Os melhores filmes de sempre
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Os 100 melhores filmes de sempre

Clássicos do cinema mudo, filmes noir, óperas espaciais e tudo o mais: fizemos o ranking dos melhores filmes de todos os tempos.

Escrito por: Matthew Singer
Traduzido por: Renata Lima Lobo
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Vamos ser claros: adoramos filmes. Todos adoram. O problema é que nem todos partilham o mesmo entusiasmo pelos mesmos filmes. E é isso que torna a tarefa de compilar uma lista dos melhores filmes de sempre particularmente desafiadora. Então, porquê tentar?

Bem, gostamos de encarar este exercício menos como uma tentativa de definir um cânone e mais como um trampolim – talvez "mapa" seja a palavra mais adequada. Se está a preencher as lacunas do seu conhecimento cinematográfico, ou apenas a começar a construí-lo, estes 100 filmes são um excelente ponto de partida. Mesmo que já tenha visto todos, talvez isso o obrigue a reconsiderar as suas próprias noções preconcebidas sobre o que torna um filme extraordinário. Certamente, não concordará com tudo, ou com a maioria, mas fizemos questão de abranger o máximo possível, desde blockbusters a filmes independentes, comédias absurdas a terror perturbador, thrillers alucinantes a filmes de acção cheios de adrenalina.

Quer se apaixone por algo novo ou fique irritado com o que não está aqui, temos a certeza de que esta lista vai mexer consigo – e é isso que todos os grandes filmes deveriam fazer.

Textos de Abbey Bender, Dave Calhoun, Phil de Semlyen, Bilge Ebiri, Ian Freer, Stephen Garrett, Tomris Laffly, Joshua Rothkopf, Anna Smith e Matthew Singer

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Os melhores filmes de sempre

1. 2001: Odisseia no Espaço (1968)

O melhor filme de sempre começou com o encontro de duas mentes brilhantes: Stanley Kubrick e o visionário da ficção científica Arthur C. Clarke. "Acho que ele é um maluco que vive numa árvore algures na Índia', disse o realizador quando o nome de Clarke surgiu – juntamente com os de Isaac Asimov, Robert A. Heinlein e Ray Bradbury – como um possível autor para o seu épico de ficção científica. Na realidade, Clarke estava a viver no Ceilão (não na Índia, nem numa árvore), mas os dois encontraram-se, simpatizaram um com o outro e forjaram uma história de progresso tecnológico e desastre (olá, HAL) impregnada de humanidade, em toda a sua genialidade, fraqueza, coragem e ambição desmedida. Uma audiência de stoners, impressionada com a sequência Star Gate, de visuais inovadores, ficou com os olhos a brilhar e adoptou 2001 como um filme de eleição. Se não fosse por ela, a película poderia ter desaparecido na obscuridade, embora seja difícil de imaginar que lá tivesse permanecido. A visão assustadoramente clínica de Kubrick sobre o futuro (IA e tudo o mais) ainda parece profética, mais de 50 anos depois. — Phil de Semlyen

Onde ver: Prime Video/ HBO Max

  • Filmes
  • Suspense
O Padrinho (1972)
O Padrinho (1972)

Desde os espertalhões de Tudo Bons Rapazes até Os Sopranos, todas as dinastias do crime que surgiram após O Padrinho são descendentes dos Corleones: a obra-prima de Francis Ford Coppola é o patriarca supremo do género mafioso. Uma fala de abertura monumental ("Acredito na América") põe em movimento a adaptação operática de Mario Puzo, antes de o épico de Coppola se transformar numa desconcertante desconstrução do sonho americano. A história encharcada de corrupção acompanha uma poderosa família de imigrantes que lida com os valores paradoxais do domínio e da religião; essas contradições morais são cristalizadas numa lendária sequência de baptismo, magistralmente editada em paralelo ao assassinato de quatro chefes rivais. Com inúmeros detalhes emblemáticos – a cabeça de um cavalo, a voz rouca de Marlon Brando, a envolvente valsa de Nino Rota – a autoridade de O Padrinho perdura. — Tomris Laffly

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3. O Mundo a Seus Pés (1941)

Voltou às notícias graças ao brilhante drama sobre os seus bastidores realizado por David Fincher, Mank (2020). O Mundo a Seus Pés encontra sempre uma forma de se renovar para uma nova geração de amantes de cinema. Para os recém-chegados, esta é a jornada do seu imparável protagonista – interpretado com força inesgotável pelo prodigioso actor e realizador Orson Welles –, desde a infância sem amor até à ascensão como empreendedor, passando depois a magnata da imprensa e a populista convicto. É, portanto, completamente actual (em notícias não relacionadas, Donald Trump assumiu-se como um grande fã). Pode-se mergulhar nas técnicas inovadoras do filme, como a fotografia de foco profundo de Gregg Toland, ou na autoconfiança ilimitada da sua encenação e na sua investigação sobre o capitalismo americano. Mas é também apenas uma história incrível que certamente não precisa de ser um cinéfilo experimentado para apreciar. — Phil de Semlyen

4. Jeanne Dielman, 23 Quai du Commerce, 1080 Bruxelles (1975)

Há muito considerado uma obra-prima feminista, o retrato silenciosamente devastador de Chantal Akerman sobre a rotina diária de uma viúva – nas suas tarefas que lentamente dão lugar a um sentimento reprimido de frustração – deveria ocupar o seu lugar legítimo em qualquer lista de melhores filmes de sempre. Este não é apenas um filme de nicho, mas uma janela para uma condição universal, representada num estilo concentrado estruturalista. Mais hipnótico do que possa perceber, os planos ininterruptos de Akerman transformam os simples actos de desfiar vitela ou limpar a banheira em subtis críticas à própria produção cinematográfica. (Nunca vemos o trabalho sexual que Jeanne agenda no seu quarto para conseguir sobreviver, o que é em si próprio significativo.) Embalando-nos na sua rotina, Akerman e a actriz Delphine Seyrig criam um extraordinário sentido de empatia raramente igualado por outros filmes. Jeanne Dielman representa um compromisso total com a vida de uma mulher, hora a hora, minuto a minuto. E até tem um final surpreendente. — Joshua Rothkopf

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5. Os Salteadores da Arca Perdida (1981)

Começando com uma transição do logótipo da Paramount e terminando num armazém inspirado em O Mundo a Seus Pés, Os Salteadores da Arca Perdida celebra de forma mais alegre do que qualquer outro filme o que o cinema pode fazer. Intrinsecamente desenhado como uma homenagem à sétima arte, o blockbuster mais divertido de Steven Spielberg tem de tudo: pedregulhos rolantes, uma luta de taverna, uma heroína esperta (Karen Allen) que sabe beber e perder a paciência, um macaco traiçoeiro, um vilão que bebe champanhe (Paul Freeman), cobras ("Por que tinham de ser cobras?"), a maior perseguição de camiões do cinema e um final sobrenatural em que explodem cabeças. E tudo isso é coroado pela interpretação perfeita de Harrison Ford como Indiana Jones, um modelo de heroísmo relutante, mas engenhoso. Em resumo, é perfeição cinematográfica. — Ian Freer

Onde ver: Disney+

6. A Doce Vida (1960)

Feito no auge dos anos de ouro da Itália, o estrondoso sucesso de bilheteira de Federico Fellini definiu o glamour intenso e a cultura de celebridades para o planeta inteiro. Também tornou Marcello Mastroianni uma estrela; aqui, o actor interpreta um jornalista de fofocas envolvido no mundo frenético e desenfreado da vida nocturna romana. Ironicamente, a representação do filme desse ambiente como vazio e hedonisticamente corrosivo parece ter passado despercebida por muitos espectadores. Talvez isso ocorra porque Fellini filma tudo com tanta verve cinematográfica e sagacidade que é frequentemente difícil não se envolver nos acontecimentos delirantes na tela. Muito do modo como encaramos a fama ainda remonta a este filme; que até nos deu a palavra paparazzi. — Bilge Ebiri

Onde ver: Filmin

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7. Os Sete Samurais (1954)

São os mais tranquilos 207 minutos de cinema a que alguma vez vai assistir. Num enredo simples – uma comunidade agrícola pobre reúne os seus recursos e contrata samurais para os proteger dos brutais bandidos que roubam a sua colheita –, Akira Kurosawa cria um épico finamente elaborado, ora absorvente, ora engraçado e emocionante. Claro, as sequências de acção aceleram o pulso (o confronto final na chuva é inesquecível), mas na verdade o filme é um estudo sobre as forças e as fraquezas humanas. Toshiro Mifune é soberbo como o samurai meio louco e autodenominado, mas é Takashi Shimura, como o líder à semelhança de Yoda, que dá ao filme o seu centro emocional. Desde então reproduzido no Velho Oeste (Os Sete Magníficos), no espaço (Mercenários das Galáxias) e até com insectos animados (Uma Vida de Insecto), o original ainda reina supremo. — Ian Freer

8. Disponível para Amar (2000)

Pode um filme tornar-se um clássico instantâneo? Qualquer pessoa que tenha assistido a Disponível para Amar quando este se estreou em 2000 pode ter respondido que sim. Assim que esta história de amor se desenrola, sente-se que estamos nas mãos de um mestre. Wong Kar-wai guia-nos pelas estreitas ruas e escadas do Hong Kong dos anos 1960 e para a vida de dois vizinhos (Maggie Cheung e Tony Leung) que descobrem que os seus cônjuges estão a ter um caso. Ao imaginarem – e em parte recriarem – como os seus parceiros podem estar a comportar-se, apaixonam-se um pelo outro, mantendo-se determinados a respeitar os seus votos matrimoniais. Carregado de desejo, o filme beneficia de nada menos do que três directores de fotografia, que juntos criam uma intensa sensação de intimidade, enquanto as interpretações impecáveis tremem com tensão sexual. Isto é cinema. — Anna Smith

