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10 obras clássicas que celebram a Primavera

A Primavera tem vindo a inspirar compositores ao longo dos séculos e como a estação se reveste de diferentes formas em diferentes climas, os resultados têm sido muito variados, podendo incluir ou não cucos, campainhas e lepidópteros

Escrito por
José Carlos Fernandes
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10 obras clássicas que celebram a Primavera

Concerto para violino RV 269 Primavera, de As Quatro Estações, de Vivaldi

Não há música primaveril mais famosa do que esta do veneziano Antonio Vivaldi, embora os restantes 11 concertos para violino da colecção Il Cimento dell’Armonia e de l’Inventione (O Certame da Harmonia e da Invenção), publicada em 1725, não sejam menos admiráveis. As Quatro Estações constituem um exemplo pioneiro de música programática, em que os sons abstractos pretendem ilustrar eventos no mundo real. Vivaldi fez acompanhar cada concerto de As Quatro Estações com um soneto que lhes serve de programa. Reza assim o da Primavera: Allegro: “É tempo de Primavera/ Saúdam-na as aves com alegre canto/ E as fontes, acaricidas pela brisa/ Correm com doces murmúrios/ As tempestades cobrem o ar de negro manto/ E relâmpagos e trovões anunciam a chegada da estação/ Mas quando eles cessam, as aves/ Retomam o seu canoro mister” Largo: “Sobre o florido e ameno prado/ Embalado pelo murmúrio das copas/ Dorme o pastor com o fiel cão ao lado” (Vivaldi especifica na partitura que o latido do cão deve ser tocado pela viola, “sempre muito alto e vigoroso”) Allegro: “Ao som festivo das pastoris gaitas/ Dançam ninfas e pastores/ Sob a cúpula cintilante da Primavera”

[Por Fabio Biondi (violino e direcção) e o ensemble Europa Galante]

Concerto para órgão HWV 295 The Cuckoo and the Nightingale, de Handel

George Frideric Handel compôs 15 concertos para este instrumento, a maior parte dos quais nasceu como interlúdio instrumental das oratórias de Handel: entre um acto e outro, o compositor exibia os seus extraordinários dotes de organista e de improvisador. Além dos que foram publicados nas colecções op. 4 e op. 7, de seis concertos cada, há mais três concertos “avulsos”. Um dos mais populares é o Concerto n.º 13 The Cuckoo and the Nightingale (O Cuco e o Rouxinol), que se ouviu pela primeira vez como interlúdio da oratória Israel no Egipto, a 4 de Abril de 1739. O título do concerto vem da simulação pelo órgão, no Allegro, do canto das duas aves.

[Por Monika Melcová (órgão) e o ensemble Musica Aeterna, dirigido por Peter Zajícek, na Catedral de S. Martinho, Bratislava, 2013]
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Primavera, de As Estações, de Haydn

A oratória As Estações (Die Jahreszeiten), estreou em Viena em 1801, primeiro num espectáculo privado para os aristocratas que tinham contribuído para a sua composição (a 24 de Abril) e depois num espectáculo público (a 19 de Maio). A ênfase do libreto, confeccionado pelo Barão Gottfried van Swieten a partir de um longo poema publicado em 1730 pelo escocês James Thomson, está menos na celebração da natureza em si mesma e mais na representação das relações do homem com um mundo natural em que é omnipresente a presença de Deus. Na I parte, Primavera, o camponês trabalha arduamente empurrando o arado, mas sabe que o que irá colher depende da graça divina, pelo que ergue aos céus uma prece, “Sei Nun Gnädig, Milder Himmel” (“Sede propício, ó bondoso Céu”), em que promete “Concedei-nos a abundância e nós celebraremos a tua bondade”.

[I parte da Primavera, por Ida Falk Winland (soprano), Yves Saelens (tenor), Birger Radde (baixo), Octopus Symphony Chorus e Le Concert d’Anvers, com direcção de Bart van Reyn, Palais des Beau-Arts, Bruxelas, 3 de Junho de 2012]

Im Frühling D882, de Schubert

Nesta canção de 1826 sobre texto de Ernst Schulze, a chegada da Primavera traz recordações dos tempos felizes passados com a sua amada – mas apenas as recordações, não a sua amada. “Tudo está como nesse tempo/ As flores, os campos/ O sol não brilha com menos intensidade/ Nem o riacho espelha com menos esplendor/ A azul imagem do céu// As únicas coisas que mudam são a vontade e a ilusão/ Alegrias e querelas alternam-se/ A felicidade do amor fica para trás/ E só o amor permanece/ O amor e, ah, a mágoa”. Em Schubert, até a Primavera é pretexto para reflexões sombrias.

