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Jimmy Carr
DRO humorista britânico esteve em Portugal pela última vez em 2019

Jimmy Carr: É o público que define os limites do humor

Cáustico e controverso, Jimmy Carr chega a Lisboa com um best of do seu trabalho. Humor negro que algumas vezes chega a ser notícia. Entrevistámo-lo antes de Ricardo Araújo Pereira o fazer em palco.

Cláudia Lima Carvalho
Escrito por
Cláudia Lima Carvalho
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Tem uma gargalhada característica, um sentido de humor próprio e piadas rápidas, conhecidas por one liners. Já gozou com crianças com síndrome de Down, soldados feridos no Afeganistão e Reeva Steenkamp, assassinada por Oscar Pistorius – três exemplos do humor negro e desconcertante de Jimmy Carr. O britânico, um dos mais destacados humoristas da actualidade, vem pela primeira vez a Portugal. Tem quatro sessões marcadas em Lisboa (uma das quais é uma entrevista com Ricardo Araújo Pereira), esta sexta-feira e sábado no Cinema São Jorge, mais uma em Braga (17) e outra no Porto (18).

Em Lisboa, a primeira data anunciada esgotou em menos de 24 horas, um feito que não é novidade para Carr, que anda há mais de um ano em digressão pelo mundo com o seu The Best Of, Ultimate Gold, Greatest Hits. O nome diz tudo: é o melhor daquilo que já fez e que pode ser visto também na Netflix, onde tem ainda o espectáculo de stand-up Funny Business e o programa The Fix. Apanhámo-lo entre voos, a caminho de Nova Iorque, antes de chegar a Lisboa.

Nunca pára?
Não. Tem sido uma digressão muito ocupada. No ano passado, acho que fui a 30 países, apanhei cerca de 165 voos. Estou sempre a viajar. Acho que é aquela coisa encantadora de as pessoas quererem ouvir as piadas e estarem dispostas a ir ter com elas. Adoro este trabalho.

Quando é que tudo começou?
Oh, meu deus, foi no virar do século, por volta de 2000. Já foi há 18, 19 anos que comecei na comédia. Tive um bom emprego durante um tempo, não larguei logo tudo. É preciso saber apreciar, apreciar a diversão de ter este esquisito e divertido trabalho. É uma coisa estranha para se fazer da vida. É um bocado como o Arrested Development, sentes-te uma criança. Só tens de fazer com que as pessoas se riam sempre. É este o teu trabalho sério a tempo inteiro: garantir que toda a gente se ri.

Mas não sente a pressão de ter piada a toda a hora?
Não, nem por isso. Acho que é o meu trabalho. Embora as pessoas que te achem graça venham ter contigo para dizer olá e mal respondas já se estão a rir porque lhes lembra alguma coisa com piada que tenhas dito. Às vezes as pessoas acham que foste engraçado quando nem fizeste nada para isso, limitaste-te a dizer olá, mas eles associam-te a alguma coisa. É uma bela forma de viver.

E acredita mesmo que os humoristas podem fazer piadas com tudo?
Sim. Não deve haver zonas proibidas. Em última análise, essa não é uma escolha do humorista. Não é ele quem decide sobre o que se pode fazer piadas ou não. O público é que toma essa decisão. O público é que decide o que tem ou não piada, e o que é ou não aceitável. Se gozas com alguma coisa e ninguém se ri é porque foste longe demais. Se fizeres uma piada e as pessoas rirem e sentirem até um alívio, independentemente de quão duro pode ser esse tema, então é porque tem piada. Há uma teoria da comédia chamada violação benigna, que defende que ao fazer-se uma piada sobre alguma coisa que é uma violação, alguma coisa transgressiva, a tornas aceitável por fazê-la divertida. 

O que sente quando alguém se sente ofendido por si?
Acho que tenho o direito à liberdade de expressão, como eles o têm. Eu tenho o direito de dizer o que quiser e eles podem dizer o que entenderem. Não gostam das minhas piadas, tudo bem. Apesar de tudo, é muito fácil evitar-me. Nesta altura da minha carreira, as pessoas sabem o que faço, o tipo de comédia que faço. Se vês os meus especiais na Netflix, se vens aos meus espectáculos, é porque partilhas do mesmo sentido de humor e já tiveste várias oportunidades para verificares o que faço e perceberes se é o tipo de comédia que gostas. No início da minha carreira, ficava mais preocupado. Agora é mais: sabias no que te estavas a meter. A analogia certa é como se alguém fosse a um concerto de AC/DC ou Led Zeppelin e ficasse chateado porque o som estava demasiado alto. É o que é.

