A Time Out na sua caixa de entrada

Procurar
Xavier Cugat
©Wikipedia/William P. GottliebXavier Cugat

Dez versões clássicas de “Begin the Beguine”

“Begin the Beguine” é a mais exótica composição de Cole Porter. Com um lento e sensual balanço de rumba

Escrito por
José Carlos Fernandes
Publicidade

Cole Porter compôs “Begin the Beguine” durante um cruzeiro de luxo à volta do mundo, mas fê-lo no oceano errado: no Pacífico, algures entre a Indonésia e as ilhas Fiji, quando o “beguine” aludido na letra é uma dança das Caraíbas. O beguine, um produto da mestiçagem, nas ilhas de Guadalupe e da Martinica, das danças de salão francesas com danças caribenhas (como a rumba), não era muito conhecido quando Cole Porter compôs a canção, em 1935 – na verdade, a efémera popularidade de que o beguine gozou no Ocidente nas décadas de 30/40 resultou do sucesso de “Begin the Beguine” –, e hoje está esquecido fora do círculo dos aficionados de danças caribenhas.

A canção foi composta para o musical Jubilee, com texto de Moss Hart, que estreou na Broadway em 1935 e incluía outra canção de Cole Porter destinada à fama: “Just One of Those Things”.

Recomendado: Dez versões clássicas de “Someday My Prince Will Come”

Dez versões clássicas de “Begin the Beguine”

Xavier Cugat

Ano: 1935

“Begin the Beguine” foi estreado em palco por June Knight, a 12 de Outubro de 1935, mas a primeira gravação já tinha tido lugar cinco semanas antes, pela mão de Xavier Cugat (1900-1990), um nativo da Catalunha que viveu em Cuba entre os três e os 15 anos e que cedo revelou extraordinários dotes como violinista. Mudou-se para os EUA em 1915 e dirigiu uma banda que se apresentava regularmente no Cocoanut Grove, em Los Angeles, tendo assumido em 1931 a direcção da orquestra do Hotel Waldorf-Astoria, em Nova Iorque, que manteria durante 16 anos e com a qual fez a gravação inaugural de “Begin the Beguine”.

Eram outros tempos, estes, em que os compositores embarcavam em cruzeiros de luxo à volta do mundo para se inspirar e em que os hotéis tinham orquestras residentes. Os hotéis servem hoje música enlatada e, com os parcos royalties que lhes são entregues, gota a gota, pelos serviços de streaming, os compositores não poderão aspirar a mais do que uma voltinha de jet ski.

Oscar Peterson

Ano: 1951
Álbum: Oscar Peterson Plays Cole Porter (Mercury)

Oscar Peterson gravou dois álbuns em trio com o título Oscar Peterson Plays Cole Porter: um em 1951, para a Mercury, com Barney Kessel (guitarra) e Ray Brown (contrabaixo); outro em 1959, para a Verve, com Ray Brown (contrabaixo) e Ed Thigpen (bateria). Este “Begin the Beguine” provém do primeiro.

Publicidade

Charlie Parker

Ano: 1952
Álbum: South of the Border (Mercury)

“Begin the Beguine” foi gravado em 1952 por Charlie “Bird” Parker à frente de um quinteto com Walter Bishop (piano), Teddy Kotick (contrabaixo), Max Roach (bateria) e um tocador de congas que será possivelmente José Mangual e faz parte de South of the Border, o álbum latino de Charlie Parker, um LP de dez polegadas com oito temas, quase todos de estirpe latina, como “Tico Tico”, “Un Poquito de Tu Amor”, “Estrellita”, “La Paloma”, “La Cucaracha” e “Mama Inez”. O disco foi reeditado como LP de 12 polegadas com mais faixas latinas de sessões de 1951-52 e outras de uma sessão de Parker com a Machito Afro-Cuban Orchestra, que inclui um medley de 17 minutos intitulado “The Afro-Cuban Jazz Suite. Não é peça essencial na discografia de Parker, mas é uma curiosa perspectiva sobre a avifauna a sul do Rio Grande.

Stan Kenton

Ano: 1953
Álbum: Sketches on Standards (Capitol)

As dificuldades financeiras vividas pelas big bands na viragem das décadas de 1940-50 levaram a que Kenton dissolvesse e refundasse a sua orquestra várias vezes e que, após gravar os audaciosos Innovations in Modern Music (1950) e New Concepts of Artistry in Rhythm (1952), se visse forçado a fazer concessões comerciais com álbuns como Portraits on Standards, Sketches on Standards e Popular Favorites by Stan Kenton (todos gravados em 1953), com programa preenchido por standards bem conhecidos. “Begin the Beguine” é alvo de uma orquestração que realça o seu lado exótico.