[Por Dietrich Fischer-Dieskau (barítono) e Sviatoslav Richter (piano), 1978]
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Sinfonia n.º 1 Primavera, de Schumann

Não há consenso sobre a origem do título desta sinfonia que Robert Schumann compôs em 1841 – esboçada em apenas quatro dias de Janeiro e orquestrada em poucas semanas. Clara, a esposa de Robert, associou-a ao Poema de Primavera, de Adolf Böttger, enquanto o compositor disse ter-se inspirado em Amor de Primavera, do mesmo poeta. Do que não há dúvida é que a ideia de Primavera é central à sinfonia, pois Schumann, numa carta ao maestro Wilhelm Taubert, pedia-lhe: “Podereis instilar um pouco mais de anelo pela Primavera na vossa orquestra? [...] Na introdução pretendo que a música sugira o reverdecer do mundo, quiçá com uma borboleta pairando no ar, e depois, no Allegro, mostrar como tudo o que é primaveril ganha vida”. É de supor que o compositor não leve a mal se um maestro escolher outros insectos para compor o quadro.

[I andamento (Andante-Allegro molto vivace) pela Filarmónica de Viena e Leonard Bernstein, no Musikverein de Viena, 1984]

Primavera op. 34, de Glazunov

Aleksandr Glazunov compôs este poema sinfónico em 1891, inspirado por um poema de Fyodor Tyutchev (1803-1873): “A Primavera chega e o coro colorido e luminoso dos dias de Maio, doces e mornos, seguem-no numa turba festiva”. É bom lembrar que embora a Primavera comece, em termos astronómicos, entre 19 e 21 de Março, nos climas mais agrestes Março pode ser ainda um mês de neve e gelo, daí a referência a Maio. Em 1899, Glazunov voltaria ao tema com o bailado As Estações.

[Pela Orquestra Sinfónica da URSS e Evgeny Svetlanov]
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Rondes de Printemps, de Debussy

As Rondes de Printemps foram compostas em 1905-9 e são o terceiro e último quadro das Images, uma obra que foi inicialmente concebida para dois pianos mas que acabou por ganhar forma orquestral. Debussy recorreu a duas melodias populares, “Do, Do l’Enfant” e “Nous N’Irons Plus au Bois” (que já tinha citado em Jardins Sous la Pluie – ver 8 peças clássicas para ouvir junto à lareira). Debussy já tinha usado a Primavera como tema da sua primeira obra para orquestra, a suíte sinfónica Printemps, de 1887, mas esta está ainda longe da riqueza e originalidade das Rondes de Printemps.

[Pela Orquestra Sinfónica de Montréal e Charles Dutoit (Decca)]

On Hearing the First Cuckoo in Spring, de Delius

O compositor britânico Frederick Delius (1862-1934) está hoje muito esquecido e o poema sinfónico On Hearing the Fist Cuckoo in Spring, estreada em 1913, é a única obra sua que é tocada regularmente. A peça abre com o canto do cuco, primeiro no oboé e depois nas cordas – e antes do fim, o cuco faz-se também ouvir no clarinete.

[Pela Academy of St. Martin-in-the-Fields e Neville Marriner (Decca)]
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A Sagração da Primavera, de Stravinsky

No mesmo ano em que estreou o amável e pastoril poema sinfónico On Hearing the Fist Cuckoo in Spring, teve a sua primeira apresentação pública em Paris uma Primavera de natureza bem diferente: o bailado A Sagração da Primavera inspira-se num clima bem mais agreste, o da estepe russa, em que os Invernos são longos e rigorosos, levando os povos que aí habitavam a acolher com grande alívio a chegada da Primavera. O enredo delineado por Nicholas Roerich, um perito nas antigas tradições e rituais da Rússia, recria um ritual pagão em que um círculo de anciãos elege uma donzela para ser sacrificada ao deus da Primavera, de forma a assegurar que no ano seguinte o gelo e a neve desapareçam e a natureza renasça.

[Parte I (Adoração da Terra) de A Sagração da Primavera, pela Sinfónica de São Francisco e Michael Tilson Thomas, nos Proms 2002, Royal Albert Hall, Londres]

Appalachian Spring, de Copland

Como a música instrumental é abstracta e os ouvintes precisam de ancorá-la à realidade, tendem a agarrar-se aos títulos. Aaron Copland (1900-1990) foi muitas vezes felicitado por ter conseguido captar a essência da Primavera nos Apalaches na música de bailado Appalachian Spring, composta em 1943-44, por encomenda da bailarina e coréografa Martha Graham. Acontece que a peça teve por título de trabalho “Ballet for Martha” e só imediatamente antes da estreia em 1944, a bailarina sugeriu o título, pedido emprestado a um verso de Hart Crane. Claro que cada um é livre de povoá-la com as flores e insectos da sua preferência e até poderá pedir emprestada a borboleta de Schumann.

[“Simple Gifts: Variation on a Shaker Melody”, de Appalachian Spring, pela Filarmónica de Nova Iorque e Leonard Bernstein]

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