
Festa do Cinema Francês: Jean-Pierre Melville, ou o samurai aos 100 anos
Vivesse e estava nos 100 anos, Jean-Pierre Melville, o cineasta que a 18ª Festa do Cinema Francês homenageia com retrospectiva integral de uma obra inovadora e, como samurai da sua comunidade, sempre um pouco apartada do resto do cinema francês
Tudo começou em 1947 e acabou, com a sua morte, em 1972. Esse entretanto bastou para um conjunto de obras, ao mesmo tempo estilizadas, como quem esculpe a luz, e engajadas, como quem entende a utilidade da arte. Algumas são fundamentais, mas entre as oito que se seguem todas são cinema em estado puro.
Festa do Cinema Francês: Jean-Pierre Melville, ou o samurai aos 100 anos
Le Silence de la Mer (1948)

Embora a Nova Vaga do cinema francês não fosse de grandes simpatias para com este realizador de filmes populares (pior, simpatizante do gaullismo), e do muito que escacharam nos seus filmes os críticos da revista Cahiers du Cinéma, na sua primeira longa-metragem Melville criou uma obra que se tornou influência fundamental no trabalho dessa geração de cineastas, e com o tempo se foi estendendo, até Tarantino, por exemplo. Aqui, com Howard Vernon, Jean-Marie Robain e Nicole Stéphane filmados em generalizado clima de claustrofobia, o cineasta adapta um clássico da literatura da Resistência francesa à ocupação nazi, em que a instalação de um oficial alemão numa casa onde co-habitam tio e sobrinha, que recusam dirigir-lhe palavra, leva a um conflito surdo e existencial surpreendente.
Sábado, 7, 21.30; Terça, 10, 18.30
Bob le Flambeur (1956)

A haver um filme de culto na obra do realizador francês é, sem dúvida, esta película em que Jean-Pierre Melville entra de uma vez por todas pelo território do policial, iniciando um percurso que transformará e dignificará o género policial e o cinema negro. Roger Duchesne, Daniel Cauchy e Isabelle Corey são os peões de um argumento que se tornaria praticamente regra: um bandido aceita sair da reforma para participar no último e derradeiro golpe. E com o assalto ao Casino de Deauville o cinema policial capaz deixou de ser monopólio de Hollywood.
Terça, 10, 19.00; Quarta, 11, 22.00.
Amor Proibido (1961)

Quarta, 11, 15.30; Quinta, 12, 22.00.
O Denunciante (1962)

Quarta, 11, 19.00; Sexta, 13, 18.30.
O Segundo Fôlego (1966)

Quinta, 12, 15.30; Sábado, 14, 18.30.
Ofício de Matar (1967)

Quinta, 12, 19.00; Terça, 17, 18.30.
O Exército das Sombras (1969)

Quinta, 12, 21.30; Terça, 17, 22.00.
Cai a Noite Sobre a Cidade (1972)

Sábado, 14, 21.30; Quarta, 18, 22.00.
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