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Georg Philipp Telemann
©Georg LichtenstegeGeorg Philipp Telemann

Dez obras orquestrais para descobrir Telemann

Embora tenha sido aclamado com um dos grandes compositores do seu tempo, Telemann caiu num relativo esquecimento. Para ajudar a remediar tal injustiça, temos um concerto da Orquestra Metropolitana, que emparelha Telemann com Bach e Handel, e esta lista

Escrito por
José Carlos Fernandes
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Georg Philipp Telemann nasceu a 14 de Março de 1681 em Magdeburg, na Alemanha, e revelou cedo um enorme talento musical que a família se esforçou por contrariar – acabou por ter apenas instrução musical sumária, que compensou com um autodidactismo empenhado. Em 1710, submetendo-se à vontade da mãe, matriculou-se na universidade de Leipzig para estudar Direito, mas o apelo da música foi mais forte. Após ocupar postos em Leipzig, Sorau, Eisenach e Frankfurt, Telemann obteve o prestigiado cargo de director musical da cidade de Hamburgo, que desempenharia durante 46 anos, acumulando-o com a direcção da ópera local e vários outros compromissos e encomendas. Esta azáfama resultou numa obra vastíssima que cobre todos os géneros musicais e inclui 1700 cantatas (chegaram aos nossos dias 1.043), mais de 40 Paixões (sobreviveram 22), mais de 50 óperas (apenas sobreviveram 9 completas) e centenas de peças orquestrais e de música de câmara. Faleceu em Hamburgo há 250 anos.

O programa do concerto da Orquestra Metropolitana de Lisboa, com direcção de Nicholas Kramer, junta três compositores barrocos alemães cujos destinos se cruzaram: Georg Philipp Telemann (1681-1767), Georg Friedrich Handel (1685-1759) e Johann Sebastian Bach (1685-1750), bem como o segundo filho de Bach, Carl Philipp Emanuel (1714-88), que faz a transição do barroco para o período clássico e teve Telemann por padrinho e sucedeu a este, após a sua morte, como director musical de Hamburgo.
De Telemann ouvir-se-á a Suíte TWV 55:D19, de Handel a Suíte n.º 2 de Música Aquática, de J.S. Bach a Suíte para orquestra n.º 1 e de C.P.E Bach o Concerto para violoncelo Wq.170, em que será solista Jian Hong.

Museu Nacional de Arte Antiga, sábado 3 Junho, 21.00, 12€

Dez obras orquestrais para descobrir Telemann

Ouverture TWV 55:D1

O termo “Ouverture” era usado na Alemanha do período barroco para designar o que na verdade era uma Suíte, composta por uma Ouverture (Abertura) ao estilo francês, seguida por várias danças. Telemann, que cedo ganhou contacto com a música francesa, muito prezada em várias cortes alemãs, compôs centenas de Ouvertures (Suítes), de que chegaram aos nossos dias seis centenas. Esta é uma das mais famosas e faz parte da colecção de peças orquestrais e de câmara que Telemann publicou em 1733 como Tafelmusik ou Musique de Table.

[Pela Orquestra Barroca de Bremen, ao vivo na Unser Leiben Frauen Kirche, Bremen, 10 de Junho de 2016]

Concerto para três violinos TWV 53:F1

Se nas Ouvertures o modelo de Telemann é francês, neste concerto – mais uma das jóias dessa arca de tesouros que é a Tafelmusik de 1733 – a inspiração é inequivocamente italiana, ou para se ser mais preciso, vivaldiana. O lirismo do Largo e a frescura e virtuosismo efervescente do Vivace estão ao nível das mais geniais peças do mestre veneziano.

[Por Dmitri Sinkovsky, Riccardo Minasi, Alina Pogostkina e Orquestra Barroca de Helsínquia, ao vivo em Helsínquia, 2012]

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Concerto para viola TWV 51:G9

Este concerto composto por volta de 1716-21 é o primeiro que se conhece destinado a este irmão encorpado do violino, cujo timbre escuro e pouco penetrante fez com que muito poucos compositores o elegesse como solista até ao século XX. O concerto de Telemann mostra quão injusto é o desprezo a que a viola foi votada, mas não levou os seus contemporâneos a dar-lhe papel solista.

