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Anna May Wong
©Carl van Vechten[Anna May Wong, em 1935: a inspiradora da letra de “These Foolish Things"?]

10 versões de “These foolish things”

A relação amorosa acabou, mas ele continua a vê-la em todo o lado, neste standard de Jack Strachey e Eric Maschwitz.

Escrito por
José Carlos Fernandes
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“These foolish things (remind me of you)”, com música de Jack Strachey e letra de Eric Maschwitz (sob o pseudónimo de Holt Marvell), foi composta para o musical Spread It Abroad, que estreou em Londres em 1936. O agente de Maschwitz achou que a canção não valia grande coisa e recusou-se a publicá-la, pelo que os direitos de autor ficaram para Maschwitz – uma opção de que o agente viria a arrepender-se amargamente, pois a canção, embora não tivesse sido um sucesso quando da estreia do musical, tornou-se num dos standards mais populares, primeiro no meio jazzístico e depois também entre cantores pop, como sejam Yves Montand, James Brown, Sammy Davis Jr., Brian Ferry, Rod Stewart ou Bob Dylan.

“These foolish things” é uma “list song”, ou seja, uma canção que enumera um rol de coisas – neste caso, coisas que fazem recordar ao amante solitário a sua amada: “um cigarro com vestígios de bâton”, “um bilhete de avião para paragens românticas”, “os ventos de Março que fizeram do meu coração um bailarino”, “um telefone que toca sem que ninguém o atenda”, “o arfar do comboio da meia-noite numa estação vazia”, “meias de seda ao lado de um convite para um baile”. As letras das canções não têm de relatar experiências reais dos seus autores, mas é bem possível que “These Foolish Things” espelhe o estado de espírito de Maschwitz na altura: no período em que trabalhara em Hollywood, o letrista apaixonara-se pela actriz Anna May Wong, mas a relação terminou quando ele teve de regressar a Londres.

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10 versões de “These foolish things”

Benny Goodman

Ano: 1936

Logo em 1936 surgiram cinco versões de “These Foolish Things”, uma delas pela orquestra de Benny Goodman, com a cantora Helen Ward e arranjos de Jimmy Mundy, gravada a 15 de Junho de 1936, em Nova Iorque. A canção, numa interpretação algo baça de Ward, saiu como single de 78 rpm – os LPs ainda estavam por nascer – e pode hoje ser encontrada em diversas compilações dos primeiros anos de Goodman.

Billie Holiday

Ano: 1952
Álbum: Billie Holiday Sings (Clef)

Holiday gravou uma primeira versão logo a 30 de Junho de 1936, com a orquestra de Teddy Wilson, e voltaria a ela, numa toada mais meditativa e melancólica, em 1952, no LP de 10’’ Billie Holiday Sings na Clef (que o reeditaria quatro anos depois com o título Solitude). A gravação, realizada em Los Angeles, conta com o acompanhamento do piano de Oscar Peterson e, num discreto segundo plano, da guitarra de Barney Kessel, do contrabaixo de Ray Brown e da bateria de Alvin Stoller.

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Lester Young

Ano: 1952
Álbum: The President Plays with the Oscar Peterson Trio (Verve)

Há quem não tenha em grande apreço as gravações de Lester Young a partir de 1951, pois o alcoolismo terá levado a um acentuado declínio das capacidades do saxofonista. Porém esta sessão de 28 de Novembro de 1952 com o “Oscar Peterson Trio” – na verdade um quarteto com Barney Kessell (guitarra), Ray Brown (contrabaixo) e J.C. Heard (bateria) – mostra-o em boa forma.

Lee Konitz & Gerry Mulligan

Ano: 1953
Álbum: Lee Konitz Plays with the Gerry Mulligan Quartet (Pacific Jazz), também conhecido como Konitz Meets Mulligan

Se o quarteto do saxofonista barítono Gerry Mulligan com o trompetista Chet Baker já era uma formação notável (só é pena que tenha durado tão pouco tempo), a junção do saxofone alto de Lee Konitz faz com que Lee Konitz Plays with the Gerry Mulligan Quartet seja um título que não pode faltar em qualquer discoteca que se preze. O álbum reúne faixas gravadas em três sessões diferentes e “These Foolish Things” provém de um concerto ao vivo no clube The Haig, em Los Angeles, a 23 de Janeiro de 1953, com Carson Smith (contrabaixo) e Larry Bunker (bateria).

