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Franz Liszt, Março 1886
©NadarFranz Liszt, Março 1886

10 obras de Liszt que precisa de ouvir

Artur Pizarro e a Orquestra Metropolitana trazem-nos os dois concertos para piano de Franz Liszt, mas o compositor húngaro deixou-nos mais obras que merecem ser conhecidas

Escrito por
José Carlos Fernandes
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Franz (Ferenc, em húngaro) Liszt nasceu a 22 de Outubro de 1811, em Raiding (Doborján, em húngaro), no reino da Hungria, que fazia parte do Império Austro-Húngaro. Começou a aprender piano aos sete anos e aos nove já se apresentava em concertos públicos. Em Viena, recebeu aulas de piano Carl Czerny e aulas de composição de Antonio Salieri (sim, o suposto rival de Mozart) e aos 12 publicou a sua primeira obra, numa colecção em que surgia ao lado de Beethoven e Schubert. Tornou-se num dos maiores virtuosos do piano de todos os tempos e percorreu a Europa em frenéticas tournées – passou por Lisboa em 1845 – suscitando uma idolatria similar à das estrelas rock de hoje e fazendo palpitar muitos corações femininos com as longas melenas e a pose estudada para causar sensação. Em 1847, instigado pela sua nova paixão, a princesa polaca Carolyne zu Sayn-Wittgenstein, abandonou a carreira de concertista para se concentrar na composição. Foi um pedagogo incansável e alguns dos maiores pianistas dos séculos XIX e XX passaram pelas suas mãos. Foi também de grande generosidade para com muitos colegas, usando a sua celebridade para promover a música daqueles, nomeadamente transcrevendo-a para piano e incluindo-a no seu repertório. Faleceu em Bayreuth a 31 de Julho de 1886, com 74 anos.

A Orquestra Metropolitana de Lisboa celebra 25 anos de existência com um programa que combina os dois concertos para piano de Liszt com a abertura da ópera Béatrice et Bénédict (1862), de Berlioz, e o poema sinfónico Idílio de Siegfried (1869), de Wagner. O solista nos concertos será Artur Pizarro, cuja premiada discografia inclui registos de Liszt para a Collins e para a Brilliant Classics e tem tocado com maestros como Simon Rattle, Yannick Nézet-Séguin ou Esa-Pekka Salonen. A direcção será de Adrian Leaper.

CCB, sexta-feira 9 de Junho, 21.00, 5-20€

10 obras de Liszt que precisa de ouvir

Feux Follets (S.139/5)

Composição: 1837-51

A peça faz parte da colecção de 12 Estudos de Execução Transcendente, que é uma versão revista, em 1851, de 12 peças de 1837, que tinham, por sua vez, origem em 12 Estudos publicados em 1826 (tinha Liszt 15 anos!). Apesar de, como o nome indica, estes Estudos requererem uma técnica pianística “transcendente”, a versão de 1837 ainda era mais espinhosa, por incrível que tal possa parecer. Feux Follets (Fogos Fátuos) é uma peça irrequieta, traquinas e de grande leveza e brilhantismo, que faz inteira justiça ao título.

[Por Vladimir Ashkenazy]

La Campanella (S.141/3)

Composição: 1838-51

É talvez a mais célebre peça de Liszt. Faz parte dos Grandes Études de Paganini, publicados em 1851 e que são uma versão revista dos Études d’Exécution Transcendente d’Après Paganini, publicados em 1838. Tal como as restantes peças desta colecção, toma como ponto de partida uma peça do célebre virtuoso do violino – neste caso é uma melodia do último andamento do Concerto para violino n.º 2. Inspirado pelo exorbitante virtuosismo de Paganini no violino, Liszt tentou operar análoga revolução na abordagem do piano: os Études d’Exécution Transcendente d’Après Paganini são uma forma de Liszt dizer “Esqueçam tudo o que já ouviram no piano”. Tal como acontece com a sua fonte de inspiração, estas obras deslizam por vezes para o exibicionismo gratuito e para o brilho superficial, mas não deixam de ser impressionantes.

[Por Yundi Li]

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Au Bord d’une Source (S.160/3)

Composição: 1848-54

A peça faz parte do I caderno dos Années de Pèlerinage, obra cuja génese Liszt explicou assim: “Tendo percorrido nesses tempos muitos países novos [...] e muitos locais consagrados pela história e pela poesia e tendo sentido que os aspectos variados da natureza e das paisagens [...] despertavam na minha alma emoções profundas, estabelecendo comigo uma relação indefinida mas real [...], tentei exprimir em música algumas das minhas sensações mais intensas e mais vivas impressões”. O primeiro caderno, Suíça, foi publicado em 1855 mas evoca uma viagem realizada 20 anos antes – tinha Liszt 25 anos – com a sua companheira de então, Marie d’Agoult, tendo a composição decorrido entre 1848 e 1854 (nalguns casos “reciclando” peças de juventude). “Au Bord d’une Source” recria magistralmente o rumorejar de uma fonte e o cintilar da luz sobre a água e prefigura as peças impressionistas de temática aquática de Ravel e Debussy.

