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Ideias para o Natal: grandes livros de pequenas editoras

No meio da provação que tem sido este ano, as editoras independentes não deixaram de fazer prova de vida. Ignorámos os escaparates mais luminosos para dar a mão aos mais pequenos. Não é por caridade: é pela qualidade do catálogo.

Hugo Torres
Escrito por
Hugo Torres
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Os americanos estão sempre à nossa frente. Primeiro, quando os leitores descobriram que lhes era mais cómodo comprar online, criaram um Golias – a Amazon. Depois, quando o gigante se revelou monstruoso, inventaram um David – a Bookshop, uma livraria online que reúne livrarias independentes e vende os seus livros por uma comissão conscienciosa. A ideia foi lançada em Janeiro e foi um sucesso durante a pandemia. Tanto que já foi exportada para o Reino Unido. Enquanto não chega cá, damos um passo atrás na distribuição e ficamo-nos por sugestões de pequenas editoras – para um Natal mais independente. E como diriam os vizinhos dos americanos, até à independência, sempre!

Recomendado: Livros de Natal que o vão deixar com vontade de antecipar a consoada

Grandes livros de pequenas editoras

Bestiário #2
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1. Bestiário #2

Ensaio, ficção, poesia, desenho, BD (de André Coelho, a partir de Monstros, de José Gil) e fotografia. Esta revista que é e não é uma revista, que é livro, antologia contemporânea, provocação, tem de tudo. Neste segundo número, centra-se na ideia de monstruosidade (no primeiro debruçou-se sobre o nojo) e volta a ter um leque de autores marginais que não estão condicionados nem se deixam condicionar por correntes de pensamento pré-determinadas nem programas de leitura. É um longo – e belo, nas suas deformidades – exercício de liberdade. Cada exemplar vem com um booklet de 24 páginas, um postal e um tote bag.

Bestiário, 656 pp + booklet + postal + tote bag. 25€.

Os tomates enlatados
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2. Os tomates enlatados

De Benjamin Péret

Aproveitemos a heterodoxia para passar ao agitador francês Benjamin Péret. Foi um dos fundadores, com Breton, da revista La Révolution Surréaliste, em 1924. Quatro anos depois, escrevia este deboche literário, censurado ainda na tipografia e cujo título original era Os Colhões Enraivecidos. Com ilustrações de Yves Tanguy e tradução de Torcato Sepúlveda, contém tiradas e poemas como este: “Ela vendia nabos e grelos/ grelos colhidos no próprio rego/ e nabos que a tinham punheteado/ Era uma bela rapariga/ cujas nalgas surgiam em todas as esquinas/ e as esquinas eram pequenas demais para umas nalgas assim”.

Antígona, 96 pp. 10€.

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Garganta de Aço – Contos completos Vol. I
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3. Garganta de Aço – Contos completos Vol. I

De Mikhail Bulgakov

Margarita e o Mestre também causou alvoroço na União Soviética, quando foi publicado nos anos de 1960. Bulgakov tem, no entanto, mais a oferecer do que essa sátira anti-ateísta. A sua faceta de contista chega às livrarias portuguesas em dois volumes. Neste primeiro, recorrendo à experiência de médico de província e às vanguardas artísticas, revela um país que não se compadece com leituras binárias da Rússia pós-revolução.

E-Primatur, 464 pp. 20,90€.

Embriagai-vos – Antologia de poemas em prosa franceses
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4. Embriagai-vos – Antologia de poemas em prosa franceses

Baudelaire, Ducasse, Rimbaud e Verlaine estão entre os 24 poetas traduzidos por Regina Guimarães para esta antologia. Mas esta edição da Flop, reduto da resistência intelectual no Porto, vai muito além do óbvio, com alguns autores nunca antes traduzidos para português. A lista contempla Pierre Letourneur, Évariste de Parny, Alphonse Rabbe, Prosper Mérimée, Xavier Forneret, Maurice de Guérin e muitos outros.

Flop, 336 pp. 18,50€.

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Café Bissau
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5. Café Bissau

De Julião Sarmento

Resgatada por José Pedro Cortes e André Príncipe do arquivo de Julião Sarmento, esta selecção de fotografias, captadas ao longo de 40 anos, mostra a multiplicidade do olhar do artista. Café Bissau tanto se detém na fotografia de viagem, pública, sem segredo, como mergulha na intimidade, nos espaços reservados, nos olhares indiscretos. Mulheres, festas, animais, carros e paisagens – a cores, a preto e branco, em digital e analógico, sem nunca perder o cunho autoral nem a jovialidade própria das memórias de Verão.

Pierre Von Kleist, 128 pp. 30€.

Uma história popular do futebol
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6. Uma história popular do futebol

De Mickaël Correia

Futebol e subversão. Futebol e luta pela liberdade, pela emancipação. O jogo bonito, cujos principais intérpretes parecem ter mordaças, tem uma história e uma vitalidade na base que estão muito longe de ser estéreis, anódinas. O feminismo, o anticolonialismo e a luta de classes também se jogam dentro das quatro linhas e é disso que nos fala o jornalista Mickaël Correia (Le Monde Diplomatique, Mediapart), que vai da Inglaterra à Palestina, do Brasil ao Egipto, da França à África do Sul.

Orfeu Negro, 472 pp. 20€.

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O Cânone
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7. O Cânone

Coordenado por António M. Feijó, João R. Figueiredo e Miguel Tamen

Quais são os nomes fundamentais da literatura portuguesa, o cânone? Depende do interlocutor. Não é um panteão com número limitado de vagas e é sempre passível de debate e revisão. Os editores deste volume não procuraram consensos, fizeram escolhas. E convocaram outros para as abordar e para sobre elas argumentarem os seus próprios pontos de vista. São 50 entradas e 52 escritores, visto uma delas estar alocada às Três Marias. As mulheres estão, contudo, em evidente minoria (estão ainda Agustina, Fiama, Florbela, Irene Lisboa, Luiza Neto Jorge, Maria Judite de Carvalho).

Tinta-da-China, 536 pp. 29,90€.

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