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Irreverível
©DRIrreversível de Gaspar Noé

Sete filmes mais controversos do que a controvérsia

Há filmes que deixam marca pelo choque que as suas imagens provocam. Outros pelo que revelam e representam sobre o espírito humano. Outros ainda pelas implicações da narrativa. Serem bons ou não é o que menos importa, pois a controvérsia não os larga

Escrito por
Rui Monteiro
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A controvérsia é sempre relativa e a polémica quase sempre saudável, que um mundo de opiniões consensuais não tem graça nem avança, pois é da discussão que nasce a luz. Mas há discussões que nunca acabam. Estes sete filmes fazem parte desse grupo de obras capazes de suscitar discussão acalorada. Sempre.

Sete filmes mais controversos que a controvérsia

Um Cão Andaluz (1929)

Naquele tempo distante do surrealismo, Luis Buñuel juntou-se ao pintor Salvador Dalí. Ambos escreveram o argumento, Buñuel dirigiu e Pierre Batcheff e Simone Mareuil interpretaram esta curta-metragem que permanece um desafio à interpretação e um choque para os sentidos. O que são estas imagens tenuemente ligadas umas às outras pela presença dos actores: sonho, talvez, ou revelações avulsas do subconsciente? Enfim, realidade não é certamente…

Saló ou 120 Dias de Sodoma (1975)

Dizer: filme de Pier Paolo Pasolini é praticamente o mesmo que dizer controvérsia. Mas, como de costume, há sempre uns mais polémicos do que outros. E Saló ou 120 Dias de Sodoma, a partir da história real de um bando de fascistas italianos refugiados em Saló, em 1944 ainda ocupada pelo exército nazi quando já o resto da Itália era varrida por soldados dos Aliados e pela resistência popular, é um deles. No filme, os fascistas raptam 16 raparigas que aprisionam num palácio, as quais, entre leituras de Sade e de Dante acompanhadas ao piano, são sujeitas às mais variadas experiências e usadas como fonte de prazer sexual dado ao sadismo em imagens de grande crueza.

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Holocausto Canibal (1980)

Muito antes de O Projecto Blair Witch, Ruggero Deodato realizou um filme como um exercício de choque, confrontando os espectadores com as imagens, supostamente reais, recolhidas por uma expedição que se embrenhou na selva e nunca mais voltou. Meses passados, é o “famoso” antropólogo interpretado pelo muito medíocre Robert Kerman quem comanda a expedição de busca e recupera as latas de filme que, depois de revelado e impresso, mostram, em cenário de apocalipse civilizacional, as atribulações dos desaparecidos nas mãos de uma tribo de canibais.

Irreversível (2002)

De trás para a frente é como Gaspar Noé conta esta história de vingança em que dois amigos de sangue fervente em desespero, Marcus (Vincent Cassel) e Pierre (Albert Dupontel), varrem os cantos mais esconsos da noite parisiense para tratarem da saúde ao estupor que violou e espancou, numa passagem subterrânea, numa das cenas mais violentas alguma vez filmada, Alex (Monica Bellucci), namorada de Marcus e ex de Pierre.

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Inland Empire (2006)

Desta vez não é bem de violência que se fala, a não ser, claro, aquela que David Lynch, na sua última longa-metragem, inflige às sinapses dos espectadores que se atrevem a tentar dar um sentido a esta história. Quem está a chegar ao realizador através dos episódios da nova série de Twin Peaks e a sentir-se, digamos, um pouco incomodado enquanto procura compreender o que aconteceu e onde é que aquilo quer chegar, bem ganha em ver este filme. Pois, aqui, nesta história em que uma actriz, interpretada por Laura Dern, se prepara para o seu primeiro papel importante, cai de amores pelo co-protagonista e repara que a sua vida está a emular o argumento que vai filmar; aqui, Lynch mostrou como, para ele, o cinema (ou a televisão) se tornou um exercício estético-sensorial em que a compreensão é sobreavaliada e o realismo desprezado como um estorvo.

Sinédoque, Nova Iorque (2008)

O aviso está na primeira cena. É preciso atenção, e quem a tiver reparará que, entre acordar e chegar à mesa do pequeno-almoço, no andar debaixo, Caden Cotard (Philip Seymour Hoffman) leva quase dois meses. Mais adiante o encenador construirá um mundo, por assim dizer. Um universo, uma vida em que as bolandas do tempo não são pormenor de somenos, mas, como uma sinédoque, servem a Charlie Kaufman (na sua passagem de argumentista a realizador) para tomar a parte pelo todo e, a partir daí, encenar a metáfora, ou o sonho, ou talvez o pesadelo, ou se calhar aquele momento antes da morte em que a alma, banhada em farta luz, por não saber bem o que fazer, divaga, recordando.

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Anticristo (2009)

Por esta altura, quem conhecia alguma coisinha do trabalho do realizador dinamarquês Lars von Trier não ficou nada espantado com o que se viu em Anticristo. O que não quer dizer que não tenha ficado chocado. Aliás, a violência com que o realizador atira o casal, interpretado por Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg, um contra outro, ambos devastados pela dor da perda do único filho, como que os arrasta para uma tenebrosa viagem ao interior da culpa em que os pesadelos se tornam uma variedade de tortura psicológica, sintetizados numa cena particular (versão mais, muito mais radical de uma chocantíssima cena de Um Cão Andaluz) em que Charlotte Gainsbourg usa uma lâmina para, por assim dizer, cortar o mal pela raiz.

Outros filmes, outros temas

Cinco filmes sobre magia
  • Filmes

Como que por magia, os espectáculos dedicados à arte do ilusionismo desapareceram da agenda no Dia Mundial do Mágico, assinalado esta terça-feira. Os sócios mágicos da Associação Portuguesa de Ilusionismo vão fazer truques à porta fechada, mas nós damos-lhe cinco filmes sobre magia para ver enroscado no sofá (ou com a capa de mágico às costas e o baralho de cartas na mão).   Recomendado: Cinco perguntas a Luís de Matos.

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Filmar a vida dos músicos é vulgar. Fazê-lo bem (há um longo rol de películas medíocres) é outra conversa. Com as injustiças próprias de uma lista, esta orienta-se pela qualidade cinematográfica propriamente dita, isto é, por esse raro saber de equilibrar a obra e a vida de um músico com a sétima arte. 

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  • Filmes

Há os bons, os maus e os vilões nesta lista de sete filmes focados na vida política e pessoal de figuras históricas. Umas por boas, outras por más razões. Todas, porém, sinais de que a política sempre foi território aberto a, enfim, tudo. E isto ainda Donald Trump nem tinha sido eleito.   Quinta-feira estreia O Jovem Karl Marx, sobre o revolucionário ainda pouco explorado por Hollywood. Saiba tudo sobre o novo filme de Raoul Peck na revista que chega às bancas na próxima quarta-feira, dia 19. 

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