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Ari Hoenig
©DRAri Hoenig

10 versões de “Body and Soul”: vol. 2

88 anos depois de composto, o standard “Body and Soul” continua a inspirar músicos de jazz de todos os credos estéticos

Escrito por
José Carlos Fernandes
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Quando Johnny Green (música) e Edward Heyman, Robert Sour e Frank Eyton (letra) compuseram “Body and Soul”, em 1930, estavam longe de imaginar que esta canção encomendada pela cantora britânica Gertrude Lawrence se tornaria num dos standards mais gravados de sempre pelos músicos de jazz – há mesmo quem reclame que é o mais gravado. Logo em 1930 surgiram várias gravações – uma delas por Louis Armstrong – e as largas centenas de versões registadas desde então não têm feito esmorecer o interesse por esta composição, como mostram estas leituras mais recentes e menos ortodoxas.

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10 versões de “Body and Soul”: vol. 2

David Murray

Ano: 1983
Álbum: Morning Song (Black Saint)

Este álbum do prolífico saxofonista americano David Murray (n. 1955) é gravado por um quarteto com John Hicks (piano), Reggie Workman (contrabaixo) e Ed Blackwell (bateria), mas “Body and Soul” surge como dueto de saxofone e piano.

Charlie Haden & Jim Hall

Ano: 1990
Álbum: Charlie Haden & Jim Hall (Impulse!)

Este encontro intimista entre dois veteranos, o contrabaixista Charlie Haden (1937-2014) e o guitarrista Jim Hall (1930-2013), teve lugar no Festival de Jazz de Montreux em 1990, mas só viu a luz do dia em 2014, quando ambos os músicos já tinham falecido.

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Lee Konitz

Ano: 1997
Álbum: Another Shade of Blue (Blue Note)

Em 1996 e 1997, o trio intergeracional formado pelo saxofonista Lee Konitz (n. 1927), o contrabaixista Charlie Haden (1937-2014) e o pianista Brad Mehldau (n. 1970) gravou dois álbuns preenchidos por standards, sempre em leituras líricas e distendidas: Alone Together e Another Shade of Blue. Esta versão de “Body and Soul” provém do segundo.

Martial Solal

Ano: 1999

O pianista francês Martial Solal (n. 1927) tem revisitado frequentemente “Body and Soul”, em trio – por exemplo no álbum NY1 (2001) – ou a solo, como acontece neste concerto no clube Bayerischer Hof, no Münchner Klaviersommer (Festival de Verão de Piano de Munique). Solal preserva o lirismo da canção, mas também lhe injecta ironia e imprevisibilidade.

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Jason Moran

Ano: 2002
Álbum: The Bandwagon (Blue Note)

Apesar da capa retro, The Bandwagon, gravado ao vivo no Village Vanguard, em Nova Iorque, em 2002, pelo trio Bandwagon, do pianista Jason Moran (1975), com Tarus Mateen (guitarra baixo acústica e eléctrica) e Nasheet Waits (bateria), não é um álbum dedicado à revisitação dos grandes standards. Na verdade, o único no alinhamento é “Body and Soul” e surge ao lado de composições de Brahms, de Afrika Bambaataa & The Soulsonic Force e do próprio Moran. Esta versão, pelo mesmo trio, foi registada ao vivo no Chivas Jazz Festival 2003, em São Paulo.

Keith Jarrett & Charlie Haden

Ano: 2007
Álbum: Jasmine (ECM)

Jasmine é um álbum preenchido integralmente com standards e gravado no estúdio caseiro de Keith Jarrett (n. 1945), só com piano e contrabaixo.

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Jacky Terrasson

Ano: 2009

Uma versão invulgarmente enérgica e dançarina, pelo trio do pianista Jacky Terrasson (n. 1965), com Ben Williams (contrabaixo) e Jamire Williams (bateria), ao vivo no Festival de Jazz de Marciac.

Peter Evans

Ano: 2009

O trompetista Peter Evans (n. 1981) é um músico de extraordinária versatilidade, onde se cruzam o jazz tradicional e o mais vanguardista, a improvisação sem rede e a música erudita. Entre as várias linhas de trabalho que mantém em simultâneo – além dos projectos que lidera, fez parte, até 2014, dos Mostly Other People do The Killing – está o formato solo, que deu origem a quatro álbuns, Nature/Culture, More Is More, Beyond Civilized and Primitive e Lifeblood. Nas actuações a solo, Evans tem mostrado preferência por espaços de acústica reverberante e esta gravação foi realizada na Fairchild Chapel do Oberlin College, no Ohio. Por vezes, pode parecer que se ouve mais do que uma trompete, mas é apenas virtuosismo extremo e um sábio aproveitamento da reverberação.

