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Orquestra Gulbenkian
©Carlos GOrquestra Gulbenkian

11 músicas clássicas para abrilhantar o seu funeral

Michel Corboz e o Coro & Orquestra Gulbenkian juntam num concerto os Requiems de Mozart e o de Fauré e os Graindelavoix somam dois Requiems de Duarte Lobo a um de Vecchi. Conheça outras opções para sonorizar a sua despedida deste vale de lágrimas

Escrito por
José Carlos Fernandes
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Há quem prefira não pensar nisso e há quem entenda que a sua saída de cena deve merecer cuidadoso planeamento e que este inclui, necessariamente, banda sonora na cerimónia. As 11 alternativas que em seguida se apresentam são diversificadas, quer no tom, do resignado ao angustiado, do grandiloquente ao discreto, quer nos custos, que se ajustam a diferentes bolsas [de € (económico), a €€€€€ (os seus herdeiros irão rogar-lhe pragas)].

Num mesmo concerto, dois célebres Requiem, um sereno (o de Fauré), outro pleno de dramatismo (o de Mozart), pelo Coro & Orquestra Gulbenkian e um elenco solista de luxo, com Sandrine Piau (soprano), Helena Rasker (mezzo-soprano), Christophe Einhorn (tenor), Marcos Fink (baixo). O maestro será Michel Corboz, que gravou ambas as obras para a Erato e é um dos maiores especialistas em música sacra.

Fundação Gulbenkian, terça-feira 11 de Abril, 21.00, e quarta-feira 12 de Abril, 19.00, 20-40€.

Noutro concerto, os Graindelavoix de Björn Schmelzer cantam dois Requiems de Duarte Lobo (um a seis vozes e outro a oito), o Requiem de Orazzio Vecchi e a Missa Praeter Rerum Seriem, de Georges de la Hèle, obras impressas por volta de 1600 na tipografia Plantin, de Antuérpia.

Igreja de S. Roque, sábado 8 de Abril, 21.00, 25€

11 músicas clássicas para abrilhantar o seu funeral

Requiem, de Ockeghem

Compositor: Johannes Ockeghem, França-Flandres, c.1410-25-1497
Defunto: São sugeridos os nomes dos reis franceses Carlos VII, o que situaria a obra em 1461, ou Luís XI, o que situaria a obra em 1483.
Obra: A mais antiga missa de mortos a ter chegado aos nossos dias. Sabe-se que Guillaume Dufay (c. 1397-1474) compôs uma pela mesma altura, mas ignora-se em que data e a obra está perdida. Mesmo o Requiem de Ockeghem nos chegou em forma incompleta, pois faltam o Sanctus e o Agnus Dei.
Custo:

Requer apenas quatro vozes, ainda que muito bem treinadas.

[Kyrie, por The Hilliard Ensemble, numa interpretação com apenas uma voz por parte e recorrendo apenas a vozes masculinas]

Officium Defunctorum, de Victoria

Compositor: Tomás Luis de Victoria, Espanha, c.1548-1611
Defunto: A imperatriz Maria de Áustria, viúva de Maximiliano II e irmã de Filipe II de Espanha, que se tinha retirado para o Convento de las Descalzas Reales, em Madrid. Victoria desempenhou, no convento, funções de capelão pessoal da imperatriz-viúva entre 1587 e a morte desta, a 26 de Fevereiro de 1603. O Officium Defunctorum foi composto para as suas exéquias, a 22 e 23 de Abril.
Obra: O Officium Defunctorum a seis vozes foi a última obra publicada por Victoria, em 1605. Inclui, além de uma Missa de Requiem, uma Lição de Matinas, um moteto fúnebre (Versa Est In Luctum) e um responsório para a absolvição. Victoria compusera outro Requiem, que faz parte de um livro de missas publicado em 1583.
Custo: € a €€

Pode ser interpretado por seis vozes a capella, mas pode dobrar-se ou triplicar-se o coro e acrescentar órgão ou violone.

[Kyrie da Missa de Requiem, pelo ensemble Festina Lente, em San Giovanni dei Fiorentini, Roma, 2015]

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Requiem, de Duarte Lobo

Compositor: Duarte Lobo, Portugal, c.1565-1646 Defunto: Desconhecido. A obra foi publicada em 1639, como Liber Missarum II. Em 1621, Lobo publicara um Requiem a oito vozes.
Obra: Terá sido inspirada pelo Officium Defunctorum a seis vozes de Tomás Luis de Victoria e é possível que Lobo tenha contactado com esta obra através de Manuel Mendes, que foi seu professor na Sé de Évora.
Custo: € a €€

Requer apenas seis vozes, embora estas possam ser dobradas ou triplicadas, em função do espaço e do efeito pretendido.