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9. Haverá Sangue (2007)

Na trajectória para se tornar o cineasta mais relevante dos últimos 20 anos, Paul Thomas Anderson passou de cronista de uma Los Angeles depravada, à moda de Scorsese, para um investigador incisivo do vigarista americano. O ponto crucial foi Haverá Sangue, um épico sobre um tipo específico de aproveitador – o barão do petróleo e prospector. Daniel Plainview é, em última análise, um Daniel Day-Lewis ultraterrorizante que vai beber o seu batido. Com banda sonora de Jonny Greenwood, dos Radiohead (ele próprio emergindo como um importante compositor), o épico melancólico de Anderson é o verdadeiro herdeiro do cinismo profundo de Chinatown. Como Linha Fantasma deixa claro, Anderson não perdeu o seu sentido de humor, de longe. Mas houve um momento em que precisava de ser sério, e este foi esse momento. — Joshua Rothkopf

Onde ver: SkyShowtime

10. Serenata à Chuva (1952)

Esqueçam O Artista – peço desculpa, Uggie – e, em vez disso, apreciem a pura e estimulante energia do glorioso epitáfio da MGM à era silenciosa do cinema. O trio de dançarinos – o expressivo Donald O'Connor, a brilhante estreante Debbie Reynolds e o co-realizador e protagonista Gene Kelly – são um trio imparável, acertando nas canções estelares, coreografias intricadas e fisicamente exigentes, e vendendo todos os momentos cómicos com habilidade consumada. No entanto, os elogios também são devidos a Betty Comden e Adolph Green, cujo roteiro efervescente dá o ritmo para o espectáculo se desenrolar, e a Jessica Hagen, cuja interpretação como a rouca estrela do cinema mudo Lina Lamont, muitas vezes subestimada, é o contraponto cómico-trágico do filme. Sem esquecer o co-realizador Stanley Donen, que sempre ficou feliz em deixar as suas estrelas colherem os louros, mas merece igual reconhecimento por um musical que nunca dá um passo em falso. — Phil de Semlyen

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11. Tudo Bons Rapazes (1990)

"Desde que me lembro, sempre quis ser um gangster." A frase de abertura de Ray Liotta é o equivalente cinematográfico à expressão "Era uma vez...", e o que se segue é a versão de Martin Scorsese de um conto de fadas: a história de um rapaz de olhos brilhantes do Brooklyn que realiza o sonho de infância e ainda assim acaba por se revelar um tolo no final. Baseado na vida real do mafioso Henry Hill, Tudo Bons Rapazes nasceu à sombra de O Padrinho, mas ao longo dos anos a questão de qual dos filmes é mais influente torna-se principalmente uma questão geracional. Certamente, o primeiro é mais facilmente passível de ser revisto, devido ao seu ritmo vertiginoso – as suas duas horas e meia (e três décadas) passam num instante. E para um filme sobre criminosos violentos de carreira é estranhamente relacionável. Onde Coppola entrou nas entranhas do 1% do crime organizado, os gangsteres de Scorsese são mais proletários. E, como se constata, trabalhar para a máfia não é muito diferente de qualquer outro emprego: passas 30 anos a trabalhar no duro para subir na hierarquia, apenas para acabar de cara no tapete ensanguentado de uma qualquer casa brega nos subúrbios. Matthew Singer 

Onde ver: HBO Max

12. Intriga Internacional (1959)

Todos os fãs de cinema sabem o que significa um filme ser considerado ‘hitchcockiano’. Mas a verdade é que Alfred Hitchcock fez muitos tipos de filmes durante a sua carreira, abrangendo diversos humores e narrativas. Escolher o seu filme mais definitivo é em grande parte uma questão de preferência pessoal, mas Intriga Internacional é talvez o melhor a encapsular a sua habilidade particular de atrair públicos amplos, críticos e cinéfilos dedicados, tudo ao mesmo tempo. Também é o que se vê de forma mais compulsiva, uma aventura que é ao mesmo tempo elegante, sexy, de suspense e alegremente ridícula. Cary Grant eleva o "Cary Grantness" ao máximo como Roger Thornhill, um publicitário de Nova Iorque, erroneamente confundido com um espião e perseguido por toda a América por um grupo sombrio, levando-o a atravessar campos de milho, escalar o Monte Rushmore e cortejar majestosamente com a femme fatale Eva Marie Saint. Termina com um trocadilho visual juvenil, envolvendo um comboio a entrar num túnel, que no contexto da época parece Hitchcock a provocar o sistema de estúdios puritano. Por outras palavras, é possível que seja o seu filme mais significativo – mas é certo que é o mais divertido. Matthew Singer

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13. Mulholland Drive (2001)

Não são muitos os filmes conhecidos tanto por uma cena de sexo lésbico genuinamente erótica quanto por um susto de fazer o coração parar, envolvendo uma espécie de assustadora bruxa do lixo. Mas, afinal, estamos a falar de David Lynch: a carreira inteira deste homem é dedicada a fazer coisas que a maioria dos outros cineastas nem ousaria considerar. Contudo, Mulholland Drive é onde a expressão 'à maneira de Lynch' ganhou o seu significado. O que à primeira vista parece ser um noir relativamente simples sobre uma bela amnésica (Laura Harring), que tenta desvendar o mistério da sua própria identidade, mergulha, no terceiro acto, num mundo onírico e alucinatório, desfazendo efectivamente tudo o que aconteceu antes. A viragem abrupta frustrou alguns críticos, que aparentemente esperavam um filme que se explicasse no final. Os fãs é que sabiam – e para aqueles dispostos a encarar o filme como uma experiência, em vez de um enigma a ser resolvido, é um presente que revela novos prazeres (e pesadelos) a cada visualização. Matthew Singer

Onde ver: Filmin

14. Ladrões de Bicicletas (1948)

A obra-prima neorrealista de Vittorio de Sica passa-se num mundo onde possuir uma bicicleta é a chave para trabalhar, mas poderia facilmente situar-se num lugar onde a ausência de um carro, ou de serviços de cuidado infantil acessíveis, ou de uma casa, ou de um número de Segurança Social, é uma barreira insuperável na luta constante para pôr comida na mesa. É isso que simultaneamente o torna um filme para a Itália do pós-guerra e para qualquer lugar moderno. É isso que o torna um marco tão poderoso e duradouro do cinema humanista. E é possível sentir o mesmo em praticamente todos os dramas sociais que apeteça mencionar, de Ken Loach a Kelly Reichardt. Phil de Semlyen

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15. O Cavaleiro das Trevas (2008)

Há um novo Batman em Gotham, na forma sombria de The Batman de Matt Reeves, e este é o padrão que ele tem de ultrapassar. O segundo filme na trilogia Batman de Christopher Nolan é um estudo de caso quase impecável de como criar um épico sofisticado de super-heróis para as audiências modernas – e o "quase" é apenas porque o acto final tenta, de maneira refrescante, incluir quase demasiadas ideias, uma espécie de intensa aritmética moral. Entretanto, o Joker de Heath Ledger redefine a maldade no grande ecrã: não basta ser sinistro, agora é preciso ter também uns truques para ajudar à festa. — Phil de Semlyen

Onde ver: Netflix, Prime Video, HBO Max

16. Luzes da Cidade (1931)

A visão total de Charlie Chaplin permanece impressionante: escreveu, realizou, produziu, editou e protagonizou os seus próprios filmes, que também musicou com uma orquestra. E quando essas câmaras estavam a rodar, capturavam um ícone autodidacta com uma audiência global. Ainda assim, Luzes da Cidade foi algo especial. Chaplin, relutante em abandonar as técnicas visuais que dominara, insistiu em tornar a sua nova comédia num filme mudo, mesmo quando os espectadores ansiavam por som. Como sempre, a última risada foi dele: não só o filme foi um enorme sucesso comercial, como também terminou com o close-up mais desolador da história do cinema – o auge do plano de reacção (mais tarde copiado por filmes de A Estrada a A Rosa Púrpura do Cairo), sem diálogo necessário. Joshua Rothkopf

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17. A Grande Ilusão (1937)

Não há momento inadequado para revisitar uma das grandes obras-primas de Jean Renoir (juntamente com A Regra do Jogo), mas a actual época de populistas, nacionalistas e agitadores ruidosos parece ser especialmente apropriada. Passado num campo de prisioneiros de guerra alemão durante a Primeira Guerra Mundial, o filme expõe as linhas de fractura de classe e nacionalidade entre um grupo de prisioneiros franceses e seus captores alemães, concluindo que o que realmente importa é a nobreza do homem para com o seu semelhante. — Phil de Semlyen

Onde ver: Filmin

18. O Grande Escândalo (1940)

Considerar este filme o auge da comédia screwball pode ser demasiado restritivo: entre os muitos filmes de alta qualidade realizados pelo experiente Howard Hawks, O Grande Escândalo é o seu mais romântico e mais verborreico (a constante troca de palavras parece um jogo de sedução). Embora o lacónico Hawks minimizasse o seu próprio proto-feminismo ao longo da vida, o filme é também o mais libertador; mulheres fortes que tinham empregos e corriam com os jornalistas eram simplesmente o que ele queria ver. Mais do que isso, esta comédia celebra da melhor forma a regra do engenho: quem tem a língua mais afiada é quem ganha. Se adora palavras, vai adorar este filme. Joshua Rothkopf

Onde ver: Filmin

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19. Os Sapatos Vermelhos (1948)

