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Jacques Rozier
Jacques Rozier

IndieLisboa 2018: a vez de Jacques Rozier

É na categoria Herói Independente do IndieLisboa 2018 que surge Jacques Rozier, aos 91 anos um cineasta livre, solitário e de mau feitio, para nem dizer um pouco maníaco.

Escrito por
Rui Monteiro
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A bem dizer, quase ninguém conhece Jacques Rozier. Até agora, que o problema é resolvido em justa retrospectiva histórica no IndieLisboa 2018.  

IndieLisboa 2018: a vez de Jacques Rozier

Blue Jeans

Como a Heroína Independente do IndieLisboa 2018, Lucretia Martel, também Jacques Rozier, começou na curta-metragem, muito percorrendo ainda o cinema documental.

Neste filme de 22 minutos, interpretado por René Ferro, Francis de Peretti, Elizabeth Klar, Laure Coretti e Christian Besin, o realizador, com esta história de amores de Verão à beira-mar, de certo modo antecipa uma das suas películas mais conhecidas, Adieu Philippine. Foi esta narrativa condensada que fez Jean-Luc Godard descobrir o cinema de Rozier, dele falar ao produtor Georges de Beauregard, e assim lançar a carreira do cineasta. (Sex, 27, Cinemateca 19.00. Sex, 4, 18.30)

Outra curta a ter em conta, para o realizador – que considerou experiências anteriores apenas aprendizagem – é Rentrée des Classes, dirigida em 1955. Aqui acompanha-se a aventura de um rapazola (Marius Sumian) que resolve fazer gazeta no primeiro dia de aulas. Rapazola que, depois de atirar a mochila ao rio para vencer uma aposta, embarca numa aventura para a reaver. (Sex, 27, Cinemateca 19.00. Sex, 4, 18.30. Sáb, 5, Culturgest, 15.00).

Em Paparazzi, de 1963, estamos já no domínio do documentário. A imprensa sensacionalista é o alvo e a película resulta do material filmado durante a rodagem de O Desprezo, de Godard, com Brigitte Bardot. (Sex, 27, Cinemateca, 19.00). As mesmas imagens que serviram este documentário servem também para ilustrar, em oito minutos, o encontro cinematográfico entre o principal apóstolo da nova vaga e Bardot, a maior estrela do cinema francês, em Le Parti des Choses: Bardot et Godard. (Sex, 27, Cinemateca 19.00. Sex, 4, 18:30).

Ainda no capítulo documental, agora em formato longa-metragem, Jean Vigo, realizado em 1964, para a série de televisão de Janine Bazin e André S. Labarthe, Cinéastes de Notre Temps, é filme que não se deve perder. Principal influência de Rozier (com Jean Renoir, de quem foi assistente em French Can Can), o cineasta homenageia o criador de L’Atalante, “seguindo o mesmo método [de Orson Welles] em O Mundo a Seus Pés”, disse. Isto é: perguntando “quem era verdadeiramente o cidadão Jean Vigo?”, regista as memórias dos seus colaboradores e amigos, 30 anos depois da sua morte descobrindo um Vigo anarquista e farsante, ou seja, o oposto da sua imagem nas histórias do cinema. (Sexta, 27, Cinemateca, 15.30)

Adieu Philippine

Em 1962, empurrado por Godard, Jacques Rozier dirige a sua primeira longa-metragem e cria o mais querido (dizer popular será sempre um exagero) dos seus filmes, uma pérola que ficou enterrada pelo brilho de outros nomes da nova vaga do cinema francês, mas criou, para o bem e para o mal, uma reputação.

