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©SHFPComboio Nocturno para Lisboa, com Jeremy Irons

Lisboa no cinema: 14 filmes estrangeiros realizados em Portugal

Lisboa tem uma bela relação com as câmaras. E estes são alguns dos melhores filmes estrangeiros realizados em Lisboa

Escrito por
Eurico de Barros
e
Rui Monteiro
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Ainda o turismo não tinha descoberto Lisboa, pelo menos como agora, e já o cinema e os seus realizadores olhavam para a cidade como cenário para filmes. A nossa capital fica tão bem no ecrã que está em quase 20 mil filmes, boa parte deles estrangeiros. A começar em Os Amantes do Tejo (1955), de Henri Verneuil, terminando no Comboio Nocturno para Lisboa (2013), realizado por Bille August e protagonizado por Jeremy Irons, e passando 007 – Ao Serviço de Sua Majestade, realizado por Peter R. Hunt em 1969, estes são alguns dos mais icónicos filmes estrangeiros realizados em Lisboa.

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Lisboa no cinema: 14 filmes estrangeiros realizados em Portugal

'Os Amantes do Tejo', de Henri Verneuil (1955)

Apesar de se passar em Lisboa e de fazer muito bom uso cinematográfico da cidade, este filme de Henri Verneuil, baseado num livro de Joseph Kessel, praticamente não tem personagens portuguesas, e, tirando Amália Rodrigues, já então uma vedeta internacional, os poucos actores nacionais que nele aparecem, caso de Artur Ramos, fazem-no em papéis muito secundários. Daniel Gélin interpreta um taxista francês que se veio instalar na capital portuguesa, depois de ter sido julgado no seu país de origem pelo assassinato da sua mulher adúltera. Françoise Arnoul, Trevor Howard e Marcel Dalio também estão no elenco de Os Amantes do Tejo, onde se pode ver com muito detalhe como era Lisboa em meados da década de 50.

'Lisboa', de Ray Milland (1956)

A capital portuguesa tem honras de título neste thriller de espionagem da Guerra Fria realizado e interpretado por Ray Milland. Por um pouco que não tivemos cá Nicholas Ray e Joan Crawford, pois foram as primeiras escolhas para realizar e interpretar o principal papel feminino da fita, mas acabaram por ir fazer Johnny Guitar, tendo sido substituídos por Milland e por Maureen O’Hara. Esta recordou nas suas memórias que, além de ter gostado muito da sua personagem, ficou com as melhores recordações de Lisboa. A rodagem da fita passou pelos estúdios da Tobis e por muitos daqueles que são ainda hoje marcos turísticos obrigatórios da capital, como a Torre de Belém, a Baixa ou o Castelo de São Jorge.

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'Eddie em Lisboa', de Pierre Montazel (1960)

Poucos se recordarão disso, mas o popularíssimo Eddie Constantine rodou em Lisboa um dos muitos filmes policiais de acção da sua longa carreira, embora neste não personifique o célebre detective particular Lemmy Caution, que se tornou como que na sua segunda pele. Eddie em Lisboa é uma co-produção franco-italiana, tão indistinta que dela não restam o trailer ou sequências soltas. Constantine interpreta John Lewis, um agente do FBI que se desloca à capital portuguesa para tentar localizar um outro agente desaparecido, de posse de informações muito importantes, envolvendo-se com um grupo de criminosos. Entre outras zonas de Lisboa, surgem no filme as Avenidas Novas e os bairros mais populares.

'Angústia', de François Truffaut (1964)

Foi com o apoio técnico das Produções Cunha Telles, do realizador e produtor António da Cunha Telles, que François Truffaut veio a Lisboa em 1963 rodar algumas sequências deste Angústia, um drama de adultério. Jean Desailly interpreta um escritor, director de uma revista literária francesa e especialista em Balzac, casado e pai de uma filha, que se envolve com uma hospedeira de bordo (Françoise Dorléac, a infortunada irmã de Catherine Deneuve), quando vem à capital portuguesa dar uma conferência. A maior parte de Angústia foi filmada em França, mas Lisboa ficou com a medalha de ter sido pano de fundo para uma fita assinada por um realizador da estatura de Truffaut.

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'Jerry, Pescador de Águas Turvas', de George Marshall (1969)

Jerry Lewis já tinha estado em Lisboa um ano antes, a filmar algumas sequências de Jerry em Londres e voltou para rodar uma parte desta comédia em que interpreta um chefe de família a quem o médico, e seu melhor amigo, revela que sofre de uma doença terminal e tem pouco tempo de vida, devendo por isso aproveitar ao máximo o pouco que lhe resta, divertindo-se e indo correr mundo. A rodagem em Portugal decorreu não só em Lisboa como também em Loures e em Sesimbra. Mas Jerry, Pescador de Águas Turvas foi vaiado quando passou cá, porque os portugueses aparecem a falar espanhol e “portunhol”.

'007 – Ao Serviço de Sua Majestade', de Peter Hunt (1969)

Este foi o único filme de James Bond a ser rodado parcialmente em Portugal. Infelizmente, logo calhou ser interpretado por George Lazenby, o pior 007 da história, que ainda por cima deixou por cá fama de muito antipático. As sequências portuguesas de 007 – Ao Serviço de Sua Majestade foram filmadas em Lisboa, no Estoril, em Sesimbra, em Palmela e no Guincho, e referem-se essencialmente ao encontro de James Bond com a condessa Tracy di Vicenzo (Diana Rigg), ao seu romance, casamento e ao assassínio desta pelo homens do vilão Blofeld. Como não podia deixar de ser, Bond hospeda-se no Hotel Palácio, por onde também passou o seu criador, Ian Fleming, durante a II Guerra Mundial.

