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Jerry Lewis: sete papéis inesquecíveis do cómico destravado

No domingo, com 91 anos, morreu Jerry Lewis, depois de décadas a fazer rir. Como actor e como realizador, em dupla com Dean Martin e a solo, Lewis criou um astro a partir do destravado inocente e terno que a memória guarda

Escrito por
Rui Monteiro
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Quando vemos Jim Carrey a fazer caretas e a mover os membros como uma marioneta, estamos a ver uma versão moderna de Jerry Lewis. E muitos outros, menos evidentemente (Eddie Murphy, por exemplo), seguem a cartilha que o actor criou nas décadas de 1950 e 1960 em filmes populares, alguns tornados clássicos da comédia. Aqui vão seis. E mais um, que é a sua melhor interpretação.

Jerry Lewis em sete filmes

O Estoira-Vergas (1951)

Jerry Lewis, a bem dizer, viveu sempre a fazer rir, ou pelo menos desde que começou a subir ao palco com os pais, artistas de “vaudeville”, e a animar o público com as suas caretas e movimentos aparentemente descontrolados. Já crescido juntou-se a um cantor de estilo descontraído, e com Dean Martin (no futuro um dos membros do Rat Pack, com, entre outros, Frank Sinatra, Sammy Davis Jr., Peter Lawford e Joey Bishop), aí por meados dos anos de 1940, criou um número em que os seus anárquicos delírios cómicos eram compensados pela atitude relaxada de Martin e a sua agradável voz. Quando chegaram ao cinema foi o que se pode dizer um estouro. Ora bem, conhecedor da história, o realizador Norman Taurog achou por bem contá-la neste filme em que Martin faz de cantor de clube nocturno falhado, até descobrir que acrescentar um trapalhão e introduzir comédia no seu número lhe traz muito mais espectadores. Taurog não deixou de fora da sua película os conflitos entre as personalidades dos actores, de certo modo prevendo como aquela aliança ia dar para o torto.

Pintores e Raparigas (1955)

Pintores e Raparigas é o apogeu da colaboração de Lewis com o realizador Frank Tashlin. O que obriga a abrir um parêntesis para referir que Tashlin, com a sua perfeita noção de tempo cinematográfico e a sua eficaz representação visual de cada gague, deu a Jerry Lewis, por assim dizer, os ensinamentos necessários para o êxito da sua carreira como realizador. Posto isto, este musical exuberante, em que contracena com Martin e Shirley MacLaine, com a sua historieta do pintor miserável em busca de reconhecimento e o seu fiel e tonto amigo, ficou conhecido por algumas cenas antológicas, como Martin a fazer um dueto consigo próprio ao espelho.

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Capitão sem Barco (1959)

Consumada a separação de Dean Martin, não deixa de ser curioso como Lewis, com o auxílio de Norman Taurog e argumento dos astutos Herbert Baker e Edmund Beloin, se vira para a chamada comédia militar, que, ainda com o cantor e actor à ilharga, lhe acrescentara considerável porção de êxitos. Desta vez, Jerry Lewis interpreta um marinheiro que, em “flashback”, conta como na sua trapalhice marítima perdeu um contratorpedeiro.

Jerry no Grande Hotel (1960)

Frank Tashlin mostrou a Lewis como se fazia um filme, mas na sua transição para a realização a inspiração vinha, sem dúvida, do cinema de Charlie Chaplin e Buster Keaton, com uma ponta do que Jacques Tati fazia então em França. O que, aliás, se percebe mais neste filme, evidentemente filiado na estética de Tati, digamos, modificada pelo método Lewis. Como as personagens do cineasta francês, Jerry Lewis interpreta um praticamente mudo paquete de hotel, em Miami, reunindo com notável fluidez narrativa um conjunto de gagues e situações excêntricas envolvendo os ricos hóspedes do estabelecimento; cenas dominados pela pantomina e um humor sem dúvida mais elaborado que na generalidade dos seus filmes.

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As Noites Loucas do Dr. Jerryll (1963)

O argumentista Bill Richmond é provavelmente o cérebro por detrás desta paródia envolvendo simultaneamente Dr. Jekyll e Mr. Hyde, claro, o cinema de terror e ainda banhada por ficção científica, que se tornou a sua obra mais conhecida como realizador. Seja como for, com o seu lendário ego e temido mau feitio, Lewis nunca o reconheceu, e agora é tarde. O que em nada prejudica a qualidade da comédia e da sua execução, ou a impecável interpretação da personagem de um cientista bizarro e doido mexendo com as forças do Universo.

Jerry, Enfermeiro sem Diploma (1964)

Voltar a ser dirigido, e outra vez por Frank Tashlin, embora sem deixar de largar palpites que eram levados a sério, permitiu ao actor preparar com mais cuidado a sua interpretação de um aluno de Medicina hipocondríaco que faz turnos num manicómio (era assim que se dizia antes de serem clínicas psiquiátricas) para acompanhar a sua depressiva namorada. E, provavelmente, apurar ainda mais os gagues que preenchem o filme, que, aqui, se tornam uma espécie de caleidoscópio de humor montado num carrossel, temperado pela introdução do romance como motor da narrativa.

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O Rei da Comédia (1982)

Por esta altura, Lewis era um comediante querido mas nem por isso com muito ou particularmente interessante trabalho. Ao tempo que os seus dias de glória tinham passado e era olhado entre o respeito e a curiosidade museológica. Foi quando Martin Scorsese, com o seu ainda fiel Robert De Niro a fazer de fã metediço, arrepiante e convencido, o recrutou para representar o papel do animador de um popular programa televisivo. Personagem arrogante, que não consegue evitar ser raptado pelo seu obsessivo admirador mas nem por isso lhe dá descanso, o desempenho de Lewis mostrou as qualidades de actor dramático a quem ninguém ligou importância, ou sequer vislumbrou. É, sem dúvida, uma das suas mais ricas e elaboradas interpretações.

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