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Kenny Barron

Ano: 2010

Kenny Barron (n. 1943) foi pianista da banda de Stan Getz no fim da carreira deste, na viragem dos anos 80/90 e gravou meia centena de álbuns em nome próprio. Nesta versão, gravada no Festival de Jazz de Marciac, o seu quarteto é formado por David Sánchez (saxofone), Darryl Hall (contrabaixo) e Jonathan Blake (bateria).

Ari Hoenig

Ano: 2016

Uma versão magistralmente despojada, delicada e meditativa – daquelas que faz suspender o escoar do tempo – pelo trio do baterista Ari Hoenig (n. 1973), com o pianista Shai Maestro e o contrabaixista Rick Rosato, ao vivo no clube Smalls, em Nova Iorque, a 22 de Fevereiro de 2016.

Versão a versão enche a galinha o papo

10 versões de “Night and Day”
  • Música

A canção faz parte do musical Gay Divorce, com música de Cole Porter e libreto de Dwight Taylor e um título que hoje poderia sugerir uma sátira ao casamento gay – porém, em 1932, quando o musical estreou, “gay” era apenas entendido no sentido de “alegre” e o casamento que se encaminha para um inevitável (e nada trágico) divórcio é heterossexual. Cole Porter teve de ajustar a melodia aos modestos recursos vocais de Fred Astaire, naquele que seria o seu último papel na Broadway, antes de rumar a Hollywood. Por coincidência, dois anos depois, Astaire reencontrar-se-ia com a canção, pois ele e Ginger Rogers foram as cabeças de cartaz da adaptação cinematográfica do musical, dirigida por Mark Sandrich. Na transferência para o ecrã, o título sofreu uma ligeira alteração (The Gay Divorcee) e as canções ficaram pelo caminho, sendo “Night and Day” a única sobrevivente.

  • Música

O musical Babes in Arms, estreado na Broadway em 1937, foi um dos grandes sucessos de Richard Rodgers e Lorenz Hart: ficou em cartaz durante oito meses e teve 289 récitas, viu várias das suas canções – como “My Funny Valentine”, “Where or When”, “The Lady Is a Tramp” – converterem-se em favoritos dos cantores pop e dos jazzmen e foi transposto para cinema em 1939, sob a direcção de Busby Berkeley, um mestre das fantasias coreográficas, e com as irritantes crianças-prodígio Mickey Rooney e Judy Garland nos papéis principais. Numa daquelas bizarrias típicas de Hollywood, na passagem do palco para o grande ecrã quase todas as canções (incluindo “My Funny Valentine”) ficaram pelo caminho. Há que reconhecer que, como declaração do amor de uma mulher (a personagem Billie Smith, no musical) pelo seu amado (Valentine LaMar), “My Funny Valentine” é pouco convencional: o aspecto dele é “risível” e pouco fotogénico (“unphotographable”), o seu “perfil está longe de ser grego” e a “boca é um pouco fraca”. Todavia, é “a obra de arte favorita” dela...

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  • Música

Quem diria que uma canção tão melancólica proveio de um musical com o título Carnival in Flanders? A atmosfera não é de Terça-Feira Gorda mas de Quarta-Feira de Cinzas; o tema é a desilusão e a erosão do amor, algo que parece impossível quando se está apaixonado.

A canção, com música de Jimmy Van Heusen e letra de Johnny Burke, foi composta para o dito musical, baseado no filme Kermesse Héroïque (1934), de Jacques Feyder, uma comédia cuja acção decorre na Flandres em 1616. O musical, que enfrentou problemas na fase de produção, estreou-se na Broadway em 1953 e foi um fiasco de bilheteira. Só teve seis exibições, o que não impediu Dolores Gray de ganhar um Tony pela sua prestação. É à sua personagem que cabe cantar “Here's That Rainy Day” e foi esta a única canção do musical a conquistar popularidade – e, ainda assim, foi preciso esperar seis anos para que Frank Sinatra lhe desse um empurrão.

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