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Arte, Beatrice Leanza, Directora do Maat
©Marlene VieiraBeatrice Leanza

A segunda vida do MAAT

Nos próximos meses, Beatrice Leanza põe um museu e uma cidade a conversar. Fomos saber tudo junto da nova directora do MAAT

Escrito por
Maria Monteiro
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Chegou a Lisboa em Setembro, depois de quase 20 anos dedicados à arte contemporânea, design e arquitectura na China. Beatrice Leanza, sinóloga, curadora e crítica de arte italiana, inaugurou a 10 de Junho a sua programação no Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT), que fechou para obras em Dezembro e viu a reabertura adiada pela pandemia. O MAAT Mode 2020 – que até Janeiro tem como pano de fundo uma intervenção do estúdio de arquitectura SO-IL – é um programa de concertos, conversas, screenings e workshops que atravessa arte, arquitectura, design, tecnologia e ecologia. A nova directora apresenta um museu pautado pela multidisciplinaridade e horizontalidade de relações entre artistas e visitantes, um organismo vivo em constante metamorfose. Eis o que podemos esperar dele.

Chegou ao MAAT depois de 17 anos na China. O que a atraiu de volta ao Ocidente
Gerir um museu é uma oportunidade fantástica, não se diz que não (risos). Passei a maior parte da minha vida adulta, pessoal e profissional, na Ásia. Muito do meu trabalho envolveu projectos relacionados com os desenvolvimentos extraordinários que a China sofreu durante esse período. Esta foi uma oportunidade de trazer metodologias e discursos da prática contemporânea que fui acumulando lá.

Em Portugal, a cena artística chinesa é quase desconhecida. Como a descreveria
Encontramos os mesmos players: casas de leilões, galerias blue chip [focadas nas obras de artistas consagrados, cujo valor monetário se mantém ou aumenta com o tempo], espaços de arte independentes, bienais... A diferença é que, em 20 anos, a China se tornou num epicentro do mercado de arte. Inicialmente, os investidores e coleccionadores compravam, sobretudo, arte local. Nos anos 70, a política de abertura da China [às economias exteriores] instaurada por Deng Xiaoping fez com que artistas que trabalhavam há décadas entrassem no circuito de arte internacional. Historicamente, é nesse período que se inicia a arte contemporânea chinesa.

Em entrevista ao Público, disse que ainda predomina uma perspectiva “ocidentocêntrica” nos museus. Como procura integrar Oriente e Ocidente?
Quero contrariar esse pensamento dicotómico e essa forma dialética de entender o progresso. No MAAT, não quero construir uma estratégia [assente na diferença] cultural, mas torná-lo num catalisador através do qual as diferentes vozes de arquitectos, artistas, designers, curadores, escritores e criativos se podem encontrar e contribuir de forma equitativa para a conversa, a partir das suas particularidades.

Vê o museu como um espaço de diálogo.
Acho que as instituições culturais devem participar activamente na discussão histórica e social e tentar impulsionar a criação de um tecido conjunto. É pertinente fazê-lo não só devido ao que enfrentamos, mas também para instigar a ideia do museu como unidade extractiva, passiva e de edutainment [entretenimento educativo]. É importante oferecer experiências diferentes ao público e, ao mesmo tempo, captar novos parceiros e colaboradores, que podem ser indivíduos ou instituições. De arte ou não.

O MAAT Mode, o ciclo que abre a sua programação, conta com criativos e especialistas de várias áreas. Que importância tem esta diversidade no novo MAAT?
Decidimos usar este tempo [seis meses] para mudar, literalmente, a forma como as pessoas estão no museu. Fizemo-lo com a ajuda do ateliê nova-iorquino SO-IL, que criou um edifício dentro do edifício, com vários palcos para acolher conteúdos e exposições. O museu é físico, mas também tem um aspecto duracional, com o nosso programa público. Podemos dar de caras com um evento ou uma conversa, como se andássemos na rua, mas a ideia é fazer um esforço para interagir com as coisas. Normalmente somos encorajados a consumir arte de forma passiva. Eu não vou acabar com as exposições convencionais (risos), mas este programa específico pretende atirar-nos para uma curva de aprendizagem com os outros.

A programação nos museus faz-se com muita antecedência. Como é que a instabilidade trazida pela pandemia veio alterar essa dinâmica?
Esta pode ser uma lição para nós na forma como operamos os nossos modelos de negócio. Por um lado, temos de perceber como é que o museu pode ter um contributo relevante na digitalização. O online interessa-me como extensão e não apenas depósito de conteúdos. Por outro, há que rever os modelos colaborativos das instituições. A montagem de exposições é uma indústria muito poluente, que envolve muitas viagens. Pode haver uma alternativa de colaboração em menor escala. Talvez as instituições maiores tenham aqui uma oportunidade para ser mais flexíveis e experimentalistas dentro de uma economia de meios.

Museus de Lisboa

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