
Serguei Eisenstein aos 120 anos
Sem ele, a montagem cinematográfica seria provavelmente diferente. Com ele, esse instrumento do criador tornou-se uma arte que acrescentou ao cinema outras formas de ver. Contudo, não foi só a montagem que definiu o cinema de Serguei Eisenstein.
É comum encontrar obras de Eisenstein entre os melhores filmes alguma vez realizados. Não é por acaso, pois o realizador russo, nascido há 120 anos, não só deu uma boa ajuda à popularidade da Revolução de Outubro, como criou filmes esteticamente radicais e revolucionários para lá da sua filiação política. Aqui ficam seis.
Serguei Eisenstein aos 120 anos
O Couraçado Potemkine (1925)
Um dos inventores do cinema como arte, Serguei Eisenstein, além de cineasta que revolucionou a técnica de montagem, foi, também, um dos principais cronistas da Revolução de Outubro. Neste filme (não deixando de assinalar a ironia de a mais famosa película sobre a Revolução Bolchevista de 1917 se referir a eventos passados na véspera da revolução burguesa de 1905), o realizador parte de um episódio real, a revolta dos marinheiros embarcados no couraçado Potemkine que alastrou a toda a cidade de Odessa, se tornou em protesto violentamente reprimido e juntou achas à fogueira dos que queriam o czar deposto. Não foi dessa, mas este episódio, e a repressão que se seguiu, foi determinante para minar o poder czarista e ampliar o desejo de mudança.

A Greve (1925)
No mesmo ano, decididamente do lado da revolução, ainda com o seu habitual argumentista e colaborador, Grigoriy Aleksandrov, Eisenstein dirigiu uma das suas mais esteticamente significantes obras. Com esta história da origem, desenrolar, conclusão e consequências de uma greve fabril em tempos de capitalismo czarista (uma variedade um pouco mais selvagem do que no resto da Europa monárquica ou republicana), o cineasta foi muito além do conteúdo político, tornando o seu filme num tratado de composição e montagem raros.
Outubro (1927)
Dirigido um par de anos depois de O Couraçado Potemkine, a obra foi uma encomenda para a comemoração do 10º aniversário da Revolução de Outubro, e, ironicamente, marca as primeiras manifestações de desagrado das autoridades para com o cineasta, que se tornariam definitivas, quase 20 anos depois, por ocasião da estreia de Ivan, o Terrível, obra que Estaline considerou uma metáfora da crueldade da sua direcção política. Adiante, pois em Outubro, evidentemente uma reconstituição ficcionada (e fantasiada) da revolução, o realizador trocou a chamada “montagem de atracções”, característica de O Couraçado Potemkine, pela “montagem intelectual” já timidamente experimentada em A Greve, isto é, “uma tentativa de veicular ideias abstractas através de imagens.” O que faz da película a obra mais experimental do cineasta russo, ao mesmo tempo (daí a ironia da baixa da sua cotação junto do governo) filme que teve papel fundamental na criação do mito da revolução.
A Linha Geral (1929)
Outra encomenda, A Linha Geral começou a ser filmada em 1927 para comemorar a colectivização da agricultura como fora concebida por Leon Trotsky, então importante membro e ideólogo do governo bolchevique. Por uma vez, talvez por desejo de chegar a uma maior audiência, o realizador concentra a sua atenção sobre uma personagem, uma heroína rural, em vez de, como habitualmente, se focar no movimento do grupo. Porém, interrompidas as filmagens para Eisenstein concluir Outubro, quando a elas regressou a luta partidária já tinha levado Trotsky à desgraça. Daí a necessidade (ou a imposição) de uma radical remontagem, a substituição do título para O Velho e o Novo, e, como mais tarde confessou o cineasta, um “gosto a amargura.” Felizmente, anos depois, já com Eisenstein morto e a partir dos seus apontamentos, houve quem se dedicasse à restauração da montagem original, o que permite hoje o visionamento do filme quase como foi idealizado.
Alexander Nevsky (1938)
O céu estava prestes a cair sobre a cabeça de Serguei Eisenstein (que depois das filmagens conseguiu autorização para viajar da União Soviética para os Estados Unidos e aí tentar a sorte em projectos que não deram em nada, entre eles Viva México!, onde o realizador conheceu a censura e o sentido de propriedade capitalistas ao ver o filme abandonado e as suas imagens montadas numa série de medíocres, contudo excelentemente filmadas, curtas-metragens sobre o México) quando o governo soviético lhe encomendou a realização deste épico histórico e patriótico, de certo modo metáfora do que estava para vir com o eclodir da II Guerra Mundial no ano seguinte. Com música de Serguei Prokofiev (que em breve também provaria as agruras da dissidência), Eisenstein foi obrigado a aceitar o controlo ideológico (para não cair no “formalismo”) imposto pela designação de um co-realizador, Dmitri Vasilyev, por parte da Mosfilm, a produtora estatal. O arranjo, digamos assim, curiosamente, resultou. O filme, narrativa de como o Príncipe Alexander, no século XIII, derrotou a invasão dos cavaleiros teutónicos, é um dos mais populares do realizador, foi exibido internacionalmente e premiado nos Estados Unidos, prémio a que o governo soviético acrescentou, em 1941, o Prémio Estaline para cinema.
Ivan, o Terrível (1945)
Esta bonança nas relações entre o realizador e o governo de Estaline durou apenas mais três anos. Mal estreou a primeira parte desta encomenda directamente determinada por Estaline, ele próprio grande admirador do czar Ivan, como se costuma dizer, a porca começou a torcer o rabo. O dirigente soviético, que não gostou do caminho percorrido pela primeira parte da obra (embora tenha aceitado a entrega do prémio Stalinskaia ao realizador, a que se juntou sem a sua responsabilidade outro prémio no Festival de Locarno), ficou definitivamente furioso quando viu a segunda parte e se achou comparado em crueldade ao unificador da Rússia e, vai daí, proibiu o filme. Morto Estaline, morto também Serguei Eisenstein, em 1948, a segunda parte de Ivan, o Terrível acabou por estrear apenas em 1958. E tornou-se um dos mais apreciados filmes do realizador.
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