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mónica e o desejo

Ingmar Bergman: Guia breve para totós

São 23 filmes. Parece muito, mas é menos de metade da obra de Ingmar Bergman que o Espaço Nimas exibe entre 17 de Agosto e 13 de Setembro. E ainda assim é muito. Aqui vai um breve guia para os totós não confundirem Ingmar com Ingrid

Escrito por
Rui Monteiro
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Bergman é daqueles cineastas de quem toda a gente ouviu falar. Poucos, porém, sabem do que se fala, para lá da impressão de ser tudo muito lento, complicado, e em sueco. Esta mão-cheia de filmes não desmentirá tal. Mas mostra como apesar da densidade e do simbolismo Bergman é um artista especial. Vamos então por sete partes.

Sete filmes essenciais de Bergman

Mónica e o Desejo (1953)

Começar pelo princípio é a melhor introdução, até porque em Mónica e o Desejo fica-se logo a saber ao que vem o cineasta sueco. Com esta história em que Harry (Lars Ekborg) conhece a irrequieta Mónica (Harriet Andersson), caem apaixonados, são contrariados, fogem para passar o Verão numa ilha isolada; até que ela fica grávida, decidem casar, ele torna-se pai e marido muito responsável, mas ela continua apenas a querer boa vida e divertimento. Com esta história, escrevia, o realizador estabeleceu a base de praticamente todo o seu cinema, melhor, abalou o puritanismo ao exibir tão descaradamente um amor fora das normas.

24 Agosto/ 2 Setembro

Morangos Silvestres (1957)

Aqui, Bergman, como fará muitas vezes, usa a viagem como um pretexto para percorrer a alma e as suas contradições. Explorando pelo expressionismo o confronto interior e descoberta de um velho professor (Victor Sjöström), a caminho de receber um prémio, de como o vazio dominou a sua existência, o realizador, andando para trás e para a frente com o tempo, traça um cruel retrato de uma burguesia tão ciente da sua importância como afastada da realidade.

27 Agosto/ 6 Setembro

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A Sonata de Outono (1978)

As relações familiares são, mais ou menos, o pão-nosso de cada dia da cinematografia bergmaniana. Neste filme, o pretexto é a visita de uma mãe, Charlotte (Ingrid Bergman) pianista mundialmente conhecida, à sua filha, Eva (Liv Ullmann), cuja educação sempre negligenciou, por isso há muito afastada. Aos poucos, como de costume, a tensão entre as duas vai crescendo, em silêncios, meias-palavras e olhares, até que numa certa conversa o verniz estala e a modos que se assiste a um ajuste de contas particularmente catártico.

10 Setembro

Fanny e Alexander (1982)

Esta película em que uma família tenta proteger suas crianças de um bizarro padrasto, é provavelmente a forma mais pedagógica de prosseguir a introdução à obra cinematográfica de Ingmar Bergman antes de, voltando umas décadas atrás, o aprendiz de bergmanices estar pronto para – como se costuma dizer – enfrentar o núcleo duro da coisa sem dor. Feito para televisão, com Pernilla Allwin e Bertil Guve, a história é um cacharolete de relações sentimentais onde a esposa convive com a amante do marido, ou o tio dorme com a criada, rapariga adorada por todos, incluindo a mulher encornada. E tudo correria muito bem, não fora o pai dos miúdos morrer e a decisão da mãe de casar com um religioso que vai pôr a casa de pantanas.

20 Agosto/ 13 Setembro

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A Máscara (1966)

Por esta altura, o candidato a bergmaniano encartado já sabe mais ou menos ao que anda, pelo que chegou a altura de um breve exame. E nada melhor do que enfrentar já a obra-prima (embora nisto das obras-primas de Bergman cada cinéfilo tenha a sua), o supra-sumo do cinema do realizador na forma do emocionalmente poderoso e até um pouco doentio, embora comovente, relacionamento de uma doente (Liv Ullmann), actriz que apesar da óptima saúde se recusa a falar, com a sua diligente enfermeira, e aparentemente perita em empatia, interpretada por Bibi Andersson.

25 Agosto/ 11 Setembro

Lágrimas e Suspiros (1972)

Passado este exame, com a certeza de que a compreensão da narrativa é muito sobrevalorizada e que a relação emocional com o filme é, ela sim, determinante, o aspirante a bergmaniano está por sua conta até abordar a obra final e sua definitiva prova de aptidão. Assim, antes de completar esta educação básica, sugere-se, por exemplo, até para dar descanso aos neurónios, seguir o caminho de explorar, através das interpretações de Harriet Andersson, Liv Ullmann e Kari Sylwana, a tortura de duas irmãs cuidando de uma moribunda neste filme que ganhou um Óscar (Melhor Fotografia para Sven Nykvist) e, embora debalde, um ror de nomeações.

26 Agosto

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O Sétimo Selo (1957)

É preciso voltar umas décadas atrás para encontrar a prova que tem obrigatoriamente de ser superada antes do aprendiz começar a exibir os seus conhecimentos em público, sabendo que pode contrapor a qualquer argumento baseado em obra obscura (A Fonte da Virgem, ou Luz de Inverno, por exemplo, que serão exibidos, respectivamente, a 21 de Agosto e 1 de Setembro) com o que é a síntese do pensamento artístico de Ingmar Bergman. O Sétimo Selo, passados todos estes anos, com a sua singela demanda de um cavaleiro (Max von Sydow) por respostas sobre a vida e a morte e a existência de Deus, que encontra o seu zénite na partida de xadrez com a Morte (Bengt Ekerot), é o lugar onde se alinham grande parte das preocupações estéticas e espirituais que dominam toda a obra de Bergman nas suas múltiplas variações. A chave, por assim dizer, de uma obra tão atraente como, muitas vezes, fechada no universo criado pelo cineasta, e também a razão da atracção de tantos realizadores (Woody Allen incluído) por esta universo onde, como no mundo, co-existem beleza e crueldade.

3 Setembro

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