Poderíamos incluir quase todos os filmes de Michael Powell e Emeric Pressburger nesta lista, tal extraordinária era a produção desta dupla. Mas, na nossa opinião – e na de Martin Scorsese, um super fã –, este deslumbrante romance passado num cenário de ballet é o primeiro entre iguais. É uma expressão perfeita do impulso dos artistas para criar, situado num exuberante mundo Technicolor captado pelo grande Jack Cardiff. Scorsese descreve-o assim: "o filme que toca no meu coração". Phil de Semlyen

20. A Mulher Que Viveu Duas Vezes (1958)

Um envolvente jogo mental freudiano que é frequentemente considerado o maior triunfo de Alfred Hitchcock, A Mulher Que Viveu Duas Vezes situa-se num mundo de obsessão existencial e astutos duplos. Moldando-se através dos transformadores figurinos de Edith Head, Kim Novak assombra em dois papéis: Madeleine Elster e Judy Barton, ambos objecto de desejo para o curioso ex-polícia interpretado por James Stewart. A completar este vívido psicodrama está a traiçoeira e alarmante banda sonora de Bernard Herrmann, que se retorce em direcção a um final imponente. Tomris Laffly

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21. Beau Travail (1999)

Cada vez mais uma gigante do cinema mundial, a francesa Claire Denis continua a surpreender as expectativas, criando filmes em sintonia com os seus próprios ritmos peculiares e preocupações temáticas (colonialismo, poder, atracção reprimida). Este, o seu aclamado trabalho inicial, é uma espécie de variação sobre Billy Budd de Herman Melville – embora isso seja como chamar a Tubarão uma espécie de variação de Moby Dick. O génio está na técnica de Denis, manifestando-se em imagens de uma precisão emocional avassaladora: silhuetas sinuosas de soldados, abstractos testes de determinação no deserto e, de forma mais deslumbrante, a euforia de dançar, cortesia de um Denis Lavant de membros soltos e do "Rhythm of the Night" de Corona. Joshua Rothkopf

22. A Desaparecida (1956)

Mostrando algum crescimento pessoal além da destreza cinematográfica, John Ford redime-se em parte da sua participação no virulentamente racista Nascimento de Uma Nação, de D.W. Griffith, com este marcante western. É uma história de ódio que lentamente cede lugar à compaixão, despojando os mitos tóxicos da antiga fronteira através da figura altiva, mas desgastada de Ethan Edwards (John Wayne). Edwards não é do tipo Shane de chapéu branco, mas um veterano amargurado da guerra que persegue a sua própria sobrinha (Natalie Wood) com a intenção de a matar pelo crime de ter sido assimilada pelos comanches. O plano de Edwards enquadrado naquela porta é um dos mais famosos, e mais imitados, no cinema. Phil de Semlyen

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23. A Máscara (1966)

Num tempo em que David Lynch ainda estava a poupar dinheiro para comprar a sua primeira câmara, Ingmar Bergman estava a descobrir como transmitir as idiossincrasias do subconsciente para o ecrã. A Máscara é um pesadelo no sentido mais onírico e desconcertante. Em termos de enredo, envolve duas mulheres, uma actriz que sofre de uma doença desconhecida (Liv Ullmann) e a sua enfermeira (Bibi Andersson), que se retiram para uma cabana isolada à beira-mar para tratar o distúrbio daquela e que talvez se comecem a fundir na mesma pessoa. Mas qualquer narrativa linear que exista é consistentemente perturbada por imagens aparentemente aleatórias – um cordeiro morto, uma crucificação, um lampejo súbdito de um pénis erecto – e por referências meta-cinematográficas, incluindo um plano do cinematógrafo Sven Nykvist a filmar o próprio filme. Críticos têm vindo a dissecar o seu significado desde então. Mas A Máscara não existe apenas como um desafio para estudiosos de cinema. Se desistir de qualquer esperança de entendimento literal e se entregar a ele, experimentará uma sensação de desconforto que poucos filmes antes, e dificilmente desde então, conseguiram alcançar. Matthew Singer

24. Não Dês Bronca (1989)

A sátira amarga e, em última instância, trágica de Spike Lee sobre um bairro do Brooklyn durante um abrasador dia de Verão foi enormemente controversa na época: os críticos criticaram Lee pela sua representação de uma revolta após um homicídio policial. O filme não perdeu nada da sua relevância ou do seu poder; se calhar ganhou ainda mais. Mas é a realização cinematográfica que torna este filme um clássico, especialmente a energia, o humor e o estilo com que Lee apresenta este microcosmo e as forças sociais que nele actuam. Bilge Ebiri

Onde ver: SkyShowtime

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25. Às Portas do Inferno (1950)

Não é exagero dizer que Às Portas do Inferno, de Akira Kurosawa, redefiniu a narração cinematográfica. Com a sua estrutura narrativa oscilante e não fiável – na qual quatro pessoas fornecem relatos diferentes de um assassinato – o filme é notavelmente audacioso e serve como um lembrete de como a própria forma nos pode enfeitiçar. Os flashbacks nunca foram tão emocionantes; quase 70 anos após o seu lançamento, os cineastas ainda estão a tentar alcançar as suas conquistas. Abbey Bender

26. A Regra do Jogo (1939)

Jean Renoir consolidou a sua virtuosidade com este estudo perfeito das erupções nas estruturas sociais entre os ricos fúteis e ociosos, prestes a serem virados de cabeça para baixo pela Segunda Guerra Mundial. Relações amorosas entre aristocratas e servos florescem durante uma viagem de caça de uma semana a uma propriedade rural, em que o único crime é trocar frivolidade por sinceridade. Renoir capta o seu elenco brilhantemente perspicaz com movimentos de câmara fluidos e de foco profundo, inovações que inspiraram realizadores como Orson Welles e Robert Altman. Stephen Garrett

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27. Tubarão (1975)

O blockbuster imortal de Steven Spielberg não precisa de presciência política para continuar relevante: é um filme sobre um tubarão gigante a comer pessoas. Graças, em grande parte, ao próprio filme, esse é um medo irracional que o público nunca deixa para trás. Nos últimos anos, no entanto, sempre que algum oficial eleito argumentou contra as obrigações de uso de máscara e disse que é hora de reabrir as escolas, foi difícil não pensar no Presidente Vaughn no seu fato pateta com um padrão de âncoras a dizer aos cidadãos da Ilha de Amity que é seguro voltar à água. E esse elemento – juntamente com a mestria na cadência, os sustos que funcionam sempre e o potente terceiro acto – é o que realmente torna Tubarão permanentemente assustador: os tubarões são assustadores, mas a ganância e a incompetência são muito mais propensas a atingir-nos. — Matthew Singer  

Onde ver: SkyShowtime

28. Pagos a Dobrar (1944)

O deliciosamente sombrio e estilizado género de cinema noir não existiria sem Pagos a Dobrar. Simples. Este filme tem verdadeiramente tudo: flashbacks, assassinato, sombras e cigarros em abundância, e, claro, uma ardilosa femme fatale (Barbara Stanwyck). Como um dos grandes realizadores da era dourada de Hollywood, Billy Wilder destacou-se em várias tipologias cinematográficas, mas esta gema cozida na perfeição é a sua obra mais influente. — Abbey Bender

Onde ver: SkyShowtime

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29. Os Quatrocentos Golpes (1959)

O primeiro de uma série de cinco filmes autobiográficos, Os Quatrocentos Golpes, de François Truffaut, é a história de Antoine Doinel (Jean-Pierre Léaud) – preso numa vida familiar infeliz, mas encontrando consolo entre brincadeiras, a fumar e a conviver com os amigos – e é a maior evocação cinematográfica de uma infância problemática. Além disso, é o guia perfeito para introduzir crianças a filmes legendados. Ian Freer

Onde ver: Mubi

30. Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança (1977)

Os filmes de entretenimento atingiram a máxima velocidade depois de George Lucas revelar o seu faroeste intergaláctico, uma opereta espacial fascinante com pitadas de mitologia ao estilo de Joseph Campbell, que aniquilou as complexidades morais de Hollywood nos anos 70. Esta colagem pós-moderna dos cineastas da época referencia uma lista virtual de clássicos de género, desde Metropolis e Triunfo da Vontade até aos filmes de acção samurai de Kurosawa, as séries Flash Gordon e thrillers da Segunda Guerra Mundial como Esquadrilha Heróica. A aventura de Luke Skywalker para resgatar uma princesa elevou instantaneamente a alegria dos filmes de série B a sagas de milhares de milhões de dólares. Stephen Garrett

Onde ver: Disney+

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31. A Paixão de Joana d’Arc (1928)

O clássico de Carl Theodor Dreyer sobre o julgamento de Joana d'Arc é, de alguma forma, simultaneamente austero e maximalista. O realizador mostra contenção no cenário e na amplitude; o filme centra-se principalmente no diálogo entre Joana e os seus inquisidores. No entanto, os close-ups intensos dão liberdade total à interpretação maravilhosamente expressiva de Maria Falconetti como a condenada Donzela de Orleães. Feito no final da era do cinema mudo, estabeleceu novos padrões na representação cinematográfica. Bilge Ebiri

Onde ver: Filmin

32. Aconteceu no Oeste (1968)

O filme de culto por excelência, o western spaghetti de Leone passa-se numa América civilizadora – embora filmado principalmente em Roma e Espanha – mas a verdadeira localização é uma fronteira abstracta entre o antigo e o novo, onde heróis maiores do que a vida se desvanecem na memória. É um triunfo de comentário político submerso e cinema épico puro. O olhar gélido de Henry Fonda, as guitarras retumbantes do destino do compositor Ennio Morricone e o monumental Charles Bronson como o último pistoleiro ("uma raça antiga...") são apenas três razões entre um milhão para montar a cavalo. Joshua Rothkopf

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33. Alien – O Oitavo Passageiro (1979)

