Como acontece com parte das composições de Duke Ellington, sobretudo as mais antigas, a sua origem é nebulosa e envolve, possivelmente, o contributo de um membro da sua orquestra – neste caso Barney Bigard. Este terá, por sua vez, ouvido a melodia – na altura com o nome de “Mexican Blues” – de um seu professor de clarinete em New Orleans, Lorenzo Tio, que foi também professor de Sidney Bechet e Johnny Dodds. Ellington diz tê-la composto em 1930 para uma transmissão radiofónica (nota para os millennials: “transmissão radiofónica”: processo de difusão de música, numa época em que não havia YouTube nem Bandcamp, que consistia em tocá-la, em directo, numa estação de rádio) e começou por baptizá-la como “Dreamy Blues”.
Como a transmissão suscitou muitas cartas entusiásticas de ouvintes (nota para os millennials: “carta”: forma de comunicação que recorria a tinta sobre papel e permitia a manifestação pública de aprovação ou desagrado, numa época em que não havia likes nem Facebook), Irving Mills, o manager da orquestra de Ellington, adicionou-lhe uma letra – nada de muito sofisticado, pois Mills não era exactamente T.S. Elliott, mas em sintonia com a tristeza resignada da música e com o espírito dos blues: estou triste desde que ela partiu e à noite sinto-me tão só que tenho vontade de chorar.
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