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Cinema: Robert Mitchum aos 100 anos

Estivesse vivo e faria 100 anos. Morto há duas décadas, Robert Mitchum continua a ser um actor à parte. Apesar de tantos filmes maus e do seu aparente desinteresse em representar, realizadores houve que o toparam e não deixaram fugir o talento

Escrito por
Rui Monteiro
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Fugiu de casa, escreveu horóscopos, cegou devido a stress laboral, foi preso por vagabundagem e, mais tarde, por posse de canábis. Um dia encontrou uma companhia de teatro amador. Gostou. Ficou. Até ser descoberto pelo cinema e arrastado para dezenas de pequenos papéis, muitos médios e alguns que ele fez grandes. Como estes sete.

Cinema: Robert Mitchum aos 100 anos

Núpcias Trágicas (1947)

Dois anos antes deste filme de Raoul Walsh, Robert Mitchum chamou finalmente a atenção popular com a sua participação em Também Somos Seres Humanos, obra praticamente de propaganda, dirigida por William A. Wellman a partir de crónicas de correspondente de guerra, que valeu ao actor a sua única nomeação para um Óscar. Melhores, muito melhores interpretações teve depois. Como nesta película mais ou menos esquecida, um dos raros exemplares, se por ventura há mais, de um filme de cowboys dirigido como um policial daqueles bem negros. O resultado obtido por Walsh (que hoje podemos ver graças à generosidade de Martin Scorsese, que pagou a restauração da película) é mais do que uma fusão de géneros e a sua ousadia levou a obra para o território do drama psicológico. A que muito adequadamente o intérprete corresponde com um notável desempenho, no papel do forasteiro assombrado pelo passado em modo conflituoso e fatalista.

O Arrependido (1947)

Astro do policial negro, Mitchum chegou, nesta obra de Jacques Tourneur (um dos mais criativos realizadores do género), a uma espécie de zénite, estabelecendo em definitivo o seu estatuto de protagonista num papel em que é, no essencial, uma pessoa decente a tentar fugir do seu passado, pelas circunstâncias metido num sarilho. Tourneur nem fugiu às regras. Antes as aprofundou, usando o actor como parte de um universo com as suas obrigatórias mulheres fatais, mas também com um argumento astuto e desafiante, onde os “flashback” e a narrativa em “off” desempenham parte determinante na definição da geografia da acção.

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Vidas Inquietas (1953)

Amarrado a um contrato com a RKO de Howard Hughes, Mitchum arrastou-se por uma quantidade de filmes desinteressantes, em grandes parte passados no México e quase sempre com contracena de Jane Russell. Com uma ou outra excepção, é um tempo para esquecer na cinematografia do actor. Desde que não se perca esta pequena pérola, filmada por Otto Preminger, que o devolve ao policial negro para ser manipulado pela mulher inevitavelmente fatal, interpretada por Jean Simmons, que o levará à desgraça logo quando abre uma garrafa de champanhe.

A Sombra do Caçador (1955)

Charles Laughton foi o excepcional actor a que os realizadores recorriam quando precisavam de alguém capaz de fazer qualquer papel. Mas Laughton foi também realizador de um filme que, como hoje de diz, um pouco levianamente, porque a propósito de tudo e de nada, se tornou um “clássico instantâneo”, ou, se preferido, um “filme de culto”. A perturbadora interpretação de um assassino serial por Robert Mitchum, e as inspiradas réplicas de Shelley Winters e Lillian Gish, têm um papel fundamental no estabelecimento do carácter da obra, que a realização quase experimentalista de Laughton torna em negra e densa exploração da psicologia do matador compulsivo.

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O Espírito e a Carne (1957)

John Huston sempre soube o que fazia. E pelos visto sabia que Robert Mitchum não era apenas o actor de coboiadas e policiais, pelo que lhe entregou o papel de um marinheiro, durante a Guerra do Pacífico (a continuação da II Guerra Mundial, por assim dizer), que dá por si naufragado numa ilha controlada pelo exército japonês na companhia de uma freira que foi deixada para trás durante a evacuação. Esta única colaboração com Huston teve ainda o bónus do realizador convocar para fazer de freira Deborah Kerr e, de certo modo, tal a química estabelecida entre ambos perante as câmaras, tornar evidente como os dois actores (que, mais de uma vez, mostraram grande apreço profissional um pelo outro) eram um par tão adequado que frequentemente repetiram a experiência.

Barreira do Medo (1962)

Se alguém está a pensar na versão dirigida por Martin Scorsese um ror de anos depois, bem pode tirar o cavalinho da chuva. Não que a película com Robert De Niro e Nick Nolte seja má. Esta, porém, dirigida por J. Lee Thompson, é o original a que Scorsese nada acrescentou. E nele, o original, apesar do papel protagonista pertencer a Gregory Peck, é Robert Mitchum quem comanda o espectáculo. A sua interpretação de um agressor sádico que culpa o advogado criado para Peck e assombra a sua família tanto pela sedução, como pela divisão e o medo, é de qualidade superior e, no conjunto do seu trabalho em mais de uma centena de filmes, apenas comparável ao desempenho excepcional no igualmente excepcional A Sombra do Caçador.

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O Último dos Duros (1975)

No filme de Dick Richards, realizado muito depois da, digamos, época de ouro do policial negro, Philip Marlowe, o detective privado criado por Raymond Chandler como um melancólico errante dado ao existencialismo prático, já chegou aos 60 anos. E ao novato realizador pareceu bem, com razão, que Mitchum interpretasse um papel que nunca lhe calhara e para o qual, no entanto, era mais do que talhado. Estava coberto de razão, pois o actor, naquele seu estilo descomprometido de entrar a tempo, dizer as falas como deve ser e tentar não tropeçar na mobília, desempenhou o papel com um realismo admirável.

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