todos os seres vivos possam prosperar em harmonia”, além da “consolidação de uma rede estruturada de movimentos lixo zero”. Para arrancar em 2020, está uma Academia Lixo Zero, que dará a conhecer os processos de gestão do lixo ao cidadão comum.

E não podíamos fechar o ano sem um grande movimento mundial que teve e tem expressão em Lisboa: a Greve Climática Global. A 12 de Março, milhares de estudantes saíram à rua, inspirados pela activista sueca Greta Thunberg. Muitos jovens estão empenhados num futuro mais verde. Como Alice Vale de Gato, que acredita que a grande conquista de 2019 foi a criação de “um movimento inclusivo e capaz de mobilizar milhares de jovens, bem como capaz de estabelecer laços estreitos com vários setores da sociedade civil”. Ou Gil Ubaldo, que destaca a “capacidade de preparação e treino de um grande número de activistas que se estão a tornar muito capazes em termos de organização, logística e comunicação”. E de Matilde Alvim, que sublinha a importância da criação de “uma cultura de mobilização estudantil” que “ajudou a fazer da justiça climática um debate público cada vez mais intenso ao longo do ano”. Ou ainda Gonçalo Paulo, que acredita que a greve tenha “finalmente convencido as pessoas de que a luta é importante e legítima”. Quatro jovens que são uma pequena gota num oceano de estudantes que querem explicar aos adultos como salvar o planeta. E Lisboa está na zona vermelha de risco a partir de 2050, devido à subida do nível da água. Já não falta assim tanto.

Lorenzo e Nikolay
©Gabriell Vieira

Lorenzo e Nikolay

Drag Taste

Lisboa já quase não tinha espaço no estômago para mais brunches quando a Drag Taste nos surpreendeu no início de Dezembro com um drag brunch de domingo na LX Factory. “Uma maneira de ter os nossos portugueses a desfrutar de cultura drag e de boa comida”, explica a anfitriã, Teresa Al Dente (a versão drag do português Lorenzo), que teve a ideia juntamente com o marido, o russo Nikolay (aqui Irina Ganache). À primeira vista podia ser um brunch tradicional, mas quando os ânimos começam a aquecer e as mimosas a escorregar, é altura de olhar para o palco, para os espectáculos contínuos das drag queens da casa. Em Junho, Lorenzo e Nikolay começaram por fazer jantares com aulas de cozinha e transformações drag dos convidados na sua própria casa, em Lisboa, até que os vizinhos reclamaram do barulho – culpa do lip sync. Entretanto, o Airbnb elegeu-os uma das melhores experiências mundiais e a popularidade entre turistas foi tal que tiveram de arranjar um espaço maior. O novo brunch foi uma maneira (mais económica, a partir de 25€/pessoa) de conquistar os alfacinhas. “Não existe nada em Portugal durante o dia que envolva drag queens”, sublinham. Desde o Verão, já receberam mais de 1500 pessoas e o número promete aumentar. Em 2020 é possível que o brunch aconteça também ao sábado. Até lá, continuam as suas aulas de culinária com jantar, as provas de vinhos e os eventos para particulares e empresas. Tudo em drag, como deve ser.

Por Clara Silva

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Maria Antunes e Rui Catalão
©Duarte Drago

Maria Antunes e Rui Catalão

Kitchen Dates

Donos do primeiro restaurante sem caixote do lixo em Portugal, Maria Antunes e Rui Catalão passaram boa parte deste ano a correr o país à procura de pequenos produtores que correspondessem às necessidades que tinham para os Kitchen Dates 2.0 – depois de ano e meio a fazer um brunch vegan em sua casa, começaram a perceber que estavam preparados para dar o salto e abrir um espaço ao público. Mas este não é um restaurante vegan normal, começando pelo pequeno grande pormenor de não ter caixote do lixo. Maria e Rui não são chefs de cozinha e as suas profissões nunca tiveram nada a ver com a área da restauração. Tudo o que entra no espaço em Telheiras (Rua do Seminário, 7A), que abriu em Novembro, tem um de três destinos: é comido, reutilizado ou transformado em composto. Para aqui chegarem, estudaram a produção alimentar em Portugal e procuraram pessoas responsáveis por produção biológica que não usam embalagens de utilização única para transporte. Todos os frescos vêm de um raio de 50 km e os restantes têm de ser produzidos perto, não necessariamente em Portugal – se encontram um ingrediente a cumprir os requisitos em Badajoz, preferem ir lá buscá-lo. Ficaram sem coisas tão básicas como o café, o cacau, as especiarias, a banana ou o coco, mas adaptaram-se e explicam como o fazer também. De quarta a domingo têm uma despensa aberta para compras, às quartas e quintas fazem jantares, e aos sábados, domingos e feriados há brunch. Funciona tudo com pré-reservas e pré-pagamento, através do site. Às sextas é o dia aberto, com um menu simples e visitas só para comer ou para pedir dicas de como adoptar este estilo de vida.