A primeira data que anunciou para Lisboa esgotou em menos de 24 horas. Imaginava que tantas pessoas o quisessem ver por cá?
Não fazia ideia. A verdade é que aconteceu uma coisa extraordinária nos últimos anos com a língua inglesa, já ninguém vê televisão como se via. As pessoas vêem YouTube ou televisão online, o que significa que agora vêem o que querem ver de qualquer parte do mundo. Acho que isso as tornou melhor no inglês porque vêem tudo na língua original. E acho que quanto melhor o nível de inglês melhor se percebem as piadas. Se percebes a piada em tempo real e te ris a sério é porque dominas a língua. Se levas um tempo a entender a coisa, então a coisa não está assim tão boa.

E não é assim tão fácil perceber. Às vezes as piadas são muito específicas.
Sim, quer dizer… Eu ando em digressão pelo mundo, vou a 42 países com esta tour, e é interessante perceber que temos vários denominadores comuns, a não ser quando se tratam de referências culturais muito específicas. O que é reconfortante, especialmente com tudo o que está a acontecer com o Brexit, é que as pessoas entendem que o sentido de humor é igual em qualquer lado. As pessoas riem-se das mesmas coisas.

Apostas como a que a Netflix faz nos stand-ups ajudam os comediantes?
Acho que é uma ajuda gigante. Não só a Netflix, mas alguns podcasts. Se estás na comédia, de repente não há limites. É muito fácil, ao contrário da música que tem milhares e milhares de bandas, há talvez algumas centenas de comediantes que se tornaram especiais e com material por aí. É como se te pudesses tornar um especialista, decidindo o que gostas e o que não gostas. O sentido de humor é uma coisa muito específica. É como a sexualidade: não escolhes a tua sexualidade, como não escolhes ter sentido de humor. É o que te faz rir, é uma acção reflexiva. Por isso, coisas como a Netflix permitem-te encontrar a comédia com a qual te identificas. As pessoas ou são divertidas ou não. Ou estás a fim delas ou não. Ou pensas, isto tem piada ou não.

O que sabe de Portugal até agora? Alguma boa piada?
Não sei nada sobre Portugal. Estou à espera de aí chegar. Já aí estive como turista, mas quando é assim estamos com as pessoas que nos acompanham a aproveitar o tempo, a ver como tudo é bonito. Vais nadar, jogar golfe e ténis, e é isso. Isso é Portugal. Mas quando vais como comediante, tens de falar com as pessoas. Chegas e tens de ter conversas. Vou ser entrevistado em palco logo na primeira noite. Tudo o que faço é perceber com o que é que se fazem piadas aqui, que desportos fazem, o que se passa politicamente, o que as pessoas pensam do Brexit, o que pensam dos britânicos. Cada conversa com alguém é única. Ser comediante torna o mundo um sítio muito divertido para se viver.

Vai ser entrevistado em palco por Ricardo Araújo Pereira. Como é isso que aconteceu?
Propuseram-me e eu achei que fazia todo o sentido acontecer. Basicamente, sou eu a fazer o trabalho de casa em público. Ele acha que me vai entrevistar, mas vou ser eu a entrevistá-lo porque não sei nada de Portugal e preciso de saber. Por isso espero bem que ele faça a sua pesquisa porque eu vou fazer-lhe todas as perguntas.

Conhece o trabalho dele?
Não, não tenho bem noção. Acho que vou ter de procurar, certo? Ele tem piada?

Tem muita piada e tem agora um programa de sátira onde comenta a actualidade, política e não só. Uma espécie de Daily Show.
Isso soa muito bem, é fantástico. Vou ser entrevistado pelo Trevor Noah. Adoro.

Cinema São Jorge (Avenida). Sex 22.00, Sáb 19.00 e 22.00 – sessões esgotadas. Sex 19.00, sessão com Ricardo Araújo Pereira, 30€-35€

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