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Arte, Pintura, Alaudista, Theodoor Rombouts, c.1620
©Theodor RomboutsAlaudista por Theodoor Rombouts, c.1620

Cinco concertos para alaúde que precisa de ouvir

Os raros concertos para alaúde que nos chegaram fazem lamentar que mais compositores não tenham dado atenção a este género

Escrito por
José Carlos Fernandes
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A popularidade do alaúde estendeu-se por três séculos, mas o centro de gravidade foi deslocando-se através da Europa: no século XVI triunfou em Itália, no século XVII teve o seu período de ouro em França e no século XVIII ganhou apreço no mundo austro-germânico. Este último florescimento foi mais breve, pois em meados do século XVIII a sua popularidade estava já em acentuado declínio, apesar de ter sido por essa altura que o instrumento atingiu o ponto culminante do seu desenvolvimento, com o aparecimento de alaúdes de 13 e 14 ordens (geralmente estas eram duplas, o que implicava, portanto, 26 cordas).

Embora o repertório para alaúde solo seja abundante, já os concertos para alaúde são raros, uma vez que o débil volume sonoro do instrumento torna difícil que não seja engolido pela orquestra. Dos poucos concertos para alaúde que sobreviveram, só o RV.93 de Vivaldi é tocado regularmente, mas vale a pena descobrir outros exemplares do género.

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Cinco concertos para alaúde que precisa de ouvir

Concerto para alaúde RV.93, de Vivaldi

Antonio Vivaldi foi o único compositor de primeiro plano a compor para alaúde e orquestra: além do Concerto para alaúde RV.93 (c.1730-39), compôs também um concerto para viola d’amore e alaúde (RV.540), a que se somam dois trios para violino, alaúde e baixo contínuo (RV.82 & RV.85). No nosso tempo, o RV.93 foi “apropriado” pelos guitarristas, mas são as interpretações com alaúde e com instrumentos de época que fazem justiça ao seu carácter rendilhado. Vivaldi teve, naturalmente, o cuidado de “baixar o volume” da orquestra para deixar ouvir o solista.

[Por Luca Pianca (alaúde) e Il Giardino Armonico, em instrumentos de época, com direcção de Giovanni Antonini]

Concerto para alaúde SC.53, de Weiss

Silvius Leopold Weiss (1687-1750) foi durante a maior parte da sua vida – de 1717 a 1750 – alaúdista da orquestra da corte de Dresden, onde recebia um dos salários mais avultados, o que indicia o prestígio de que gozava. Infelizmente, foi também o último grande compositor e executante deste instrumento e os seus discípulos (entre os quais esteve o seu filho, Johann Adolph Faustinus) tombaram na obscuridade.

Embora tenham chegado ao nosso tempo cerca de um milhar de peças para alaúde solo de Weiss, das suas obras para alaúde e outros instrumentos apenas sobreviveu a parte do solista. O alaúdista Richard Stone “reconstruiu” algumas dessas partituras incompletas – o resultado é, inevitavelmente, fantasioso, mas ajuda a consolar os fãs de Weiss e do alaúde pela perda das partituras originais.

[Concerto SC53 (a partir da Sonata SW.53), por Richard Stone (alaúde) e Tempesta di Mare, em instrumentos de época, com direcção de Gwyn Roberts & Richard Stone (Chandos)]

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Concerto para alaúde FWV L:d1, de Fasch

Apesar de ter deixado abundante produção de suítes orquestrais, concertos e música sacra, o alemão Johann Friedrich Fasch (1688-1758) teve uma carreira relativamente discreta. Estudou em Leipzig, foi violinista na orquestra da corte de Bayreuth, escriturário em Gera e organista em Greiz e esteve ao serviço do Conde Morzin, em Praga. Em 1722, pouco depois de ter aceite o cargo de mestre de capela em Zerbst, chegou a concorrer ao posto de Thomaskantor em Leipzig, mas acabou por retirar a candidatura – quiçá por adivinhar que não teria hipóteses contra os outros candidatos: o seu ex-mestre Graupner, Telemann e Bach. Ficou em Zerbst até à sua morte, mas terá realizado algumas visitas a Dresden e é possível que tenha sido para o alaúdista da orquestra de Dresden, Silvius Leopold Weiss, que terá composto o seu único concerto para alaúde.

[I andamento (Allegro moderato), por Richard Stone (alaúde) e Tempesta di Mare, em instrumentos de época, com direcção de Gwyn Roberts & Richard Stone, ao vivo em 2009, Philadelphia]

Concerto para alaúde em lá maior, de Hagen

Pouco se sabe sobre a vida do alemão Bernhard Joachim Hagen (1720-1787) antes de, aos 17 anos, se ter tornado assistente de Johann Pfeiffer, mestre da capela da corte de Bayreuth, onde tocava alaúde e violino. A corte de Bayreuth tinha uma entusiasta da música para alaúde na princesa Guilhermina da Prússia, porém, o seu alaúdista favorito era Adam Falckenhagen, pelo que Hagen ficou remetido à obscuridade e nenhuma das suas obras para alaúde deste período foi publicada. Entre a vintena de partituras manuscritas que nos chegaram da sua estadia em Bayreuth está este concerto para alaúde datado de 1759.

[Por Hopkinson Smith (alaúde), Chiara Banchini e David Plantier (violinos) e Roel Dieltiens (violoncelo), em instrumentos de época, do álbum Lautenkonzerte (Astrée/Auvidis)]

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Concerto para alaúde em fá maior, de Kohaut

O austríaco de ascendência boémia Karl Ignaz Augustin Kohaut (1726-1784) representa, com Hagen, o derradeiro resplendor do alaúde. O seu cargo como secretário na chancelaria imperial de Viena propiciou-lhe o convívio com a aristocracia, nomeadamente com o Barão Gottfried van Swieten, um melómano que viria a ser mecenas de Mozart, Haydn e Beethoven. Swieten terá facultado a Kohaut (como fez com Mozart) o estudo da sua bem fornida biblioteca musical, onde avultavam obras de Handel e Bach.

Kohaut, que era considerado como o melhor alaúdista da Viena do seu tempo, compôs uma dúzia de sinfonias, oito missas e sete concertos para alaúde, sendo o Concerto em fá maior o mais frequentemente tocado.

[Por Hopkinson Smith (alaúde), Chiara Banchini e David Plantier (violinos) e Roel Dieltiens (violoncelo), em instrumentos de época, do álbum Lautenkonzerte (Astrée/Auvidis)]

Clássicos da clássica

  • Música
  • Clássica e ópera

O mais frequente na música orquestral é que só um galo cante na capoeira, ou seja, a maioria dos concertos destina-se a um único solista. Porém, no período barroco, era frequente que dois solistas partilhassem o protagonismo.

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