Por Inês Garcia

Diogo Amorim
©Arlindo Camacho

Diogo Amorim

Gleba

Em 2016, falar de pão não era o mesmo que é hoje. O pão artesanal, produzido segundo a receita tradicional, já se encontrava em algumas padarias da cidade, mas foi nessa altura que um jovem cozinheiro se lançou na aventura de fazer pão de fermentação natural com cereais nacionais moídos em mó de pedra. Diogo Amorim, 24 anos, regressou às origens e começou a produzi-lo “como se fazia há 200 anos” na sua padaria Gleba. A paixão nasceu no restaurante com três estrelas Michelin Fat Duck, em Inglaterra, onde estagiou. De lá foi para a Suíça e quando regressou a Portugal, trabalhou no Vila Joya. “Tornei-me obcecado por pão, só pensava em pão”, conta. Foi depois de sair de Albufeira e de se inscrever num mestrado em Lisboa que viu a oportunidade de abrir uma padaria diferenciada. A parte difícil foi encontrar agricultores que produzissem cereais nacionais, já que 98% são importados. Mas Diogo conseguiu. “Começámos a gastar meia dúzia de quilos e actualmente fazemos uma média de 950 kg de pão por dia”, diz. Em 2019, a padaria começou a fazer entregas comerciais pela cidade e hoje está presente em 100 estabelecimentos: restaurantes, cafetarias, mercearias e hotéis. O plano passa por abrir uma nova loja e uma unidade de produção que permitirá aumentar a produção em quatro vezes, até ao primeiro trimestre do próximo ano. Diogo discorda de quem se refere ao pão artesanal como uma moda. “Não é um produto para os foodies. É um produto para toda a gente.” O pão da Gleba não é só mais um pão. Não é gourmet nem provoca uma experiência sensorial transcendente. É apenas pão, bem feito. E é assim que Diogo se sente realizado. Afinal, “é a base da nossa alimentação”.

Por Inês Garcia

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Paula Amorim
©DR

Paula Amorim

Amorim Luxury Group

“Porto é lar”, mas Lisboa é a cidade que Paula Amorim escolheu para viver. Para viver e para dar cartas no mundo dos negócios. O segmento luxo é a aposta da empresária que começou com a Fashion Clinic no já longínquo ano de 2005 e que em 2019 juntou à família cada vez mais numerosa o JNcQUOI Ásia. Pelo caminho, ganharam morada na Avenida da Liberdade a Fashion Clinic Men, a Gucci, a Ladurée e o primeiro JNcQUOI. “Passámos da Idade Média para a Contemporânea em pouco tempo e aqui não vou ser modesta: a Amorim Luxury tem dado um bom contributo para esta mudança. Mas há ainda muito para fazer, muito espaço para crescer”, diz Paula, que, além da moda e da restauração, também está de olho no turismo. “Um país de turismo (...) precisa de ter oferta para os públicos mais sofisticados, que são quem tem mais poder de compra e gera mais receita, que gera mais investimento, que gera emprego, e assim se cria riqueza para o país.” Em 2019 comprou a Comporta e em 2020 não pretende abrandar. “Numa cidade como Lisboa, as oportunidades de explorar novos conceitos são inúmeras, para isso há que estar atento e acima de tudo ter um mindset aberto e pensar que Lisboa é uma cidade do mundo.”

Por Vera Moura

Alda Galsterer e Fernando Belo
©Manuel Manso

Alda Galsterer e Fernando Belo

Carpintarias de São Lázaro

Janeiro foi o mês em que Alda Galsterer e Fernando Belo respiraram de alívio e viram, finalmente, as portas das Carpintarias de São Lázaro abertas, depois de muitos anos a batalharem para que este espaço do Martim Moniz renascesse das cinzas. As Carpintarias de São Lázaro foram devolvidas à cidade enquanto pólo de criação multidisciplinar e contemporâneo, ocupando uns valentes 1600 metros quadrados, repartidos por três pisos, com artes visuais, música, teatro, dança, cinema e gastronomia. “Excedemos as expectativas e conseguimos cumprir duas coisas importantes: surpreender o público com um novo espaço de apresentação e abranger uma programação que chegou a todos, muito democrática”, explica Fernando. Até ao final de Setembro, contavam já com mais de 40 mil visitas desde a abertura, um número que esperam superar em larga escala com a entrada e as mudanças do próximo ano. Em 2020, a propósito da Capital Verde Europeia, as Carpintarias serão palco de alguma da programação especial, mas há mais: as residências artísticas vão alargar-se à música, com salas de ensaios e um estúdio de gravação digital. A dinamização do terraço é outra das ideias – aproveitando o espaço para concertos, cinema ou obras site-specific. E se a inclusão já estava no topo da lista de prioridades, agora mais ainda: no próximo ano as pessoas com mobilidade reduzida poderão movimentar-se sem problemas, uma vez que estão a ser instaladas estruturas para tal. Para rematar, a loja do espaço vai abrir ao público.

