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O melhor que jogámos em Março

De 'Kingdom Come: Deliverance' a 'Kirby Star Allies', passando por 'Florence'. Eis o melhor que jogámos em Março

Luís Filipe Rodrigues
Escrito por
Luís Filipe Rodrigues
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O melhor jogo lançado em Março não foi uma novidade, mas antes um título de 2016 que se estreou finalmente no PC e regressou à PlayStation 4 e Xbox One numa versão aumentada. Falamos de Final Fantasy XV e da sua Royal Edition, claro.

Mas há mais. A começar pelo RPG medieval sem fantasia, Kingdom Come: Deliverance, passando pelo encantador Florence, uma história de amor que conquistou toda a gente que o instalou nos telemóveis, e terminando em Kirby Star Allies, um exclusivo da Nintendo Switch que é melhor do que qualquer bola anti-stress.

O melhor que jogámos em Março

Kingdom Come: Deliverance

A influência de Dungeons & Dragons e outras narrativas fantásticas é aparente na maior parte dos RPG para consola e computador. Sobretudo nas aventuras medievais. Mas Kingdom Come: Deliverance, é diferente. Disponível para PC, PlayStation 4 e Xbox One, o primeiro título dos estúdios checos Warhorse é um RPG medieval realista e sem elementos fantásticos. Há masmorras, mas dragões nem vê-los.

A acção decorre no início do século XV, numa pequena região do Reino da Boémia que hoje faz parte da República Checa, e os acontecimentos reflectem e são influenciados pela história da época. O jogador encarna o filho de um ferreiro que vê os pais e muitas das pessoas que conhecia ser assassinadas pelo exército de um pretendente ao trono do Sacro Império Romano-Germânico. Ele sobrevive e vê-se envolvido num conflito muito maior do que ele, onde é pouco mais do que um actor secundário.

A história não podia estar mais longe das fantasias de empoderamento pessoal típicas de outros títulos do género. O protagonista é um indivíduo banal e a experiência de jogo reflecte essa banalidade. Por exemplo, arrombar fechaduras é quase impossível, enquanto os combates inicialmente são difíceis e naturalistas.

Essa naturalidade, esse realismo, é transversal a Kingdom Come: Deliverance. É preciso dormir e comer (mas atenção que a comida estraga-se), cuidar da higiene pessoal e lavar a roupa. A este nível,  é basicamente uma simulação de sobrevivência. Mas o personagem principal evolui com o tempo, e quanto mais vezes faz algo, melhor o faz, como noutros RPG.

Nem tudo são rosas. O aparente realismo ludonarrativo choca com algumas deficiências técnicas. Os erros de programação, que afectam negativamente a experiência final, são mais do que muitos e, sobretudo nas consolas, a qualidade gráfica é inconsistente. Por outro lado, é difícil perceber onde termina o suposto rigor histórico e começam a misoginia e a supremacia branca. Sobretudo tendo em conta que o director criativo do projecto, Daniel Vávra, é um apoiante confesso do Gamergate.

Final Fantasy XV: Royal Edition

Final Fantasy XV é um jogo especial e um interessante caso de estudo. Lançado no final de 2016 para a PlayStation 4 e Xbox One, ao fim de dez atribulados anos de desenvolvimento, tem um ritmo desequilibrado e uma história mal contada e difusa que, mesmo após mais um par de jogos, um filme, quatro episódios animados e umas quantas expansões, continua a não fazer sentido. Numa série conhecida pelas suas histórias, esta inépcia narrativa devia ser um pecado mortal. Só que não. Final Fantasy XV é mais que bom – é um dos melhores jogos dos últimos anos.

Já era óptimo quando foi lançado (na altura escrevemos que era o melhor Final Fantasy dos últimos dez anos, mas é mais do que isso) e as várias alterações feitas desde então tornaram tudo melhor. Nesse sentido, a Royal Edition, acabada de lançar para PS4 e Xbox One, juntamente com a versão para Windows, que inclui novas sequências, masmorras e inimigos, além de a possibilidade de jogar com uma perspectiva na primeira pessoa, só não é a concretização definitiva da visão do director criativo Hajime Tabata porque estão agendados novos episódios e actualizações para os próprios meses. A julgar pelo que veio antes, isto quer dizer que vai ficar ainda melhor.