[Por Vladimir Horowitz]

Liebestraüme n.º 3 (S.541/3)

Composição: 1850

Disputa com La Campanella o título de “peça mais célebre de Liszt”, mas a sua natureza seja bem diversa: enquanto La Campanella é uma peça mirabolantemente acrobática, o Liebesträume n.º 3 é de um lirismo dolente e sensual. Os três Liebesträume publicados em 1850 são transcrições para piano solo de canções para voz e piano – a canção correspondente ao Liebesträume (Sonho de Amor) n.º 3 recorre a um poema de Ferdinand Freiligrath que faz a exortação “Ama enquanto puderes!”

[Por Valentina Lisitsa]

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Mazeppa

Composição: 1851
Estreia: 1854, em Weimar, sob direcção do compositor.

A gigantesca produção de Liszt para o piano e a sua celebridade como concertista ofuscam, por vezes , o facto de ter composto 13 poemas sinfónicos. O mais célebre é Mazeppa, inspirado na lenda em torno da figura histórica de Ivan Mazepa (1639-1709). Consta que Mazepa terá seduzido uma nobre da corte polaca (Falbowska, de seu nome) e que como punição terá sido desnudado e atado a um cavalo selvagem – na sua louca correria, o cavalo terá ido parar à Ucrânia, arrastando consigo Mazepa, maltratado mas vivo; este terá sido bem acolhido pelos cossacos e acabou por tornar-se seu líder (atamã). O verdadeiro Mazepa, um nobre de ascendência ruténio-lituana, terá, com efeito, subido na hierarquia dos bandos de cossacos da Ucrânia até ser aclamado como atamã da Horda Zaphorizhian, mas tal não envolveu seduções de damas de corte nem punições bárbaras.

[Excerto, pela Filarmónica de Berlim, com direcção de Christian Thielemann, ao vivo na Berlin Philharmonie, 2012]

Concerto para piano n.º 1 (S.124)

Composição: 1853
Estreia: 1855, em Weimar, com Liszt como solista e Hector Berlioz como maestro

Liszt anotou os primeiros esboços do que viria a ser o seu Concerto para piano n.º 1 em 1839, em 1839, quando tinha 19 anos e vivia em Roma, mas só regressou à obra 10 anos depois, em Weimar, e só a terminou em 1853. Ao contrário do usual nos concertos para piano, divide-se em quatro andamentos, tocados sem interrupção.

 [Por Martha Argerich e a West-Eastern Divan Orchestra, dirigida por Daniel Barenboim, ao vivo no Royal Albert Hall, 2016]

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Concerto para piano n.º 2 (S.125)

Composição: 1857
Estreia: 1857, em Weimar, com Liszt como maestro e o seu discípulo Hans von Bronsart (a quem a obra é dedicada) como solista

A gestação foi ainda mais demorada do que a do Concerto n.º 1 e estendeu-se de 1839-40 a 1857; antes de ser publicado, em 1861, a partitura sofreria novas revisões. Requer do solista uma técnica formidável, embora a componente virtuosística não seja tão evidente como no Concerto n.º1 e seja uma obra de um lirismo intenso e de grande ousadia estética, prefigurando o desenvolvimento do concerto para piano no início do século XX.

[I andamento, por Alfred Brendel e a Orquestra Sinfónica da Rádio de Frankfurt, dirigida por Eliahu Inbal]

Aux Cyprès da la Villa d’Este I (S.163/2)

Composição: 1867-77

A peça faz parte do III caderno dos Années de Pèlerinage, publicado em 1883 e que colige peças compostas em 1867-77, sem localização geográfica definida, à excepção das que foram inspiradas pelos jardins da Villa d’Este, em Tivoli, perto de Roma. É uma de duas peças de tom sombrio e inquietante, inspiradas pelos imponentes ciprestes do jardim deste palácio seiscentista em que Liszt viveu durante algum tempo, a convite do Cardeal Hohenlohe, que foi responsável por resgatar a villa e os seus jardins ao abandono e restaurar parte do seu antigo esplendor. Liszt ficou alojado num pequeno estúdio no piso superior, onde mal cabia um piano vertical, mas cuja janela oferecia uma vista privilegiada para os deslumbrante jardins.

[Por Sviatoslav Richter, ao vivo, em 1958]

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Nuages Gris (S.199)

Composição: 24 de Agosto de 1881 Nos últimos anos de vida, Liszt compôs peças para piano solo de extraordinária audácia. Nuages Gris (Trüben Wolken) não poderia estar mais longe das peças de início de carreira, de tecnicismo esfuziante e brilho por vezes superficial, com torrentes de notas e gestos de grande espectacularidade. É de uma austeridade e uma economia de meios ímpar e pinta uma atmosfera enigmática e ominosa.

[Por Cyprien Katsaris, ao vivo em Xangai, 2005]

La Lugubre Gondola I (S.200)

Composição: Dezembro de 1882

Mais uma peça de espantosa originalidade dos últimos anos de Liszt, que, como Nuages Gris, se pauta pelo despojamento e pela atmosfera tenebrosa. Foi composta em Veneza, no tempo que Liszt esteve alojado no Palazzo Vendramin, como convidado do seu genro, Richard Wagner. Liszt terá tido uma premonição da morte de Wagner – esta ocorreria dois meses depois e o seu cadáver seria transportado por uma gôndola até à estação de caminho-de-ferro que serve Veneza, de onde seguiu para a Alemanha – e plasmou essa visão nesta peça elegíaca. Dela, Liszt preparou uma versão revista em 1885, conhecida como La Lugubre Gondola II.

[Por Maurizio Pollini]

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