Por Francisca Dias Real

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Elena Durán
©Manuel Manso

Elena Durán

55+

“Personalidade do ano? Fico tão envergonhada de ficar quase ao nível do professor Marcelo!” – assim reagiu Elena Durán quando soube que a Time Out a escolheu como uma das pessoas que mais marcou a cidade este ano. Mas de surpresa pouco tem: Elena dá a cara por umas boas dezenas de pessoas com mais de 55 anos, desempregados ou reformados, mas com experiência e vontade de regressar ao activo. Criou a plataforma 55+ para que elas prestassem serviços em diversas áreas e “não sentissem que deixaram de ser válidas para a sociedade”. O projecto foi criado no final de 2018, mas só este ano teve o combustível necessário para andar e, prova disso, foi o aumento exponencial dos inscritos. “Agora é que começo a perceber o quão real é o projecto”, diz – e é tão real que têm 1600 pessoas em lista de espera. Elena recebe inscrições de todo o país, mas são precisos mais apoios à 55+ para que a plataforma se possa expandir. “Fizemos um estudo há pouco tempo e confirma-se aquilo que sempre achámos: as pessoas a trabalhar na 55+ sentem-se mais activas, incluídas na sociedade e, claro, há a parte monetária que tanta lhes faz falta”, explica, acrescentando que mais de metade dos clientes volta a recorrer à 55+. Chef em casa, pequenas reparações, jardinagem e pet sitting são alguns dos serviços que pode requisitar em cinco freguesias: Campo de Ourique, Campolide, Estrela, Alcântara e Misericórdia. Com antecedência e jeitinho, “tudo se faz”, diz Elena.

Por Francisca Dias Real

Gonçalo Castel-Branco
©Duarte Drago

Gonçalo Castel-Branco

The House of Hopes and Dreams

“Este foi um ano muito intenso, foi o ano em que passámos da minha sala de jantar para um espaço enorme na Ajuda.” O salto foi de gigante, mas nada que as dores de crescimento não estivessem já a pedir. Responsável por projectos como o The Presidential, o comboio presidencial de 1890 que percorre a linha do Douro com chefs de topo a cozinhar; ou o festival Chefs on Fire, que junta chefs à volta da fogueira com concertos à mistura, Gonçalo Castel-Branco abriu este ano as portas a uma nova casa, a The House of Hope and Dreams, uma antiga serralharia na Ajuda transformada num abrigo criativo para chefs, artistas e fazedores – e com um calendário de eventos pop up e workshops para todos. O espaço divide-se em três: uma parte de trabalho e cowork, o lounge para eventos e a cozinha, ou não fosse a gastronomia a chave de ouro desta estrutura. “2019 foi o consagrar de muita coisa, foi um ano de consolidação. Passámos de uns tipos que gostavam de brincar na área da gastronomia para uma empresa que é levada a sério – nós próprios tivemos de nos levar mais a sério”, explica. “Não somos uma empresa de gastronomia, a gastronomia é que é uma desculpa para tantas outras coisas, é uma base para contar histórias, para viver experiências – e são essas experiências que unem as pessoas, que é o que nós queremos.” A avalanche de ideias para 2020 enche facilmente a agenda de Gonçalo e da equipa (e promete ir aparecendo aqui pela revista). Será o ano que fecha o ciclo do The Presidential, com a sua última edição, e o ano em que arranca o projecto The Vintage, o comboio- hotel que só vai andar sobre carris lá para 2021. Na calha está também o projecto da Roda Gigante, onde as pessoas vão poder comer pratos cozinhados por chefs enquanto andam numa roda, e o crescimento do Chefs on Fire para dois dias de festival. Para Dezembro está previsto um megaprojecto – mas esse, por enquanto, fica no segredo dos deuses.

Por Francisca Dias Real

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Mónica Albuquerque
©Duarte Drago

Mónica Albuquerque

Maria do Mar

“As lojas são um bocadinho como ter filhos”, diz Mónica Albuquerque, que em Setembro de 2019 deu à luz a Tailor by Maria do Mar, depois da Maria do Mar Lifestyle, com brinquedos, e da Maria do Mar Warehouse, com mobília. “A roupa sempre foi uma coisa que os clientes pediam e achámos importante arranjar coisas diferenciadas.” Neste pequeno império em Alvalade – Mónica pertence à quarta geração da família no bairro e orgulha-se de estar a contribuir para o seu crescimento –, a luta pelo comércio justo e pela sustentabilidade é cada vez mais evidente, com marcas escolhidas a dedo. “Há um lado pedagógico e de mudança de comportamentos de consumo que queremos passar. É como uma missão, um shout out loud desesperado. Será que não estão a ver o que está a acontecer ao nosso planeta?” A oferta infantil na cidade ficou mais rica e 2020 é o ano de passar fronteiras e chegar a quatro novos mercados estrangeiros. “O novo ano vai ser uma bomba. Vamos apostar mais no online e no lado técnico. Não quero estar conotada com uma loja de coisas fofinhas. Quero sim, responder às necessidades, ser a mom’s best friend e ficar com ela até ser velhinha.” Em 2020, nasce também o segundo filho da empresária – um bebé de verdade, e não mais uma Maria do Mar.