Se tudo o que fez foi lançar uma franquia centrada na feroz sobrevivente interpretada por Sigourney Weaver (ainda uma das heroínas de acção mais duras do cinema), o claustrofóbico e propositadamente ritmado clássico de ficção científica e terror de Ridley Scott continuaria a estar solidificado no cânone cinematográfico. Mas Alien reivindica o estatuto de obra-prima com a sua subversão das políticas de género (este é um filme que fecunda homens), o seu chocante momento central com o “peito explosivo” e a estranhamente elegante criatura de mandíbula dupla do designer industrial H.R. Giger, uma visão assustadora de hostilidade – e uma das peças mais inesquecíveis de artesanato puro no cinema. Tomris Laffly

Onde ver: Disney+

34. Viagem a Tóquio (1953)

Simplesmente entrelaçado, o drama doméstico de Yasujiro Ozu é pequeno, mas perfeitamente concebido. Chishu Ryu e Chieko Higashiyama estão dignos e emotivos como pais que visitam os seus filhos e netos, apenas para serem negligenciados. Interpretado de forma delicada, maravilhosamente filmado (muitas vezes com a câmara pairando junto ao solo), a obra-prima de Ozu é um filme familiar com grandeza e intimidade. Se gostou de Shoplifters: Uma Família e Pequenos Ladrões, vai adorar este. Ian Freer

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35. Pulp Fiction (1994)

À semelhança dos Nirvana e de Os Sopranos nas respectivas áreas, o segundo filme de Quentin Tarantino chegou nos últimos anos do século XX e sentiu-se, ao mesmo tempo, como o culminar dos primeiros cem anos de cinema e uma explosão de tudo o que pensávamos saber sobre cinema. Um filme de gangsters, em que os gangsters conversam sobre hambúrgueres e participam em concursos de dança em restaurantes kitsch? Em que a narrativa é como um puzzle desfeito remontado fora de ordem? Com o actor de Olha Quem Fala no papel de um assassino a soldo bem vestido e de fina lábia? Este é um filme que pode ganhar dinheiro, conquistar Óscares e originar tantos imitadores que praticamente se torna num género por si só? Acontece que sim, apenas foi necessário um ex-funcionário de um videoclube com a quantidade certa de confiança irracional para o tornar realidade. O resultado final é um filme preservado num âmbar de eterna elegância – quando os extraterrestres vierem examinar os restos do nosso planeta devastado e descobrirem uma cópia em VHS entre os destroços, concordarão que John Travolta foi a escolha de elenco perfeita; que Samuel L. Jackson é o sujeito mais duro do planeta; e que o verdadeiro conteúdo da mala não é realmente importante. —Matthew Singer

Onde ver: Netflix/ SkyShowtime

36. The Truman Show – A Vida em Directo (1998)

No final dos anos 90, surgiram duas sátiras perspicazes sobre reality shows, numa altura em que ainda estava na sua fase pré-epidémica: o subestimado Edtv e este, o profundo comentário de Peter Weir sobre a forma como os media nos têm nas suas garras. De certa forma, uma versão mais amável e suave de Escândalo na TV, The Truman Show é uma parábola televisiva na qual um herói humilde (Jim Carrey) reconquista a sua vida. Também pode ser considerado um filme mais irritado, criticando tanto as redes de televisão controladoras (representadas pelo Cristof messiânico de Ed Harris) como o público espectador, por transformar a vida de outras pessoas num programa de televisão. Phil de Semlyen

Onde ver: SkyShowtime

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37. Lawrence da Arábia (1962)

As noções de masculinidade, sexualidade conflitual e identidade tribal (ou falta dela) fervilham como magma sob a superfície do épico histórico de David Lean. Infiltram-se pelas fendas da sua representação do ícone nómada e líder árabe da era eduardiana, T.E. Lawrence (Peter O'Toole), situando as suas enormes peças no compasso megalomaníaco do seu herói e conferindo profundidade aos seus momentos íntimos quando o preço das escolhas é revelado. No meio das vastas paisagens árabes, famosamente capturadas pelas câmaras do cinematógrafo Freddie Young, é a paisagem interior de Lawrence em si que este magnífico biopic mapeia de forma tão memorável. — Phil de Semlyen

38. Psico (1960)

Alfred Hitchcock tinha feito alguns filmes assustadores no início da sua carreira, mas Psico foi algo completamente diferente – não apenas para a sua obra pessoal, ou para o género de terror, mas para o cinema em geral. Aliás, alguns argumentaram que mudou a sociedade como um todo. Essa discussão poderia preencher um livro (e preencheu) mas, para os propósitos desta lista, as suas contribuições para o cinema são mais do que suficientes. Podemos enumerar? Inventou o filme slasher moderno. Antecipou a ambiguidade moral que se tornaria comum na Nova Hollywood dos anos 70. Subverteu as regras estabelecidas da narrativa, matando a suposta heroína a meio, de maneira chocante e sem precedentes. Mostrou também uma sanita em uso pela primeira vez. Claro, há outros cineastas que podem alegar ter explorado algumas dessas ideias primeiro; de facto, A Vítima do Medo, de Michael Powell, chegou alguns meses antes e abordou muitos dos mesmos temas. A diferença com Hitchcock é que ele sabia como transmitir novas ideias à  mais ampla audiência possível. Ele não quebrou apenas as regras: reescreveu o manual. E os realizadores de filmes de terror ainda hoje o consultam. — Matthew Singer

Onde ver: SkyShowtime

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39. O Intendente Sansho (1954)

O cinema japonês não é escasso em obras marcantes, mas o realizador Kenji Mizoguchi merece destaque de primeira ordem. Capaz de criar impecáveis histórias de fantasmas (Contos da Lua Vaga) e dramas de bastidores (O Conto dos Crisântemos Tardios), o seu traço mais marcante foi uma empatia profunda e inabalável pelas mulheres, oprimidas pelo patriarcado, mas comoventes no seu sofrimento. Mulheres que são o cerne de O Intendente Sansho, uma narrativa feudal de dissolução familiar que o deixará destroçado. Não peça desculpas pelas lágrimas; todos os outros estarão a chorar também. — Joshua Rothkopf

40. Andrei Rublev (1966)

Melancólico, desafiador e hipnotizante, o épico retrato do realizador soviético Andrei Tarkovsky sobre a vida e os tempos de um dos mais famosos pintores de ícones medievais da Rússia coloca em primeiro plano qualidades como paisagem e ambiente, em detrimento de história e personagem. No fundo, é a história de um homem que tenta superar a sua crise de fé num mundo que parece ter um suprimento interminável de violência e conflito – e é um testemunho notável da persistência dos artistas que trabalham sob regimes opressivos. — Bilge Ebiri

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41. Os Chapéus de Chuva de Cherburgo (1964)

A melancolia da gloriosa banda sonora de Michel Legrand envolve os corações dos espectadores desde o primeiro momento, neste musical não convencional de Jacques Demy. Um dos filmes mais românticos alguma vez feitos sobre as dores e a pureza do primeiro amor, o imaculadamente estilizado Os Chapéus de Chuva de Cherburgo desafiou os musicais mais leves de Hollywood da época (como Música no Coração e Minha Linda Senhora) e lançou a sensacional Catherine Deneuve para o estrelato internacional. Mais tarde, seria uma grande influência em La La Land: Melodia de Amor. — Tomris Laffly

Onde ver: Mubi

42. Chinatown (1974)

O realizador Roman Polanski e o argumentista Robert Towne pegaram num enredo noir modestamente sórdido e transformaram-no numa meditação sobre os horrores da história americana e do capitalismo voraz. O filme conta com um elenco perfeito, com Jack Nicholson no auge da sua forma como um detective privado cínico, Faye Dunaway irresistivelmente sedutora como a femme fatale com um passado tão sombrio que a sua revelação final ainda choca, e o lendário John Huston como o milionário monstruoso no centro de tudo. — Bilge Ebiri

Onde ver: SkyShowtime

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43. O Sétimo Selo (1957)

Não é qualquer filme que é homenageado por Bill e Ted. Mas o grande tratado de Ingmar Bergman sobre a mortalidade não é um filme qualquer. Apesar de ter se tornado de alguma forma sinónimo de "expressão artística de cariz complexo e exigente", não é apenas composto por temas pesados, paisagens assoladas pela praga e jogos de xadrez com a morte. À medida que o cavaleiro medieval de Max von Sydow percorre a terra testemunhando o apocalipse, muitos momentos que celebram a vida aliviam o peso. Claro, é uma obra de profundo pensamento filosófico também, por isso sentir-se-á mais perspicaz por tê-lo visto. — Phil de Semlyen

44. O Amor É um Lugar Estranho (2003)

A segunda longa-metragem sublimemente contida de Sofia Coppola consegue um feito notável: ser como um dos grandes romances do cinema, apesar de nada tradicionalmente romântico acontecer. Na verdade, não acontece muito. Bill Murray é um actor americano decadente reduzido a filmar anúncios de uísque japonês em Tóquio, enquanto o seu casamento arrefece em casa. Numa noite de jetlag no bar do hotel, conhece uma jovem recém-casada (Scarlett Johansson) já desiludida com o seu próprio casamento. A alienação partilhada une-os e eles bebem uns copos e passam uma noite memorável pela cidade, cantando karaoke. Depois, seguem caminhos separados, presumivelmente para sempre, nunca consumando a sua aventura para além de alguns toques fugazes na pele. E ainda assim, o filme é totalmente envolvente e comunica mais sobre o poder da ligação humana fugaz do que praticamente qualquer outro devaneio que já tenha visto num romance cinematográfico com classificação etária mais elevada. Isso deve-se em grande parte às actuações subtis e tristemente esperançosas de Murray e Johansson, mas também à moldura de Tóquio filmada por Coppola, um cenário de sonho difuso iluminado por néons. Se alguma vez se sentiu sozinho na vida, mesmo que apenas uma vez, é impossível resistir. — Matthew Singer