Mas concentremo-nos no que podemos jogar. No que jogamos desde 2016. Final Fantasy XV é um prodígio técnico (sobretudo no PC) que actualiza e reinventa o que pode ser a franquia, mas ao mesmo tempo está repleto de referências mais ou menos subtis ao passado e ao seu legado. Desde o seu lançamento vários títulos, vindos sobretudo do Japão, fizeram o mesmo, mas raras vezes tão bem.

Em comparação com o passado da série, é uma experiência mais aberta, menos linear, enquanto os combates colocam a ênfase na acção, virando de uma vez por todas as costas  à estratégia por turnos a que os RPG japoneses nos habituaram.

No entanto, isto serviria de pouco se não fosse por Noctis, o protagonista, e os seus três amigos e companheiros de viagem. Estes quatro são, talvez, os melhores personagens que alguma vez agraciaram a série. A relação de camaradagem entre eles é genuína e emocionalmente tocante como poucos videojogos ousam ser. E, apesar da narrativa  épica do jogo soçobrar perante a sua própria ambição, a escrita destes quatro é um triunfo.

Andar com eles de carro por uma efabulação da América  de beira de estrada é tudo de bom. Os dias passados numa cidade de inspiração italiana são melhores do que muitas férias. E até quando dá uma guinada de 180º e se transforma, literalmente, numa viagem sob carris até ao destino final o jogo consegue manter-se interessante – além de metanarrativamente ressonante. Final Fantasy XV está de longe ser perfeito, mas consegue ser genial.

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Florence

Poucos jogos lidam com o amor e o romance de uma forma minimamente adulta, já para não dizer realista. É mais fácil e lucrativo contar a enésima história de violência do que lidar com emoções complicadas com algum tacto e subtileza.

Só por isso, Florence, lançado há um mês no iPhone e iPad e disponível desde meados de Março para Android, já seria único. Mas tudo aqui é especial: a estética minimalista e o traço que lembra um romance gráfico, as mecânicas de jogo simples e intuitivas, com uma sensibilidade táctil, a história de uma relação, com princípio, meio e fim, e o seu impacto na vida de uma pessoa, tudo contado sem recorrer praticamente a palavras.

E não é de estranhar. Foi editado pela Annapurna Interactive, que ano no passado lançou jogos vanguardistas como What Remains of Edith Finch ou Gorogoa, e produzido pela equipa de luxo do pequeno e novo estúdio Mountains, de Ken Wong, o director criativo de Monument Valley. Uma equipa que inclui gente que trabalhou em Cuphead, um dos fenómenos indie do ano passado, e To Be Or Not To Be, de Ryan North, uma aventura interactiva inspirada em Hamlet.

Os puristas dirão que não é bem um jogo – é impossível perder, a narrativa é linear, passa-se num instante. Mas é um mau argumento e serve principalmente para garantir que o meio não cresce, que se mantém um nicho. Experiências interactivas como Florence não só são videojogos, como podem chegar a um público mais vasto do que títulos mais tradicionais. O futuro do meio (também) passa por aqui.

Kirby Star Allies

A maior parte das pessoas pensa em Mario quando pensa na Nintendo, ou quando muito no irmão Luigi. Mas os canalizadores bigodudos estão longe de ser as únicas personagens icónicas da casa japonesa. Não são sequer as únicas personagens icónicas que andam aos saltos há décadas. Também é o caso de Kirby, por exemplo.

Criado em 1992 e introduzido em Kirby’s Dream Land, do Game Boy, o glutão cor-de-rosa já protagonizou três dezenas de jogos, sobretudo de plataformas, simples e acessíveis a públicos de todas as idades. Kirby Star Allies, acabado de lançar para a Switch, é o mais recente título da franquia.

Não é um jogo revolucionário nem uma reinvenção da série comparável a The Legend of Zelda: Breath of the Wild e Super Mario Odyssey, os dois clássicos modernos lançados no ano passado pela Nintendo. É antes um jogo de plataformas tradicional e fácil como contar até  três, que nem por acaso é o número de pessoas com quem é possível jogar em simultâneo (quatro, a contar com o jogador). Há uns quantos minijogos, mas no geral a experiência resume-se a uma série de saltos simples e quebra-cabeças pueris que envolvem a colaboração entre dois personagens.

Pode parecer básico, e é. Mas é aí que reside o seu encanto. Kirby Star Allies é um jogo à antiga com roupagem moderna – o tipo de coisa que grandes estúdios parecem dispostos a fazer. E é acessível a toda a gente, independentemente da idade ou da perícia. Pode ser um jogo-pastilha-elástica, mas não há mal nenhum nisso.

Jogo jogado

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