Por Vera Moura

Pedro Campiche
©Duarte Drago

Pedro Campiche

Akacorleone

Pedro Campiche, 34 anos, recusa um título definitivo no que ao trabalho diz respeito. Escultura, muralismo, graffiti, ilustração: tudo faz parte do currículo, e essa é a grande bandeira que Akacorleone carrega às costas. Ao pai, escultor, deve a introdução aos meandros da arte. Mas a estética foi ele próprio a definir. O trabalho foi surgindo pela cidade como apontamentos criativos que preenchem empenas e murais – e que contrapõem comutações quotidianas cinzentas. Cor e formas, ora fluidas ora geométricas, são fáceis de encontrar na Rua Damasceno Monteiro, no Campo dos Mártires da Pátria, no mural que liga o novo campus da Universidade Nova de Lisboa à Praia de Carcavelos, na Rua de São Bento ou no Bairro Padre Cruz. Índia, Tailândia, Honduras, França e Inglaterra são outras geografias marcadas pelo artista. Em 2019, Pedro continuou, rápido e intenso. “Tive um projecto em Las Vegas, um em Bucareste, algumas exposições colectivas. Foi um ano em que fiz muitas coisas ao mesmo tempo, experimentei muito.” Estados Unidos, Suíça, Roménia e Espanha foram as paragens no roteiro do homem que faz parte do colectivo Underdogs [de Vhills] e da Crack Kids Lisboa, uma plataforma que junta várias mentes ligadas às artes, no Cais do Sodré. Para o ano, nada de abrandar. “Quero viajar mais, tenho ideia de fazer pelo menos uma exposição a solo e apresentar algumas peças novas. Ir por caminhos que nunca fui. O muralismo tem-me trazido muitas oportunidades, mas queria um trabalho mais de escultura.” Sobre a cidade, Akacorleone é peremptório; Lisboa é casa, “uma cidade com imensa criatividade, imenso talento e que está diferente. Para o bem e para o mal”.

Por Tiago Neto

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Sandro Resende
©Manuel Manso

Sandro Resende

Manicómio

Começou por dar aulas no Hospital Júlio de Matos, antes de lançar a P28 com José Azevedo, em 2009. A associação – que transforma pavilhões devolutos em espaços expositivos, artísticos e de reabilitação – deu vida este ano ao Manicómio, a primeira galeria-ateliê da cidade onde os artistas têm doenças mentais e lutam pela inclusão através da arte: constroem monstros, desenham mulheres-anjo, escrevem poemas, fotografam arquitectura. “Apesar de todas as intervenções feitas no centro psiquiátrico, as pessoas têm receio de entrar. Estava na hora de sair”, diz o artista plástico Sandro Resende, de 44 anos. “No Manicómio, os artistas controlam os seus horários e partilham um espaço de cowork com outros criativos e empresas, mas também com o público.” Convicto que fora dos hospitais é possível fazer mais, criou condições para a produção de arte bruta portuguesa, mas não parou aí: transformou Lisboa no centro da discussão pública sobre saúde mental através de programação regular e consultas de psicologia, psiquiatria e terapia familiar num open space e a um preço acessível. O reconhecimento não tardou: a P28 recebeu uma distinção de mérito do Ministério da Saúde e o Manicómio foi conteúdo de dois trabalhos premiados. “Em 2020 vamos abrir mais dois Manicómios e lançar uma revista”, desvenda Sandro com entusiasmo. O futuro é portanto saudável, sem dispensar a dose certa de loucura.

Por Raquel Dias Silva

Luís Rodrigues
©Inês Félix

Luís Rodrigues

Insónias em Carvão

“Supervisor de efeitos visuais de dia, um completo idiota à noite.” Quando este vigilante das redes sociais ascender à BD, será esta a tagline. É um resumo que o próprio Luís Rodrigues, o rosto por detrás da máscara Insónias em Carvão, faz da actividade que este ano lhe valeu um convite de Ricardo Araújo Pereira para integrar a equipa de Gente Que Não Sabe Estar e uma nomeação para um Globo de Ouro. Em Setembro, revelou a identidade numa entrevista à Playboy: nascido em Inglaterra há 40 anos, em Portugal desde os cinco. A revista destacou-o sobre uma nádega desnuda: “Essa capa foi alvo de várias leituras no meu grupo de amigos no Whatsapp. Nenhuma das quais é replicável num espaço sério como este.” Bom, talvez uma: “Simboliza que saí da obscuridade.” Na verdade, deixou a sombra em 2014, quando partilhou o meme que deu origem ao movimento “Somos Todos Meireles”: uma manipulação da selfie que a selecção de futebol tirou com Cavaco Silva. A abordagem cartunesca é a mesma com que faz delirar (no sentido metafórico e patológico do termo, sobretudo quando o assunto é bola) centenas de milhares de seguidores. “Ainda me surpreendo todos os dias com o alcance de certas coisas. Honestamente, não mudou quase nada”, diz. “Gostava de fazer coisas mais ‘artísticas’, t-shirts, posters, passar do digital para o analógico, coisas palpáveis. Talvez seja este ano.”

Por Hugo Torres

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Frederico Morais
Fotografia: Arlindo Camacho

Frederico Morais

Surfista

Tinha sete anos quando escreveu uma carta em que afirmava, convicto, que um dia ainda ouviriam falar muito dele. Duas décadas depois a profecia cumpriu-se e Frederico Morais será o primeiro atleta a representar o país na modalidade de surf nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020. Em 2017, Kikas, como é conhecido, foi o primeiro português a chegar à final de uma etapa do World Surf League. Mas uma lesão em 2018 afectou a sua prestação. “Em 32 surfistas, todos os anos saem os últimos dez. Estava em 21.o e acabei o ano em 23.o, a uma posição de me requalificar”, recorda. O ano de 2019 “começou mal”. Kikas desceu para a World Qualifying Series. Mas queria voltar a surfar com os melhores. A lesão no tornozelo ficou sarada em Março, fez mudanças no treino e os resultados começaram a aparecer. A vitória no Havai, em Novembro, trouxe Kikas de volta à elite mundial. Para o ano que se avizinha, não traça planos. “Ainda não pensei. Vou tentar ter outro ano igual”. 2019 foi dele. E em Junho de 2020 lá o vamos ver no Japão, a passear com uma prancha na mão.