Onde ver: SkyShowtime

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45. Taxi Driver (1976)

Uma cápsula do tempo de uma Nova Iorque desaparecida e um retrato da masculinidade distorcida que ainda perdura, Taxi Driver destaca-se no auge do vital e incisivo cinema de autor, impulsionado por realizadores, que definiu uma nova Hollywood dos anos 70. A visão de Martin Scorsese sobre o vigilantismo está repleta de uma atmosfera desconfortável e o argumento de Paul Schrader explora profundidades filosóficas que são trazidas à vida de forma impiedosa pela inesquecível interpretação de Robert De Niro. — Abbey Bender

Onde ver: Prime Video/ Filmin

46. A Viagem de Chihiro (2001)

A jóia da coroa do estúdio japonês de animação Studio Ghibli, A Viagem de Chihiro é uma gloriosa história para adormecer repleta de criaturas mágicas, monstros e fantasmas – é um filme com o poder de fazer ressurgir a criança interior mesmo nos mais crescidos e cépticos entre nós. Uma variação de Alice no País das Maravilhas (com o mesmo convite para seguir a imaginação), A Viagem de Chihiro tem guiado o público para o seu mundo de sonho há quase duas décadas e parece apenas crescer em estatura a cada ano, um tributo à sua arte desenhada à mão. Curiosidade: continua a ser o filme de maior bilheteira no Japão de sempre, à frente de Titanic. — Anna Smith

Onde ver: Netflix

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47. A Noite dos Mortos-Vivos (1968)

O primeiro filme de terror sem orçamento a tornar-se um verdadeiro cartão de visita para o seu realizador, o seminal filme de terror de George A. Romero começa com um único zombie num cemitério e culmina com um exército de mortos-vivos a atacar uma casa isolada. A maioria dos clichês modernos de terror começa aqui. Mas nada o supera em estilo, espírito cáustico, subcorrente racial e política, e a assustar o espectador até à medula, tudo isso cerca de 50 anos antes de Nós. — Ian Freer

Onde ver: Mubi/ Filmin

48. O Couraçado Potemkine (1925)

Este estimulante filme mudo russo foi concebido no calor da propaganda soviética e encomendado pelo ainda jovem governo comunista para saudar um evento ocorrido 20 anos antes. Conta a história de uma revolta de marinheiros que se transforma numa rebelião generalizada dos trabalhadores na cidade de Odessa. O filme é mais conhecido por uma sequência impressionante, muito copiada e parodiada desde então, envolvendo um carrinho de bebé a descer uma enorme escadaria. Mas O Couraçado Potemkine está repleto de imagens poderosas e ideias intensas, e o realizador Sergei Eisenstein é justamente considerado um dos pioneiros da linguagem cinematográfica inicial, com a sua influência sentida ao longo das décadas. — Dave Calhoun

Onde ver: Classix

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49. Tempos Modernos (1936)

O único filme de Charlie Chaplin em que o vagabundo Charlot embarca numa enorme farra de cocaína, esta clássica e incansável obra-prima do cinema mudo dificilmente precisa do impulso adicional. As piadas surgem quase tão rapidamente quanto as podemos processar, com o típico e preciso slapstick de Chaplin aqui criado a partir de cenários que parecem propositadamente construídos para terminar em desastre. A imagem de Chaplin a alimentar-se numa máquina gigante, literalmente, ainda hoje é uma sátira relevante sobre o avanço tecnológico. — Phil de Semlyen

Onde ver: Mubi

50. O Acossado (1960)

A estreia na realização do crítico de cinema Jean-Luc Godard é uma audaciosa desconstrução do filme de gangsters que também reinventou a própria arte cinematográfica. Apresenta cortes cubistas, filmagens inquietas à mão, gravações em locais reais, ritmo excêntrico (o ponto central de 24 minutos é um casal a conversar num quarto) e divagações autoconscientes sobre pintura, poesia, cultura pop, literatura e cinema. Um romance sensual entre o pequeno ladrão Jean-Paul Belmondo e a despreocupada Jean Seberg transforma-se numa meditação existencial estranhamente comovente. É ficção pulp, mas alquimicamente profunda. — Stephen Garrett

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51. Dr. Estranhoamor (1964)

Muito do génio de Stanley Kubrick era conceptual e este filme coloca a sua pergunta mais audaciosa: e se o mundo chegasse ao fim – e fosse hilariante? A aniquilação nuclear era um tema no qual Kubrick mergulhou, lendo praticamente todos os textos não classificados. A sua conclusão foi sombria: não haveria vencedores. Através da comédia mais negra (a única forma de abordar o assunto) e um Peter Sellers descontrolado interpretando três papéis diferentes, Kubrick fez valer o seu ponto de vista. — Joshua Rothkopf

Onde ver: Prime Video

52. Matou (1931)

Um daqueles filmes de época – há apenas alguns – que se situa na divisão entre o cinema mudo e a era sonora, mas aproveita as virtudes de ambos, o thriller de Fritz Lang sobre assassinos em série marca pela escuridão visual e desperta os ouvidos com o assobio de "Na Gruta do Rei da Montanha" (interpretado pelo próprio Lang, de lábios apertados; o seu protagonista, Peter Lorre, não conseguia assobiar). O tema do filme é a vigilância: devemos proteger os nossos filhos, mas quem protegerá a sociedade de si mesma? M é como um sonar que ouve uma Alemanha pré-nazi prestes a abandonar a sua humanidade. — Joshua Rothkopf

Onde ver: Classix

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53. Blade Runner: Perigo Iminente (1982)

Ambientado (ui!) em 2019, a visão de Ridley Scott de um futuro distópico é um dos filmes de ficção científica mais estilosos de todos os tempos. Com uma estética noir e uma assombrosa banda sonora sintetizada por Vangelis (uma enorme influência para Prince), Blade Runner é icónico não apenas pelo seu visual definidor da época, mas também pela análise filosófica mais profunda do que significa ser humano. Muitos tentaram imitar a vibe intrigante do filme, mas estas ruas encharcadas de chuva e vistas sórdidas possuem uma ameaça singular. — Abbey Bender

Onde ver: HBO Max

54. As Lágrimas Amargas de Petra von Kant (1972)

A fecundidade criativa de Rainer Werner Fassbinder, que morreu de overdose aos 37 anos após completar mais de 40 filmes, merece ser celebrada por uma nova geração. Este filme é, possivelmente, o mais aguçado e psicologicamente complexo; inegavelmente, é o mais malévolo. Há tanto para amar no confronto de tapetes peludos de Fassbinder, que vai além do espectáculo de duas estrelas da moda em duelo para uma exploração profunda do envelhecimento e da obsolescência. — Joshua Rothkopf

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55. Roma, Cidade Aberta (1945)

Poucos movimentos cinematográficos podem ostentar a taxa de sucesso do neorrealismo italiano, uma onda pós-Segunda Guerra Mundial dedicada à luta da classe trabalhadora que parece consistir apenas em obras-primas. Roberto Rossellini foi responsável por algumas delas, incluindo Alemanha, Ano Zero, e este drama anterior de repressão e resistência, que apresenta não apenas uma, mas duas das cenas de morte mais memoráveis de todo o cinema.

Onde ver: Filmin

56. Nosferatu (1922)

Prepare-se para a terra dos fantasmas e o chamamento do Pássaro da Morte: uma das primeiras (embora não autorizadas) adaptações de Drácula ainda é a mais aterrorizante. A interpretação semelhante a insecto de Max Schreck como o Conde Orlok, sedento de sangue, é tão hipnotizante e repulsiva como era há um século. As imagens assombrosas do realizador expressionista alemão F.W. Murnau de um mundo crepuscular estabeleceram o padrão arrepiante para gerações de pesadelos cinematográficos.

Onde ver: Classix

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57. Aeroplano! (1980)

Deve um filme cuja função principal é gozar com outros filmes ser incluído numa lista dos melhores filmes de sempre? Quando é tão delirantemente anárquico, sublimemente tolo e simplesmente hilariante como o Aeroplano!, bem, certamente. No seu primeiro verdadeiro filme, os realizadores David e Jerry Zucker, juntamente com o parceiro Jim Abrahams, apontam aos filmes desastre que estavam na moda na década de 1970 e disparam piadas para o ecrã a um ritmo tão acelerado que são necessárias várias visualizações apenas para apanhá-las todas. O contexto da paródia foi um pouco perdido com o tempo e a sua descendência não é exactamente ilustre – embora o primeiro Aonde É que Para a Polícia! seja um clássico por mérito próprio – mas isso só ajudou o filme a destacar-se como um verdadeiro festival de gargalhadas transcendentais. — Matthew Singer

Onde ver: SkyShowtime

58. Debaixo da Pele (2013)

Hipnótico, envolvente, provocador, perturbador, aterrador: independentemente da sua reacção, não vai esquecer a impressionante adaptação de Jonathan Glazer do romance de Michel Faber. Usando a sua celebridade de uma forma radical, Scarlett Johansson foi muito bem escolhida como uma alienígena em forma humana que percorre Glasgow a tentar seduzir homens na sua carrinha. Foi filmado em formato guerrilha nas ruas da cidade escocesa, por isso, preste atenção às imagens dos transeuntes genuinamente perplexos. — Anna Smith

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59. Mad Max: Estrada da Fúria (2015)

Tanto uma sequela como um recomeço, o quarto capítulo na série de épicos pós-apocalípticos do realizador George Miller funde acrobacias que desafiam a morte com efeitos especiais modernos para nos dar um dos melhores filmes de acção de sempre. Este é um constante bombardeio de perseguições, cada uma mais espectacularmente elaborada e aterradora do que a anterior, mas tudo combinado com a sensibilidade surreal e poética de Miller, que o eleva à categoria de arte. — Bilge Ebiri