A obra, com Jean-Claude Aimini, Yveline Cery e Stefania Sabatini, acompanha a errância assombrada da última semana de férias de Michel antes de partir para a Argélia, engajado no exército francês para combater o movimento independentista. É um dos primeiros cineastas a dar atenção à Guerra da Argélia (assunto que ainda hoje é tratado com pinças em França) e, talvez por isso, a sua estreia só tem lugar após a retirada francesa da colónia entretanto independente. (Qui, 26, Cinemateca 15.30. Sex, 27, 21.30)  

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Du Côté d’Orouët

Em 1971, a segunda longa-metragem foi o seu primeiro filme com som directo, por alguma razão rodado em 16 milímetros. Foi apresentado no Festival de Cinema de Cannes, e abandonado, para ser “reabilitado” em meados da década de 1990, passado a 35 milímetros para depois estrear com pompa em Paris.

Se os meandros desta parte da história mostram a razão da tal “reputação”, o filme, em si, é Rozier puro na sua atracção pelo interior da aparente vulgaridade da vida. Filmando três raparigas (Caroline Cartier, Danièle Croisy e Françoise Guégan) de férias na praia, o cineasta representa uma crónica sentimental evoluindo ao sabor dos dias como uma comédia de costumes armadilhada. (Sáb, 28, Cinemateca, 21.30)

Les Naufragés de l’Ile de la Tortue

A ideia é simples (recordo que em 1976 ainda não havia “reality shows”): viver, e principalmente vender a “experiência” de Robinson Crusoé numa ilha deserta, é o projecto turístico em que dois funcionários de uma agência de viagens parisiense se atiram à aventura da sua independência financeira.

Apesar da presença de Pierre Richard no elenco, o mais popular actor francês de então, a obra, uma espécie de filme de estrada quando os filmes de estrada ainda não eram moda, teve uma carreira particularmente atribulada, nem chegando a estrear em França. Mas o trabalho de desagregação entre a ansiedade narrativa e a fluidez formal do olhar que o realizador deita sobre estes náufragos melancólicos em ambiente paradisíaco, esse olhar basta para incluir Les Naufragés de l’Ile de la Tortue entre os filmes imprescindíveis desta edição do IndieLisboa. (Sex, 30, Cinemateca 21.30)

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Maine Océan

Mais de uma década depois, em 1986, após mais um intervalo para documentários e outros trabalhos, Rozier volta à longa-metragem com a história de uma bailarina brasileira e dos seus problemas com um par de revisores de comboio, antes e depois de ser ajudada por uma advogada que lhe serve de intérprete.

Esta produção de Paulo Branco, com direcção de fotografia de Acácio de Almeida, para João Bénard da Costa (num dos seus saborosos textos para as sessões da Cinemateca que dirigiu) “um dos mais modernos dos filmes modernos”, teve igualmente uma carreira acidentada e, no essencial, limitada ao circuito de festivais europeu. O que não retira qualquer brilho à excelência da realização, nem à interpretação de Rosa-Maria Gomes, Lydia Feld, Bernard Menez, Luis Rego e Pedro Armendariz, ou ao argumento de Rozier e Feld, no qual, resolvida a confusão, estabelecida a amizade entre as mulheres, promovido um inesperado encontro com os revisores, toda a gente participa numa festa, zénite de uma obra dominada pelo sentido musical do realizador. (Qua, 2, Cinemateca, 19.00)

Fifi Martingale

Para Rozier, a última longa-metragem que dirigiu, em 2001, é como uma fantasia sobre teatro nascida na rodagem de Joséphine en Tournée (filme muito menor realizado para televisão em 1990).

O enredo tem por centro uma companhia de teatro, em Paris, ensaiando uma peça incessantemente modificada pelo encenador, sendo centrais as questões da representação, animadas por jogos de palavras e uma duplicidade de interpretação (Jean Lefebrve, Mike Marshall, Jacques Petitjean e Yves Afonso) que funcionam como elementos de caos delirante e esquinado humor.

Como de costume, a carreira do filme não foi famosa. Embora apresentado no Festival de Veneza, em 2001, a película quase não teve mais exibições, acabando o realizador, em 2010, por criar uma versão remontada das imagens originais. (Sáb, 5, Cinemateca, 21.30)

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