Por Sebastião Almeida

Gustavo Ribeiro
©Duarte Drago

Gustavo Ribeiro

Skater

Aos cinco anos, no Natal, o tio deu-lhe a primeira tábua, uma para ele, outra para o irmão gémeo, Gabriel, também skater. “Passados alguns meses os nossos pais inscreveram-nos numa escola de skate, para começarmos a levar as coisas mais a sério, e com seis anos participámos no primeiro campeonato, que correu muito bem”. Ele, em segundo, viu o irmão reclamar o primeiro lugar. Não desanimou. E nunca mais largou o skate. Aos 15 entrou na maior competição mundial para amadores, o Tampa AM, na Flórida; ficou pela semifinal. Um ano depois, em 2017, voltou aos Estados Unidos determinado a vencer, e coroou-se campeão. “Foi a porta para tudo o que tem acontecido”. Este ano, o miúdo prodígio de 18 anos assinou o nome em oito campeonatos. No rol, estão algumas das competições mais reputadas: a Street League Skateboarding, os X Games, a Street League Super Crown e o Campeonato do Mundo de Skate. Não os venceu, mas nunca esteve longe. “Para primeiro ano como profissional estou mesmo contente. Acabei 2019 em terceiro no ranking mundial. Para o ano quero acabar em primeiro e ver como correm os Jogos Olímpicos.” Gustavo será um dos representantes lusos na prova, que pela primeira vez agrupa também o skate.

Por Tiago Neto

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Sérgio Praia
©DR

Sérgio Praia

Actor

Em 2016, Sérgio Praia interpretou António Variações no monólogo Variações, António, de Vicente Alves do Ó, no Teatro São Luiz. Este ano voltou a personificar o cantor no filme biográfico Variações, de João Maia, o mais visto em Portugal em 2019, com 278 mil espectadores. Um número invulgar, que propulsionou Variações para o quinto lugar da tabela dos filmes nacionais mais vistos de sempre. Metido na pele de António, Sérgio faz um espantoso trabalho de transfiguração, física e interior, recriando a forma de estar e a maneira de ser do cantor, numa interpretação exaustivamente abrangente, que sublinha o sentido do espectáculo que o autor de “O Corpo é que Paga” tinha. Praia também canta no filme – e deu concertos ao vivo com a banda. Para 2020, o actor (que tem entrado em telenovelas, séries e filmes), tem dois projectos, um no cinema e outro na TV, sobre os quais ainda não pode divulgar pormenores. Nascido em 1977, na Praia do Furadouro (“É lá que quero ir morrer”, disse à Time Out), Sérgio Praia veio para Lisboa em 1998. “Foi paixão à primeira vista. Não o sendo, quase que me sinto lisboeta.”

Por Eurico de Barros

Tiago Guedes
DR

Tiago Guedes

Realizador

O ano de 2019 foi um ano farto para Tiago Guedes. Não só conseguiu a proeza de estrear dois filmes, A Herdade, uma saga familiar que começa no antigo regime, atravessa o PREC e acaba nos anos 80, já em plena democracia, e Tristeza e Alegria na Vida das Girafas, uma adaptação da peça homónima de Tiago Rodrigues, como levou o primeiro à Competição Oficial do Festival de Veneza, onde foi bem recebido. Mais ainda: A Herdade conseguiu também ter os favores da crítica e do público em Portugal (uma unanimidade muito difícil de conseguir entre nós), concluindo o ano na posição de terceiro filme português mais visto, tendo contabilizado cerca de 70 mil espectadores. Nascido no Porto em 1971, Tiago Guedes já realizou títulos como Coisa Ruim (2006), um raro exemplo de filme de terror nacional, ou Entre os Dedos (2008), bem como telefilmes como Alta Fidelidade (2000) e Noite Sangrenta (2010), e séries de televisão, tendo ainda trabalho como encenador no teatro. Está agora a preparar o seu próximo filme, “ainda numa fase inicial de escrita”, disse à Time Out. Apesar de ser natural do Porto, Tiago Guedes, que é casado com a actriz Isabel Abreu (têm dois filhos) está muito ligado a Lisboa: “É onde está a minha casa, a minha família e onde faço a maior parte dos meus trabalhos e, por isso, sim, sinto-me lisboeta, embora carregue sempre comigo partes de outros locais por onde tenho vivido, onde o Porto tem um lugar muito importante”.