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Dave Brubeck

Ano: 1953
Álbum: Jazz at Oberlin (Fantasy)

No início da década de 1950, o jazz ia, pouco a pouco, ganhando respeitabilidade e o quarteto do pianista Dave Brubeck começou a actuar num meio até então fechado ao jazz: as universidades. Através de acordos com associações de estudantes, o seu quarteto participou em tournées de onde resultaram discos históricos como Jazz at Oberlin e Jazz at the College of the Pacific, ambos de 1953, e Jazz Goes to College, de 1954.

O Oberlin College, no Ohio, tinha fama de possuir um conservatório de inclinação muito conservadora e confirmou isso ao recusar ceder o seu melhor piano para o evento, pelo que Brubeck teve de contentar-se com um instrumento muito maltratado que já conhecera melhores dias. Se algum membro da direcção do conservatório se dignou a assistir ao concerto do quarteto, de Brubeck, na Finney Chapel, a 2 de Março de 1953, talvez tenha confirmado quão atilada fora a decisão de não pôr um bom instrumento nas mãos dessa gentinha do jazz – em “These Foolish Things”, o solo de Paul Desmond (saxofone) é aveludado e melancólico, mas o solo de Brubeck, que começa tranquilo, vai tornando-se cada vez mais anguloso e menos convencional. A irreverência do piano contrasta com a imperturbabilidade da secção rítmica, nesta ocasião formada por Ron Croty (contrabaixo) e Lloyd Davis (bateria) – que dariam lugar a Eugene Wright e Joe Morello, respectivamente, naquela que seria a formação clássica do Dave Brubeck Quartet.

Jutta Hipp

Ano: 1956
Álbum: Jutta Hipp with Zoot Sims (Blue Note)

Jutta Hipp ocupa uma posição duplamente excêntrica no jazz americano dos anos 50, pela nacionalidade (alemã) e pelo sexo (feminino). Hipp nasceu em Leipzig em 1925 e, após ter passado por muitas agruras no pós-II Guerra Mundial, começou a tocar com grupos de jazz na Alemanha, nomeadamente com Hans Koller e Attila Zoller. O crítico de jazz americano Leonard Feather recebeu um disco do grupo de Hipp e, tendo gostado do que ouviu, arranjou-lhe um visto para os EUA e trabalho como pianista no clube Hickory House, em Nova Iorque. Em 1955, Hipp mudou-se para os EUA e no ano seguinte gravou três discos como líder para a Blue Note, dois em trio ao vivo na Hickory House e este álbum com o saxofonista Zoot Sims, com Jerry Lloyd (trompete), Ahmed Abdul-Malik (contrabaixo) e Ed Thigpen (bateria). O conto de fadas acabou aqui: Hipp não voltou a gravar e passou a tocar apenas aos fins-de-semana, até que deixou de vez o jazz e passou a trabalhar como operária não-especializada numa fábrica têxtil, onde ficou até 1995. Faleceu em 2003.

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Bill Evans

Ano: 1965

Uma versão de grande delicadeza e lirismo por Bill Evans, com Chuck Israels (contrabaixo) e Larry Bunker (bateria), ao vivo no programa televisivo “Jazz 625”, nos estúdios da BBC em Londres. Evans gravaria “These Foolish Things” no ano seguinte, com Israels e com Arnold Wise no lugar de Bunker, ao vivo no Town Hall de Nova Iorque (Bill Evans at Town Hall, Verve).

Sarah Vaughan

Ano: 1964
Álbum: The Lonely Hours (Roulette)

Como o título indica, este é um álbum de canções cujo tema é a solidão ou a separação do ente amado. Os arranjos orquestrais são de Benny Carter.