Onde ver: Netflix/ Prime Video/ HBO Max

60. Apocalypse Now (1979)

O clássico intemporal de Francis Ford Coppola sobre a Guerra do Vietname prova que a guerra é grandiosa, enquanto o assassino Martin Sheen navega rio acima para matar o coronel renegado Marlon Brando. No caminho, há surf, um emocionante ataque de helicóptero, cheiro a napalm, tigres e coelhinhas da Playboy, até Sheen desembarcar e entrar numa zona diferente de loucura – ou será genialidade? Quem é que pode saber? — Ian Freer

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61. O Segredo de Brokeback Mountain (2005)

Esqueçam o que os Óscares coroaram como o Melhor Filme de 2005: o trágico romance gay de Ang Lee é a nomeação que resistiu ao teste do tempo. Ancorado na cinematografia deslumbrante de Rodrigo Prieto e numa melancólica interpretação de Heath Ledger (cuja actuação derrubou as percepções sociais da masculinidade), O Segredo de Brokeback Mountain é um marco no cinema art-house LGBTQ+. Reimaginou o género western e tornou-se parte do espírito da época. — Tomris Laffly

Onde ver: Netflix/ SkyShowtime

62. Os Grandes Aldrabões (1933)

As sátiras políticas mordazes não precisam ser longas e complicadas: esta obra-prima de 68 minutos é perfeitamente sucinta, expondo os absurdos da política internacional com agudeza e humor físico certeiro. Frequentemente considerado o mais engraçado da obra dos Irmãos Marx, o filme é também, e infelizmente, intemporal, já que sua representação de uma ditadura belicista permanece relevante até hoje. — Anna Smith

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63. O Projecto Blair Witch (1999)

Em 1997, um grupo de actores desconhecidos entrou nas florestas de Maryland com algumas câmaras de mão, um roteiro solto e um orçamento que não cobriria a alimentação na maioria dos outros filmes desta lista. E emergiu com um sucesso de bilheteira. Talvez nenhum filme na história tenha alcançado mais com menos do que o clássico de terror atmosférico de Daniel Myrick e Eduardo Sánchez. Durante anos, no entanto, O Projecto Blair Witch foi discutido como um triunfo do marketing mais do que qualquer outra coisa. Foi impulsionado por uma campanha publicitária que brincava com a veracidade da suposta filmagem encontrada: teria uma equipa amadora de documentaristas realmente desaparecido na floresta enquanto investigava um mito local? A pura curiosidade levou audiências em massa aos cinemas – e não era incomum sair de uma sessão e ouvir murmúrios confusos no átrio. Mais de duas décadas e uma saturação de imitadores menos eficazes depois, é mais fácil apreciar Blair Witch como uma aula magistral de cinema com baixo orçamento. Honestamente, se há uma cena mais assustadora nas últimas duas décadas do que quando as mãos das crianças se imprimem na tenda da equipa no meio da noite, certamente custou muito mais para ser feita. — Matthew Singer

64. Os Homens do Presidente (1976)

Muitos filmes retrataram o jornalismo à medida que acontece. Muito poucos acertam no processo e conseguem ainda menos transmitir a obsessão, a frustração ansiosa e o entusiasmo de perseguir uma grande história. O filme de Alan J. Pakula sobre dois repórteres a perseguirem a maior história da História política norte-americana acerta em todos os pontos. O feito é especialmente notável considerando que, na época, a história mal podia ser considerada História: Nixon tinha renunciado ao cargo nem mesmo dois anos antes. Mas essa proximidade confere ao filme uma energia viva que teria perdido com mais retrospectiva. Mesmo com o final que não pode ser estragado, Pakula e o argumentista William Goldman conseguiram criar um thriller invulgarmente nervoso que nunca se desvia da narrativa central. Não, não terá muita ideia de quem são Woodward e Bernstein (interpretados com o naturalismo típico dos anos 70 por Dustin Hoffman e Robert Redford) além do seu trabalho. Em vez disso, vê apenas o trabalho deles – e neste caso, isso é mais do que suficiente. — Matthew Singer

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65. Trilogia de Apu (1955, 1956, 1959)

Estamos a fazer batota ao incluir os três filmes (A Canção da Estrada, O Invencível e O Mundo de Apu), mas, na realidade, como separamos as partes da magnífica trilogia coming-of-age de Satyajit Ray? O grande cineasta bengali segue o jovem Apu (Apurba Kumar Roy) desde a infância até à vida adulta, passando pela escola e pela mudança da sua aldeia remota para a grande cidade, assim como pelos amores e perdas. Alguns dos momentos mais íntimos do cinema indiano alguma vez capturados são também completamente relacionáveis, quer venha de Calcutá, Kansas ou Camden Town.

Onde ver: Filmin (A Canção da Estrada, O Invencível)

66. A Glória de Pamplinas (1926)

Rapaz encontra o comboio. Rapaz perde o comboio. Rapaz persegue forças da União que roubaram o comboio, recupera o comboio e parte na direcção oposta. Pode não parecer a típica história de amor, mas é exactamente isso que a comédia silenciosa, impassível e destemida de Buster Keaton representa: uma majestosa demonstração de fotografia de truques, coragem atlética e sincronização cómica, tudo sustentado por um coração genuíno. Acredite, é uma viagem emocionante. — Phil de Semlyen

Onde ver: Prime Video

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67. O Despertar da Mente (2004)

Há inúmeros filmes sobre relações românticas. No entanto, poucos exploram o tema de forma tão criativa como este filme inovador de Michel Gondry, escrito por Charlie Kaufman (que na altura estava a tornar-se conhecido com Queres Ser John Malkovich? e Inadaptado). A narrativa com influência de ficção científica sobre duas metades de um casal separado que passa por um procedimento de apagamento de memórias sofre muitas reviravoltas surpreendentes e comoventes. A combinação impecavelmente executada de imagens autenticamente peculiares e investigação filosófica tornou-se um marco no cinema independente moderno. — Abbey Bender

68. Massacre no Texas (1974)

O título continua a ser uma peça publicitária impactante, sugerindo algo muito mais sangrento do que o que é apresentado. Isso não significa que a obra-prima de Tobe Hooper deixe de cumprir as expectativas. Visão suja do horror de um Verão no Texas, palpavelmente suado e malcheiroso, o filme conquistou o seu lugar como uma parábola definitiva da guerra de classes na era Nixon, da inveja social comer-ou-ser-comido e da natureza essencialmente desconhecida de algumas partes infelizes do mundo. — Joshua Rothkopf

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69. Vem e Vê (1985)

Tão implacável quanto o cinema pode ser, a influência do filme de guerra sui generis de Elem Klimov transcende o género de uma maneira que nem mesmo O Resgate do Soldado Ryan de Steven Spielberg consegue igualar. No seu âmago, é uma história de amadurecimento que segue um jovem bielorrusso (Aleksei Kravchenko) que atravessa horrores indizíveis, numa região fustigada pela presença de esquadrões da morte nazis. Além das verdades históricas, a gramática e a linguagem visual do filme (há passagens que se assemelham a uma tripe de ácidos ultraviolenta) são o que verdadeiramente o eleva. Como uma obra-prima de Hieronymus Bosch, as imagens aqui nunca podem ser esquecidas. — Phil de Semlyen

70. Heat – Cidade Sob Pressão (1995)

A obra-prima do realizador e argumentista Michael Mann juntou dois dos nossos maiores actores, Robert De Niro e Al Pacino, no ecrã pela primeira vez – um como um estoico mestre do crime, o outro como o polícia obsessivo determinado a derrubá-lo. Ao entrelaçar as suas histórias, Mann apresenta perspectivas opostas, mas igualmente ponderadas, com a nossa lealdade como espectadores a mudar constantemente. A última palavra sobre filmes de polícias e ladrões está impregnada de uma magia que os thrillers criminais tentam recuperar até aos dias de hoje. — Bilge Ebiri

Onde ver: Disney+

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71. Shining (1980)

Não faltam filmes de Stanley Kubrick à nossa lista (como deve ser). Ainda assim, é chocante lembrar que Shining, tão impregnado dos temas preferidos do realizador, como a obsessão labiríntica e a banalidade do mal, foi outrora considerado uma obra menor. Desde então, tornou-se a representação mais concentrada do comando total de Kubrick; ele é o deus do filme, movendo-se com a steadicam pelos cantos e fazendo a audiência perceber que nasceu para redefinir o género de terror. Mesmo que não possamos concordar com as teorias malucas dos fãs sobre como Kubrick alegadamente filmou a alunagem da Apollo 11, estamos prontos para admitir que este filme contém multiversos cósmicos. — Joshua Rothkopf

Onde ver: HBO Max/ Prime Video

72. Toy Story: Os Rivais (1995)

A produção que lançou a Pixar (Luxo) e que ainda é um absoluto ponto alto para a animação feita por computador, Toy Story reinventou o que um filme familiar poderia ser. À primeira vista, é uma história simples sobre dois rivais em miniatura (Woody originalmente seria bem mais malandro), que depois ficam em apuros às mãos do génio pirotécnico da casa ao lado, Sid. Mas também trata de ciúmes, dinâmicas de poder e das nossas relações com a nossa própria infância. Com ele, a Pixar levou a narrativa até ao infinito e muito, muito mais além. — Phil de Semlyen

Onde ver: Disney+

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73. Killer of Sheep (1977)