Por Eurico de Barros

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Pedro Vieira
©Duarte Drago

Pedro Vieira

Cinema São Jorge

Há um filme para ilustrar todas as situações. Temos vindo a aprendê-lo ao longo dos últimos dois anos, desde que o escritor, ilustrador, bloguer, argumentista e apresentador de podcasts e televisão Pedro Vieira (“artista de variedades”, resume ele) tomou conta das redes sociais do Cinema São Jorge. “A última das salas clássicas da cidade” está a travar a “batalha pela notoriedade” e a “guerrilha” online que o põe a comentar a actualidade com fotogramas é uma das leituras diárias obrigatórias na Internet nacional. Pedro Vieira faz uma gestão nos antípodas da frieza institucional que se espera deste tipo de contas, o que lhe tem valido renovados elogios. “A notoriedade conquistada tem precisamente a ver com essa dimensão mais descomprometida e de maior proximidade com o público das redes e com o registo que parte desse público adopta”, diz. “O fato institucional fica-me sempre curto – e na minha modesta opinião é falho de imaginação – e num contexto de poucos meios, foi isso que me foi pedido: que fosse criativo.” O Twitter é, “sem dúvida”, onde tem mais espaço para trabalhar essa heterodoxia. “É lá que o humor mais arriscado, a sofisticação, os piscares de olho com várias camadas funcionam melhor”, nota. “No Facebook há mais contenção – o público é bastante diferente – e o tom é mais informativo. No Instagram, ainda estou a tentar apreender qual será o melhor registo. Tem uma lógica menos imediata para mim, mais juvenil, eventualmente, e parecendo que não, eu já tenho 44 anos.”

Por Hugo Torres

Sam the Kid
© Duarte Drago

Sam the Kid

Rapper e Produtor

A Lisboa de Samuel Martins Torres Santiago Mira está toda nos cadernos, nas rimas, nos beats impressos num 7º andar da Manuel Teixeira Gomes, em Chelas. 40 anos de idade, mais de metade ligados ao hip-hop, dezenas de colaborações, projectos de mão cheia. Sam The Kid é hoje um título, uma existência que vai além do apelido escolhido pelo próprio e que se confunde com o movimento. Até 2006 tinha Portugal aos pés e atenção que ninguém, até então, tinha conseguido alfinetar. Mas o percurso guinou, Sam The Kid afastou-se dos holofotes a título individual, mantendo a actividade a meia luz, e deixou o público a salivar por mais. 2018 marcou o primeiro indício do regresso, veiculado por uma plataforma inestimável para o hip-hop português, a TV Chelas, um canal de YouTube alimentado a registos de vídeo arquivados pelo rapper ao longo dos anos e por faixas produzidas pelo próprio. É 2018 o ano de edição da primeira mixtape com a assinatura Sam The Kid em 12 anos, Mechelas. A reacção foi entusiástica. Afinal, o miúdo estava activo e em forma. 2019 trouxe-lhe um outro desafio, Sam levou a música que faz e que o fez aos Coliseus de Lisboa e Porto, acompanhada em palco por orquestra e pelo colectivo que integra, Orelha Negra. Os bilhetes desapareceram em poucos dias, e o rótulo de fenómeno passou a acompanhá-lo.

Por Tiago Neto

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Conan Osiris
Fotografia: Matilde Travassos

Conan Osiris

Músico

Por esta altura, há dois anos, Tiago Miranda trabalhava na rede de sex shops ContraNatura. Poucos tinham ouvido o nome Conan Osiris e a música que fazia. Até que, sem grande alarido, a 30 de Dezembro de 2017, lançou Adoro Bolos pela AVNL Records. Nas semanas que se seguiram, as suas canções começaram a alastrar como fogo por entre a Lisboa mais atenta e os elogios na comunicação social sucederam-se – os insultos também, mas ele aprendeu a lidar com isso. Actuou em todo o lado. 2018 pertenceu-lhe. E mesmo assim não foi nada ao pé de 2019: venceu o Festival da Canção, levou a sua música de Israel à China, cantou para mais gente do que nunca, ganhou fãs e detractores. Subiu ao palco do Coliseu e viu a sua música – portuguesa mas global, experimental mas popular – editada num suporte físico pela Sony. 2019, mais uma vez, pertenceu-lhe. Apesar disto tudo, Tiago, 30 anos, diz que continua a viver “da mesma maneira”. Lavar a loiça continua a relaxá-lo. É possível que lance um disco novo para o ano, mas ainda não está nada fechado. “Estou a fazer muitas coisas.” Pode não dar em nada. Pode dar em canções como “Telemóveis”.

Por Luís Filipe Rodrigues

Dino D'Santiago
©Duarte Drago

Dino D'Santiago

Músico

Nunca se falou tanto na “Nova Lisboa” como em 2019 e o grande responsável foi Dino d’Santiago. Apesar de ter editado Mundo Nôbu no final do ano passado, foi ao longo de 2019 que o disco mais se ouviu. E a sua música não podia ter servido melhor a cidade. “É só a banda sonora de uma celebração que já vem de há séculos”, diz-nos Dino, sempre humilde e incrédulo com tudo o que lhe aconteceu. “Lisboa sempre foi feita de misturas, mas felizmente sinto que cheguei numa altura em que queremos reconhecer isso como um bem maior”, conta o músico, que deu também que falar por ter servido de cicerone a Madonna em Lisboa. Agora em tour pelos EUA, a rainha da pop levou atrás o que conheceu com Dino. “Ter conseguido levar as batucadeiras em tour com a Madonna foi o momento mais alto para mim.” Depois de vários prémios, salas cheias e um roteiro de festivais preenchido, isto poderia soar a falsa modéstia. Mas Dino é mesmo assim, simples e sem manias. “Eu estou habituado só a aplaudir. Nem quando desenhas uma rota perfeita ela acontece tão perfeita como as coisas me aconteceram”, diz. Em 2020 vamos continuar a ouvir falar dele, garante. Em Outubro editou o EP digital Sotavento, deixando antever um novo disco. As expectativas estão altas, mas Dino não acusa pressão. “Eu sinto que o pessoal só quer que eu continue a escrever verdade e isso alivia-me. Ninguém me pede singles.”