[II andamento (Allegro), por Reinhard Goebel (viola e direcção) e Musica Antiqua Köln (Archiv)]

Ouverture TWV 55:D19

As danças que se seguem à Ouverture propriamente dita são variáveis no tipo e na ordem. A TWV 55:D19 (que será tocada no concerto da Orquestra Metropolitana) inclui uma dança que poucas vezes surge no alinhamento das suítes: uma “Ecossoise”, ou seja uma dança escocesa.

[Por The English Concert, com direcção de Trevor Pinnock (Archiv)]

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Concerto para flauta transversa e flauta de bisel TWV 52:e1

No período barroco compuseram-se muitos concertos para flauta de bisel (ou “flauto dolce”) e para flauta transversa (também conhecida com “flauta alemã”), que acabaria por expulsar a primeira das salas de concertos no fim do período barroco. Mas são raríssimos os casos em que os dois instrumentos partilham papel solista.

[Por Felipe Egaña (flauta transversa) e Anninka Fohgrub (flauta de bisel) e Orquestra Barroca de Bremen, ao vivo na Unser Leiben Frauen Kirche, Bremen, 21 de Novembro de 2015]

Concerto para flauta de bisel e viola da gamba TWV 52:a1

Em meados do século XVIII, a viola da gamba estava a ficar “fora de moda”, mas Telemann compôs para ela magníficos concertos, como única solista ou em associação com a flauta.

[Excertos por Han Tol (flauta de bisel), Hille Perl (viola da gamba) e Orquestra Barroca de Freiburg, 2011]

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Concerto para violino Les Rainettes TWV 51:A4

A imaginação e ousadia de Telemann pareciam não ter fim. Os compositores barrocos simularam frequentemente o canto de aves – e em particular o do rouxinol – mas neste concerto para violino Telemann escolheu reproduzir o coaxar áspero e desafinado das rãs. Dada a imensidão da produção de Telemann, há obras que só recentemente foram redescobertas – é o caso deste concerto.

[Pela Akademie für Alte Musik Berlin (Harmonia Mundi)]

Concerto para violino, violoncelo e trompete TWV 53:D5

Violino, trompete e violoncelo é uma articulação de solistas sem par na história da música (nem Vivaldi, que experimentou mirabolantes combinações de instrumentos nos seus 400 concertos, ensaiou esta). Neste exemplo musical, com a Orquestra Barroca de Bremen, são empregues instrumentos de época, o que traz dificuldades acrescidas ao trompetista, que toca uma “trompete natural”, sem pistões (que só foram introduzidos em 1815).

[Por Stéphanie Paulet (violino), Giuseppe Frau (trompete), Néstor Cortés (violoncelo) e Orquestra Barroca de Bremen, ao vivo na Unser Leiben Frauen Kirche, Bremen, 21 de Novembro de 2015]

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Concerto para flauta, oboe d’amore e viola d’amore TWV 53:E1

O TWV 53:E1 propõe uma combinação de solistas ainda mais invulgar – e, se possível, mais deliciosa. Não há muitos concertos para oboe d’amore e são ainda mais raros mos concertos para viola d’amore (entre os compositores de primeiro plano, apenas Vivaldi escreveu concertos para este instrumento). E não há mais nenhum que combine os dois instrumentos e lhes dê ainda por parceiro uma flauta.

[II andamento (Allegro), por Rachel Brown (flauta) Anthony Robson (oboe d’amore) e Simon Standage (viola d’amore e direcção) e o Collegium Musicum 90 (Chandos)]

Ouverture Les Nations TWV 55:B5

Esta Ouverture tem a particularidade de cada um dos andamentos que se segue à Abertura propriamente dita e ao Minuete exprimir o carácter nacional de vários povos: turcos, suíços, moscovitas e portugueses. São opções invulgares, pois, com excepção dos “turcos”, são povos completamente alheios ao imaginário musical barroco. Mais enigmáticos ainda são os títulos dos andamentos que se seguem aos “portugueses”: “os coxos” e “os corredores”. O andamento correspondente aos portugueses tem uma componente apaixonada e assertiva e termina num trecho de grande agilidade, mas não devem daqui ser tiradas quaisquer ilações, pois Telemann não só nunca esteve em Portugal como não fazia ideia das músicas tradicionais dos países que “representou” musicalmente (mesmo os turcos são ilustrados pelos clichés da “música janízara” então em voga na Europa), pelo que as peças devem ser entendidas como um produto da fantasia do compositor, não como um ensaio de etnomusicologia.

[Pela Akademie für Alte Musik Berlin (Harmonia Mundi); os portugueses entram em cena aos 15’32]

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