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David Fonseca
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David Fonseca: "Não esperava fazer da música profissão"

David Fonseca tem um novo disco, 'Radio Gemini', que poderemos ouvir a 8 de Junho nos Armazéns do Chiado

Luís Filipe Rodrigues
Escrito por
Luís Filipe Rodrigues
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Foi há 20 anos que ouvimos pela primeira vez a voz de David Fonseca, na altura o líder dos Silence 4. Desde então, não parou de fazer e tocar música, a solo e em colaborações pontuais. Está de volta com um novo álbum, Radio Gemini, feito e pensado como se de um programa de rádio se tratasse. Uma hora em que ouvimos diferentes músicas e influências, sem nunca nos afastarmos de território pop. Antes do lançamento do disco, em Maio, interrompeu os ensaios para dois dedos de conversa. A 8 de Junho toca nos Armazéns do Chiado.

 

O Radio Gemini é descrito como “um álbum em clara provocação ao ‘establishment do gosto’” num dos textos promocionais. Queres elaborar esta ideia?

Não faço a mínima ideia de quem escreveu essa frase, mas não fui eu (risos). Não questiono, mas não sei o que isso quer dizer.

Nem eu. Daí a pergunta.

Acho que, no fundo, o que querem dizer com isso é que o disco é uma provocação à música que corre hoje em dia. Não te esqueças que eu faço música pop, acima de tudo, e este disco não segue propriamente as regras. Eu acho a pop um bocadinho polida, digamos assim. E este não é um disco polido. Acho que era nesse sentido que essa frase estava dirigida, a ideia da provocação.

É um disco relativamente grande: 60 minutos, 21 faixas. Não consideraste fazer dois álbuns diferentes com este material todo?

Não. O disco tem o tempo que eu queria que ele tivesse. Para mim não é um problema o disco ter 21 faixas, antes pelo contrário. Aliás, um dos discos mais interessantes que eu ouvi nos últimos tempos é o de Thundercat, que deve ter para aí umas 26 faixas e é um disco pop. Acho é que existe uma certa ideia de que a música pop não pode variar na sua forma de apresentação, que tem de seguir uma regra qualquer. E eu não acho o meu disco longo. O que chama a atenção é o facto de ter 21 faixas, mas pronto. São 21 faixas porque tinha muita coisa para dizer.

Mais uma vez foste tu que tocaste e gravaste quase tudo, apesar de teres alguns convidados. Não sentes vontade de trabalhar e escrever em banda?

Gostava de colaborar com mais pessoas. Aquilo que é mais interessante para mim é compor e, sinceramente, eu até gostaria de ter outras pessoas a tocar, só que é mais rápido quando sou eu a fazê-lo. É mais uma questão prática do que outra coisa, não necessariamente com uma escolha específica de querer tocar tudo. Dito isto, gostaria de fazer canções em banda. Nem que fosse porque nunca o fiz até hoje. Nunca construí uma música de raiz com outras pessoas. A única música que eu fiz em parceria alguma vez na vida acho que foi com o Sérgio Godinho, esta última agora do “Grão da Mesma Mó”.

Já nos Silence 4 eras tu que escrevias tudo?

Sim. Era eu que fazia as canções, apesar de não ser eu quem tocava os instrumentos.

Este disco surge 20 anos depois do primeiro dos Silence 4 e de a tua vida ter mudado completamente, como me dizias há um mês. Tem um significado especial por isso?

Só no sentido em que, quando comecei a fazer música, nunca pensei que estivesse aqui nem um ano depois, quanto mais 20. A ideia de ainda estar aqui a fazer música é surpreendente. Nunca pensei que isso fosse possível. Achei que seria um hobby apenas, não esperava fazer da música a minha profissão.

Cantas em francês pela primeira vez numa faixa do novo disco. Porquê agora?

Achei que a língua francesa cabia melhor naquela canção do que outra qualquer. Foi só por isso.

Curiosamente não há nenhuma faixa em português, o que chama a atenção depois de o teu último disco a solo ser todo em português. Foi uma decisão consciente?

Como sabes, durante muitos anos, sempre que fazia um disco em inglês, perguntavam-me por que é que eu não cantava em português. E não fiz nenhuma canção em português porque não quis deixar passar a oportunidade de fazer um disco onde me pudessem voltar a perguntar porque é que eu não fiz nenhuma canção em português. Achei que essa pergunta devia voltar. Como tem sido tão interessante responder a essa pergunta ao longo do tempo e como já me a fizeram aproximadamente umas cinco mil vezes, achei que devíamos voltar essa rotina. Quando uma pessoa esquece as rotinas acaba de se esquecer um bocadinho de quem é e do que é que faz, e achei que era interessante continuarmos a ter esta conversa ao longo da vida inteira.

Conversa cantada

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“Vamos Comer Caetano”, cantava Adriana Calcanhotto em 1998 num banquete antropofágico em celebração a Caetano Veloso e ao furacão tropicalista. 20 anos depois, o tropicalismo continua a ter muito para revelar e ensinar. Este mês, Adriana Calcanhotto estreia um novo projecto que resulta de uma residência artística e da experiência como professora na Universidade de Coimbra. O espectáculo “A Mulher do Pau-Brasil” parte do Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924) de Oswald de Andrade, atravessa o tropicalismo e rumina as reverberações dessa estética na cultura pop brasileira.

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Três anos depois de True, The Legendary Tigerman está de volta aos discos. E de que maneira. Com Misfit, um álbum de rock and roll gravado em trio, com Paulo Segadães e João Cabrita, em Joshua Tree. E com Misfit Ballads, conjunto de baladas que não encaixavam em Misfit. E com o filme Fade Into Nothing, de Furtado, Rita Lino e Pedro Maia, história de estrada e diário de viagem ficcionado que acompanha a edição em CD de Misfit. E ainda há a banda sonora do filme, a editar mais perto do final do ano. Falámos sobre isto tudo com o músico português.

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