Por Cláudia Lima Carvalho

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Fábio Costa
©Duarte Drago

Fábio Costa

DJ Quesadilla

É host do Pub Quizadilla, um dos quizzes mais divertidos da cidade, mensalmente na Musa. Já foi pizzaiolo no Anjos70, num evento que ganhou o nome de Pizzadilla, a misturar discos e pizzas. Tem um programa na East Side Radio, a Radio Quesadilla, e toca em várias casas da cidade, das Damas, na Graça, onde até Maio mantinha a residência Mundo Quesadilla, ao alcatifado Le Baron, no Chiado, onde lhe choveram pedidos para ir animar casamentos – até à data de fecho desta edição não aceitou nenhum. “Acho que a malta sente muito amor na pista”, diz o DJ mais versátil da cidade, que durante o dia trabalha “nos computadores”. Além de programador informático, é pai de um gato, o Senhor Leitão, personagem habitual da sua newsletter. O que começou como um rol de recomendações para “um amigo ex-emigrante que já não conhecia nada na cidade”, tornou-se este ano numa coisa mais séria: “O Quesa Aprova”, com centenas de subscritores. “É uma publicação de resistência”, explica. “Obriga-me a ir descobrindo cantos da cidade que ainda é nossa e não da gentrificação.” Informa os subscritores sobre os seus próximos DJ sets e os concertos a não perder, partilha receitas com fotografias e dá dicas sobre restaurantes e bares. “A nível de tasco quem ganha é a Tasca do Tretas [no Areeiro]”, aconselha. Planos para o próximo ano? “Passar um bom bocado com a família em crescimento, escrever um livro e plantar uma árvore.”

Por Clara Silva

João Barbosa
©Manuel Manso

João Barbosa

Branko

Se em 2019 passámos muitas noites em branco é, em grande parte, graças a Branko. O produtor de Buraka Som Sistema, mentor da Enchufada, está empenhado em tornar Lisboa a capital da electrónica global. Em Fevereiro do ano passado começava no B.Leza a residência Na Surra, a sucessora das Hard Ass Sessions no Lux, para dançar madrugada dentro com artistas sem fronteiras que se identificassem com o catálogo da editora. A noite de quinta-feira na discoteca africana chamava a atenção da imprensa internacional. O alemão Die Welt colocava-a entre as melhores festas da capital e a revista de dance music Mixmag considerava que a electrónica em Lisboa estava “mais forte que nunca”. Em 2019, João Barbosa, assim se chama Branko, quis subir a fasquia. Lançou Nosso, um dos melhores álbuns do ano, com colaborações com artistas como Dino d’Santiago, Mallu Magalhães e Dengue Dengue Dengue. Alguns deles subiriam ao palco do Capitólio ao seu lado no início de Outubro, num minifestival de dois dias (com passes esgotados) chamado Enchufada na Zona – um upgrade do que em 2017 era apenas uma festinha no Estúdio Time Out. O festival foi uma espécie de “jantar de Natal” antecipado da editora, brincava Branko na altura à Time Out, numa entrevista ao lado de Rastronaut (João Silva), também manager da Enchufada e seu companheiro nestas danças e andanças. Para eles, 2019 foi o “ano de solidificar os projectos bandeira da editora”, como o álbum de Branko. O próximo ano, “vai ser mais focado nos trabalhos de artistas mais emergentes”. Mal podemosesperar.

Por Clara Silva

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Hugo Nóbrega
©Inês Félix

Hugo Nóbrega

Agente

O mais provável é que nunca tenha ouvido falar de Hugo Nóbrega, mas que até já tenha estado num espectáculo organizado por ele. É o CEO da H2N, “uma agência fascinada pela imaginação, a capacidade de impressionar e fazer acontecer fenómenos”, como se lê no site. E se houve um fenómeno a consolidar-se em Lisboa este ano foi a atenção dada ao humor, com destaque para um circuito internacional que nos passava ao lado. Só em 2019, Nóbrega trouxe à capital o britânico Jimmy Carr, os norte-americanos James Gaffigan, Judah Friedlander e Louis CK e o brasileiro Gregorio Duvivier. “Desde há oito anos, quando comecei o festival de humor de Lisboa, o Famous Fest, que começámos a trazer nomes novos, na altura, do Brasil”, conta o produtor, que se questionava se não haveria em Portugal espaço para humoristas para além da nossa língua. E não podia ter corrido melhor. Jimmy Carr esgotou o São Jorge em menos de 24 horas, tendo sido anunciadas outras quatro sessões e uma conversa com Ricardo Araújo Pereira. Já Louis CK veio a Lisboa assombrado pelo escândalo sexual, mas ainda assim as quatro sessões no Maxime Comedy Club esgotaram em menos de cinco minutos. Este foi “o ano em que houve mais humor em Portugal”, assegura. “Nunca existiram tantos espectáculos de stand up comedy ao vivo.” Os clubes de comédia multiplicaram-se. E até o D.Maria II recebeu pela primeira vez um espectáculo de stand up comedy, com Bruno Nogueira. Para Nóbrega, serviços como a Netflix, com programação especial dedicada à comédia, ajudaram à mudança de comportamentos. “As pessoas já não saem só para ir a um concerto ou uma peça de teatro, vão também a um programa de humor e acho que é viciante.”

