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The Rolling Stones, 'Exhibitionism', 2016
©Philip TownsendThe Rolling Stones, 'Exhibitionism'

10 bandas famosas, antes de serem famosas

As bandas de maior longevidade tendem a ser associadas, no imaginário dos melómanos mais novos, à sua fase de maturidade ou até de senilidade, mas bisbilhotando nas arcas do YouTube encontram-se cândidos (e por vezes embaraçosos) retratos de infância

Escrito por
José Carlos Fernandes
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Rolling Stones, David Bowie, U2 ou Pixies: é possível encontrar tesourinhos de algumas das bandas mais famosas do mundo antes de serem conhecidas. Escarafunche-lhes o passado à boleia da Time Out.  

10 bandas famosas, antes de serem famosas

Rolling Stones em 1964

A banda tinha-se formado em 1962 e acabara de lançar o seu primeiro álbum, homónimo, na Decca. Este foi editado um mês depois nos EUA com diferenças de título – England’s Newest Hit Makers – e conteúdo – o lado A abria com “Not Fade Away”, de Buddy Holly, que não fazia parte do álbum britânico mas fora um êxito nas terras de Sua Majestade como single (subira ao 3.º lugar do top). “Not Fade Away” seria o primeiro single dos Stones nos EUA, embora com sucesso mais modesto (48.º lugar do top). A aparição da banda na TV americana, no Mike Douglas Show, em que tocam “Not Fade Away”, revela-os como uns miúdos tímidos – Mick Jagger e Keith Richards tinham 21 anos, Brian Jones 22, Charlie Watts 23 e Bill Wyman, com 28, fazia figura de veterano – de cabelos longos mas primorosamente penteados e vestuário formal. O ensimesmamento de Watts é tal que quando chega a vez de se apresentar emite um murmúrio quase ininteligível. No entanto Jones mostra humor vivo e resposta pronta quando Douglas inquire sobre a situação dos barbeiros na Grã-Bretanha (“Estão a morrer de fome”) e sobre qual dos membros da banda é mais popular entre as raparigas (“Mick é mais popular entre os homens”).

David Bowie em 1970

David Robert Jones (1947-2016) formou a sua primeira banda em 1962, com 15 anos, mas nem os Konrads nem os seus sucessores, os King Bees (com quem lançou em 1964 o seu primeiro single, “Liza Jane”), tiveram qualquer sucesso e os Manish Boys, a que se juntou depois, também não. Quando se lançou em nome próprio – que entretanto mudara para David Bowie – não logrou melhor resultado e ninguém deu pelo álbum David Bowie (1967). Após experiências em dança e artes dramáticas, que seriam inspiradoras para a sua carreira e imagem, lançou em 1969 um segundo álbum, também intitulado, pouco imaginativamente, David Bowie (Man of Words/Man of Music nos EUA), de onde foi extraído o single “Space Oddity”. No Outono de 1969, este ascendeu ao 5.º lugar do top britânico e foi o primeiro sucesso de Bowie (quando, em 1972, a RCA reeditou o álbum de 1969 rebaptizou-o, compreensivelmente, como Space Oddity). Nesta sua primeira aparição televisiva, tocando “Space Oddity”, está ainda vinculado a um visual hippie, alinhado com a folk psicadélica da canção em questão. Ziggy e outras mutações estavam ao virar da esquina.

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Iggy Pop em 1970

James Newell Osterberg nasceu no mesmo ano que Bowie, também cedo formou a primeira banda (ainda que na qualidade de baterista) e também passou por várias formações sem história até sofrer uma metamorfose: em 1967, assumiu o nome de Iggy Pop e o papel de vocalista de The Stooges, que lançaram o primeiro álbum, homónimo, em 1969. O disco ficou-se pelo 106.º lugar do top americano e o segundo, Fun House (1970) nem sequer entrou no top 200, mas as vendas estavam longe de reflectir o impacto que a banda iria ter sobre a música e a postura em palco do rock (e sobre o punk e o hardcore, em particular). A carreira de Iggy Pop ganharia maior visibilidade a partir de 1972, altura em que recebeu um empurrão de David Bowie, que entretanto se tornara numa estrela, e produziu o influente álbum Raw Power (1973). “Raw power” é uma boa descrição da presença em palco de Iggy Pop – que pode ser complementada com adjectivos como “ultrajante”, “provocatório” e “indecoroso” – como pode atestar-se por esta prestação a 13 de Junho de Cincinatti Pop Festival, com The Stooges. Aos 70, Pop já não tem, claro, a flexibilidade e energia demoníacas que exibia aos 23, mas a atitude é, basicamente, a mesma (“TV Eye”, uma canção de Fun House, começa ao 1’50) .

Bruce Springsteen em 1972

Springsteen tinha 23 anos à data desta actuação no Gaslight Club, em Nova Iorque, em 1972, mas já acumulara larga experiência com bandas, iniciada aos 16 anos. Atalhando um longo historial, deve registar-se que, em 1971, os Steel Mill deram lugar aos Dr. Zoom & The Sonic Boom, que, após alguns meses, se converteram na ainda mais efémera Sundance Blues Band, que deu origem à Bruce Springsteen Band, que foi o embrião da célebre E Street Band. Esta nasceu em 1972, por altura deste registo em que Springsteen toca, a solo, “Henry Boy”, canção de que gravaria uma demo nesse ano, mas que não faria parte da sua discografia oficial, iniciada no ano seguinte com Greetings from Asbury Park. A demo de “Henry Boy” só veria a luz do dia na compilação Chapter and Verse, de 2016.