Rodado em película de 16 milímetros sob uma luz duvidosa, o filme de tese de pós-graduação de Charles Burnett na UCLA aparentemente costura episódios banais para formar um cativante mosaico da vida afro-americana no final dos anos 70. Um marco no cinema negro independente, está acompanhado de uma excelente banda sonora que vai desde os blues e a música clássica até Paul Robeson. Poético, compassivo, zangado, irónico: toda a vida humana está presente aqui. — Ian Freer

74. Uma Mulher Sob Influência (1974)

Há uma tendência nestes exercícios dos melhores de todos os tempos para dar prioridade ao realizador, à cinematografia ou ao guião. Mas também é necessário prestar homenagem aos intérpretes: numa década de actuações brilhantes, nenhuma foi tão electrizante como a de Gena Rowlands nesta impressionante espreitadela a uma mente que se desfaz. Uma dona de casa e mãe acidental de Los Angeles, constantemente mandada acalmar, Mabel, é a apoteose do cinema improvisado de John Cassavetes. A nossa preocupação pela personagem de Rowlands nunca diminui enquanto oscila por cenas angustiantes de colapso e recomposição emocional. — Joshua Rothkopf

Onde ver: RTP Play

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75. Annie Hall (1977)

Citável, cativante e repleto de momentos criativos, Annie Hall é uma das comédias românticas mais revolucionárias. Este filme essencialmente nova-iorquino introduziu inúmeros espectadores nas alegrias de diálogos extensos (e na experimentação de vestuário masculino para mulheres) e tem sido há muito elogiado tanto pela sua acessibilidade como pela sua emotividade, um equilíbrio que poucos filmes alcançaram de forma tão memorável desde então. — Abbey Bender

Onde ver: Prime Video

76. Quanto Mais Quente Melhor (1959)

A clássica farsa gangster de Billy Wilder parece Scarface sob o efeito de hélio. Tony Curtis e Jack Lemmon formam uma das duplas mais encantadoras do cinema, interpretando músicos em fuga da máfia, mas Marilyn Monroe rouba a cena como a coquete, suspirante e completamente adorável Sugar. Ninguém é perfeito, mas este filme chega bem perto. — Phil de Semlyen

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77. Metrópolis (1927)

Enormemente dispendioso para a época, Metropolis é Blade RunnerExtreminador Implacável e Star Wars todos reunidos num só (sem mencionar que aconteceu 50 anos antes). A visão silenciosa de Fritz Lang sobre uma sociedade totalitária continua a surpreender pelos seus impressionantes cenários urbanos, efeitos especiais inovadores e um robot encantadoramente maléfico (Brigitte Helm). É a ficção científica no seu expoente máximo e deslumbrante – os modestos primórdios da seriedade do género no ecrã. — Ian Freer

Onde ver: Classix

78. Relíquia Macabra (1941)

A sabedoria convencional indica que a era noir realmente teve início durante os ásperos anos do pós-Segunda Guerra Mundial, o que torna a adaptação do romance policial de Dashiell Hammett por John Huston verdadeiramente pioneira. É um modelo para a onda de filmes noir que se seguiram, apresentando um detective desiludido mas nobre, interpretado por Humphrey Bogart como Sam Spade, uma femme fatale (Mary Astor), alguns vilões astutos (Sydney Greenstreet, Peter Lorre) e uma trama labiríntica que o arrasta pelos cantos. Se o filme fosse mais duro do que aquilo que é, ficaríamos sem dentes só de o ver. — Phil de Semlyen

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79. This Is Spinal Tap (1984)

Bateristas que explodem, amplificadores que vão até ao 11, stonehenges minúsculos, "Dobly": este falso documentário de rock – ou "rockumentário", se preferir – é monumentalmente influente no cinema, na comédia confrangedora e, possivelmente, na própria indústria musical. (Não há uma banda por aí que não tenha pelo menos um momento à Spinal Tap no seu historial.) Christopher Guest, Michael McKean e Harry Shearer são realeza da comédia e só podemos curvar-nos perante a sua presença. Pouco depois deste filme, Guest lançou a sua própria marca de humor enquanto realizador, directamente inspirado na sátira de heavy metal de Rob Reiner. — Phil de Semlyen

80. Uma Noite Aconteceu (1934)

Se ao menos Hollywood continuasse a produzi-las como antigamente: comédias românticas cativantes que conquistavam os Óscares. A hilariante história de amor à primeira vista de Frank Capra permanece um dos filmes mais ágeis alguma vez feitos. A herdeira mimada de Claudette Colbert e o repórter oportunista de Clark Gable partem numa viagem e discutem pelo caminho até ao final feliz, independentemente das barreiras de classe. Não só esta comédia screwball inteligente e sugestivamente sexy moldou todas as comédias românticas que se seguiram, como ainda tem vantagem sobre a maioria delas. — Tomris Laffly

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81. Assalto ao Arranha-Céus (1988)

Vamos esclarecer isto desde já: Assalto ao Arranha-Céus é um filme de Natal. Aceitem. Outra afirmação menos controversa sobre o blockbuster de John McTiernan: é o ideal platónico de um filme de acção e Bruce Willis como o sarcástico polícia de Nova Iorque, John McClane, é o herói de acção mais fixe de sempre. As sequelas esticariam os limites do seu carisma, tornando-se maiores e mais estúpidas, mas o original atinge o equilíbrio perfeito entre grandiosidade e ousadia, à medida que McClane tenta frustrar os planos de um grupo terrorista europeu que tomou de assalto um arranha-céus em Los Angeles e fez refém a sua mulher. Mas a verdadeira razão do sucesso de Assalto ao Arranha-Céus – para além dos diálogos cativantes, das acrobacias espectaculares e dos pequenos detalhes, como McClane ser forçado a enfrentar um grupo de terroristas descalço – é que McClane tem o oponente ideal em Hans Gruber, interpretado por Alan Rickman, que poderá ser o melhor vilão de filme de acção de todos os tempos, um pseudo-revolucionário erudito que deixa claro que lê a Forbes e não aprecia muito os cowboys americanos tagarelas.

Onde ver: Disney+

82. O Conformista (1970)

Será sacrilégio declarar que o mais belo filme ambientado em Paris foi filmado por dois italianos? Bernardo Bertolucci e o seu director de fotografia Vittorio Storaro banham a capital francesa – assim como os edifícios neoclássicos da Roma de Mussolini – em tons de azul fresco e fragmentos de luz tão nítidos quanto as facas empunhadas contra o professor de esquerda que Clerici, o assassino fascista interpretado por Jean-Louis Trintignant, é ordenado a matar. Dado um desfecho mais sombrio e obscuro do que o romance original de Alberto Moravia, é um thriller electrificante repleto de figuras sombrias, sexo e traição. Mas é no facto de ser um intenso panfleto político que reside o seu verdadeiro poder. Um homem fraco, cínico, com desejos reprimidos, Clerici é impotente perante a ortodoxia violenta do fascismo. O apelo venenoso do autoritarismo nunca foi retratado de maneira tão arrepiante como neste filme. — Phil de Semlyen

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83. Veio do Outro Mundo (1982)

Que a verdadeira obra-prima de John Carpenter – aquela perante a qual os entusiastas do terror se curvam – ocupe o seu lugar no panteão. Um projecto apaixonado que foi massacrado tanto pelo público quanto pelos críticos, Veio do Outro Mundo foi, na realidade, uma daquelas raridades entre os remakes: é melhor do que o original. A elegância panorâmica de Carpenter e o minimalismo arrepiante do sintetizador (aqui amplificado pelo compositor Ennio Morricone) encontraram um novo contraponto em alguns dos mais repugnantes efeitos visuais já apresentados a uma audiência pagante. Mas a paranóia gelada do filme, pura e intensa, tem sido o seu legado mais duradouro: um modelo de perfeição para todos desde então. — Joshua Rothkopf

Onde ver: SkyShowtime

84. Daughters of the Dust (1991)

A escritora e realizadora Julie Dash deveria ter alcançado o sucesso ao nível de Ava DuVernay após a sua poética estreia cinematográfica, um feito de beleza sobrenatural. O primeiro filme realizado por uma mulher afro-americana a receber distribuição cinematográfica, Daughters of the Dust está impregnado de orgulho, história e sabedoria matriarcal. Ambientado em 1902, acompanha os gullah, descendentes de pessoas escravizadas que vivem ao largo da costa da Carolina do Sul, e que confrontam dolorosamente o desvanecer das suas tradições. Singularmente à frente do seu tempo, Daughters of the Dust lamenta a tragédia persistente da escravidão. A sua serena força encontrou eco mais tarde em "Lemonade" de Beyoncé. — Tomris Laffly

Onde ver: Mubi

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85. Barry Lyndon

Em 1975, a sóbria adaptação de Stanley Kubrick do romance de William Makepeace Thackeray, que narra a jornada de um jovem irlandês desde um amoroso exílio até um cínico vigarista na Europa do século XVIII, parecia desenquadrada com a produção intensa e áspera do cinema contemporâneo. Anos mais tarde, é considerada por muitos como a obra-prima de Kubrick, e a sua abordagem deliberada e altamente estetizada influenciou desde Ridley Scott até Yorgos Lanthimos. — Bilge Ebiri

86. O Touro Enraivecido (1980)

A biografia alucinogénica do tenaz pugilista Jake LaMotta (Robert De Niro), realizada por Martin Scorsese, é uma audaciosa mistura de realismo neorrealista e beleza hiperestilizada, etérea. Com as luvas postas, LaMotta está no seu elemento; tirem-lhas e ele é um sociopata inseguro consumido por ciúmes sexuais. A representação monstruosa de De Niro é miraculosamente empática, mas o que é verdadeiramente revolucionário é a técnica de Scorsese: como um Verdi moderno, o realizador italo-americano eleva o profano ao operático. — Stephen Garrett

Onde ver: Prime Video

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87. Seven – 7 Pecados Mortais (1995)