[Introitus, por The Tallis Scholars, dirigidos por Peter Philips, num registo (em estreia mundial) lançado pela Gimell em 1992]

Musikalische Exequien, de Schütz

Compositor: Heinrich Schütz, Alemanha,
Defunto: Heinrich II, conde de Reuss-Gera, falecido a 3 de Dezembro de 1635 e conhecido como “Póstumo”, por ter nascido após a morte do pai. Poderia também ser conhecido como “Previdente”, pois planeou o seu próprio serviço fúnebre: um ano antes de falecer, encomendou o caixão e seleccionou os textos para as exéquias. Porém, supõe-se que terá sido a família a encomendar a música a Schütz.
Obra: Os textos seleccionados pelo conde Heinrich dão ênfase ao tema da transitoriedade da vida e da inevitabilidade da morte e dividem-se em três partes: um “Concerto em forma de Missa de Defuntos alemã”; um moteto fúnebre e o Cântico de Simeão. Foi o primeiro Requiem em língua alemã.
Custo: €€ a €€€

[Excerto da I parte das Musikalische Exequien, pelo Ensemble Vox Luminis, com direcção de Lionel Meunier, na Pieterskerk, Leuven, Bélgica, Agosto de 2012]

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Requiem em ré maior ZWV 46, de Zelenka

Compositor: Jan Dismas Zelenka, Boémia/Alemanha, 1679-1745
Defunto: Augusto II, o Forte, Eleitor da Saxónia, Rei da Polónia e patrão de Zelenka, falecido a 1 de Fevereiro de 1733.
Obra: Zelenka, que trabalhava na orquestra da corte da Saxónia como contrabaixista e também como compositor de música sacra (desde a morte do Kapellmeister Heinichen, em 1729), compôs o Requiem (“muito apressadamente”, de acordo com as suas palavras) para as cerimónias fúnebres que tiveram lugar em Dresden em Abril de 1733. Zelenka é também autor de outros Requiems: o ZWV 45, em dó menor, e ZWV 48, em ré menor.
Custo: €€€

[Introitus, pelo Collegium 1704, com direcção de Václav Luks. Esta mesma formação registou o Requiem, com o Officium Defunctorum ZWV 47, para a Accent]

Requiem, de Mozart

Compositor: Wolfgang Amadeus Mozart, Áustria, 1756-1791
Defunto: Anna Walsegg, esposa do conde Franz von Walsegg (1763-1827), que encomendou a obra de forma a ser tocada no seu castelo de Stuppach, quando do primeiro aniversário do falecimento, a 14 de Fevereiro de 1792. Consta que o conde, que era músico amador, tinha o hábito de encomendar peças musicais que apresentava nas suas sessões privadas como sendo de sua autoria, e que terá feito chegar a encomenda a Mozart por um mensageiro que não quis revelar a identidade de quem encomendava a obra (o que outras fontes contradizem). Obra: Mozart recebeu a encomenda em Julho de 1791, na mesma altura em que também lhe foi encomendada a ópera La Clemenza di Tito. Foi a esta última que deu prioridade e deslocou-se a Praga para dirigir a sua estreia. De regresso, dedicou-se à finalização e revisão de A Flauta Mágica e do Concerto para clarinete e só em Outubro começou a trabalhar, em simultâneo, no Requiem e numa cantata. Adoeceu em meados de Novembro e faleceu a 5 de Dezembro, deixando o Requiem muito incompleto. A viúva de Mozart, que precisava desesperadamente do resto do pagamento combinado com o conde Walsegg, tentou que Eybler, um amigo e ex-discípulo de Mozart, terminasse a obra, mas foi Franz Xaver Süssmayr, que fora assistente de Mozart na duas óperas acima mencionadas, que acabou por levar a cargo a tarefa. A partitura só foi entregue a Walsegg em Dezembro de 1793.
Custo: €€€ a €€€€

Se optar por uma interpretação em instrumentos de época, como a de Jordi Savall, bastarão duas dúzias de instrumentistas e uma vintena de cantores, além dos quatro solistas. Se pretender uma interpretação mais “ortodoxa”, terá que pagar um coro sinfónico e uma orquestra a condizer.

[Confutatis e Lacrymosa pelo Monteverdi Choir e os English Baroque Solists 8em instrumentos de época), direcção de John Eliot Gardiner, numa gravação de 1991 no Palau de la Musica Catalana, em Barcelona]

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Grande Messe des Morts, de Berlioz

Compositor: Hector Berlioz, França, 1803-1869
Defunto: A obra começou por ser encomendada para homenagear os soldados mortos na Revolução de Julho de 1830, que depôs Carlos X e colocou no seu lugar Luís Filipe, Duque de Orléans. Porém, as autoridades entenderam que, para esse efeito, seria mais indicado o Requiem em ré menor de Luigi Cherubini. O alvo da homenagem passou então a ser o marechal Édouard Mortier, que fora uma das 18 vítimas colaterais do atentado (falhado) contra Luís Filipe levado a cabo por Giuseppe Marco Fieschi em Julho de 1835. Também esse pretexto acabou por ser descartado e a missa acabou por servir para as exéquias do general Charles-Marie Denys, conde de Damrémont, que tombara na tomada de Constantine, na Argélia. É o que se chama uma dança macabra.
Obra: Numa carta a um amigo, já no fim da vida, escreveu Berlioz que “se só pudesse salvar uma partitura minha do fogo, seria para a Grande Messe des Morts que pediria clemência”.
Custo: €€€€€

Berlioz concebeu a Grande Messe des Morts a uma escala megalómana: a orquestra deveria ter, no mínimo, 12 trompas, 12 trompetes, 12 trombones, 10 tubas, 20 madeiras, 50 violinos, 20 violas, 20 violoncelos, 18 contrabaixos, 16 timbales, 10 címbalos e 4 pares de gongos, mas Berlioz estimara o número ideal de instrumentistas em 500. Quanto ao coro, poderia ir até aos 800 elementos, embora “apenas” 400 devessem intervir nas partes menos bombásticas.