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The Cure em 1979

Os Cure nasceram em 1976 quando os seus membros ainda andavam na escola secundária e passaram por várias mudanças de formação até gravarem o seu primeiro single, “Killing an Arab” (1978). O primeiro álbum, Three Imaginary Boys, surgiu no ano seguinte. Novas alterações na banda precederam a gravação do álbum Seventeen Seconds, lançado em 1980 e cujo primeiro single foi “A Forest”, que pode ser ouvido neste registo ao vivo no Théâtre de l’Empire, em Paris, em Dezembro de 1979, com a banda que gravou Seventeen Seconds, ou seja, Robert Smith (voz e guitarra), Matthieu Harley (teclados), Simon Gallup (baixo) e Lol Tolhurst (bateria), de que só sobra, hoje em dia, Gallup – para lá de Smith, claro. Não é fácil reconhecer o Robert Smith das últimas décadas, pesado, empastado de maquilhagem e de trunfa desgrenhada, com aspecto de matrona fantasiada para baile de Halloween, neste miúdo de 20 anos. A passagem do tempo também não trouxe melhorias à sua voz, pois logo no início dos 80s abandonou este registo simples e directo por um tom afectado, melodramático e lamentoso.

U2 em 1980

O primeiro disco dos U2, Boy (1980) acabara de sair e esta foi a primeira aparição televisiva da banda, no The Late Late Show, na RTE. O jornalista John McKenna apresenta-os como “a banda do futuro, dos 80s ou até dos 90s, quem sabe”, embora esta branda interpretação da algo naïve “Stories for Boys”, não pareça confirmar o vaticínio. McKenna não poderia adivinhar que o “futuro” dos U2 prosseguiria pelo século XXI dentro e que em 2017 ainda estariam entre as bandas de maior popularidade (apesar da estagnação criativa). Mas para isso teriam de amadurecer musicalmente e de melhorar drasticamente a sua presença em palco. Nesta aparição, The Edge dir-se-ia um ajudante de cozinha que só teve tempo de trocar a faca de picar legumes pela guitarra antes de ser empurrado para o palco, enquanto o baixista Adam Clayton parece ter pedido emprestado o guarda-roupa, os óculos e a permanente à avó.

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Sonic Youth em 1983

Os Sonic Youth formaram-se em 1981 e lançaram o primeiro álbum, Confusion Is Sex, em 1983. A crítica americana não lhes deu grande atenção, pelo que não é de estranhar que o primeiro registo vídeo da banda nova-iorquina provenha da primeira tournée pela Europa, então mais disponível para acolher cruzamentos entre noise, hardcore e experimentalismo. Esta versão de “Making the Nature Scene”, em Poitiers, França, tem o guitarrista Thurston Moore a encarregar-se do baixo usualmente da responsabilidade de Kim Gordon, que aqui se devota inteiramente à prédica inflamada. Na guitarra está Lee Ranaldo e na bateria Bob Bert, um dos bateristas “flutuantes” dos primórdios da banda, antes de Steve Shelley ter assumido o posto, vitaliciamente, em 1985. Até ao fim da sua excepcional carreira, em 2011, a banda ganharia em sofisticação, mas nunca deixaria de lado – felizmente – a abrasão, a intransigência e o apetite pela experimentação destes primeiros tempos.

REM em 1983

Os REM formaram-se em 1980 e no ano seguinte lançaram o primeiro single, “Radio Free Europe”, na Hib-Tone, que seria recuperado para o primeiro álbum, Murmur, de 1983, na IRS. É essa canção também a escolhida para esta primeira aparição televisiva, a 06.10.1983. A banda duraria até 2011, embora não conservasse a frescura e ímpeto da primeira meia dúzia de álbuns. Não foram as únicas perdas a registar: Michael Stipe ficou sem cabelo e o guitarrista Peter Buck e o baixista Mike Mills perderam a elasticidade dançarina de 1983.

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Red Hot Chili Peppers em 1984

A 16 de Março de 1984 os Red Hot Chili Peppers tinham um ano de existência e o vocalista Anthony Kiedis e o baixista Flea tinham 22 anos. A banda acolheu variados guitarristas e bateristas e nesta passagem pelo programa “Thicke of the Night”, no KTTV Studios, em Los Angeles, tais postos eram ocupados, respectivamente, por Jack Sherman e Cliff Martinez. Mas Sherman e Martinez desempenham papel de figurantes, já que a exuberância cartoonesca e irreprimível de Kiedis e Flea ofusca tudo o resto. O apresentador alude a “coisas excêntricas em palco”, o que é um eufemismo para descrever a atitude da banda nos concertos. Com o passar dos anos, Kiedis e Flea ganhariam imensas tatuagens mas pouco juízo, continuando a fazer acontecer “coisas excêntricas em palco” (só o frenesim funk metal passou a ser interrompido momentaneamente para dar lugar a baladas melódicas). “Get Up and Jump” faz parte do álbum de estreia (homónimo) da banda, surgido em 1984.

Pixies em 1989

Quando desta primeira aparição no programa televisivo “Night Music”, os Pixies tinham acabado de lançar o segundo álbum, Doolitle, e o líder, Black Francis, tinha 24 anos e uma figura rotunda mas não incompatível com a fúria cega de “Tame”. A banda dissolveu-se em 1993, mas como as carreiras individuais nunca produziram nada comparável ao esplendor sombrio e maníaco dos Pixies, acabaram por voltar a juntar-se em 2004 (embora a formação actual tenha a baixista Paz Lechantin no lugar de Kim Deal). Nos 28 anos decorridos desde este vídeo, Black Francis perdeu cabelo e ganhou quilos e assumiu a aparência de um gerente de loja de uma cadeia multinacional de fast food, o que faz o regresso a velhos êxitos como “Tame” soar a falso.

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