Por Cláudia Lima Carvalho

Tiago Rodrigues
©Magda Bizarro

Tiago Rodrigues

Director Artístisco do Teatro Nacional D. Maria II

Visitas aos bastidores, programação de entrada livre, pedagogia, extensões, co-produções, itinerâncias – Tiago Rodrigues está a abrir o D. Maria II à cidade, ao mundo e a outras expressões artísticas, sem preconceitos nem sobranceria. E sem concessões. “Temos visto crescer os números de público de ano para ano e penso que isso se deve a um reconhecimento de qualidade, de abertura, de diversidade na programação”, diz. Actor, dramaturgo, encenador e o mais novo director artístico de sempre do Teatro Nacional, Tiago Rodrigues está a ter um ano intenso: distinguido em França com o grau de Cavaleiro de Artes e Letras, convidado a encenar na Royal Shakespeare Company, em Inglaterra (Blindness and Seeing, a partir de Saramago, a estrear em 2020 e que está a tentar trazer depois para cá), e vencedor do Prémio Pessoa em Portugal. É o resultado de um trabalho feito nos vários níveis da criação teatral, da promoção de novos dramaturgos (estabeleceu-se para isso um prémio Revelação, a atribuir pela primeira vez no próximo ano, com o apoio do Grupo Ageas – “o D. Maria II voltou a ter um mecenas ao fim de 20 anos”) à comunicação (com o podcast TEATRA, para “tentar comunicar com as muitas pessoas que nem sequer se entendem a si próprias como potencial público de teatro”). Aos 173 anos, 2019 foi ainda o ano de estreia do D. Maria II Stand-up, com Depois do Medo, de Bruno Nogueira. Um risco? “Talvez tenha sido uma afirmação, isso sim.”

Por Hugo Torres

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Francisco Frazão
Inês Félix

Francisco Frazão

Director Artístico do TBA

É, garantimos, um homem discreto. Não tão discreto – garantimos duplamente – é o seu trabalho. Os 13 anos em que esteve a programar teatro na Culturgest não passaram despercebidos. Tanto que a sua candidatura para liderar o novo teatro municipal, o Teatro do Bairro Alto (TBA), foi a seleccionada pela Câmara de Lisboa. É o director artístico desta estrutura inaugurada a 11 de Outubro, cargo que traz o seu peso, visto que foi no lugar habitado pelo Teatro da Cornucópia desde 1975 que o TBA nasceu. E nasceu revigorado, com uma das melhores black boxes do país, diversos espaços com possibilidades de apresentação de espectáculos, conversas, concertos, partilhas. São estas as setas apontadas de uma programação que se quer experimental, nova, que dialogue com o presente e onde Frazão conta com a ajuda de Ana Bigotte Vieira (discurso), Diana Combo (música) e Laura Lopes (artes performativas). Numa entrevista realizada em Junho, o director artístico enquadrava aquilo que se espera que vá passando por esta casa: “Lemos o emergente como um adjectivo, como algo que está a vir à superfície, que está a acontecer e não como a artista nova que está a começar e que pela primeira vez tem uma oportunidade de se mostrar numa instituição.” Neste primeiro trimestre, passaram pelo Príncipe Real (ou Rato), nomes portugueses e internacionais com projectos, quase todos, ousados e distintos. Em 2019, a programação do TBA, definida por Frazão e pela sua equipa, foi, seguramente, uma das mais diferentes e apelativas da cidade. E isso é promissor.

Por Miguel Branco

Lisboa cinco estrelas

  • Restaurantes

Lisboa tem dez astros na constelação Michelin: dá para correr a cidade, passando por Cascais, dando ainda um saltinho a Sintra. Se preferir, pode ficar-se por uma caminhada mais curta e ficar-se apenas pelo Chiado, agora considerado como o centro da alta gastronomia em Lisboa. Os chefs são artistas na cozinha, mas não são inatingíveis. São humanos e mostram-se cada vez mais aos clientes: permitem e promovem visitas à cozinha, vão à mesa, quebram barreiras.

  • Restaurantes
  • Haute cuisine

Na temporada 2019-2020, o Guia Michelin atribuiu mais cinco estrelas Michelin aos restaurantes portugueses. Mas retirou três. Nesta noite agridoce, os restaurantes lisboetas foram os que saíram a ganhar, com o Epur de Vincent Farges e o Fifty Seconds de Martin Berasateguí a somar brilho. No total há agora dez restaurantes na grande Lisboa que podem com orgulho ostentar a estrela do mais importante guia gastronómico do mundo. 

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