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The Tale of the Princess Kaguya
O Conto da Princesa Kaguya

Os filmes indispensáveis de Isao Takahata

O mestre da animação japonês, e um dos fundadores do Studio Ghibli, morreu, com 82 anos. Recordamo-lo através de cinco filmes inesquecíveis.

Escrito por
Eurico de Barros
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O Túmulo dos Pirilampos e O Conto da Princesa Kaguya, a sua última obra, são dois dos vários clássicos da animação que Isao Takahata, amigo, colaborador e parceiro de Hayao Miyazaki, e também criador de Marco e Conan, o Rapaz do Futuro na televisão, deixou para a posteridade. 

Os filmes indispensáveis de Isao Takahata

‘O Túmulo dos Pirilampos’ (1988)

Baseado numa obra parcialmente autobiográfica do escritor Akiyuki Nosaka, e também em recordações de juventude do próprio Isao Takahata, O Túmulo dos Pirilampos foi o seu filme de estreia como realizador no Studio Ghibli. É a história de um adolescente e da sua irmã mais nova, que tentam sobreviver no Japão devastado pelos bombardeamentos americanos em finais da II Guerra Mundial. Takahata mostra aqui que o cinema de animação pode tratar temas sérios com realismo, dramatismo e sem fazer concessões ao sentimentalismo e às soluções narrativas confortáveis, e inclusivamente ter um impacto emocional superior ao de uma fita de imagem real. É precisamente o que sucede em O Túmulo dos Pirilampos, um dos filmes mais aflitivos e dilacerantes já feitos sobre as consequências da guerra nas populações civis (e que o realizador sempre insistiu não ter uma mensagem “antiguerra”, mas sim “a favor das crianças e da juventude”) e que, mesmo assim, Takahata consegue envolver numa espiritualidade delicada e caracteristicamente nipónica.

‘Memórias de Ontem’ (1991)

Takahata manteve o registo realista, embora sem a carga dolorosamente trágica de O Túmulo dos Pirilampos, na longa-metragem animada que realizou a seguir a esta, embora Memórias de Ontem não seja um filme que tenha os mais jovens como seu público ideal. Tal como O Túmulo dos Pirilampos, esta podia também muito bem ser uma fita de imagem real, por ter uma história que se desenrola em redor de temas como as recordações da juventude e os sonhos que nunca se realizaram, as decepções sentimentais, as escolhas que se fazem ao chegar à idade adulta e como elas podem definir a nossa vida futura, e a situação e o papel das mulheres na sociedade japonesa. Passado nos anos 80, Memórias de Ontem tem como protagonista Taeko, uma rapariga de 27 anos, solteira, que sempre viveu em Tóquio e, no Verão, vai visitar a família no campo e ajudar nas colheitas. O filme adapta a manga homónima de Hotaru Okamoto e Yuko Tone.

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‘Pom Poko’ (1994)

Uma comunidade de guaxinins está ameaçada por um grande projecto urbano que vai ser construído nas terras em que vive, e os seus membros decidem levar a cabo uma série de acções contra a presença dos humanos. Estes guaxinins de Takahata, os chamados tanuki, remetem para o folclore do Japão e para os contos tradicionais deste país. Tanto podem ter o aspecto de animais “reais”, como serem antropomórficos, ao estilo das personagem criadas por Walt Disney, e usar roupas, assemelhar-se a figuras típicas dos desenhos animados e da banda desenhada, ou mesmo mudar de forma e criar ilusões colectivas, já que possuem poderes mágicos. O realizador não se limita a fazer um filme de mero entretenimento, deixando uma mensagem de aviso sobre os efeitos do progresso no meio ambiente e sobretudo na fauna, que decorre naturalmente da história, em vez de ser metida à força. (E a conclusão da história não é lá muito optimista a este respeito.)

‘A Família Yamada’ (1999)

Isao Takahata voltou a adaptar uma manga (de Hisaichi Ishii) neste filme em que a animação muda de personalidade em relação aos anteriores. O realizador quis que A Família Yamada tivesse um estilo muito mais humorístico e próximo do grafismo da manga de Ishii, e que fosse semelhante ao das aguarelas, apesar de este ter sido o primeiro filme do Studio Ghibli totalmente digital. Assim, Takahata, de forma brilhante, serviu-se da tecnologia da animação por computador para “simular” um filme todo ele executado com a técnica tradicional da aguarela, e animado de forma clássica. Os Yamada são uma típica família japonesa contemporânea, mas as suas peripécias quotidianas acabam por lhe conferir uma dimensão universal. Curiosamente, e talvez por se afastar muito da estética habitual do realizador e dos modelos narrativos a que o público o associava, A Família Yamada foi uma das raras decepções comerciais de Takahata, e do Studio Ghibli, no Japão.

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‘O Conto da Princesa Kaguya’ (2013)

A derradeira longa-metragem animada de Isaho Takahata é uma das suas obras-primas, um dos pontos mais altos da história do Studio Ghibli e um marco do cinema de animação. Baseado num conto tradicional do Japão datado do século X, sobre uma menina que é enviada ainda bebé pelos deuses para a Terra, e depois se torna uma bela e prendada princesa, o filme foi feito por processos tradicionais, tendo Takahata recorrido ao carvão, ao pastel e à aguarela para lhe dar uma identidade visual de uma imensa delicadeza e subtileza na representação dos cenários, dos ambientes e das personagens, remetendo para a mais ancestral arte nipónica. O Conto da Princesa Kaguya fala de temas intemporais, como a felicidade intensa mas finita da juventude ou a ilusão das posses materiais. E é um prodígio de amor à beleza, refinamento estético, esplendor cinematográfico, sentido do encantamento, poesia visual, narrativa e dos sentimentos. Com uma conclusão profundamente triste, já que Takahata quis respeitar o final da história original.

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