[Agnus Dei, pelo London Symphony Chorus, o London Philharmonic Choir e a Sinfónica de Londres, dirigidos por Colin Davis, um dos grandes paladinos da música de Berlioz, num dos últimos concertos que o maestro dirigiu, em Junho de 2012, na catedral de S. Paulo, Londres. A gravação está disponível na etiqueta LSO]

Ein Deutsches Requiem, de Brahms

Compositor: Johannes Brahms, Alemanha, 1833-1897 Defunto: Não especificado. Brahms poderá ter sido inspirado pela morte da mãe, em 1865, mas a estreia da obra, em 1868, em Zurique, fez-se em contexto de concerto, não de cerimónia fúnebre (o mesmo pode dizer-se da ante-estreia da partitura incompleta em Viena, no ano anterior).
Obra: O tom é contido e resignado; apenas no IV andamento há um breve vislumbre do apocalipse e a conclusão faz-se num tom sereno e apaziguado. Mas tal não significa que seja menos intenso. Ouça-se o início do II andamento (“Denn Alles Fleisch Es Ist Wie Gras”): “Porque toda a carne é como a erva e toda a glória dos homens é como a flor da erva. A erva seca, as flores perdem-se”. Fá-lo no tom soturno e cabisbaixo que as palavras implicam e o momento é de uma beleza ímpar. O que é surpreendente é que, após um magistral crescendo, o coro retoma a mesma estrofe com redobrada veemência e, neste momento, a um tempo sublime e terrível, o ouvinte que não ficar com pele de galinha deverá consultar um neurologista, pois alguma peça fundamental no seu sistema nervoso está desligada.
Custo: €€€€

[“Denn Alles Fleisch Es Ist Wie Gras”, pelos Wiener Singverein e a Filarmónica de Viena, com direcção de Herbert von Karajan]

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Requiem, de Verdi

Compositor: Giuseppe Verdi, Itália, 1813-1901
Defunto: A morte de Gioacchino Rossini, em 1868, levou Verdi a propor à cidade de Bolonha, onde Rossini crescera, a execução de um Requiem colectivo, resultante do contributo dos mais notáveis compositores italianos de então. A Verdi coube a composição do Libera Me, mas invejas e intrigas levaram a que a obra nunca fosse estreada. Foi a morte do escritor Alessandro Manzoni, em 1873, que fez Verdi propor ao editor Ricordi e à cidade de Milão, terra natal de Manzoni, uma homenagem com um Requiem de sua inteira autoria (reaproveitando o Libera Me já composto).
Obra: Estreou a 22 de Maio de 1874, na Igreja de San Marco, em Milão, no primeiro aniversário da morte de Manzoni. O maestro Hans von Bülow, que tinha um ódio figadal a Verdi, chamou-lhe “um melodrama em vestes eclesiásticas”, mas se é certo que teatralidade é coisa que não falta a este Requiem, tal não é um defeito mas uma virtude.
Custo: €€€€

[Dies Irae, por vários coros e Orquestra Sinfónica da BBC, com direcção de Semyon Bychkov, nos Proms de 2011]

Requiem, de Fauré

Compositor: Gabriel Fauré, França, 1845-1924
Defunto: Não especificado. Fauré foi impelido a compor o Requiem sob o efeito emocional da morte sucessiva do pai (1886) e da mãe (1887) e a estreia da primeira versão da obra (com uma orquestra mínima), a 16 de Janeiro de 1888, serviu para as exéquias de um paroquiano anónimo da Igreja da Madeleine, em Paris. A versão com “orquestração definitiva” estreou fora de contexto sacro, a 12 de Julho de 1900, na Exposição Universal de Paris. Obra: Fauré declarou ter composto uma obra “dominada do princípio ao fim por um sentimento muito humano de fé no repouso eterno” e, com efeito, trata-se de uma obra que prescinde do dramatismo dos Requiems do Romantismo e possui uma atmosfera serena e luminosa. Não podia ser mais diferente do Requiem de Verdi.
Custo: €€ a €€€€

O custo variará consoante pretenda a versão com orquestra reduzida de 1888 ou a versão DeLuxe de 1900, ou qualquer das versões intermédias de 1892 ou 1893. As versões mais intimistas convêm mais à natureza da obra.

[“In Paradisum”, pelo Winchester Cathedral Choir, 1980]

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