
Oito maus filmes portugueses
A cinematografia nacional tem muitos maus filmes, mas há alguns que passam das marcas. Juntámos oito deles nesta lista
Os anglo-saxónicos chamam-lhes “turkeys”, os franceses apelidaram-nos de “nanars”. São os grandes maus filmes, tão maus que ganharam estatuto de culto perverso, títulos gloriosamente falhados. Um recente exemplo em Portugal foi Linhas de Sangue, de Sérgio Graciano e Manuel Pureza, mas há mais. E, curiosamente, são quase todos comédias, um género em que o cinema nacional outrora foi exímio, tendo perdido o dom entretanto. Assinadas por nomes como Constantino Esteves, Henrique Campos, Luís Galvão Teles ou Artur Semedo, antes e após o 25 de Abril, algumas destas fitas não têm imagens disponíveis para reproduzir. Mas não é por isso que não continuam a ser tão más que até fazem doer.
Recomendado: 25 filmes portugueses obrigatórios
Filmes portugueses clamorosamente maus
1. ‘Sarilhos de Fraldas’, de Constantino Esteves (1967)

António Calvário e Madalena Iglésias, à altura o “rei” e a “rainha” da rádio e da canção, foram emparelhados por Constantino Esteves, autor de vários horrores da cinematografia portuguesa, nesta comédia musical e romântica em que a personagem de Calvário entra num carro igual ao seu, onde está um bebé, e parte sem reparar nele. O filme representou uma tentativa de renovação técnica (rodado em formato panorâmico) e narrativa da comédia portuguesa, mas apesar disso, e da presença de actores como António Silva, Nicolau Breyner e Mário Pereira, é uma cerrada, berrante e intragável piroseira, com números musicais ao (pior) gosto da época. Talvez por isso tenha sido um enorme sucesso de bilheteira.


2. ‘O Ladrão de Quem se Fala’, de Henrique Campos (1969)
Henrique Campos tem alguns títulos solidamente maus na sua filmografia, como A Luz Vem do Alto ou Os Touros de Mary Foster. Mas esta comédia, com Camilo de Oliveira então no auge da sua popularidade no teatro de revista, sobe a parada. Camilo tem um duplo papel, o de um pascácio chamado Tonecas e o do seu sósia, o temível criminoso Muleta Branca, e quanto mais se esforça para fazer rir, mais a fita se revela totalmente incapaz de o conseguir. Camilo de Oliveira nunca mais voltou a fazer cinema depois de O Ladrão de Quem se Fala.


3. ‘O Explicador de Matemática’, de Courinha Ramos (1972)
A primeira longa-metragem do produtor e documentarista Courinha Ramos, rodada em Lourenço Marques e interpretada por actores e actrizes locais, é uma comédia embaraçosamente inepta sobre um vigarista que finge ser explicador para se safar na vida. A fita tem pretensões a “erótica”, aproveitando o clima mais liberal que sempre se viveu em Moçambique e a chamada “abertura marcelista” da altura, mas é apenas ridícula. Só se estreou em Portugal pouco depois do 25 de Abril.
4. ‘A Vida é Bela…!?’, de Luís Galvão Teles (1982)

5. ‘Os Abismos da Meia-Noite’, de António de Macedo (1984)

Honra lhe seja feita, o realizador de Domingo à Tarde sempre tentou remar contra a corrente do cinema português e fazer filmes de género, em especial fantástico e de ficção científica. Este Os Abismos da Meia-Noite é uma dessas tentativas, embora as sequências fantásticas pareçam o cruzamento de um quadro de uma má revista do Parque Mayer com um pesadelo induzido por cogumelos alucinogéneos. Baptista Fernandes interpreta um sujeito que dé pelo nome de Magister e que aguarda que a Suprema Gota do Universo pingue, Helena Isabel tem uma cena de nudez que deu então que falar e os efeitos especiais, só vistos.
6. ‘O Querido Lilás’, de Artur Semedo (1989)

7. ‘O Pátio das Cantigas’, de Leonel Vieira (2015)

Uma versão pimba modernizada, uma contrafacção grosseira da comédia clássica de 1942 assinada por Ribeirinho. O ambiente é grunho a tender para o rasca, o humor é chunga, o elenco mistura bons actores a fazerem tristes figuras (Miguel Guilherme a tentar imitar António Silva é deprimente) com engraçadinhos do riso profissionais a julgar que conseguem ser confundidos com actores e o filme parece televisão (mal) maquilhada para tentar passar por cinema. Se o mau cinema feito em Lisboa pagasse coimas municipais, O Pátio das Cantigas batia o recorde das ditas.
8. 'Linhas de Sangue' (2019)

É supostamente uma comédia de acção satírica trash, mas na realidade este filme de Sérgio Graciano e Manuel Pureza poderia ser descrito como um clone azeiteiro de um decalque trapalhão de uma fita de Quentin Tarantino. Escrito às três pancadas e realizado na mais completa desordem, órfão de estrutura, de nexo e de piada, desarticulado, disforme e grosseiro no gesto e no discurso, Linhas de Sangue nem sequer sabe quando e como acabar, e está repleto de actores e de "famosos" que andam a apanhar bonés porque não têm personagens para interpretar.
Mais cinema português
25 filmes portugueses obrigatórios
Nas várias fases do cinema português, há filmes e realizadores de se lhes tirar o chapéu, alguns, e mais do que uma vez, reconhecidos internacionalmente. Há nomes que se repetem, claro, porque como o resto na vida há realizadores melhores do que outros. Como estes 25 filmes portugueses.
Entrevista a João Canijo: “A peregrinação a Fátima a pé é uma das coisas mais portuguesas que há”
João Canijo gosta dos seus filmes bem chegadinhos ao real. Em 'Fátima', o tema é uma peregrinação de 11 mulheres, sempre a andar desde Trás-os-Montes até ao santuário. Falámos com o realizador sobre esta odisseia na estrada (e na fé).
Entrevista a João Botelho: "Este é talvez o meu filme mais colectivo"
Num país sem indústria cinematográfica, João Botelho e a sua equipa adaptaram-se às circunstâncias, improvisaram, fizeram das tripas coração e puseram de pé a versão possível da grande aventura de Fernão Mendes Pinto no tempo dos Descobrimentos.