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Passagem de ano
©Ryan Wong/Unsplash

Playlist de fim de ano: 12 canções para as 12 badaladas

Uma banda sonora perfeita para embalar a hora mais sentimentalona do ano: a meia-noite do primeiro dia do ano.

Escrito por
João Pedro Oliveira
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A última noite do ano tende a impor uma folia por decreto, num ritual de divertimento com hora marcada que nem sempre bate certo com o estado de espírito do momento. Ora, esta não é bem uma playlist de festa. É mais uma colectânea de música inspirada naqueles instantes em que se fazem balanços e promessas, com a cabeça cheia de boas intenções e a boca cheia de passas. São canções inoculadas com aquela melancolia típica das horas de fim e recomeço, entre a nostalgia do que já lá vai e a esperança pelo que aí vem. Canções que, grosso modo, nos dizem que isto vai ficar tudo bem. Feliz 2022.

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Playlist de fim de ano: 12 canções para 12 badaladas

“What Are You Doing New Year’s Eve”, Ella Fitzgerald

Provavelmente o standard de Ano Novo com mais versões, a canção composta em 1947 por Frank Loesser foi notavelmente gravada, entre outros, por Bette Midler, Lena Horne, os Carpenters, Johnny Mathis, Harry Connick Jr, Billie Eilish, Rod Stewart, Diana Krall ou Norah Jones. Só a versão amadora gravada por Zooey Deschanel e Joseph Gordon-Levitt tem mais de 22 milhões de visualizações no YouTube. Mas foi esta interpretação registada em 1960 por Ella Fitzgerald que nos ficou no sentido.

“Let’s Start the New Year Right”, Bing Crosby

Oitenta anos depois, a receita continua infalível: “Kissing the old year out / Kissing the New Year in / Let's watch the old year die / With a fond goodbye / And our hopes as high / As a kite.” É verdade que tanta beijoquice pode desaconselhar-se em tempo de Covid, mas a ideia está lá. Escrita por Irving Berlin e interpretada por Bing Crosby, “Let’s Start the New Year Right” escutou-se pela primeira vez em 1942, no filme Holiday Inn, com Marjorie Reynolds e Fred Astaire. Foi editada como lado B de “White Christmas”, que fazia parte da mesma banda sonora e que recolheu o Óscar de Melhor Canção Original desse ano.

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“New Year’s Resolution”, Otis Redding e Carla Thomas

Aqui temos a reconciliação como resolução de fim de ano. “Let's turn over a new leave / And baby let's make promises / That we can keep / And call it a New Year's resolution, hmmm”. Ouvimos Otis Redding e Carla Thomas a fazer as pazes, a jurar que no ano que vem vai ser só amor, e que vão deixar de andar sempre à trolha como, se deduz, era costume no ano velho (e sim, o “hmmm” faz parte da letra). A dupla foi reunida pela Stax Records em 1967, tentando replicar a fórmula que a rival Motown tinha conseguido com Marvin Gaye e Tammi Terrell. O resultado foi o disco de duetos King & Queen, onde se inclui este “New Year’s Resolution”. Infelizmente, Redding morreria a 10 de Dezembro e não chegaria a ver o ano novo de 1968.

“Happy New Year”, Abba

Na alvorada da década de 80, os Abba editaram Super Trouper e mais uma vez demonstraram que eram capazes de montar sucessos com mais facilidade do que o comum dos mortais monta móveis da Ikea. A abrir o lado B estava este “Happy New Year”. A canção baseava-se nesta ideia simples: ou entramos no Ano Novo com fezada ou não andamos cá a fazer nada. O mesmo é dizer: “Happy new year / Happy new year / May we all have our hopes, our will to try / If we don't, we might as well lay down and die”. No final, os suecos perguntavam-se ainda sobre que coisas incríveis nos esperariam no longínquo final da década de 80: “It's the end of a decade / In another 10 year's time, who can say what we'll find? / What lies waiting down the line / In the end of eighty-nine...” A resposta podia ser a queda do Muro de Berlim, a invenção da World Wide Web ou o primeiro episódio dos Simpsons.

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“The Best Is Yet to Come”, Frank Sinatra

Estreou-se numa festa da Playboy e acabou inscrita numa lápide. Composta em 1959 por Cy Coleman com letra de Carolyn Leigh, a canção “The Best Is Yet to Come” foi apresentada pela primeira vez no programa de variedades Playboy's Penthouse, apresentado por Hugh Hefner. Foi escrita para Tony Bennett, que a gravou no álbum de 1962, I Left My Heart in San Francisco, mas ficaria para sempre associada à voz de Sinatra, que dois anos mais tarde fez esta gravação acompanhado pela Count Basie Orchestra, com arranjos de Quincy Jones (está no álbum It Might as Well Be Swing). O título diz mais ou menos tudo sobre as razões de a incluirmos nesta lista — “The Best Is Yet to Come” foram também as palavras gravadas na pedra tumular de Frank Sinatra, no Desert Memorial Park.

“New Year’s Eve”, Tom Waits

Se é verdade que o brinde de passagem de ano envolve uma dose garantida de melancolia e um mínimo exigível de alcoolemia, então Tom Waits é a pessoa que queremos a servir-nos nessa noite. Esta canção está incluída no álbum Bad As Me, de 2011, e soa exactamente ao que se esperaria que soasse uma canção de Tom Waits sobre a noite de Ano Novo: uma balada capaz de emprestar charme a uma história de decadência, que nos deixa a suspirar pelo que lá vai e pelo que ainda possa vir, e que parece difícil de cantar sem um copo na mão. No refrão, Waits consegue incorporar a toada tradicional escocesa “Aung Lang Syne'', clássico absoluto de fim de ano de que falaremos a seguir.