Publicidade

Art Tatum

Ano: 1955
Álbum: 20th Century Piano Genius (Verve)

O álbum 20th Century Piano Genius contém 39 faixas, provenientes, essencialmente, de uma actuação do pianista Art Tatum a 3 de Julho de 1955, numa festa privada na casa de Ray Heindorf, que era então director musical da Warner Bros., complementado por algumas faixas de uma outra festa na mesma casa, a 16 de Abril de 1950,

Ella Fitzgerald

Ano: 1956
Álbum: Ella Fitzgerald Sings the Cole Porter Song Book (Verve)

Este foi o álbum que inaugurou a histórica série de “Song Books” de Ella para a Verve e foi também o primeiro disco editado pela Verve – a editora que Norman Granz criou para suceder à Clef e à Norgran. O duplo álbum contou com arranjos e direcção de Buddy Bregman.

Publicidade

Coleman Hawkins

Ano: 1957
Álbum: The Genius of Coleman Hawkins (Verve)

Este álbum é um dos muitos a seguir a fórmula usual na Verve de acoplar um saxofonista ou trompetista de primeiro plano – neste caso o saxofonista Coleman Hawkins (1904-1969) – à secção rítmica da casa, ou seja, o "trio" (muitas vezes quarteto) do pianista Oscar Peterson, com Herb Ellis (guitarra), Ray Brown (contrabaixo) e Alvin Stoller (bateria).

Art Pepper

Ano: 1957
Álbum: The Art of Pepper (Omegatape)

Este é um disco que costuma ser omitido na discografia do saxofonista Art Pepper, por ter sido gravado à margem do meio jazzístico. A sessão, que contou com Carl Perkins (piano), Ben Tucker (contrabaixo) e Chuck Flores (bateria) teve lugar no Audio Arts Studio, em Hollywood, a 1 e 2 de Abril de 1957 e teve edição não em disco de vinil mas no invulgar formato de bobine de fita de sete polegadas, pela editora audiófila Omegatape, fundada em 1954 pelo fã de jazz David Hubert. O formato oferecia, com efeito, qualidade de reprodução superior ao LP, mas não cativou muitos entusiastas e a Omegatape extinguiu-se em 1961. As seis faixas de The Art of Pepper (onde se inclui “Begin the Beguine”), somadas às cinco de The Art of Pepper vol. 2, foram reeditadas em CD em 2005 pela editora catalã Fresh Sound, após quase meio século de olvido.

Publicidade

Gene Krupa

Ano: 1958
Álbum: Gene Krupa Plays Gerry Mulligan Arrangements (Verve)

O baterista lidera aqui uma big band com arranjos do saxofonista barítono Gerry Mulligan, que começara carreira profissional, aos 19 anos, como arranjador (e, pontualmente, como saxofonista alto e tenor) na orquestra de Krupa, em 1946. Neste regresso à sua primeira casa, além de se ocupar dos arranjos, Mulligan providenciou também duas composições de sua lavra.

Woody Herman

Ano: 1962
Álbum: Swing Low, Sweet Clarinet (Philips)

A fama de Woody Herman está indissoluvelmente ligada à sua orquestra, pelo que Swing Low, Sweet Clarinet, em quarteto com Nat Pierce (piano), Chuck Andrus (contrabaixo) e Gus Johnson (bateria), é uma peça invulgar na sua discografia: foi o seu primeiro registo como clarinetista solo em 25 anos e foi, por maioria de razão, o primeiro álbum em que surgiu essencialmente nesta qualidade.

Mais versões

Dez versões de “I’ll Remember April”
  • Música
  • Jazz

Abril costuma ser associado a Primavera e ao renascimento da vida, mas nesta balada é tema para um olhar melancólico sobre um amor pretérito. Eis dez versões de um standard favorito dos músicos de jazz.

Publicidade
Dez versões de “It Might As Well Be Spring”
  • Música

Uma das mais extraordinárias canções que fala da Primavera não tem flores a desabrochar nem pássaros a chilrear, porque na verdade não se passa na Primavera. Eis dez leituras superlativas deste delicioso paradoxo.

Recomendado
    Também poderá gostar
    Também poderá gostar
    Publicidade