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Thelonious Monk

Ano: 1965
Álbum: Solo Monk (Columbia)

Embora Monk centrasse o seu repertório nas suas próprias composições, também gostava de aplicar o seu sentido de humor zombeteiro e a sua perspectiva cubista a standards e este álbum de piano solo de 1965 é constituído maioritariamente por clássicos do American Songbook.

Enrico Pieranunzi

Ano: 2004
Álbum: Ballads (CamJazz)

O pianista italiano assina uma versão de inefável delicadeza na companhia do dream team formado por Marc Johnson (contrabaixo) e Joey Baron (bateria). Ballads, é como o título indica, um álbum de pendor lírico, preenchido com seis originais de Pieranunzi, “A Flower Is a Lovesome Thing”, de Billy Strayhorn, e “Mi Sono Innamorato di Te”, de Luigi Tenco.

Versão a versão enche a galinha o papo

10 versões de “Night and Day”
  • Música

A canção faz parte do musical Gay Divorce, com música de Cole Porter e libreto de Dwight Taylor e um título que hoje poderia sugerir uma sátira ao casamento gay – porém, em 1932, quando o musical estreou, “gay” era apenas entendido no sentido de “alegre” e o casamento que se encaminha para um inevitável (e nada trágico) divórcio é heterossexual. Cole Porter teve de ajustar a melodia aos modestos recursos vocais de Fred Astaire, naquele que seria o seu último papel na Broadway, antes de rumar a Hollywood. Por coincidência, dois anos depois, Astaire reencontrar-se-ia com a canção, pois ele e Ginger Rogers foram as cabeças de cartaz da adaptação cinematográfica do musical, dirigida por Mark Sandrich. Na transferência para o ecrã, o título sofreu uma ligeira alteração (The Gay Divorcee) e as canções ficaram pelo caminho, sendo “Night and Day” a única sobrevivente.

  • Música

O musical Babes in Arms, estreado na Broadway em 1937, foi um dos grandes sucessos de Richard Rodgers e Lorenz Hart: ficou em cartaz durante oito meses e teve 289 récitas, viu várias das suas canções – como “My Funny Valentine”, “Where or When”, “The Lady Is a Tramp” – converterem-se em favoritos dos cantores pop e dos jazzmen e foi transposto para cinema em 1939, sob a direcção de Busby Berkeley, um mestre das fantasias coreográficas, e com as irritantes crianças-prodígio Mickey Rooney e Judy Garland nos papéis principais. Numa daquelas bizarrias típicas de Hollywood, na passagem do palco para o grande ecrã quase todas as canções (incluindo “My Funny Valentine”) ficaram pelo caminho. Há que reconhecer que, como declaração do amor de uma mulher (a personagem Billie Smith, no musical) pelo seu amado (Valentine LaMar), “My Funny Valentine” é pouco convencional: o aspecto dele é “risível” e pouco fotogénico (“unphotographable”), o seu “perfil está longe de ser grego” e a “boca é um pouco fraca”. Todavia, é “a obra de arte favorita” dela...

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  • Música

Quem diria que uma canção tão melancólica proveio de um musical com o título Carnival in Flanders? A atmosfera não é de Terça-Feira Gorda mas de Quarta-Feira de Cinzas; o tema é a desilusão e a erosão do amor, algo que parece impossível quando se está apaixonado.

A canção, com música de Jimmy Van Heusen e letra de Johnny Burke, foi composta para o dito musical, baseado no filme Kermesse Héroïque (1934), de Jacques Feyder, uma comédia cuja acção decorre na Flandres em 1616. O musical, que enfrentou problemas na fase de produção, estreou-se na Broadway em 1953 e foi um fiasco de bilheteira. Só teve seis exibições, o que não impediu Dolores Gray de ganhar um Tony pela sua prestação. É à sua personagem que cabe cantar “Here's That Rainy Day” e foi esta a única canção do musical a conquistar popularidade – e, ainda assim, foi preciso esperar seis anos para que Frank Sinatra lhe desse um empurrão.

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