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'Los Mil Ojos Del Asesino', de Juan Bosch (1973)

Um filme policial hispano-italano com o canastrão Antony Steffen no papel de um polícia inglês que se desloca a Lisboa para investigar a morte de um colega, Los Mil Ojos Del Asesino não teria o menor interesse, não fora o ter sido rodado na capital pouco antes do 25 de Abril, mostrando-nos como ali se vivia nesses primeiros anos de uma década de 70 que viria a ser histórica para os portugueses. O filme começa à noite num Parque Mayer então pujante, com várias revistas em cartaz e onde as pessoas se acotovelam para comprar bilhetes e irem aos restaurantes, e depois o enredo leva-o a muitos e variados locais da cidade. Curiosamente, a fita nunca se estreou em Portugal.

'O Estado das Coisas', de Wim Wenders (1982)

O alemão Wim Wenders é um dos realizadores estrangeiros que mais vezes filmou em Portugal. E o melhor filme que cá fez é sem dúvida O Estado das Coisas. É uma fita sobre cinema, no qual uma equipa que está no nosso país a rodar um filme de ficção científica de série B fica sem dinheiro e sem produtor, porque este desaparece. Os trabalhos são interrompidos, enquanto o realizador (Patrick Bauchau) vai à procura do produtor (interpretado pelo realizador americano Sam Fuller). As rodagens decorrem na zona da Praia das Maçãs e a Lisboa desse início dos anos 80, em especial a zona do Cais do Sodré, aparece com destaque. O hoje desaparecido Texas Bar foi um dos sítios eleitos por Wenders para filmar.

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'A Cidade Branca', de Alain Tanner (1983)

Quem já ouviu falar na luz da cidade branca (uma expressão que alguns líricos gostam de usar), mesmo sem saber, ouviu-a a propósito do filme de Alain Tanner. Apaixonado pela luz e pelo casario, o realizador suíço usou o lado terceiro-mundista da cidade para filmar o amor amalucado entre as personagens interpretadas por Bruno Ganz e Teresa Madruga. A crítica na generalidade gostou. O público lá foi em número razoável. Da história do marinheiro que abandona o navio e, no meio do tédio, se apaixona por uma modesta criada, disso, já ninguém se lembra. Mas ficou a expressão “cidade branca”, lá isso ficou.

'Rua Sem Regresso', de Sam Fuller (1989)

A última longa-metragem realizada pelo carismático e truculento autor de Mãos Perigosas, Quarenta Cavaleiros e O Sargento da Força Um foi inteiramente filmada em Lisboa no final dos anos 80, embora a cidade nunca seja referida como sendo a capital portuguesa. Ela serve apenas como cenário urbano utilitário e “anónimo” para esta história policial de um cantor de rock (Keith Carradine) cuja carreira foi arruinada por causa do amor de uma mulher e se tornou num vagabundo. Sérgio Godinho e Filipe Ferrer são dois dos nomes conhecidos que surgem no elenco de Rua Sem Regresso, uma produção franco-portuguesa.

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'A Casa da Rússia', de Fred Schepisi (1990)

Quem passou pelo Príncipe Real nos dias em que a equipa de A Casa da Rússia ali filmou dificilmente reconheceria Lisboa. No entanto, a capital, vista de maneira uma bocadinho turística, com tantos monumentos à vista, é cenário essencial do trama do filme, pois aqui se refugia a figura central, o editor inglês Barney Blair, isto é, Sean Connery a fazer de espião reformado. Inspirado na obra homónima de John Le Carré, com a Guerra Fria por pano de fundo e uns documentos secretos em jogo, o filme foi realizado por Fred Schepisi e, ao lado de Connery, encontra-se Michelle Pfeiffer.

'A Nona Porta', de Roman Polanski (1999)

Agora é mais Sintra. Até porque o magnífico Éden de Byron é cenário bastante adequado a uma história que mete uma sociedade secreta e que Roman Polanski foi buscar a Clube Dumas, o romance de Arturo Pérez-Reverte, onde o escritor espanhol criou um bando de obcecados por certos clássicos literários com uma especial predilecção pela obra de Alexandre Dumas. É por isto que Johnny Depp, quer dizer, a sua personagem, pode ser visto no Hotel Central, pela Estrada da Pena afora, ou a passear-se pelos salões do Chalet Biester.

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'Pai e Filho', de Alexander Sokurov (2003)

O realizador de Moloch, A Arca Russa e Fausto rodou parte desta fita em São Petersburgo e a outra parte em Lisboa, que surge quase irreconhecível por causa da ambiência visual em que Sokurov a envolve. O filme conta a história de um pai e de um filho que vivem no mesmo apartamento e têm uma relação muito próxima e muito cúmplice desde a morte da mãe, que deixou um vazio enorme na família. O pai é um veterano do exército e o filho está a estudar num colégio militar, para seguir nas suas pisadas. Tem uma namorada, que sente ciúmes da relação que existe entre ambos. Também aqui, Lisboa é menos ela do que um pano de fundo citadino ora realista, ora de tintas irreais.

'Comboio Nocturno para Lisboa', de Bille August (2013)

Bille August já tinha filmado em Lisboa. E passadas quase décadas o realizador regressou à cidade e, por conta de professor obcecado com um livro sobre a resistência ao fascismo, filmou fartamente a Igreja da Cartuxa, em Caxias, o Cais de Belém e a Estação de Santa Apolónia, o Cemitério dos Prazeres ou um bar, na Bica, para o caso feito mercearia, enquanto se perde entre ruelas e miradouros e jardins como um turista fascinado. Jeremy Irons é o professor e protagonista e centro de tudo, mas actores portugueses (Beatriz Batarda, Nicolau Breyner, Marco d’Almeida) não deixam de ter papéis relevantes.

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