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“Auld Lang Syne” (Tradicional), The Choral Scholars of University College Dublin

Pode ouvi-la na versão de uma estrela emergente (voz de Nathan Evans, 2021) ou na versão que encerra Do Céu Caiu Uma Estrela (filme de Frank Capra, 1946); pode escolher uma versão folk à guitarra por Dougie MacLean ou uma versão crooner orquestral por Frank Sinatra e Dean Martin; pode preferir a versão mais pop de Lea Michele ou a versão mais popota de Mariah Carey. Enfim, é escolher: James Taylor, Rod Stewart, Mairi Campbell, Sufjan Stevens, B.B. King, Colbie Caillat, Andrew Bird ou Pink Martini (esta especialmente indicada para quem passar o ano no Brasil). Certo, quanto a nós, é que não há banda sonora para a melancolia esperançosa de fim de ano que possa dispensar a canção tradicional escocesa. Propomos este arranjo de vozes imaculado interpretado pelo The Choral Scholars of University College Dublin.

“My Dear Acquaintance (Happy New Year)”, Peggy Lee

A canção foi originalmente escrita para um musical autobiográfico que Peggy Lee levou à cena na Broadway em 1983, mas acabaria por ser excluída do espectáculo e guardada numa gaveta por mais de vinte anos e apenas editada postumamente. Foi incluída na colectânea Christmas With Peggy Lee, de 2006, e logo no ano seguinte teve uma nova versão impecável feita por Regina Spektor. O texto é um brinde a quem nos acompanha nas 12 badalas, seja quem desejamos ter próximo, seja quem simplesmente calha estar próximo. Em resumo, uma declaração universal de amor ao próximo.

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“New Year’s Day”, Taylor Swift

É uma promessa de amor bonita: “I want your midnights / But I'll be cleaning up bottles with you on New Year's Day”. Que é como quem diz no melhor e no pior, na festa e na ressaca, até ao fim e no recomeço. Está incluída no sexto álbum de estúdio de Taylor Swift — Reputation, de 2017 — é feita de piano, voz, texto e pouco mais. E é quanto basta.

“This Will Be Our Year”, The Zombies

Uma sondagem sem grande rigor científico, feita à pressa junto de meia dúzia de pessoas aqui à nossa volta, devolveu este resultado surpreendente: o ano de 2020 foi o que foi, o de 2021 era para ter sido, o de 2022 é que vai ser. Ora, esta é uma belíssima canção para embalar esse sentimento: ““Now we're there and we've only just begun / This will be our year / Took a long time to come”, cantavam os The Zombies em 1968, com a confiança de quem espera e sempre alcança. Também Odessey and Oracle, o disco onde se escuta “This Will Be Our Year”, esperou para ser reconhecido como um clássico rock, mas acabou eventualmente por atingir a posição 100 na lista dos melhores álbuns de todos os tempos da Rolling Stone, e a banda britânica (que se extinguiu nesse mesmo ano), teve de esperar até 2019 para entrar no Rock and Roll Hall of Fame.

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“Ding, Dong, Ding, Dong”, George Harrison

Quem achar esta canção e este vídeo demasiado nonsense e fora da caixa onde costuma arrumar George Harrison, faça favor de fazer uma pesquisa rápida num motor de busca à sua escolha (não parece, mas há vida para além do Google), com o nome do ex-Beatle e dos Monty Python. De repente, tudo fará sentido. “Ding, Dong, Ding, Dong” é uma brilhante lengalenga de passagem de ano, com instruções simples e precisas: “Ring out the false / Ring in the true / Ring out the old / Ring in the new”. Foi um dos singles de Dark Horse, de 1974, o quinto álbum de estúdio a solo de Harrison, e merece ser ouvida com os olhos postos na gloriosa palermice do seu videoclipe caseiro.

“Feeling Good”, Nina Simone

Esta tem tanto a ver com o dia de Ano Novo como com qualquer alvorada. Simbolicamente, porém, não haverá melhor manhã para a escutar que a do primeiro dia do ano que se segue. É um hino de resistência e recomeço. Foi composto pelos ingleses Anthony Newley e Leslie Bricusse para o musical The Roar of the Greasepaint – The Smell of the Crowd, de 1964, e eternizado na interpretação que Nina Simone guardou no álbum I Put a Spell on You, editado logo no seguinte. Se preferir, tem a versão mais electrificada dos Muse, a versão mais cool de Sammy Davis Junior, a versão mais gospel de Lauryn Hill, a mais caramelizada de Michael Bublé, ou até a instrumental de John Coltrane. Mas dificilmente alguém vai discordar de que a versão definitiva é mesmo esta.

Outras paragens musicais

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  • Música

Não há perguntas por fazer, frases inacabadas. Tudo o que resta, no regresso a casa depois da tempestade, é a banda sonora e um caminho a percorrer que não precisa de grandes acrescentos. A lista que se segue é a cura necessária ao vazio, uma tradução silenciosa para ouvir de fones ou no carro, em 14 pedaços que explicam muito mais do que tristeza.

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