David Fincher é o realizador mais distintivo da sua era: criador de vídeos musicais icónicos e dramas que definem décadas, como Zodiac e A Rede Social. No entanto, a sua transição para Hollywood foi tumultuosa, era uma cidade que mal o compreendia. O ponto de viragem foi Seven – 7 Pecados Mortais, a primeira vez que a visão temível de Fincher chegou sem censuras. Estilisticamente, o filme sombrio (filmado pelo inspirado Darius Khondji, que trabalhou com um processo de retenção de nitrato de prata) provou ser mais duradouro do que até mesmo O Silêncio dos Inocentes, mas é aquele final impactante que ainda perturba o público. — Joshua Rothkopf

Onde ver: HBO Max

88. Aguirre, a Cólera de Deus (1972)

Eternamente ofuscado pelo feito hercúleo que foi Fitzcarraldo, a outra exploração de Werner Herzog sobre a vaidade masculina nas partes mais remotas da América do Sul aplica uma lente friamente observacional à loucura maligna da obsessão descontrolada. É mais frio, mais ávido aqui: o conquistador de Klaus Kinski deseja ouro, não cultura. Com uma jornada fluvial, uma banda sonora assombrosa e sintética de Popul Voh e um bando de macacos provocadores, é o Apocalypse Now de Herzog. — Phil de Semlyen

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89. A Batalha de Argel (1966)

Os thrillers políticos ainda têm uma dívida para com a obra-prima sempre oportuna de Gillo Pontecorvo. Ao narrar a revolta argelina contra os ocupantes coloniais franceses na década de 1950, A Batalha de Argel analisa corajosamente o terrorismo, o racismo e até mesmo a tortura como meio de obtenção de informações. Exibido no Pentágono devido à sua relevância durante as fases iniciais da Guerra do Iraque, A Batalha de Argel tem a sua herança rebelde incorporada em inúmeros épicos com carga política, desde Z – A Orgia do Poder até Munique de Steven Spielberg. — Tomris Laffly

Onde ver: Filmin

90. Este País Não É Para Velhos (2007)

Cormac McCarthy e os irmãos Coen são uma combinação feita no canto mais seco, desidratado e violento do paraíso. A fixação da dupla cinematográfica com escolha, acaso e destino atinge o seu auge com a adaptação do romance de 2005 do desaparecido autor (que começou como um guião), um neo-western existencialista que ainda funciona como uma cativante peça de entretenimento. A premissa é digna dos thrillers pulp de outrora: um caçador numa cidade fronteiriça do oeste do Texas por volta de 1980 depara-se com as consequências de uma transação de drogas fracassada no deserto, decide fugir com uma bolsa cheia de dinheiro, perseguido tanto por um implacável assassino (Javier Bardem) como por um xerife exausto (Tommy Lee Jones). Contudo, um sentido quase sobrenatural de mistério paira sobre todo o filme, enquanto a cinematografia de Roger Deakins faz com que as suas cidades empoeiradas pareçam estar no fim do mundo. É o filme mais assustador dos Coen, graças à extraordinária interpretação de Bardem como Anton Chigurh, um psicopata ao nível de Jason Voorhees, com um corte de cabelo à tigela em vez de uma máscara de hóquei e uma pistola de abate de gado como arma de eleição. É uma das grandes interpretações de vilão de todos os tempos. — Matthew Singer

Onde ver: SkyShowtime

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91. Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988)

Pedro Almodóvar conquistou o mainstream com esta comédia de ensemble gloriosamente colorida, um ponto de entrada para muitos no estilo inteligente e sexualmente livre do cinema europeu. Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos oferece papéis suculentos para uma série das melhores actrizes espanholas (além de um encantador Antonio Banderas com cara de bebé) e delicia consistentemente com as suas escolhas criativas em figurinos e design de interiores. A combinação de dinâmicas screwball e a exuberância dos anos 1980 está perfeitamente calibrada e é divertida. — Abbey Bender

92. O Charme Discreto da Burguesia (1972)

Os filmes têm sido sempre uma porta de entrada para a arte radical. Hollywood pode tê-los tornado elegantes e acessíveis, mas a experimentação esteve presente desde o início. Luis Buñuel figura entre os maiores visionários que já honraram o campo da realização cinematográfica. Sem ele, não haveria David Lynch, nem Wong Kar-wai – até Alfred Hitchcock era fã. De entre as muitas obras sísmicas de Buñuel (como a curta-metragem Un Chien Andalou), comece com esta sátira radical da luta de classes, que resume tudo o que ele fez de forma brilhante. Até lhe valeu um improvável Óscar. — Joshua Rothkopf

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93. Horizontes de Glória (1957)

Um filme anti-guerra, um thriller judicial, um estudo de classes sociais de cima a baixo, uma crítica religiosa, uma sátira absurda e, por fim, um apelo desoladoramente fútil à compaixão perante a destruição, a obra-prima humanista de Stanley Kubrick disserta sobre todas as facetas ilusórias da psique masculina. Campos de batalha proliferam – psicológicos, emocionais, físicos – fazendo com que os soldados sombriamente enraizados de 1916 e os oficiais que confundem loucura com fama ainda pareçam dolorosamente relevantes. — Stephen Garrett

94. Segredos e Mentiras (1996)

Os actores são a essência do famoso processo do realizador Mike Leigh, um método muito discutido que envolve trabalho conjunto, exploração de personagens, improvisação de grupo e escrita colaborativa. Muitas vezes, passam meses antes de a câmara começar a rodar. Os resultados têm sido consistentemente requintados ao longo dos anos, canalizados tanto para musicais de época (Topsy-Turvy) como para dramas contemporâneos brutais (Nu). Recomendamos a primeira obra crucial de Leigh, que conta com interpretações nervosas de Brenda Blethyn e Timothy Spall, como o local perfeito para começar a sua imersão profunda. — Joshua Rothkopf

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95. Mentira Maldita (1957)

Este noir fumarento e jazzístico do realizador Alexander Mackendrick (O Quinteto Era de Cordas) é um dos grandes filmes sobre poder, influência e jornalismo impresso no auge do século XX. É uma história sórdida e intoxicante que se desenrola nos recantos dos bares de Manhattan e apresenta interpretações memoráveis de Tony Curtis como Sidney Falco, um fofoqueiro de baixo nível, e Burt Lancaster como J.J. Hunsecker, um colunista de jornal corrupto e imponente. O diálogo é ágil e delicioso, e a moral é tão vazia como Times Square ao amanhecer. — Dave Calhoun

96. O Gabinete do Doutor Caligari (1920)

Esta obra-prima do expressionismo alemão foi lançada em 1920, muito antes da invenção do aviso de spoilers. Esperávamos apenas que os espectadores soubessem instintivamente que não deviam revelar aos amigos o primeiro final surpreendente do cinema e estragar-lhes o impacto desta fábula de terror fragmentada. O realizador Robert Wiene criou algo verdadeiramente sombrio e duradouro a partir das suas sombras: pode sentir-se a influência do Dr. Caligari em tudo, desde os filmes de Tim Burton até Shutter Island. — Phil de Semlyen

Onde ver: Classix

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97. Nashville (1975)

Esta epopeia multicamadas sobre música country, política e relações é a realização mais emblemática de Robert Altman. Com o seu diálogo sobreposto e câmara itinerante, Nashville criou um panorama terreno e idiossincrático da vida americana, apresentando muitos dos actores mais memoráveis da década. Os anos 1970 foram o período mais emocionante do cinema nos EUA, e Nashville – com a sua admirável amplitude e a sua energia descomprometida – é emblemático dessa criatividade. — Abbey Bender

98. Aquele Inverno em Veneza (1973)

Nicolas Roeg influenciou e inspirou uma geração de cineastas, desde Danny Boyle até Steven Soderbergh – e aqui está o motivo. Roeg envolve o conto de Daphne du Maurier num frio glacial, criando um espectro sobrenatural numa Veneza invernal através da pura mestria cinematográfica e do poder da sua edição. Encontra também uma humanidade profunda no horror, com Julie Christie e Donald Sutherland a interpretarem dois pais enlutados que se reencontam e a afastam como detritos numa maré invisível. A sua obra-prima, Aquele Inverno em Veneza, permanece um grito primal de luto que nos abala até ao âmago. — Phil de Semlyen

Onde ver: Filmin

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99. Bonnie e Clyde (1967)

O filme de acção revolucionário de Arthur Penn foi feito no mesmo espírito dos westerns revisionistas dos anos 60 e 70 – irreverente, divertido, moralmente incerto e sem medo de sangue e balas. O filme transporta-nos de volta para a década de 1930 durante a lendária série de crimes dos amantes Bonnie Parker (Faye Dunaway) e Clyde Barrow (Warren Beatty), que percorrem a América da era da Depressão e roubam tudo o que podem. Por que é que este filme ressoou tão bem no final da sua década? Com a Guerra do Vietname, tumultos nas cidades e a ascensão de Nixon, tudo estava em jogo. Adicione o par envolvente de Beatty e Dunaway, e temos um clássico nas mãos: uma revolução no vestuário da época. — Dave Calhoun

100. Foge (2017)

O clássico de terror de Jordan Peele certamente subirá nos rankings. Inspirando-se no mestre George A. Romero e no seu A Noite dos Mortos Vivos que definiu a contracultura, Peele infundiu a culpa liberal branca com um subtexto racial assustador; o "lugar afundado" é precisamente o tipo de metáfora que apenas os filmes de terror podem explorar ao máximo. Durante a sua exibição nos cinemas – que se estendeu até a um Verão que também viu o comício supremacista branco em Charlottesville – Foge pareceu ser o único filme a falar de uma divisão que se aprofundava. — Joshua Rothkopf

Onde ver: Prime Video

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